Ontem escrevi um texto sobre problemas do tipo gravidade, aqueles que não podemos fazer nada para mudar. Hoje gostaria de trazer para vocês os 3 tipos de problemas (ou assuntos) descritos por esta incrível autora chamada Byron Katie no livro Ame a realidade.
Existem problemas que cabem à mim (1), problemas que cabem ao outro (2) e problemas que cabem à realidade (3). Você pode imaginar 3 círculos separados, e cada problema totalmente separado dos demais.
A ideia da separação dos problemas é fundamental para que possamos viver com mais qualidade de vida. Então vamos lá:
Problemas que cabem à realidade
Problemas ou assuntos da realidade são aqueles que não cabem à mim nem à uma outra pessoa. Por exemplo, na minha cidade natal, a cada duas décadas, em média, acontece uma enchente. A cheia excessiva do rio não é controlada por nenhum dos moradores da cidade. É algo natural, algo que acontece e sobre a qual ninguém tem controle ou influência.
Todos sabemos que vamos morrer, mas nenhum de nós sabe exatamente quando e se preocupar com a hora da morte é entrar em uma assunto que também cabe à realidade e não à mim.
Podemos pensar em vários exemplos como crises macroeconômicas, o surgimento de uma nova doença, se chove hoje ou não… tudo o que não está sob o meu controle ou sob o controle de alguém é um problema ou assunto da realidade.
Problemas que cabem ao outro
Este tipo de problema consiste em tudo aquilo que está na mão de uma outra pessoa (e não na minha). O comportamento de alguém que não eu, obviamente, não cabe à mim, certo? A responsabilidade de cada um é a responsabilidade de cada um.
Por exemplo, se um amigo se comporta mal e é processado, o processo chega no nome dele, não no meu nome. Da mesma forma que no campo jurídico, o que o outro faz é um assunto dele. Ainda que seja uma pessoa extremamente próxima a mim como pai, mãe, filhos, ainda assim o que uma outra pessoa faz é responsabilidade dele ou dela.
Se uma pessoa me trata mal, isso fala sobre a outra pessoa, não fala nada sobre mim. Afinal, a ação de tratar mal alguém foi feita pelo outro, não por mim.
Problemas que cabem à mim
O que cabe à mim, por sua vez, é tudo aquilo que não cabe à realidade e não cabe ao outro. O que está sob a minha responsabilidade? O que eu faço, o que eu posso fazer, o que eu digo, o que eu posso dizer.
O que eu penso? Bem, uma parte dos pensamentos estão sob o meu controle, mas também sabemos que uma parte dos nossos pensamentos surgem de forma automática. Portanto, estes que eu não controlo não estando sob o meu controle, são só pensamentos automáticos. A maneira como eu lido ou interpreto os pensamentos automáticos, entretanto, está sob o meu controle.
Por exemplo, se eu acordo e penso “que dia horrível” eu estou pensando um pensamento automático. Se eu concordo com este pensamento automático, eu sofro, mas se eu consigo ver que esse é só um pensamento, então tudo bem. A maneira como eu recebo o pensamento cabe à mim.
Por que saber sobre os 3 tipos de assuntos é importante?
Byron Katie as vezes fala de problemas ou assuntos ou questões. O importante é conseguir entender que não existe interseção entre os 3. São realmente 3 círculos separados.
Isso é extremamente importante para a saúde mental porque se conseguirmos ver isso de verdade, no dia a dia, vamos parar de querer controlar o que não cabe à mim. É extremamente frustrante ficar tentando controlar na minha cabeça o que a outra pessoa deve fazer. Além de ser inútil, além de me fazer perder um precioso tempo com algo que eu não tenho nenhuma influência real.
Nas palavras da Byron:
“Se você está vivendo sua vida e eu estou mentalmente também vivendo sua vida, quem está aqui vivendo a minha? Estamos ambos lá longe. Estar mentalmente em seus assuntos evita que eu esteja presente nos meus próprios. Fico separada de mim mesma, perguntando-me por que minha vida não dá certo”. Citação do livro Ame a realidade
Se eu fico controlando o que outra pessoa deve dizer, por exemplo, não importa se for meu pai, minha filha ou o presidente, eu esqueço que eu só controlo o que a minha boca diz. Posso ficar a vida inteira reclamando sobre o que fulano disse. E isso não vai mudar a verdade de que a outra pessoa disse ou o que ela vai dizer no futuro não cabe à mim.
Claro que se alguém faz uma ofensa X que me prejudica diretamente, eu posso entrar na justiça por danos morais, por exemplo. O importante aqui é perceber que entrar na justiça cabe à mim. A fala do outro cabe ao outro.
“Na próxima vez que estiver se sentindo estressado(a) ou desconfortável, pergunte a si mesmo(a) em que assuntos você está mentalmente, e é possível que dê uma boa risada. A pergunta pode trazer você de volta para si mesmo(a)”. Citação do livro Ame a realidade
Eu gosto de perguntar para mim mesmo:
“Esse é um problema de quem?”
Conclusão
Quando pensamos no tipo de assunto que cabe ao outro (especialmente se for alguém próximo, da família, namorado(a), esposa ou marido, etc) é fácil confundir o que cabe à mim e o que cabe ao outro.
O que cabe a uma mãe ou pai com relação aos filhos é inclusive procurar educar para que o ser ali cresça como uma pessoa saudável, ética, enfim, uma boa pessoa. Isso é o que cabe a um pai e uma mãe.
Entretanto, os pais que tem mais de um filho sabem que desde muito pequenos, as crianças reagem do seu jeito, a partir do seu temperamento. Isso é o que cabe a cada um dos filhos. E, à medida que eles crescem e ganham autonomia, fica cada vez mais evidente que o que cada filho faz como sua vida é o que cada filho faz, que é o que lhe cabe.
Dúvidas, sugestões, críticas, deixe um comentário.
Referências
Livro Ame a realidade – Byron Katie
Muito bem definido sobre o posso mudar e que não posso.
Professor Felipe, boa noite!
Obrigada pela excelente leitura que tem me proporcionado!
Obrigado João!
Fico feliz que esteja gostando!
Doutor, boa noite!
Parabéns pelo lindo texto, já fiz a leitura por três vezes e não canso.
Vou buscar mudanças e me preocupar com o que cabe a mim.
Obrigada!
Olá Leidinaura!
Fico muito feliz que tenha gostado do texto!
Vamos aprendendo juntos!
Abraços