“O critério segundo o qual estudamos a doença não deve e não pode limitar-se à doença em si mesma (…) Deve basear-se na variação do normal” (Carl Gustav Jung)
A depressão é uma inadaptação que ocorre quando a emergência do programa arquetípico se torna disfuncional na interação genoma-ambiente em etapas-chaves da vida e especialmente quando o ambiente, de forma parcial ou total, não satisfaz uma ou mais necessidades arquetípicas básicas (apego, cuidado, proteção, alimento, status, sexualidade) e que evoluem em cada ambiente em particular, para otimizar a sobrevivência do organismo e a perpetuação dos genes.
A depressão é uma estratégia humana adaptativa, que o individuo entra em contato consigo mesmo por provável fracasso de apego ou status. E quando superamos essa adversidade de determinadas situações saímos mais fortalecidos delas, parafraseando Nietzsche “O que não nos mata nos fortalece.”.
Também temos a depressão como estratégia individuante que contribui na estabilização e equilíbrio do programa arquetípico em desenvolvimento, participando da interação entre o consciente e inconsciente, individual e coletivo, entre o ego e o Self. Ou seja, é uma elaboração simbólica necessária ao processo de individuação. Para gerar então transformação do sentido existencial que toda depressão reclama.
Com isso o individuo tenta buscar e criar significados em ser uma possibilidade dentro da dimensão intersubjetiva , ou seja, a trama psíquica do significado pessoal, confere ao símbolo, de acordo com Jung, uma função transformadora de vital importância para o equilíbrio e criatividade da psique. O símbolo é definido como a fronteira entre consciente-inconsciente, saúde-doença, cérebro-psique, para configurar os padrões do significado pessoal. E está ligada a função transcendente descrita por Jung como a função responsável, pelas mudanças que ocorrem a partir da dimensão neuropsíquica dos modelos representativos e dos complexos, até a dimensão existencial da construção simbólica de um novo sentido existencial, próprio de cada processo de individuação.
Na depressão encontramos uma alteração – uma descentralização – de todo o ser, ou seja, de sua dimensão da totalidade. Segundo Jung o paciente não encontra caminho para elaborar os símbolos do Self.
A elaboração criativa ou defensiva dessas alterações, segundo Byington determina como o paciente vive a doença. A partir da psicopatologia simbólica-arquetípica pode ser analisada como alteração na dinâmica dos sistemas: Matriarcal, Patriarcal, Alteridade e de Totalidade:
Depressão na dinâmica matriarcal: está relacionado ao padrão matriarcal de apego, em reposta as necessidades precoces e básicas de cuidado, contenção, proteção e segurança. Portanto, a depressão matriarcal é vivenciada como disfunção ou alteração nos relacionamentos de apego, proteção, segurança e contenção, que se expressas nos níves de afetividade, sensualidade e corporalidade. Em síntese, é uma descentralização do eixo ego-self em relação as estratégias afetivas de adaptação, de sentir-se contido, amado, seguro afetivamente, e em consequência, capaz de alcançar um desenvolvimento afetivo- cognitivo adequado às necessidades de cada individuação.
Depressão na dinâmica patriarcal: é expressada através de uma disfunção na dinâmica do sistema em torno do padrão de domínio, status, posse e posição. Nesse sentido a maneira disfuncional e simbólica está ligada a relação de delimitação, ordem, planejamento, hierarquia, uso do poder e modo de pensar e fazer. Muitas vezes está relacionado com características da personalidade, como orgulho, perfeccionismo, ambição, tendência a culpa ou necessidade voltar a raiva sobre a si mesmo para preservar o objeto amado.
Depressão na dinâmica de alteridade: é vivenciada como uma disfunção na conectividade da vida, no vinculo amoroso, na conexão com o corpo, na relação com a ecologia profunda, ou seja, com um enfraquecimento de viver. Podendo ser disfunções das polaridades que se reúnem em respostas as necessidades de estabelecer relações simétricas entre o ego e o alter ego, ou seja, encontros autênticos, íntimos e profundos com o Outro, tanto em nível intrapessoal (ego-Anima/Animus) como interpessoal (Eu-Você). Pode apresentar em forma de desencontro, pseudoencontro, falsidade, engano e incapacidade de dar-se a si mesmo e ao outro em suas mais diversas modalidades. Expressada por desanimo, desinteresse, desmotivação e sensação de que a relação está morta e que morreu por falta de Eros.
Depressão na dinâmica de totalidade: é denominado de depressão existencial, é uma disfunção no padrão da totalidade em respostas as necessidades de sentido de vida, existencial e cósmico. Desconecta-se com o mundo e a vida. Desvaloriza valores supremos, tem crise de sentido, não crê em valor algum, nesse sentido acaba em desespero, chegando até mesmo ao suicídio (no sentido de nada, e não de símbolo transformador) citando Nietzsche novamente: “Deus está morto” o individuo sente como se não existisse nada, o nada absoluto.
Olá Felipe !
Suas aulas sao ótimas. Cada assunto muito bem detalhado e compreensivo. Parabéns e continue nos ajudando, que eu particularmente agradeco muito e te desejo maiores chances de sucesso ! Abs.
Olá Fátima!
Obrigado querida!
O Bruno realmente foi muito feliz neste texto sobre a Depressão para a psicologia analítica.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
doutor Felipe,preciso de ajuda.há 2 anos meu pai faleceu…em abril deste ano,minha mãe teve um sonho com ele dizendo que voltariam em uma outra vida para que ele a fizesse feliz…agora,ela entrou em estado de depressão…diz que vai morrer e chegou até mesmo a sintomatizar um enfarto.não sei como lidar com isso,pois ela não quer ajuda profissional.o sr.pode me orientar em relação ao que ser feito nesse caso????
Olá Maria,
Em termos psicológicos (tirando a possibilidade de o sonho ser “real” ou não no sentido espiritual), o sonho é como uma realização de desejo, o desejo de reencontrá-lo. Isto é mais comum do que se poderia imaginar, mas é necessário realmente que ela busque ajuda profissional, já que o risco de um suicídio (voluntário ou involuntário) não pode ser descartado.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Prezado Bruno, estou fazendo um trabalho de minha posgraduação em psicologia analitica sobre depressão analisada pela psicologia analitica e gostaria de saber se voce poderia me ajudar com indicação de alguns artigos sobre o assunto e tambem algum livro. Antecipadamente agradeço sua colaboração. hugo