Muitas pessoas acham que a força de vontade é uma característica de personalidade com a qual nascemos e que não podemos mudar. Pesquisas mais recentes da psicologia mostram que a força de vontade pode sim ser treinada. Neste texto, vou me basear nessas pesquisas mais recentes e você aprenderá 5 maneiras para desenvolver a sua força de vontade.
O que é a força de vontade?
Primeiro, vamos definir o que é força de vontade. Kelly Mcgonigall, uma das maiores pesquisadoras sobre força de vontade, fala em querer (want), fazer (will) e não fazer (won’t). Recomendo a leitura de seu livro Os desafios à força de vontade.
Geralmente pensamos na força de vontade como estando relacionada à habilidade de recusar algo tentador, como um bolo de chocolate quando estamos tentando uma dieta, ou com a capacidade de continuar fazendo alguma coisa mesmo quando isto é desconfortável, como por exemplo, continuar mais quinze minutos na esteira.
Essa forma de ver não está incorreta. O que falta nessa definição, entretanto, é a vinculação destas duas formas (will e won’t), de fazer e não fazer, com os nossos valores mais profundos (want).
Uma pessoa pode pensar que tem que fazer uma atividade física por valores sociais, de estética, para ter um corpo como a sociedade “exige”. Porém, se ter um corpo esteticamente valorizado não for um valor importante para essa pessoa, daí não faz sentido forçar o comportamento. Em outras palavras, aquilo que fazemos ou deixamos de fazer deve estar em conexão com os nossos valores pessoais, com o que queremos.
Portanto, a primeira forma de aumentar a força de vontade é entender mais profundamente o que valorizamos, o que queremos para nós mesmos agora e no futuro. Ajuda focar também em um ou dois comportamentos específicos primeiro para começar o treinamento.
1) O que eu quero e valorizo?
Voltando ao exemplo de uma atividade física, podemos pensar: por que e para que eu pretendo treinar a força de vontade ficando 45 minutos em uma esteira?
Para uma pessoa pode ser por questões de saúde: visualizar a si mesmo no futuro, bem, saudável, com qualidade de vida. Assim, ter saúde é o valor que possibilitará aumentar a força de vontade, quando talvez estiver com preguiça. Para outra pessoa pode sim ser a estética, enquanto, para outra o que é valorizado é a superação pessoal.
2) O poder do vou
Após ter mais clareza do valor, podemos passar a treinar o que podemos chamar de poder do vou. Mesmo sem muita motivação, mesmo que a nossa mente queira fazer outra coisa, levantamos do sofá e vamos para a esteira (ou fazer o comportamento X que você quiser). Aprender a ir, a fazer, a se comportar – apesar dos sentimentos e pensamentos presentes que apontam para o contrário – é a segunda forma.
O ponto fundamental aqui é entender que podemos nos comportar, podemos ir e fazer, independemente do que passa na nossa mente. Posso não estar “com vontade” de estudar, mas não importa. Podemos sim ir e fazer. Quando vamos lá e fazemos, estamos treinando o poder do vou, que é um dos aspectos da força de vontade.
3) O poder do não vou
De maneira semelhante, mas oposta, podemos treinar a nossa força de vontade aprendendo a não ir, a não fazer, a recusar (ou até protelar para que a vontade de fazer passe em algum tempo). Essa outra forma é fundamental para nos alinharmos com os nossos valores também. É dizer não a um produto industrializado ou deixar um vício quando valorizamos a saúde. É dizer não para as redes sociais, para a TV ou outra distração, quando valorizamos a criatividade, o aprender, ou a produtividade.
Um dica que pode ajudar aqui é tentar controlar mais o ambiente. Ao invés de encher a geladeira e o armário de produtos industrializados, comprar alimentos que queremos comer mais em nossa dieta, como frutas e verduras. Não ter proximidade com a “tentação” pode ajudar.
Por outro lado, a presença de algo “tentador” pode ser também um jeito de treinar a força de vontade. De comer só um pedaço da barra de chocolate ou deixar a barra lá na cozinha e dizer não e não comer hoje. Ou de deixar o celular do lado e não abrir para ver toda hora as atualizações.
4) Atenção plena – Mindfulness
Kelly Macgonigall define mindfulness como 3 processos:
– Intenção
– Atenção
– Ação habilidosa
Treinar Mindfulness, atenção plena ao momento presente, já é treinar a força de vontade. Ter um mente mais mindful, mais atenta, ajuda a reconhecer o que queremos (valores, intenção), a estar atento ao ambiente (e dizer sim ou não dependendo do que queremos) e ter habilidade para tanto.
Sabe quando nem vemos e já comemos um pedação de bolo? Ou quando “esquecemos” o horário da academia ou da aula?
Esse não perceber, esse esquecer, esse não ver é o contrário de estar mindful. Chamamos de mindlessness, desatenção ao momento presente.
Portanto, treinar Mindfulness nos ajuda também a treinar a nossa força de vontade. Sugiro fazer o Programa de 8 semanas de Mindfulness para começar.
5) Trate-se com mais carinho e gentileza (Autocompaixão)
Além da falsa ideia de que nascemos com uma quantidade de força de vontade que não podemos mudar, outra ideia que atrapalha é desistir no meio do caminho. E isso geralmente está ligado com o pensamento de que temos que fazer – ou não fazer – com perfeição. Se escapamos um pouco do planejado, pronto, não adianta! Melhor não tentar…
Quando sabemos o que valorizamos e criamos um plano de ação, também temos que entender que nem tudo vai sair perfeito. Não é porque planejamos ir três vezes na academia que vamos conseguir ir sempre, não é mesmo? Ir duas vezes, ir uma ou não ir em uma semana é totalmente normal. O X da questão é se tratar bem nesses momentos e voltar o mais rápido possível.
Conclusão
Em resumo, podemos concluir que para aumentar a nossa força de vontade temos que ter mais clareza do que valorizamos, treinar a habilidade de dizer sim quando for para dizer sim e não quando for pra dizer não (e fazer ou não fazer no momento correspondente), tentar estar mais presente e atento ao que acontece aqui agora e se tratar com a gentileza que você trataria um amigo que, por exemplo, deixou de ir na academia.
Lembrando que todos estes passos são muito utilizados também nas sessões com psicólogos e psicólogas. Se você não estiver conseguindo só, procure ajuda.
Saiba mais – Os desafios à força de vontade.
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