A ideia de vulnerabilidade geralmente é mal compreendida e muitas vezes pode gerar certo desconforto. Como seres humanos, estamos programados para buscar segurança e proteção. No entanto, a vulnerabilidade é uma experiência humana universal que abre caminho para a autenticidade, a empatia e a conexão, ao contrário do que poderíamos compreender de princípio.
A Dra. Brené Brown – pesquisadora e autora best seller transformou nosso entendimento sobre a vulnerabilidade através de seus livros e é mundialmente conhecida pelas suas falas no Ted Talk, e pelos documentários no Netflix e HBO.
Podemos dizer que vulnerabilidade é uma faca de dois gumes. Por um lado, está relacionada com emoções que geralmente tentamos evitar, como medo, incerteza e exposição. No entanto, como Brené Brown afirma, é também “o berço da inovação, criatividade e mudança”. É onde o amor, o sentimento de pertencimento, a alegria e a empatia nascem. Portanto, tentar eliminar a vulnerabilidade de nossas vidas seria impossível sem eliminar esses aspectos positivos. Ao invés disso, devemos aprender a abraçá-la e percebê-la como uma oportunidade para o crescimento pessoal. A vulnerabilidade é, assim, uma medida de coragem.
Vulnerabilidade: Um Ato de Coragem
Brown desafia a ideia comum de que vulnerabilidade é sinônimo de fraqueza. Em vez disso, ela argumenta que a vulnerabilidade é a base da coragem, do ato de se abrir, arriscar-se e ser visto por quem realmente somos, com todas as nossas imperfeições.
No contexto terapêutico, isso se traduz em aceitar e expressar nossos sentimentos e pensamentos internos, mesmo quando eles são difíceis ou desconfortáveis. Isso exige uma quantidade significativa de coragem e é uma parte fundamental do processo de melhora. Nos atendimentos, possibilitamos que os nossos clientes possam ter um espaço para se expor em um contexto seguro, em que não serão punidos.
Tecnicamente, na psicologia comportamental, chamamos de Comportamento Vulnerável à Punição Interpessoal (CVPI). Ao emitir um CVPI – sem que haja a punição como consequência – conseguimos criar mais intimidade e conexão com o outro.
O Paradoxo da Vulnerabilidade
O paradoxo da vulnerabilidade reside no fato de que, ao evitarmos nossa vulnerabilidade, acabamos nos tornando mais suscetíveis a comportamentos problemáticos (vulnerabilidade a problemas). Como Brown salienta, quando tentamos nos proteger do desconforto da vulnerabilidade, geralmente recorremos a comportamentos que, a longo prazo, podem ser mais prejudiciais, como a evitação, vícios, a raiva excessiva ou a dificuldade de criar de conexões autênticas. Por isso, enfrentar nossa vulnerabilidade, embora possa ser doloroso no início, pode nos salvar de danos mais complicados no futuro.
Conclusão
Nossa sociedade muitas vezes valoriza a invulnerabilidade, incentivando-nos a ser fortes, independentes e autossuficientes. No entanto, como o trabalho de Brown nos mostra, a vulnerabilidade não é algo a ser eliminado, mas cultivado.
Ao nos permitir sentir e expressar nossa vulnerabilidade, abrimos espaço para conexões mais profundas com os outros e com nós mesmos. Nos permitimos experimentar uma gama mais ampla de emoções, criamos empatia e incentivamos a inovação e a criatividade.
Abraçar a vulnerabilidade não significa se tornar passivo diante das dificuldades. Significa reconhecer nossos medos e incertezas, enquanto continuamos a nos mover em direção aos nossos objetivos e valores.
A vulnerabilidade, longe de ser uma fraqueza, é uma expressão de coragem e humanidade. E, como Brené Brown nos lembra, é uma parte essencial de uma vida autêntica e significativa.