A ideia de praticar a aceitação está presente na psicologia desde a psicologia humanista de Carl Rogers e tem destaque, mais recentemente, inclusive no título, na Terapia de Aceitação e Compromisso. Mas o que é aceitação?
Rogers acreditava que o cliente, com a terapia, ao se sentir completamente aceito pelo terapeuta, conseguia aceitar a si mesmo. E deste modo surge o seu famoso paradoxo: “O paradoxo curioso é que quando eu me aceito como eu sou, então eu mudo”.
Atualmente, pensamos na aceitação como um processo psicológico de flexibilidade. A flexibilidade psicológica está relacionada a níveis mais altos de bem estar, enquanto a inflexibilidade está relacionada a níveis maiores de transtornos mentais.
Para entendermos, então, o que é aceitação, podemos começar com o que ela não é.
O que não é aceitação?
Tanto em português como em inglês, a palavra traz em seu campo semântico uma noção de passividade. Por exemplo, se eu penso em uma situação que me traz sofrimento, a ideia de que eu deveria aceitar implica nesse sentido que eu não deveria fazer nada. Basta aceitar. “Aceita que dói menos”, como se diz.
Porém, o conceito e a prática da aceitação não tem nenhuma relação com passividade. A palavra compromisso (em Terapia de Aceitação e Compromisso), indica o compromisso com a mudança, com fazer coisas diferentes, com se comprometer em seguir em direção ao que importa.
Por isso, muitos psicólogos preferem utilizar um outro termo – disponibilidade (willingness). “Estou disposto a ficar com este sentimento de tristeza devido ao luto…” ou “estou disposto a sentir ansiedade enquanto faço essa apresentação”. Aceitação, portanto, não quer dizer não fazer nada. Aceitação é um movimento interno de abertura para aquilo que é difícil, é estar disposto a ficar – ou a enfrentar – o que uma parte de nós poderia querer evitar.
Eu aceito o que?
Outra forma de entender a aceitação é pensar através de um conteúdo. Um paciente pode ter dificuldade de aceitar um pensamento ou um sentimento ou uma sensação.
Por exemplo, um paciente com transtorno obsessivo-compulsivo pode ter dificuldade de ficar com um pensamento de contaminação. Para não ficar com um pensamento, são desenvolvidos rituais de descontaminação. Aceitar o pensamento de contaminação, ficar com ele, estar disposto a vê-lo, pode ser uma das etapas do tratamento.
Outra pessoa pode ter pavor de sentir ansiedade. A ansiedade pode trazer uma impressão de morte (como no transtorno de pânico). Aprender a se expor a situações que poderiam ser gatilho para o pânico, e, ao mesmo tempo, aprender a permanecer com a ansiedade e com as sensações de taquicardia é desenvolver a aceitação.
Aceitação radical
Tara Brach, psicóloga clínica e autora do livro Aceitação Radical, explica a sua definição neste trecho:
“Aceitar absolutamente tudo em nós na nossa vida, acolhendo com lucidez e cuidado nossa experiência momento a momento. Este aceitar absolutamente tudo é estar consciente do que está acontecendo no nosso corpo e na nossa mente em qualquer dado momento, sem tentar controlar, julgar o rejeitaram. Não se trata de tolerar comportamentos prejudiciais, sejam nossos ou de outras pessoas. É um processo interno de aceitar nossa experiência real do momento presente. Significa sentir tristeza e dor sem resistir. Significa sentir desejo e versão por alguém ou alguma coisa sem ser julgado por esse sentimento nem ser levado agir imediatamente” (Brach, p. 37).
Nesta definição, vemos a relação com o momento presente. Durante muito tempo em nossas vidas, ficamos no chamado piloto automático, viajando para o passado e para o futuro, com desejo e medo, desejo e aversão. Estes sentimentos também podem ser aceitos como são, aqui e agora.
No livro de Brach, que super recomendo, ela traz formas de treinar a aceitação, especialmente para a nossa conhecida sensação de não sermos bons o suficiente.
Treinando aceitação
Antes de concluirmos este texto, se você quiser, você pode começar a treinar a aceitação com uma simples prática:
– Marque 3 minutos em um Timer ou cronômetro.
– Durante 3 minutos observe o que está acontecendo aqui e agora: sons, temperatura, sensações nas várias partes do corpo, emoções e sentimentos, pensamentos.
– Durante estes minutos, procure ficar com esta atitude interna:
“Estou disposto a aceitar tudo o que aparecer. Somente por estes minutos”.
Conclusão
Aceitação é um processo psicológico que pode ser desenvolvido com práticas como estas. Lembrando que às vezes precisamos de ajuda profissional para aprender a aceitar e para lidar com questões que são muito dolorosas.
Dúvidas, sugestões, comentários, escreva abaixo.
Bastante interessante. Creio que um dos pilares da aceitação seja perdoar e, principalmente se perdoar… Ambos exigem se conhecer para reconhecer os erros e acertos que tivemos na vida, afim de conseguir ter empatia com o outro. Ninguém é um robo que faz tudo certo o tempo todo.