A Terapia da Ativação Comportamental está incluída no site da APA como um dos tratamentos mais eficazes para depressão e é estudada também como um possível tratamento para outros transtornos. Podemos pensar na ativação comportamental como um tratamento em si mesmo ou como parte de um tratamento dentro da terapia cognitivo comportamental.

De acordo com Christopher Martell:

“As estratégias utilizadas na terapia cognitivo comportamental são multifacetadas em três principais categorias: estratégias comportamentais designadas para mudar como as pessoas agem em situações, estratégias cognitivas desenhadas para mudar como as pessoas pensam sobre situações específicas, estratégias cognitivas desenhadas para mudar as crenças centrais duradouras que as pessoas têm sobre si mesmas, seu futuro e o mundo”.

Neste texto, descreverei 10 princípios da ativação comportamental que correspondem à primeira das categorias citadas acima.

Princípio 1: a chave para mudar como as pessoas se sentem é ajudando-as a mudar o que elas fazem

Charles B. Ferster, um dos autores que ajudaram a criar ativação comportamental, defendia que a depressão poderia ser caracterizada como a diminuição de certos tipos de atividade e o aumento de outros tipos de atividade. Ou seja, olhando pelo prisma do comportamento, a depressão como um transtorno definida dessa forma, poderia trazer o foco do tratamento para a mudança do comportamento como chave central de melhora.

Princípio 2: mudanças na vida podem levar à depressão, e formas e estratégias de lidar de curto prazo podem manter a pessoa travada

Devido ao não reforçamento de atividades na história de vida do cliente, as estratégias para lidar com as consequências dos seus comportamentos, como por exemplo, aumentar a quantidade de comportamentos evitativos pode manter a pessoa estagnada em um padrão comportamental que a impede de superar os sintomas.

Princípio 3: a chaves para descobrir o que será antidepressivo para um cliente particular reside no que precede e segue os comportamentos importantes do cliente

Esse princípio se refere a utilização de conceitos da psicologia comportamental que podem ser agrupados na ideia do comportamento operante. Um comportamento específico é realizado tendo em vista o que veio antes e o que veio depois (no sentido de comportamentos semelhantes terem sido ou não reforçados na história de vida da pessoa). Avaliar o que será antidepressivo no sentido comportamental consiste aumentar os comportamentos reforçadores, entendendo também o contexto e o antes.

Princípio 4: atividades estruturadas e programadas devem seguir o plano, e não o humor

Na terapia de ativação comportamental são propostas atividades estruturadas e planejadas para o cliente. Quando uma pessoa está em estado depressivo ou está tendo um sintoma de algum outro transtorno como ansiedade muitas vezes o plano acordado na sessão não é realizado por que o paciente responde a maneira como está sentindo e não ao que foi planejado. A ideia aqui é realizar ação, mudar o comportamento, mesmo que o humor, a emoção do momento, esteja influenciando a vontade de não fazer.

Princípio 5: as mudanças serão mais fáceis se forem pequenas no início

As atividades estruturadas e planejadas devem ser pensadas do mais simples ao mais complexo. As primeiras mudanças são pequenos passos que podem ser implementados sem muita dificuldade. Um exemplo seria voltar a fazer uma atividade interessante que não exige muito esforço.

Princípio 6: devem ser enfatizadas as atividades que são naturalmente reforçadoras

Uma atividade que é naturalmente reforçadoras é aquela na qual a consequência do comportamento já segue o próprio comportamento. O que é naturalmente reforçador pode diferir de uma pessoa para outra, evidentemente. Como exemplo, podemos pensar em uma atividade física leve como uma caminhada, que vai produzir hormônios que podem trazer prazer já com o próprio comportamento.

Princípio 7: O terapeuta deve agir como um coach

Agir como um coach significa aqui que o terapeuta tem uma postura de incentivar que novos comportamentos sejam realizados semana a semana. A palavra em inglês pode ser traduzida como treinador, ou seja, um dos papéis do terapeuta na ativação comportamental consiste em auxiliar no treinamento de novos comportamentos e habilidades. (Não confundir com Coaching)

Princípio 8: abordagem empírica de resolução de problemas é enfatizada, e todos os resultados são reconhecidos como úteis

Resolução de problemas é uma habilidade importante que o cliente começa aprender. A ideia aqui é que qualquer comportamento diferente, mais reforçador, que o cliente começa a realizar deve ser incentivado, dado que novas atividades apontam para o início da redução dos sintomas e da recuperação da depressão.

Princípio 9: O foco não deve ser apenas em falar, mas também fazer.

Obviamente falar é importante em uma terapia. Porém, o foco do tratamento na ativação comportamental é a alteração do comportamento. Portanto, fazer, realizar, se comportar, agir são sinônimos do que representa o essencial dessa abordagem.

Princípio 10: barreiras e problemas possíveis da ativação devem ser antevistas e solucionadas

Nas atividades propostas para a próxima semana, o terapeuta também auxilia o cliente a pensar o que poderia ser uma barreira para realização das atividades e ajuda a solucionar os possíveis problemas que poderiam ser empecilhos para que os novos comportamentos sejam introduzidas e mantidos.

Conclusão

A terapia de ativação comportamental possui uma longa história de pesquisas, desde a década de 1980. Hoje ela é reconhecida como um dos principais tratamentos para a depressão. Como dissemos no início ela pode ser utilizada como um tratamento adjunto a outras abordagens como a terapia cognitivo comportamental, ou como um tratamento em si mesmo.

A terapia de ativação comportamental também vem sendo estudado para o tratamento de outros transtornos mentais e emocionais. Fazendo uma analogia com a terapia de aceitação e compromisso, podemos concluir esse texto com o título do livro de Steven Hayes: get out of your mind, into your life. Em português poderíamos traduzir a ideia do título como: saia da sua mente e entre na sua vida, ou seja, abandone um pouco a ênfase em mudar os pensamentos que aparecem na sua mente e comece a agir para mudar a sua vida.

Referências

Martell, Christopher, Sona Dimidjian, Ruth Herman-Dunn. Behavioral activation for depression: a clinician’s guide. Guilford Press, 2010.