Olá amigos!
Ser um psicólogo clínico – e online – é incrível. Nestes mais de 10 anos atendendo (me formei em 2006), pude ter contato com tantas e tantas pessoas, únicas, diferentes em sua maneira de ver o mundo e a si mesmas Com o tempo, percebi que os sofrimentos pelas quais a maioria das pessoas passa pode ser dividido em duas categorias básicas: sofrimentos pelos pensamentos e sofrimentos (que também vem do pensamento) mas que são pensamentos de tempo, sobre o tempo.
Freud disse certa vez que um neurótico sofre de reminiscência, ou seja, sofre pelas memórias, pelos pensamentos sobre o passado. Outros pacientes sofrem pelo futuro, como o medo do que virá ou talvez venha.
Neste texto, gostaria de compartilhar a ideia de que o tempo não é só o tempo passado, presente, futuro. São os 3, multiplicados por 3 (tempo associado, tempo dissociado, informacional).
Definições
Localizar os limites do passado, presente, futuro, curiosamente, é um desafio. O momento que você começou a ler este texto já é passado. Esta linha que você está lendo e eu estou escrevendo é o seu presente, o meu presente, e os parágrafos seguintes serão o nosso futuro. (Se você, espero, continuar a ler).
Um pequeno espaço de tempo separa o presente do passado imediato e também do futuro imediato. Quanto tempo dura o momento presente? Não é curioso?
Bem, não precisamos entrar nas minúcias. Todos sabemos a diferença entre o passado, presente e futuro. Porém, vamos mais além, entendendo que existem formas de vivenciá-los.
Tempo associado X Tempo dissociado
Associado e dissociado nesta definição significa apenas a distância da experiência. Se você passa a sentir totalmente as sensações do seu pé esquerdo agora, você está no presente associado. Se você está sentado – e sabe que está sentado – mas sua mente está longe, você está no presente dissociado.
(Na psiquiatria existe o conceito de dissociação como uma nosologia, como uma doença. Não se trata disso aqui).
De igual modo, existe o passado associado e o passado dissociado. Lembro que jogava bola, e jogava bem, na minha infância e começo da adolescência. Dizendo agora é um passado dissociado. Tenho a lembrança, sem sentir a experiência de correr, driblar, fazer um gol. Mas, se desejar, posso fechar os olhos (para facilitar), e entrar nessa experiência novamente. Se o fizer, vou estar no passado associado. Vou vivenciar o passado, associando-me a ele.
O futuro também pode ser associado ou dissociado. Imagine você com 80 anos. Se você conseguiu imaginar, provavelmente imaginou de forma dissociada. Você não sentiu as suas mãos, rosto, altura, peso com 80 anos, certo? Se tivesse imaginando, realmente sentindo, você teria entrado no futuro associado.
Passado, presente e futuro informacional
Além dos tempos associados e dissociados, temos os tempos que são somente informações. Estão mais distantes ainda do tempo dissociado. Saber que nasci (passado informacional) em São Lourenço é uma informação, uma frase. Não tenho lembrança dissociada, nem muito menos associada do meu nascimento.
O futuro informacional é quando captamos uma informação sobre o futuro como quando olhamos no google o tempo. Amanhã aqui em São Paulo vai fazer 12 graus. É uma informação, não estou associado nem dissociado dela. Acontece o mesmo com o presente informacional. Uma informação é ouvida, vista ou assimilada agora.
A utilidade dos tempos em nossa vida
Até aqui definimos a ideia de multiplicar o passado, presente e futuro por 3 (associado, dissociado, informacional). Mas qual é a utilidade disso para nós?
Simples: podemos aprender a mudar a forma (associada, dissociada ou informacional) com a finalidade de nos beneficiarmos.
Uma pessoa que tem uma lembrança desagradável provavelmente está associada a ela. Está vivendo novamente esse trecho do passado à medida que o rememora. Se eu me lembro de que perdi um pênalti e sinto no meu corpo todas as sensações agora (frustração, desapontamento) enquanto escuto as vaias da torcida, estou no passado associado. Se consigo mudar, tendo a lembrança, sem estar associado, vou ter a vivência sem sofrer por ela. Seria como se uma outra pessoa tivesse perdido o pênalti. Vou me lembrar, mas provavelmente não vou sofrer ou não vou sofrer tanto quanto se continuar associado à lembrança
Isso com uma recordação negativa. Mas e se fizermos o processo inverso com uma lembrança positiva? Se eu me lembrar de uma vitória com todos os detalhes, me conectando integralmente com a vivência passada, como se fosse agora? Certamente me sentirei mais feliz, saindo da dissociação e me associando à uma lembrança de celebração.
