Crenças positivas e crenças negativas na TCC

No dia a dia, geralmente falamos sobre acreditar e não acreditar em alguma coisa. Podemos pensar em crenças religiosas e algumas vezes falamos sobre crenças limitantes ou negativas.

Dentro da psicologia cognitiva, da terapia cognitivo comportamental (TCC), o conceito de crenças é muito importante para entendermos os transtornos mentais. Segundo a TCC, as crenças são entendidas como centrais para a causa e manutenção do sofrimento. Mas o que são crenças?

Na terceira edição do famoso livro (que é ótimo para uma introdução na TCC) – Terapia Cognitivo Comportamental, Teoria e Prática, de Judith Beck, encontramos a seguinte definição:

“Crenças nucleares são nossas ideias centrais sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre o mundo. As crenças adaptativas são realistas e funcionais e não são extremas. As crenças nucleares disfuncionais são rígidas e absolutas, mantidas pelo processamento mal adaptativo das informações” (Beck, p. 280).

Crenças, portanto, são ideias que temos e acreditamos. Elas podem ser negativas ou positivas, adaptativas ou desadaptativas. Na imagem abaixo, podemos ver três crenças negativas e desadaptativas que vem sendo estudadas na TCC há muitas décadas:

Desenvolvimento de crenças

Uma pergunta que podemos fazer é porque algumas pessoas têm e mantém mais crenças negativas que positivas.

Segundo Judith Beck: “as pessoas começam a desenvolver crenças nucleares desde muito cedo, influenciadas por sua predisposição genética, sua interação com outras pessoas significativas e pelo significado que atribuem a suas experiências e circunstâncias” (Beck, p. 280).

3 crenças negativas

As crenças de desamparo, desvalor e desamor, como dissemos acima, foram muito estudadas, por exemplo, na depressão. Pacientes com transtorno depressivo maior tendem a acreditar que são incompetentes (desamparo), que não são dignos de amor (desamor) e mantém crenças negativas sobre si mesmo (sou inútil, não tenho valor, sou ruim, etc).

Modificando crenças disfuncionais

No começo da terapia, um pouco antes do trabalho com as crenças disfuncionais, há um trabalho de psicoeducação sobre o modelo cognitivo, sobre pensamentos automáticos e emoções, as situações em que os pensamentos aparecem e os comportamentos de enfrentamento.

Porém, o trabalho com a modificação das crenças é feito tão cedo quanto possível, após a fase inicial de avaliação e psicoeducação, pois sabemos que a alteração (ou diminuição da intensidade e frequência) das crenças traz uma melhora significativa na qualidade de vida. As situações são interpretadas através de um olhar mais realista e compreensivo. As crenças sobre outro, o mundo e o futuro, bem como a autoavalição sobre si mesmo passam a ser mais adaptativas e geram menos emoções difíceis.

Fortalecimento de crenças positivas

O trabalho de modificação das crenças pode seguir por dois caminhos: fortalecimento de crenças adaptativas e o enfraquecimento das crenças desadaptativas. O fortalecimento das crenças positivas inclui estratégicas como (segundo Beck):

– identificar dados positivos e tirar conclusões uteis sobre as experiências,

– identificar as vantagens de acreditar nas crenças adaptativas,

– apontar o significado dos dados positivos,

– usar outra pessoa como referencia,

– usar um quadro para coletar evidencias,

– induzir imagens de experiências atuais e de sua história e

– agir “como se”.

E para modificar e enfraquecer as crenças mal-adaptativas:

– questionamento socrático,

– reestruturação,

– experimentos comportamentais,

– histórias, filmes e metáforas,

– continuum cognitivo,

– uso de outras pessoas como ponto de referência,

– autoexposição,

– dramatizações,

– testes históricos,

– reestruturação dos significados das memórias precoces.

Conclusão

Como podemos ver, existem muitas técnicas para a modificação das crenças. Na perspectiva da TCC, no modelo cognitivo, as crenças são muito importantes pois elas impactam nos pensamentos automáticos que temos, no nosso modo de interpretar o mundo, o outro, o futuro e a nós mesmos, gerando certos comportamentos e atitudes (e não outros).

Ao mudar uma crença negativa, desadapativa, fortalecendo crenças mais positivas, estaremos, portanto, mudando os pensamentos automáticos, os comportamentos que faremos ou deixaremos de fazer, bem como tendo um olhar interpretativo mais realista e adaptado sobre quem somos, quem são as outras pessoas que nos relacionamos, como o mundo é e como o futuro pode ser.

Este é um texto super introdutório sobre o tema. O objetivo dele é informar sobre o conceito de crenças na TCC, entendendo a sua importância e a complexidade inerente ao trabalho de modificação das crenças.

Se você está passando por um período de sofrimento e se nota que suas crenças podem estar te prejudicando, procure ajuda de um profissional da psicologia!

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Referência