“Toda criança é artista. O problema é como continuar sendo, depois de crescer” (Picasso)
Olá amigos!
Sempre fui fascinado por arte: música, pintura, escultura, arquitetura. Com o tempo, comecei a ler biografias e a ver filmes e documentários sobre os movimentos artísticos e, principalmente, sobre os artistas. Neste texto, gostaria de comentar com vocês sobre as relações existentes entre Mindfulness e Arte.
O que é Mindfulness
Mindfulness é uma palavra que vem se popularizando. Existem muitas definições. Jon Kabat-Zinn diz: “A minha definição operacional de Mindfulness é: a consciência que emerge quando prestamos atenção de propósito no momento presente e sem julgamento” (Jon Kabat-Zinn).
No vídeo abaixo, explico a concepção de Mindfulness através do trabalho da psicóloga americana Ellen Langer:
Assim, Mindfulness significa estar atento ao momento presente. Prestar atenção ao que acontece, como acontece, de maneira intencional. Ou seja, com vontade de estar aqui e agora. Se abrir à possibilidade de estar plenamente, totalmente, neste segundo.
E existem formas para estar plenamente atento. Ellen Langer nos diz que uma das maneiras é estar aberto a outras perspectivas.
A originalidade do artista
Embora definir arte seja muito mais complicado do que definir Mindfulness, os grandes artistas – todos sem exceção – foram originais. Os críticos falam das influências de artistas anteriores, de movimentos do passado, de fontes de inspiração, mas se um artista não for original dificilmente será considerado um artista. Poderá ser um bom imitador, um bom copista, mas um artista… parece que não.
O lema da Apple, “Think differente”, “Pense diferente” é um mote que resume a questão da originalidade. Um pintor pode pensar diferente sobre como olhar, um músico sobre como rearranjar as notas, um escultor sobre como criar novas formas, novas texturas.
Como diz Fernando Pessoa:
- “O meu olhar é nítido como um girassol.
- Tenho o costume de andar pelas estradas
- Olhando para a direita e para a esquerda,
- E de vez em quando olhando para trás…
- E o que vejo a cada momento
- É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
- E eu sei dar por isso muito bem…
- Sei ter o pasmo essencial
- Que tem uma criança se, ao nascer,
- Reparasse que nascera deveras…
- Sinto-me nascido a cada momento
- Para a eterna novidade do Mundo…
Talvez por isso Picasso diz que todos nascemos artistas e somos artistas na infância. Depois, aprendemos a ter apenas uma única perspectiva.
Abertura
Outra modo de conceber a originalidade, da criação ou observação do mundo (interno ou externo), é através da ideia de abertura. O indivíduo que se fecha em si mesmo ou que se fecha e não recebe mais informações está querendo permanecer idêntico, igual, sempre do mesmo.
Abertura é uma metáfora, talvez física, para receber o novo. É a abertura para o diferente, para o estrangeiro, para o que não foi visto, tocado, pensado. Como se o artista dissesse: “como eu posso ver / sentir / pensar / observar / isso – aquilo por outro ângulo?
Esse conto antropológico é fantástico – Nacirema
Aquela velha opinião formada sobre tudo. Quando pensamos em arte e originalidade, genialidade ou algo semelhante, podemos nos incluir fora disso. Mas não precisamos ser artistas para ter esta abertura.
Não é incrível pensar que tudo o que pensamos sobre o mundo é só um pensamento? E um pensamento em português?
Compaixão
Um outro aspecto importante presente na arte é que os artistas tem compaixão com quem eles mesmos são. Poderíamos falar em autoconfiança, talvez. Prefiro aqui dizer autocompaixão. O pedestal em que colocamos os artistas, como um Olimpo, é bem engraçado se pensarmos que nada disso existe. Quer dizer, um Picasso foi um ser humano que teve, consigo, compaixão suficiente para acreditar em si, pra começo de conversa, para tentar fazer algo seu.
Consegue imaginar se Picasso – ou qualquer um outro que você queira imaginar – tivesse pensado que não era bom o suficiente?
