“Para realizar grandes feitos, duas coisas são necessárias: um plano e não muito tempo” (Leonard Bernstein).
Olá amigos!
Philip Zimbardo ficou conhecido pelo seu experimento de aprisionamento em Stanford, na década de 1970. Neste experimento, ele selecionou participantes da universidade para ficar um mês em uma cadeia simulada, alguns como guardas e outros como presos.
Uma das conclusões da pesquisa foi que, praticamente desde o início, os participantes esqueciam de que era um experimento e vivenciavam a sua posição no local.
No livro Time Paradox, O Paradoxo do Tempo, que escreve com Jon Boyd, Zimbardo menciona o experimento e o interpreta através do tempo psicológico. Assim como acontece nos Reality Shows (embora com certas diferenças), os participantes entram no jogo por possuírem cada um uma vivência particular sobre o tempo. Os que tem uma visão mais distanciada e do futuro, talvez não se envolvam tanto com os problemas e dificuldades atuais. Enquanto que os que são mais orientados pelo presente podem realmente entrar na situação atual, como um prisioneiro, guarda ou “brother” ou “fazendeiro”.
Neste texto, vou comentar sobre os paradoxos do tempo, sobre o tempo psicológico. Em uma outra oportunidade, poderemos nos aprofundar no experimento de aprisionamento.
O tempo psicológico
No terceiro capitulo do Ulisses, de James Joyce, intitulado Proteus encontramos o pensamento: “I am, a stride at a time. A very short space of time through very short time of space” – “Eu sou, um passo de cada vez. Um pequeno espaço de tempo através de pequenos tempos de espaço”.
Não interessa de que modo possamos conceber o tempo, o tempo – de difícil definição como diz Santo Agostinho, mas que todos sabemos o que é – é sempre relacionado ao espaço. Das ampulhetas aos relógios solares antigos, passando pelos calendários, mapas astrais ou cronômetros modernos. Há constantemente a descrição do tempo pelo espaço. Como as representações do tempo como linha do tempo, da esquerda para a direita ou como no facebook ou twitter, de baixo para cima (ou de cima para baixo).
Em geral, aprendemos na escola e na nossa cultura que o tempo é objetivo. Hoje é o dia X, do mês Y, do ano Z. E agora são 15:17. E, por ser algo tão pervasivo, tão imiscuído na nossa ideia da realidade, esquecemos que todos estes números são criados pela mente, mantidos pela memória e são só representações e convenções.
Em outras palavras, convencionamos o tempo com objetivos práticos. Para facilitar, por exemplo, o encontro de duas ou mais pessoas fazendo que todos saibam quando ir.
Mas o mais interessante do tempo é que cada um tem um tempo psicológico que é ligeiramente (ou totalmente) diferente das outras pessoas.
1) O paradoxo do tempo: a inconsciência
Zimbardo escreve em seu livro: “O tempo possui a mais poderosa influência em nossos pensamentos, sentimentos e ações, entretanto nós geralmente estamos inconscientes do efeito do tempo em nossas vidas”.
Para comprovar este paradoxo, Zimbardo relata um outro experimento, realizado pelos psicólogos John Darley e Dan Batson. Na Universidade de Principton, um grupo de estudantes tinha que preparar um discurso sobre a parábola do bom samaritano, da Bíblia. Este grupo foi dividido em dois: 1) antes de irem para a apresentação, este sub-grupo ouvia que estavam atrasados e que tinham poucos minutos e deviam correr para o local; 2) no segundo sub-grupo, os pesquisadores diziam o contrário, que eles tinham ainda bastante tempo antes de sua fala.
No trajeto, os pesquisadores inseriam uma pessoa que fingia estar caída, que qualquer um poderia imaginar que estava precisando de ajuda.
Como seria a reação do grupo 1, que estava com pressa, e do grupo 2, que tinha tempo?
O resultado foi como esperado. Mesmo tendo em vista a parábola do bom samaritano no discurso que teriam que fazer em seguida, o sub-grupo 1, porque estava com pressa, não parou para ajudar, em sua maioria (90% não pararam). As pessoas do outro sub-grupo, todas, individualmente, pararam para ajudar.
Esta pesquisa demonstra que a sutil manipulação do tempo pelos pesquisadores – dizendo que havia ou não havia tempo para uma tarefa – alterou o comportamento. E, portanto, o experimento ilustra o paradoxo de que não nos atentamos para o modo como a concepção de tempo influi no que fazemos ou deixamos de fazer.
2) O paradoxo do tempo: presente e futuro
O segundo paradoxo diz o seguinte: “cada atitude frente ao tempo – ou a perspectiva individual sobre o tempo – é associada a numerosos benefícios, mas em excesso é igualmente associada a grandes perdas”.
Existem pessoas que vivem mais no futuro do que no presente e outras vivem mais no presente e deixam o pensamento sobre o futuro para depois. Como o paradoxo diz, existem vantagens e desvantagens.
Focar a atenção no futuro ajuda a realizações acadêmicas, profissionais e financeiras. Mas pode ser uma fonte de ansiedade e preocupações desnecessárias. Focar a atenção no presente implica em ter mais consideração com os demais, porém também pode suscitar comportamentos autodestrutivos, como vícios em álcool, drogas ou jogos.
No texto, 10 diferenças entre os mais ricos e mais pobres mostramos que os mais ricos pensam, em termos de suas finanças, em projetos de dez, vinte e até trinta anos.
A chave para conseguir o melhor dos dois mundos é ter consciência de quando é necessário utilizar uma perspectiva e quando é mais salutar utilizar outra. Se estamos com a nossa família e os nossos amigos, a melhor estratégia é aproveitar o momento e estar plenamente aqui-e-agora. No trabalho, em geral, é útil ter em vista o médio e o longo prazo.
3) O paradoxo do tempo: individualidade e sociedade
E, por fim, o terceiro paradoxo diz: “as atitudes individuais sobre o tempo são aprendidas através de experiências pessoais, entretanto, as atitudes coletivas sobre o tempo influenciam o destino das nações”.
Quem já estudou antropologia, certamente viu que existem enormes distâncias entre as culturas, também em relação ao tempo. Por exemplo, os segundos não eram contados antes da Revolução Industrial.
O que deve ser considerado é que o tempo é o nosso maior ativo. Isso significa que a frase tempo é dinheiro é equivocada. Não podemos guardar o tempo como fazemos com o dinheiro para utilizar depois. O tempo passa e não há como recuperá-lo.
Conclusão
Para concluir, é inevitável lembrar que o nosso tempo de vida não é escasso. E Steve Jobs nos ajuda a finalizar o texto: “Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões” (Steve Jobs).
Adoro essa página. <333333