Em uma pesquisa realizada recentemente em Chicago com 500 pessoas, descobriu-se que, ao longo de um dia normal, as pessoas pensam 3 vezes mais no futuro do que no passado. Isso fundamenta a tese mais nova dentro da psicologia positiva, defendida pelo seu fundador, Martin Seligman, de que o que nos distingue dos outros seres vivos é a prospecção do futuro, mais do que o raciocínio, abstração, lógica.
Se você já praticou algum tipo de meditação alguma vez, terá notado que o exercício de focar a atenção em um objeto – como na respiração – é simples, porém desafiador. A nossa mente produz pensamentos, mais sobre o futuro, segundo esta descoberta, mas também sobre o passado ou mesmo constatações sobre o presente.
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Uma pergunta interessante que podemos nos fazer é: da onde vem os pensamentos? Para que e porque eles surgem?
Distinguindo o eu dos pensamentos
Quando temos um cognição e estamos mergulhados nela, podemos nem perceber direito que estamos pensando. Um exemplo que sempre dou nos grupos de Mindfulness é quando surge um pensamento negativo como “que dia horrível” ou “como eu sou desastrado”. Pensamos um pensamento como esse e já o compramos, acreditamos, até chegamos a “ser o pensamento”.
Se damos um passo atrás e notamos que estamos tendo um pensamento sobre X ou Y, já estamos criando um espaço, uma distância entre o eu e o pensamento. Em vez de “que dia horrível” aparece a consciência “estou pensando que dia horrível”. E nesse sentido tanto faz se é negativo ou positivo: “estou pensando que manhã maravilhosa, que sol lindo, que pessoa bacana eu sou”, etc.
Há o pensamento. Há o eu que pensa o pensamento. Igual a desfusão cognitiva. Também podemos falar em meta-cognição, uma cognição que pensa uma cognição.
O eu que observa os pensamentos
Indo mais além, podemos nos aproximar da consciência de que estamos observando o processo: “eu estou observando que estou pensando como sou inteligente” ou “estou observando que estou pensando sobre X ou Y’.
Se chegamos a esse ponto de observação dos eventos mentais, notaremos que os pensamentos vem e vão. Independente da sua qualidade, positiva, negativa ou neutra, os pensamentos aparecem, duram um tempo e desaparecem.
A questão curiosa é: da onde eles vem? Por que eles surgem?
De onde vem os pensamentos?
Com o desenvolvimento das neurociências, conseguimos ver ao vivo que área do cérebro fica ativada enquanto realizamos alguma atividade como lembrar, calcular, sonhar, responder, falar um outro idioma.
Entretanto, dizer que o pensamento X ativa a região Z do cérebro não me satisfaz como resposta. Estamos dando apenas uma localização anatômica para um evento. Ora, a localização é – para a nossa vida cotidiana – irrelevante. Saber que estamos ativando o córtex pré-frontal não muda muita coisa.
Talvez a pergunta não esteja bem colocada. Qual é a finalidade do pensamento que apareceu, está aparecendo ou vai surgir daqui a alguns minutos?
Pensamentos com uma direção e um personagem
Existem pensamentos que são tão somente constatações do que está ocorrendo agora (ou ocorreu). Por exemplo, uma mulher está conversando ali na rua. Um avião acabou de voar aqui em cima. São quase que como pensamentos-sensação. Estão próximos da percepção.
Temos pensamentos sobre o passado (lembranças) e pensamentos sobre o futuro (sonhos, imaginações, expectativas, planejamentos).
Além destas categorias, podemos imaginar que por trás de uma classe de pensamentos específicos está um personagem da nossa psique. Essa forma de analisar está presente na psicologia analítica do Jung e no psicodrama (Gestalt também).
Por exemplo, Russ Harris, um importante autor dentro da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), cita que ao longo da sua formação em medicina, muitas vezes percebeu o pensamento do que chamou de Síndrome do Impostor. Notando esses pensamentos, ele apenas dizia para si, “ah, mais uma vez esse pensamento que não sou capaz”, como um de personagem que não valoriza ou acredita nos seus próprios esforços.
Uma outra pessoa pode vir a notar os seus pensamentos do seu personagem interno “poeta”, “romântico”, “intelectual”, “ditador”, “como a avó materna”…
No Livro Vermelho de Jung, sobre o qual estarei publicando em breve um livro sobre, o autor encontra diversos desses personagens do seu mundo (cada um com o seu). Ele encontra o eremita, o leitor, o Vermelho (um aspecto negativo como um diabo), uma donzela, um santo, um mendigo… e assim por diante.
Ao entrar em contato com essas partes de sua psique, de sua alma, ele vai se encontrando.
Como talvez você possa ter imaginado, entrar em contato com certos personagens não é algo necessariamente agradável. Reconhecer que temos pensamentos maldosos, bobos, provincianos, odiosos, etc, é fazer o encontro com nossa sombra, o lado da nossa personalidade que tendemos ou queremos esconder.
Porém, se tivermos coragem de ouvir, ver, entrar em contato com estes pensamentos e esses personagens, estaremos certamente dando um passo à frente em nossa jornada de desenvolvimento e autoconsciência.
O exercício consiste em notar e anotar o pensamento e que “tipo de personagem” (podemos dar um nome a ele) teria este tipo de pensamento.
Conclusão
A pergunta de onde vem os pensamentos gera respostas a partir de perspectivas diferentes. Nas neurociências, vamos encontrar a localização no corpo, no cérebro. Na psicologia, fenomenologicamente, vamos encontrar os pensamentos mais próximos (fusão cognitiva) ou mais longes do eu (desfusão cognitiva).
Além dos pensamentos de constatação, sobre o passado ou sobre o futuro, também podemos aprender sobre nós mesmos imaginando que certos pensamentos são atribuíveis a um ou mais personagens internos.
Se conseguirmos superar as resistências, podemos vir a entrar em contato com tais facetas escondidas ou inconscientes de nós mesmos, acelerando o nosso processo de individuação.
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