Um erro muito comum na carreira é escolher rápido um caminho e acreditar que é preciso ter coerência para a vida toda. Embora todos nós tenhamos um desejo de ter e manter coerência, no que diz respeito às escolhas profissionais, a coerência pode virar um peso e sofrimento.

Na Orientação Profissional na psicologia, vemos frequentemente pensamentos como:

“Escolhi esse curso / faculdade e agora não dá mais para mudar”.

“O meu talento / paixão é X, então só posso fazer isso”.

“Tenho que encontrar a minha única paixão, algo que gosto muito e fazer isso para sempre”.

Todos estes pensamentos baseiam-se nesta crença de uma única ideia, um único caminho, uma única paixão. Às vezes isso se torna uma idealização romântica do trabalho do perfeito.

Esta crença pode ser substituída pelo processo de Design Thinking na carreira, com a utilização de Brainstorming para gerar muitas ideias de caminhos possíveis e com protótipos, ou seja, testar as várias ideias antes de se comprometer com uma escolha mais definitiva por algum tempo.

O surgimento de uma ideia fixa

Muitas vezes uma ideia fixa surge na infância ou no início da adolescência. “Quando crescer, quero ser X” se transforma em “Quero fazer a faculdade X” e depois em “Sempre sonhei em fazer a faculdade X ou em ter essa profissão”. Essa ideia pode criar uma identidade: “Eu sou aquele que quer ser X”.

Claro que pode funcionar. Algumas pessoas tem sonhos de infância que continuam fazendo sentido depois de muitos anos. E algumas pessoas conseguem seguir o caminho que haviam pensado desde muito novas.

Mas o que quero apontar neste texto é que essa não é uma regra universal. Na verdade, ela é mais rara do que se pensa.

Analisando com calma, vemos que:

Primeiro, querer encontrar a minha paixão profissional desde sempre, que case com minha personalidade, nem sempre é uma boa pergunta.

Segundo, ao longo dos anos, o mais frequente é mudar, descobrir outras coisas, outras possibilidades.

Terceiro, mesmo depois de uma formação, um curso técnico, uma faculdade, continuamos tendo a possibilidade de escolher caminhos diferentes.

Em resumo: desconfie da ideia de que é necessário ter e manter uma única escolha na carreira.

Flexibilidade psicológica

Na psicologia, sabemos que a flexibilidade psicológica é fundamental para viver bem. A inflexibilidade psicológica está na raiz de diversos transtornos e dificuldades emocionais. Assim, aumentar a flexibilidade psicológica quando pensamos a nossa carreira ajuda muito a se adaptar ao momento, ajuda a ter escolhas mais livres e melhores – pois ajuda a abrir o campo de visão para muito mais coisas – e também ajuda a ter uma relação mais saudável sobre o próprio percurso.

Para aumentar a nossa flexibilidade psicológica, podemos fazer algumas perguntas abertas, para começar a reflexão:

– Quais outros cursos eu poderia fazer?

– (Se tenho experiência), quais outras funções poderia desempenhar com minhas competências já desenvolvidas?

– Se estou em um trabalho que não gosto muito, como posso desenvolver-me mais? Posso fazer trabalhos voluntários? Fazer cursos de final de semana ou à noite para abrir novas áreas?

– Como posso testar primeiro X antes de me comprometer com uma decisão de longo prazo? Como posso experimentar essa profissão / curso / área antes de chegar a uma conclusão?

Conclusão

Uma crença disfuncional é uma crença que não funciona. Mas é só uma crença, ou seja, uma crença pode ser modificada. Acreditar que devíamos ter encontrado a nossa única paixão profissional ou acreditar que há somente um único caminho na carreira são crenças que atrapalha, que geram sofrimento.

A boa notícia é que estás crenças podem ser abandonadas. Podemos substituir estas crenças por crenças mais flexíveis como “posso gostar de várias atividades profissionais” e “minhas escolhas e caminhos podem ir mudando com os anos e está tudo bem”.

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