James Joyce, considerado um dos maiores escritores de língua inglesa, dizia que a crítica que mais o chateava era a crítica de que não estava fazendo algo sério. Não que Joyce fosse um sujeito sério, era na verdade muito engraçado. O que ele quer dizer é que o chateava quando outra pessoa achava que ele não estava fazendo algo de verdade. Portanto, é óbvio que ele mesmo se levava a sério.
Nas práticas de Mindfulness, é muito comum o surgimento de padrões de pensamento de desprezo, de falta de amor próprio. “Os outros podem fazer isso, eu não”. Ou, o que é pior: “eu não quero ver como sou”.
Nunca me canso de citar pensamento de Mandela: “Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta. Nos perguntamos: “Quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso e incrível?” Na verdade, quem é você para não ser tudo isso?…Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você. E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo”.
Conclusão
E, por fim, outra relação entre Mindfulness e Arte está no conceito de Flow, de fluir. Quando produzimos algo com atenção plena entramos no estado que Mihaly chamou de Flow: a imersão total no que estamos fazendo, o que tempo voa ou não passa, e somos felizes no processo.
O que é e como funciona o estado de fluxo – Flow?
É muito comum pensar que Mindfulness é meditação. Os dois termos não devem ser confundidos: “Mindfulness não é o mesmo que meditação, quer dizer, se pode meditar sem praticar mindfulness e se pode praticar mindfulness sem fazer meditação formal” (Cebolla & Demarzo, p. 26).
Ou seja, existem práticas de meditação que não tem por objetivo buscar a atenção plena e podemos estar plenamente atentos sem praticar a meditação formal, fazendo arte ou percebendo-a.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!
Textos adoraveis!
Obrigado!
Ótimos textos. Muito úteis!
Vc tem algum sobre inveja de amigos? Como lidar com ela?
Obrigada
Regina
Caro Felipe de Souza,
Grato pela sua simpatia e pelo seu trabalho de divulgação.
Gostaria de dizer que o texto sobre o “medo” que atribui a Mandela (“Nunca me canso de citar pensamento de Mandela:…”) é, na verdade, da autoria de Marianne Williamson.
Abraço,
Aurelio José Faia (Psicoterapeuta – Lisboa – Portugal)
“Our deepest fear is not that we are inadequate. Our deepest fear is that we are powerful beyond measure. It is our light, not our darkness that most frightens us. We ask ourselves, ‘Who am I to be brilliant, gorgeous, talented, fabulous?’ Actually, who are you not to be? You are a child of God. Your playing small does not serve the world. There is nothing enlightened about shrinking so that other people won’t feel insecure around you. We are all meant to shine, as children do. We were born to make manifest the glory of God that is within us. It’s not just in some of us; it’s in everyone. And as we let our own light shine, we unconsciously give other people permission to do the same. As we are liberated from our own fear, our presence automatically liberates others.”
― Marianne Williamson, A Return to Love: Reflections on the Principles of “A Course in Miracles”
Bom dia, estou muito satisfeito com os vídeos sem falar dos estudos, estou fazendo psicanálise e estou aprendendo muito com seus vídeos, muito obrigado.
Amei!
Obrigado Aurelio!
Em diversos artigos e livros eu sempre vi a atribuição a Mandela. De toda forma é brilhante! ;)
Olá Regina!
Nós temos alguns textos sobre inveja:
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/?s=inveja
Olá, Felipe. Agradeço primeiramente a excepcional qualidade dos seus posts e a explicita dedicação que teve para cria-los! Queria muitíssimo que você respondesse a uma pergunta. Percebo que você traduz vários livros de psicologia, pois domina alguns idiomas e eu queria saber quais? Quais você acha que são mais precisos, que auxiliam mais futuros profissionais na área; Quais idiomas tem mais livros, publicações, e afins para a profissão de um Psicologo? Agradeço desde já e aguardo ansiosamente pela resposta! Abraço!
Olá Beatriz!
Eu sou fluente em inglês e tenho domínio suficiente para ler alemão, francês, espanhol e talvez um pouco de italiano.
A melhor língua é o inglês, que possui o maior acervo de livros e artigos científicos. Como também tivemos autores muito importantes que escreveram em alemão e francês, estas duas línguas são as que vem em seguida em termos de importância.
Atenciosamente,
Felipe de Souza