Na psicologia, impulsividade é um impulso ou tendência a agir, no qual o comportamento apresenta pouco ou nenhum pensamento ou reflexão prévia. A impulsividade, portanto, frequentemente leva a comportamentos de risco ou a comportamentos que o sujeito se arrepende depois.
Do ponto de vista cognitivo, é considerada uma “cognição quente”, ou seja, uma cognição que traz junto algum tipo de emoção ou tom emocional. É importante salientar, desde já, que a impulsividade não necessariamente conduz a um comportamento. Podemos ter o impulso, parar, e não agir.
Nas abordagens da psicologia, encontramos diferentes concepções e tipos de comportamento impulsivo. Neste texto, vamos utilizar as formulações teóricas que sustentam o teste UPPS-P, Impulsive Behavior Scale, que foi elaborado como uma tentativa de unificar os vários questionários que avaliavam a impulsividade anteriormente (Whiteside and Lynam 2001).
Nos resultados do teste, o sujeito pode ter uma impulsividade “global” ou apenas um único tipo de impulsividade. Em outras palavras, uma pessoa talvez seja impulsiva em todas as sub-escalas ou quase todas, enquanto outra talvez seja muito impulsiva, marcando um escore alto em apenas uma delas.
Impulsividade: 5 formas básicas do comportamento impulsivo
1) Urgência negativa
Este tipo de impulsividade aparece nas pessoas que agem impulsivamente a partir de um afeto negativo. Por exemplo, o indivíduo que bebe (comportamento impulsivo) porque está triste. A tristeza é, naquele momento, a urgência que o leva a se comportar. Outro afeto negativo que é comum é a raiva. Com raiva, o sujeito se comporta impulsivamente, chutando uma porta, brigando, discutindo.
2) Urgência positiva
É parecido com o anterior. Difere no afeto que, ao invés de ser negativo, é positivo. Por exemplo, a pessoa bebe ou usa outra substância que causa dependência não porque está triste ou com raiva, mas porque está feliz, eufórica, alegre. Outra pessoa, tendo por base esse ou outros afetos considerados positivos, pode vir a gastar todo o seu salário em um jogo de azar.
3) Falta de premeditação
Por definição, a impulsividade é uma resposta que é imediata, reativa. Um dos construtos do teste UPPS-P é de que a impulsividade se expressa na ausência de premeditação, ou seja, não há o pensamento ou consideração das consequências do ato. A pessoa faz, age, diz e “não se importa” com o que vem depois.
4) Falta de perseverança
A perseverança é a capacidade de manter um comportamento contínuo ou ao longo do tempo, ainda que o comportamento venha a sentido como maçante, tedioso, desagradável. Uma boa parte da ideia de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade se relacionaria com este tipo de impulsividade. O aluno tem que ficar sentado fazendo a sua tarefa até o final, mas por falta de perseverança, não conclui e começa outra atividade que, possivelmente, também não concluirá.
5) Busca de sensações
O quinto e último tipo de impulsividade consiste na busca de sensações. É como se a pessoa estivesse ou ficasse entediada com a quantidade de estímulos que está vivenciado e quer mais. Pular de paraquedas, por exemplo, ou sair de moto em alta velocidade seriam exemplos comuns.
Exemplos do UPPS
Abaixo algumas questões – tradução livre:
– Eu sou uma pessoa cautelosa (premeditação)
– Quando eu me sinto rejeitado, eu frequentemente digo coisas que me arrependo depois (urgência)
– Eu adoraria andar de Esqui aquático (busca de sensações)
– Uma vez que eu começo algo, eu odeio parar (perseverança)
Impulsividade e psicopatologia
Diversos estudos e teorias apontam que a impulsividade está presente e é muitas vezes o componente fundamental das psicopatologias. O indivíduo que usa uma substância como álcool ou outra para se livrar de um afeto negativo ou a partir de um afeto positivo talvez desenvolva o Transtorno por uso de substâncias.
A impulsividade também é um componente importante nos Transtornos de Conduta, de Personalidade ou Transtorno Bipolar.
Um estudo de meta-análise com mais de 40.000 indivíduos sugere que os construtos de afeto negativo e afeto positivo são os que mais se correlacionam com a psicopatologia, indicando que talvez não seja necessário separar necessariamente as duas sub-escalas. Em outras palavras, nos transtornos mentais em que a impulsividade é um componente relevante, o afeto positivo ou negativo provavelmente são os tipos de impulsividade mais prevalentes.
Este estudo também aponta a correlação entre os tipos de falta de premeditação e falta de perseverança como construtos próximos.
Conseguimos mudar a impulsividade?
A pergunta que surge, para finalizarmos, é se é ou não é possível mudar todo o traço de impulsividade ou ao menos diminuir um ou outro tipo. Se consideramos a relação anterior com a psicopatologia, veremos que existem tratamentos, tanto psicoterapêuticos como com medicamentos, que visam tratar o que na literatura chamamos de sintomas de impulsividade.
Muitas vezes, a própria pessoa não percebe a sua impulsividade a não ser que traga consequências para a sua vida ou para a vida das pessoas próximas. Razão pela qual frequentemente é alguém próximo que sugere ou leva a pessoa impulsiva para tratamento psicológico ou psiquiátrico.
Conhecer a impulsividade e suas formas de expressão básicas ajuda a entender tendências que são confundidas com o “jeito que a pessoa é” ou “com sua essência” ou “temperamento”. Embora o tratamento possa ter suas dificuldades e se prolongar ao longo de meses ou mesmo anos, sabemos que há esperança de mudança na maior parte dos casos.
Referências bibliográficas
Berg, J. M., Latzman, R. D., Bliwise, N. G., & Lilienfeld, S. O. (2015). Parsing the heterogeneity of impulsivity: A meta-analytic review of the behavioral implications of the UPPS for psychopathology. Psychological Assessment, 27(4), 1129-1146. http://dx.doi.org/10.1037/pas0000111
Bteich, G., Berbiche, D., & Khazaal, Y. (2017). Validation of the short Arabic UPPS-P Impulsive Behavior Scale. BMC Psychiatry, 17, 244. http://doi.org/10.1186/s12888-017-1407-y
Obrigada, aprendi muito lendo este atigo
PROF, boa tarde.
E o idoso que sofre com seu comportamento impulsivo nas respostas que dá as pessoas quando questionado naquilo que considera certo. Sempre foi assim, e sente que as pessoas se afastam dela. E sofre.