O cliente atravessa uma série de estados de consciência muito complexos, que apenas podemos sugerir. Esquematicamente, talvez os seus sentimentos assumam uma das seguintes formas:
1) Medo ou receio inicial
“Tenho medo dele. Preciso de ajuda, mas não sei se posso confiar nele. Talvez ele veja em mim coisas de que não tenho consciência – elementos terríveis e maus. Ele não parece estar me julgando, mas tenho a certeza de que o faz. Não posso dizer-lhe o que realmente me preocupa, mas posso falar-lhe de algumas experiências passadas em relação com essas minhas preocupações. Ele parece que compreende essas experiências, logo, posso abrir-me um pouco mais com ele.
2) Abertura
Mas agora que partilhe com ele um pouco desse meu lado mau, despreza-me. Tenho certeza disso, mas é estranho que tal coisa não seja evidente. Será que or acaso o que lhe contei não é assim tão mau? Será possível que eu não precise me envergonhar de uma parte de mim mesmo? Já não tenho a impressão de que ele me despreze. Isso me dá vontade de ir mais longe, na exploração de mim, de falar um pouco mais sobre mim. Encontro nele uma espécie de companheiro – parece realmente compreender-me.
Estou novamente cheio de medo, mas agora mais profundo. Não percebia que, ao explorar os recantos incógnitos de mim mesmo, iria sentir impressões que nunca havia experienciado antes. Isso é muito estranho porque, num certo sentido, não são sentimentos novos. Pressinto que sempre estiveram ali. Mas parecem tão maus e inquietantes que eu nunca os havia deixado fluir em mim. E agora, quando vivo esses sentimentos durante o tempo que passo junto dele, sinto vertigens, como se o meu universo se desmoronasse em torno de mim. Antes, ele estava seguro e firme. Agora está abalado, permeável e vulnerável. Não é agradável sentir coisas de que até agora sempre se teve medo. A culpa é dele. É, no entanto, curioso que tenha desejo de voltar a vê-lo e que me sinta em maior segurança com ele.
3) Mudanças na auto-concepção
Já não sei quem sou, mas, por vezes, quando sinto realmente determinadas coisas, tenho a impressão, durante um momento, da minha solidez e da minha realidade. Sinto-me perturbado pelas contradições que descubro em mim – atuo de maneira e sinto de outra. É realmente desconcertante. Mas, outras vezes, é uma aventura exultante tentar descobrir quem sou. Às vezes me surpreendo pensando que talvez eu seja uma boa pessoa, se é que isso significa alguma coisa.
Começa a sentir muita satisfação, embora isso me seja muitas vezes penoso, em partilhar precisamente o que sinto em determinado momento. Sabem, ajuda realmente tentar ouvir-se a si mesmo, ouvir o que se passa no seu íntimo. Já não tenho medo do que está se passando em mim. Sinto-me mais confiante. Durante as poucas horas que passo com ele, mergulho em mim mesmo para saber o que estou sentindo. É um trabalho árduo, mas quero saber.
4) Confiança
Durante a maior parte do tempo, tenho confiança nele e isso me ajuda. Sinto-me vulnerável e inexperiente, mas sei que ele não me quer mal e creio mesmo que se interessa por mim. Ocorre-me que, ao tentar mergulhar cada vez mais profundamente em mim mesmo, se eu pudesse captar o que se passa em mim e compreender o que isso significa, talvez soubesse quem sou e soubesse igualmente o que fazer. Pelo menos isso me acontece algumas vezes quando estou com ele.
Posso até dizer-lhe exatamente o que sinto em relação a ele num dado momento e, em vez de isso matar a relação, como eu antigamente receava, isso parece reforça-la. Poder-se-á supor que serei capaz de viver igualmente os meus sentimentos com os outros? Talvez isso também não seja muito perigoso.
Sinto-me flutuando na corrente da vida, muito perigosamente, sendo eu. Às vezes sou derrotado, outras vezes sou ferido, mas vou aprendendo que essas experiências não são fatais. Não sei exatamente quem sou, mas penso sentir minhas reações em cada momento determinado e elas parecem constituir um base para meu comportamento, de momento a momento, muito aceitável. Talvez isso o que quer dizer ser eu.
Mas, evidentemente, isso só é possível porque me sinto em segurança nas minhas relações com o terapeuta. Ou talvez seja capaz de ser eu mesmo também fora dessas relações? Talvez! Talvez possa”.
O que acabei de relatar não acontece com muita rapidez. Pode levar anos. Também pode, por razões que não compreendemos muito bem, não acontecer nunca. Mas pelo menos sugere-nos uma perspectiva interior da imagem objetiva que procurei apresentar do processo psicoterapêutico, tal como se desenrola (ROGERS, p. 79-81)
muy buena el articulo
gostei apesar de hoje estar atarefada demais.Nas ferias li alguns artigos sobre pensamentos positivos para mudar compoartamentos e funcionou .por isso estou de volta aqui.Parabens.trabalho maravilhoso.