Aaron Beck, um dos pesquisadores mais importantes dentro da psicologia, criador da Terapia Cognitivo Comportamental está hoje com 99 anos e continua na ativa. Mais recentemente, vem desenvolvendo com sua equipe uma nova modalidade de tratamento para pacientes esquizofrênicos que foram internados. Essa nova vertente é chamada Recovery-oriented cognitive therapy (Terapia Cognitiva orientada à recuperação).

Neste texto, vou apresentar esta nova modalidade, através da 3ª edição do famoso livro da Judith Beck, Cognitive Behavior Therapy, Basics and Beyond – talvez o livro introdutório mais utilizado dentro da TCC! Essa edição é de agora, de 2021.

Recovery-oriented cognitivo therapy (CT-R)

“A orientação de recuperação se concentra em identificar os valores e aspirações dos clientes (e o significado de suas aspirações) e ajudá-los a criar um senso de propósito e empoderamento em suas vidas, dando passos a cada semana em busca de seus objetivos. Também nos concentramos em ajudar os clientes a chegar a conclusões positivas sobre si mesmos, outras pessoas e seu futuro como resultado de tomar essas ações positivas e identificamos e reforçamos suas qualidades, habilidades e recursos positivos” (Tradução minha. A versão em português ainda não foi publicada).

Essas características possuem bastante semelhança com a ACT, com a Terapia de Aceitação e Compromisso. Você pode aprender mais sobre ame nosso curso gratuito de ACT

No livro, Judith Beck apresenta dois casos clínicos, de Abe e Maria e mostra como conduziu as sessões utilizando a conceitualização cognitiva clássica e da Terapia Cognitiva orientada à recuperação.

Por exemplo, Abe, um homem de 55 anos separado e com filhos, enfrentava um quadro depressivo relacionados à dificuldades no trabalho e à separação. Após a sessão inicial de avaliação, Beck esclareceu os valores (o que é importante), aspirações (como ele queria que sua vida fosse) de Abe e nas 18 sessões realizadas em um período de 8 meses o tratamento esteve focado no momento presente, como foram os últimos dias, mas, igualmente, o foco incidiu sobre os objetivos e comportamentos da próxima semana que permitiriam a Abe realizar suas aspirações, de acordo com seus valores.

Nas palavras de Beck:

“A maior parte das sessões subsequentes focou em ajudar Abe a identificar seus objetivos para a sessão, decidir quais passos ele gostaria de realizar na semana seguinte, criar soluções para obstáculos potenciais, reduzir o humor negativo, e aumentar o humor positivo. Nós frequentemente trabalhamos com resolução de problemas e desenvolvimento de habilidades, especialmente relacionadas a mudar seu pensamento depressivo e seu comportamento.  Eu não apenas usei intervenções com ele mas também o ensinei como usar essas habilidades ele mesmo, para criar resiliência e prevenir a recaída”.

Outra característica da Terapia Cognitiva orientada à recuperação é a ênfase nas crenças adaptativas do cliente, ou seja, o trabalho com o questionamento de crenças disfuncionais  – que causam sofrimento e prejudicam o funcionamento na vida ou áreas específicas – continua sendo feito, como na TCC tradicional, mas há também o reforçamento de crenças que o cliente já possui e nas estratégias positivas já conhecidas e utilizadas antes que mantém o humor positivo.

“Ao invés de enfatizar os sintomas e psicopatologia, a Terapia Cognitiva orientada à recuperação enfatiza as forças do cliente, suas qualidades pessoais, habilidades e recursos”.

Diferenças no tempo

E, ainda, outra diferença importante que já foi mencionada antes rapidamente entre a TCC clássica e a Terapia Cognitiva orientada à recuperação é o tempo:

“Na TCC tradicional nós tendemos a falar sobre problemas que apareceram na semana passada e usar técnicas para solucionar essas questões. Na Terapia Cognitiva orientada à recuperação nós focamos mais nas aspirações do cliente para o futuro, seus valores, e passos que eles podem realizar cada semana direcionados aos seus objetivos”.

Vídeo de Judith Beck sobre a 3ª edição do livro

Conclusão

A Terapia Cognitiva orientada à recuperação é um desenvolvimento recente dentro da TCC. Na pós em TCC que estou cursando na PUCRS, descobri que existem mais de 200 tipos de Terapias Cognitivo Comportamentais. O motivo para tantas modalidades é que as pesquisas científicas de efetividade dos tratamentos, os protocolos utilizados, foram até aqui pensados para transtornos específicos.

Assim, para tratar depressão, o psicoterapeuta utiliza um protocolo e para tratar, por exemplo, borderline, outro protocolo específico foi desenvolvido. Na medida em que foram desenvolvidos tratamentos para praticamente todos os transtornos, 200 tipos não é um número tão alto quanto poderíamos supor.

Pacientes que estão saindo de uma internação, que muitas vezes ficaram períodos longos internados, precisam ter um suporte que os ajude atingir objetivos de curto prazo, mas que estejam relacionados a valores e aspirações de longo prazo. Esse foco, que tende mais para as semanas futuras do que a semanas passadas, também pode ser extremamente útil para outros clientes, que podem se beneficiar tanto das modalidades clássicas de conceitualização cognitiva e das técnicas de eficácia comprovada como de um foco mais direcionado aos próximos passos.

Para agendar uma sessão online comigo, Dr. Felipe de Souza, você pode entrar em contato pelo WhatsApp ou Telegrama – 11984156913 ou pelo e-mail – psicologiamsn@gmail.com

Referências

Recursos para o terapeuta e algumas sessões de Abe

Beck, Judith. Cognitive Behavior Therapy, Basics and Beyond. 3ª edition. New York, Guilford Press