O trabalho (the Work) de Byron Katie vem sendo estudado por grandes universidades, já há alguns anos, com relação aos efeitos na diminuição de sintomas depressivos, ansiedade, burnout e também como uma ferramenta geral de intervenção terapêutica. Neste texto, vou analisar uma pergunta que é feita nesta intervenção: quem eu sou sem este pensamento?

Apego a pensamentos

Falamos bastante hoje em dia sobre apego em relacionamentos (amorosos ou não), em apego a dinheiro ou coisas materiais, mas pouco se fala sobre apego a pensamentos. Este tipo de apego está presente em quase todos, praticamente, e significa que é comum a identificação com os pensamentos que passam na mente, e é frequente até mesmo a não percepção de que um pensamento não é a realidade, é tão somente isso: uma imagem que vemos ou frases que “falamos internamente”.

Por exemplo, se estou aqui sentando, em casa, e começo a me preocupar com uma situação que pode acontecer no futuro, estou pensando sobre o futuro. Posso ver uma imagem ou filmes na mente ou posso estar dizendo coisas como “e se isso acontecer mesmo? Vai ser ruim…etc”.

Neste momento de preocupação, me esqueço que estou aqui sentado, em casa. É como se entrasse em uma máquina no tempo e saísse daqui, muito provavelmente, sem perceber que estou viajando.

Claro que também posso pegar essa máquina do tempo mental e ir para o passado. Poderia começar a lamentar algo que aconteceu anos atrás. (Hoje sabemos que boa parte das nossas memórias não são muito fidedignas, ou seja, criamos muito uma visão do que foi o passado, hoje, ao lembrarmos).

A pergunta do trabalho (the Work) da Byron estimula outra direção que não o passado ou futuro. A pergunta “quem eu sou sem este pensamento” poderia ser respondida por mim da seguinte forma:

“Eu sou esse sentando aqui, em casa. Nesse momento – se deixar esses pensamentos – estou aqui e agora. Nem nada ruim aconteceu ainda e talvez nem aconteça, nem há mais lembranças e memórias atormentando”

Ainda que seja por alguns segundos e minutos, essa pergunta tem a força de nos acordar do sonho do pensamento-passado, do pensamento-futuro.

Confused young woman feeling stressed on a pink background

E se não desse para ter esse pensamento?

Outras perguntas relacionadas podem ser feitas como, por exemplo:

– Se fosse impossível para mim (para o cérebro, para a mente) ter esse pensamento, como seria?

– E se nunca tivesse pensado dessa forma e nunca fosse pensar? Como seria?

Metacognição e Desfusão cognitiva

Tecnicamente, na psicologia, dizemos que ao fazer estas perguntas estamos criando Desfusão Cognitiva, que é um termo para descrever o processo contrário da fusão cognitiva. Na fusão cognitiva, o pensamento, a realidade, quem eu sou, o futuro, tudo isso está fundido como uma coisa só.

Posso ter um pensamento como: “faço tudo errado e nada vai certo pra mim”. Se acredito neste pensamento, passo a ver eu mesmo, a realidade, o futuro através das “lentes” desse pensamento. Me fundo com os pensamentos e até paro de ver que é um pensamento. O pensamento se transforma na realidade.

Se, por outro lado, eu observo que estou pensando “faço tudo errado e nada vai dar certo pra mim”, estou criando um espaço interno entre o pensamento, a realidade e eu. Isso é Desfusão Cognitiva, ver os pensamentos como pensamentos. Esse processo apresenta semelhanças com a metacognição, que, grosso modo, podemos explicar como a cognição sobre a cognição, a habilidade de pensar o pensamento, de ter uma cognição a respeito de outra cognição.

Conclusão

A mente humana é incrível. Pode criar milhões de coisas maravilhosas, porém, também pode criar muita infelicidade e sofrimento. Esta simples pergunta “quem eu sou sem este pensamento” nos ajuda a voltar para a nossa essência. (Essência vem de esse, latim, que significa ser). Somos seres que pensam, mas não somos os pensamentos que pensamos.

Como diz Fernando Pessoa: “ser o que eu penso? Mas penso ser tanta coisa…”

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Referência