Falamos sobre ter certeza como uma derivação de estar certo:
– “Você tem certeza de que o cinema começa às 20:00?”
– “Sim, estou certo que sim”.
Ter certeza, estar certo, estar seguro são definições que damos sobre eventos, acontecimentos. Podemos ter certeza sobre muitas coisas, enquanto outras coisas são naturalmente incertezas. Foucault disse certa vez – se não me engano no livro As palavras e as coisas – que as ciências humanas deixam a impressão de incerteza.
Podemos dizer que, a uma certa temperatura, uma certa quantidade de água vai ferver em tantos minutos. Mas só podemos dar uma noção de probabilidade (um é provável que sim) sobre se alguém vai dizer, fazer ou falar.
Em outras palavras, o comportamento humano, individual ou em grupo – que é o objeto de estudo das ciências humanas – sempre deixa esta sensação de incerteza pela sua própria natureza.
Você está certo disso?
Leia – O que você pode e não pode controlar (um dos textos que mais gosto)
E, assim como uma candidato avaliado por mim podia ter dúvidas e mudar de direção em pouco tempo, eu também posso. E você também pode.
Afinal, o futuro é o que nós nunca teremos certeza. As condições podem mudar e frequentemente mudam. O que saberemos amanhã, não sabemos hoje. O futuro significa possibilidades.
Razão pela qual não precisamos ter todas as respostas sobre o que estaremos fazendo daqui a 5 anos. Ou ter tudo planejado e configurado.
No final das contas, a incerteza é interessante, pois nos surpreende. Se soubéssemos sobre o futuro como sabemos sobre o passado, não teria tanta graça, não é?
A vida como uma narrativa
Como muitos de vocês sabem, eu fiz o meu mestrado na Letras. Estudei o conceito de identidade (quem sou eu?) utilizando a filosofia de Paul Ricoeur e uma espécie de romance autobiográfico de juventude de James Joyce. Na época, portanto, estudei diversas teorias sobre biografia e autobiografia.
Você pode ler minha dissertação, aqui
Quando vamos contar sobre nossa vida, estamos narrando, dispondo fatos em uma sequência ordenada de tempo. Um erro comum, em toda e qualquer história, é o chamado anacronismo. Olhamos o passado com o os olhos do presente. Isso é evidentemente ruim do ponto de vista de um historiador profissional, mas, para nós que estamos olhando para o nosso próprio passado, é até certo ponto inevitável.
O que quero dizer é que o que deu certo, nós tendemos a narrar como o que nós sempre queríamos. “Sempre quis ser psicólogo”, por exemplo, porque fiz psicologia e deu certo para mim trabalhar com psicologia.
O que não deu muito certo, podemos culpar alguém ou as circunstâncias, e talvez pensar que não era muito o que queríamos ou não era a nossa praia. E, é claro, como somos nós que contamos, é fácil omitir certas coisas…
No que tange ao futuro, como podemos contar sobre o que ainda não aconteceu?
A metade da vida pra frente
Jung abordou o tema da metade da vida (metanoia). Ele dizia que é um período – entre os 35 aos 45 anos – que há uma transformação muito importante de atitude, uma maior preocupação com a morte e com o que vamos deixar para o mundo.
Uma técnica interessante é imaginar como seria o nosso velório ou, de maneira menos dramática, pensar como gostaríamos que fosse o nosso aniversário de 80 anos (ou de 100).
A ideia é refletir sobre como queremos ser vistos pelas outras pessoas. Mas, mais do que isso, é imaginar o que queremos deixar de contribuição para os outros. Deixar o mundo um pouco melhor do que encontramos ou parar de olhar tanto para si e pensar também nos outros.
Você pode fazer a técnica aqui – O que as pessoas dirão de ti em seu aniversário de 80 anos?
Veja também – Textos em nosso site que abordam o tema – futuro
Conclusão
Para concluir, uma frase de Jung:
“Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências, mas nem mesmo percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas e os resultados somente através das experiências”.
Concordo plenamente! Nós temos a tendência de voltarmos para o passado com o que já sabemos o que aconteceu! Somo “profetas do passado”. