A psicologia existencial é uma das linhas da psicologia clínica mais difundidas no mundo. Neste texto, vamos refletir juntos sobre dois aspectos inter-relacionados: a liberdade e a angústia e, por sua vez, a relação de ambos com a finitude da existência, ou seja, a morte.
A finitude da existência
É compreensível que não consigamos ver nem imaginar direito que vamos morrer um dia, como diz uma música: “eu não posso ver o final de mim”. Entretanto, embora saibamos desde pequenos que todos nós vamos morrer, talvez só realmente chegamos a entender de fato o que isso significa quando alguém muito próximo e querido morre.
É assombroso, espantoso, absurdo… ficamos sem palavras. Na psicologia e filosofia existencial, os autores resumem esse assombro na palavra angústia. Na língua alemã de Heidegger, apontado como um dos autores fundamentais do existencialismo, a palavra angústia é Angst e poderia ser traduzida como ansiedade, angústia ou medo.
Se pensarmos na finitude, no limite da vida, nossa e de todos os outros, se de verdade olharmos para este fato irrefutável será quase inevitável sentir angústia. Esse é o lado terrível que, apesar de terrível, não deve ser suprimido, pois só com a correta compreensão da finitude é que podemos ter a correta compreensão da liberdade.
Liberdade, contingência e autenticidade
Após uma profunda reflexão sobre a finitude, ao lado da angústia, também podemos passar a ver a liberdade. A liberdade, evidentemente, não é total. Temos o limite dos nossos corpos (por exemplo, não podemos voar sem ajuda de um avião), temos o limite de circunstâncias externas (por exemplo, não ter dinheiro para adquirir isso ou aquilo ou não conseguir um visto para ir para outro país), e muitos outros limites no que é chamado de contingência.
Entretanto, ainda assim somos livres para decidir o que queremos fazer. Apesar das contingências atuais e contra o tempo que nos resta, na visão da psicologia existencial uma vida digna de ser vivida é a vida que contempla a angústia da finitude, as contingências, mas, acima de tudo busca a autenticidade.
Ao contrário de outras ideias sobre o ser humano, a psicologia existencial defende o argumento de que a essência não é algo dado: o ser (essência se relaciona a ser) passa a ser, existindo. E, como somos seres que temos consciência e autoconsciência, podemos enfrentar a pergunta sobre o que queremos ser e o que pode refletir, na existência, o que sentimos e pensamos que somos, de maneira autêntica.
A existência autêntica
É muito bonito falar de autenticidade, porém, na medida em que a essência nasce com a existência, cada um tem que se encontrar. Não há nada dado. Razão pela qual ouvimos falar muito de crise existencial. Crise existencial, como um termo muito usado no senso comum, resume a ideia desta busca por constituir o ser e, igualmente, a angústia que a acompanha.
A autenticidade (eigentlichkeit, em alemão), na psicologia existencial, significa, portanto, a busca pelo ser, a procura do encontro de si, para além das contingências externas, das pressões e exigências do meio em que cada um de nós vive.
A autenticidade também é definida como o quão alguém é fiel a si mesmo ou verdadeiro com os seus próprios valores, sonhos e projetos, a despeito de ter que lidar com forças externas que desafiam constantemente a manutenção da autenticidade. Assim, a autenticidade é mantida no agir no mundo e responder – de maneira autêntica – às suas demandas.
Conclusão
Ao entendermos a finitude da existência, é inevitável se deparar com a angústia. A palavra angst, em alemão, é polissêmica. Traz a ideia de que a morte provoca medo, ansiedade, angústia. A questão central é que é um fato. Um dia acordaremos e será o nosso último dia.
Junto do aparecimento da angústia, surge a compreensão da liberdade. Ainda que pareça que tenhamos que fazer isso ou aquilo, passamos a ver que há escolha. As pressões externas para agir de um modo ou de outro são convenções sociais, morais, tradições (geralmente não muito antigas)…
Embora as escolhas sejam contingentes, de acordo com as circunstâncias do momento, há escolha. E é a partir da escolha que podemos trilhar um caminho autêntico, verdadeiro com quem somos e com quem queremos ser, ou tomar um caminho inautêntico.
O termo eigentlichkeit, em alemão, refere-se a Eigen a si mesmo, próprio, peculiar, distintivo. Uma outra maneira de pensar em autenticidade é pensar: uma existência autêntica é uma existência em que se vive de acordo com o si mesmo (com quem somos e sentimos que somos), com um olhar próprio, com uma perspectiva peculiar, particular e que distingue-nos dos outros todos.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo.
Leio com muito interesse e aprendo muito com suas crônicas, Parabéns professor.
TO QUERENDO ENTRA NA AREIA DA PSICOLOGIA GOSTEI MUITO DE CONHECER O SITI DE VCS TÃO DE PARABENS
COM UMA ESCRITA Q ATE EU Q NAO SOU LEIGO ESTE GOSTANDO E INTEMDENDO
Quais livros tu indicaria para quem quer conhecer mais a psicologia existencial? E quais livros de Heidegger para um leigo como eu que ainda está começando? Estou no 6° período de psicologia e não temos essa abordagem na faculdade.
Obrigada
Olá Juliana! O ideal seria ler o Ser e o Tempo. Uma mais fácil é um seminário que ele deu para psiquiatras (agora não lembro exatamente o nome). Recomendo também o Sartre, (até os romances e teatros dele são interessantes) e claro Rogers, Maslow e Frankl.