Dependendo da intenção, é possível nos associarmos ou dissociarmos do futuro. Por exemplo, uma pessoa que fuma pode ter o presente informacional de que fumar faz mal à saúde. Como no presente não há a vivência da doença, a pessoa não muda o seu comportamento. Se imaginar no futuro com a doença de forma dissociada, talvez a motivação não seja suficiente para parar de fumar. O que será diferente se a imaginação for associada. No futuro associado, ela sente em detalhes os desconfortos e dores da doença, então sua motivação para parar aumenta.
O processo inverso é feito com ansiedade. Imaginar que uma situação negativa vai acontecer ou pode acontecer causa um futuro associado e até um presente associado. Por exemplo, uma pessoa que imagina que vai falar em público já sente em seu corpo a ansiedade. Se não houver a associação, se o futuro for dissociado, certamente a ansiedade diminuirá. Outra forma é imaginar, associadamente, que tudo ocorrerá bem. Não como uma informação, não de maneira dissociada, mas sentindo em detalhes que no futuro tudo dará certo (seja falar em público ou qualquer outra coisa).
Associando-nos a um futuro positivo, certamente ficaremos mais felizes agora e mais motivados para agir na direção do que queremos.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo.
Doutor Felipe!
O tempo em que esteve ausente me deixou desnutrido pela falta de suas informações substanciais. Pelo tema abordado, recomeçou com chave de ouro. Por favor, que continue!
Abraços,
Luís Monteiro Oliveira.
Adoro os seus artigos!!!nao consegui terminar o meu curso de psicologia, amava, e os seus artigos me atualizam, obg!!!
Ola.. saudades de ti..
Amei o tema pois estou estudando sobre Linha do Tempo ( sobre as pessoas No tempo ou Através do Tempo ou em inglês TT – Through the time / IT – In te ime ). Estou aprendendo muito sobre o assunto e as características de cada um . Tad James diz que temos que aprender a gerenciar os nossos sentimentos dentro da nossa linha do tempo. Depois que comecei a utilizar a linha do tempo ,percebo que estou mais organizada e focada utilizando em conjunto os gatilhos da PNL. Utilizando a dissociação para situações do passado ou da ansiedade do futuro… gratidão….
Muito bom o texto explicativo, e detalhado adorei obrigado por compartilhar informações tão relevantes.
Oi Regina, tudo bem?
Fico muito feliz que tenha gostado!
Você está lendo livros sobre linha do tempo? Pode indicar?
Olá Felipe.
Sobre leituras de Linha do tempo não tem muito disponíveis, no entanto eu li :
Esta na hora !? – A psicologia das linhas do tempo – ( George Vittorio Szenézi )
Time-based Techniqes -( John Overdurf, Julie )
A terapia da linha do tempo – e a base da personalidade – ( Tad James & Wyatt Woosmall )
Eu estou procurando algum livro do Steve Andreas sobre a linha do tempo, encontrei pouca coisa na internet. Andei fazendo testes com os clientes e está sendo muito interessante os resultados. Gratidão….
Parabéns Dr. Felipe!!!! mais um trabalho maravilhoso. no início do seu artigo o Sr. explica que as pessoas são únicas, diferentes em sua maneira de ver o mundo e a si mesmas e que a maioria dos sofrimentos das pessoas vem dos pensamentos ou pelos pensamentos de uma forma geral. Pergunto: esses não são os principais conceitos da TCC, Terapia Cognitivo Comportamental? tirando a questão temporal que o Sr. citou ou acrescentou, para mim ficou claro que se trata de conceitos de TCC Que são encontrados em Beck & seus colaboradores. O sr. é adepto da Terapia cognitivo Comportamental? ou só estar criando brilhantemente, uma nova maneira de lidar com o sofrimento psíquico, tendo como base fundamental os preceitos da TCC de Beck?
Mais uma vez parabéns e até breve.
Olá Deusimar,
Os pensamentos estão presentes como foco de análise em muitas abordagens da psicologia. Depois de atender durante tantos anos, observamos na prática como muitos sofrimentos são inúteis, em certo sentido, são sofrimentos que aparecem pela presença de certos pensamentos. Sem tais pensamentos, o sofrimento cessaria.
Eu estudei sim o Beck. Temos dois cursos sobre Depressão e Ansiedade baseados em sua obra.
http://www.psicologiamsn.com/loja
Grande Abraço!