Estou lendo agora um livro chamado The Highly Sensitive Person, da psicóloga clínica Ph.D Elaine N. Aron e gostaria de compartilhar com vocês as informações contidas no livro. Em primeiro lugar, é importante entender o que é ser uma pessoa altamente sensível e, depois, se você for ou não tiver este tipo de traço de personalidade, com mais conhecimento você poderá lidar consigo ou com pessoas que o possuem.

O que é uma pessoa altamente sensível?

Para definir como é este traço de uma pessoa altamente sensível, temos que compreender a questão da sensibilidade. Em termos mais simples, do modo como o cérebro recebe e processa as sensações advindas dos cinco sentidos. Não estamos falando aqui de uma pessoa sensível no sentido de intuição e igualmente precisamos distinguir entre este traço e introversão (de Jung: a atitude de voltar-se para si), neurose – tendência a estar excessivamente ansioso(a) ou timidez.

Apesar da diferença entre introversão e neurose e o traço, é comum que haja confusão. Então, vamos esclarecer como é e o que acontece na psique de uma pessoa altamente sensível.

Profundidade de processamento

Estudos da neurociência indicam que pessoas com o traço possuem a tendência de processar  informação com mais profundidade, consciente ou inconscientemente. Razão pela qual muitas vezes o processo de tomada de decisão pode ser mais demorado que para outras pessoas. Em outros casos, a profundidade de processamento, se inconsciente, pode ser vista como intuição. No fundo, o que houve foi um processo que não se tornou consciente durante todo o tempo, mas que aconteceu por um período mais longo e, ao final, surge como se fosse do nada.

“A pesquisadora Bianca Acevedo e seus colegas mostraram que o cérebro de uma pessoa altamente sensível se torna mais ativado que outros cérebros em uma área chamada insula, uma parte do cérebro que integra o conhecimento  momento-a-momento de estados internos e emoções, posição corporal e eventos externos. Alguns chamam-na de assento da consciência” (ARON, p. 24).

Estimulação em excesso

Talvez devido à profundidade de processamento, ocorra a sensação de estimulação em excesso. “Se você vai notar cada pequena coisa em uma situação, e se a situação é complicada (muitas coisas para lembrar), intensa (barulhenta, desorganizada, etc.) ou muito prolongada (duas horas), parece óbvio que você vai ter a tendência de se desgastar mais cedo por ter tanto processamento cerebral. Outros, não notando tanto quando você (ou até não notando nada ou quase nada), não vão se cansar tão facilmente” (ARON, p. 24).

Por isso, é comum que seja impossível ir ao shopping – um lugar barulhento e com muito estímulo – e depois, à noite, ir a uma festa.

A dificuldade de lidar com estimulação em excesso é provavelmente a característica mais fácil de ser notada pela própria pessoa ou pelos demais. Isto porque devemos incluir a estimulação social, ou seja, estar em contato com muitas pessoas como um estímulo digno de nota. Devido ao cansaço ou sensação de desgaste de lidar com tantas informações, há a tendência de se evitar o contato ou não dar conta de estar e permanecer tanto tempo em situações sociais.

E, evidentemente, a negação ou evasiva para aceitar certos convites é algo que as pessoas percebem. E, consequentemente, há muitas vezes a rotulação como introversão ou timidez. Mas é importante distinguir. Um pessoa altamente sensível pode ser extrovertida. Com o adendo de que a sua extroversão tem a característica de precisar “dar um tempo” mais rápido do que outros extrovertidos.

No filme Sensitive, the untold history (Sensibilidade, a história não contada), baseado no livro e trabalho de Aron, uma das pessoas que diz ser altamente sensíveis é a cantora canadense Alanis Morissette.

Reatividade emocional

Estudos indicam que as pessoas altamente sensíveis apresentam uma reatividade emocional mais intensa e profunda do que o grupo-controle. E tendem a ser mais empáticas. Esta característica é notada nos escaneamentos cerebrais pela maior ativação da insula mas igualmente pela maior ativação do sistema de neurônios espelhados (mirror neuron system).

“Os neurônios espelhados do cérebro foram descobertos somente há cerca de vinte anos. Quando nós assistimos alguém fazendo algo ou sentindo algo, este tipo de neurônios se ativa da mesma maneira que os neurônios das pessoas que estamos observando. Como um exemplo, os mesmos neurônios são ativados, em em intensidades variadas, se nós estamos chutando uma bola, assistindo alguém chutando uma bola, escutando o som de alguém chutar uma bola ou ouvindo a palavra – chute” (ARON, p. 26).

É através do estudo deste tipo de neurônios que se comprovou que as pessoas altamente sensíveis possuem mais empatia, na medida em que os seus neurônios espelhados lhes permite sentir e perceber o que a outra pessoa está sentindo, empaticamente.

Vendo o que não foi visto

Elaine N. Aron, que se considera ela mesma uma pessoa altamente sensível, argumenta que a característica mais notável, pela própria pessoa, é a capacidade de ver o que ninguém viu, ou seja, de perceber o sutil, as súbitas diferenças, os detalhes. Mas não se trata de ter super-poderes nos cinco sentidos. Ela diz que muitos usam óculos, por exemplo.

O fato de perceber o que não foi percebido pelas pessoas se deve não uma capacidade extraordinária dos cinco sentidos mas certamente ao modo como o cérebro processa a informação.

Conclusão

A autora afirma que 20% da população pode ser altamente sensível. A causa é genética, portanto, é um traço que vem desde o nascimento. Não é necessariamente ruim ou bom. Embora pessoas que tenham tido infâncias particularmente difíceis – e outros estressores – possam ter uma maior tendência a desenvolver um transtorno mental, de ansiedade, depressão ou outro, o traço pode ser igualmente uma característica útil e adaptativa.

E, para concluir, a orientação da Elaine N. Aron é para que, devido ao fato de haver a sensação de estimulação em excesso, s dica fundamentais para aprender a lidar com a condição são:

  • 8 horas de sono (ou na cama, dormindo ou não);
  • 2 horas sem tanta estimulação ao longo do dia. Pode ser praticando um determinado tipo de meditação, uma caminhada em um local tranquilo. O importante é permitir um espaço de tempo para que a mente possa se recarregar, ou, em outras palavras, divagar, ser deixada à deriva, para ir aonde quiser ir.
  • tirar uma semana de folga a cada 3 meses, ao invés de férias de um mês em um ano (se possível).

Psicólogo Clínico e Online (CRP 06/145929), formado há 16 anos, Mestre (UFSJ) e Doutor (UFJF), Instrutor de Mindfulness pela Unifesp. Como Professor no site Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e Vídeos em HD. Faça como centenas de alunos e aprenda psicologia através de Cursos em Vídeo e Ebooks! Loja de Vídeos e Ebooks. Você pode também agendar uma Sessão Online, Terapia Cognitivo Comportamental, Problemas de Relacionamentos, Orientação Profissional e Coaching de Carreira , fazer o Programa de 8 Semanas de Mindfulness Online. E não se esqueça de se inscrever em nosso Canal no Youtube! - no TikTok -, e Instagram! Email - psicologiamsn@gmail.com - Agendar - Whatsapp (11) 9 8415-6913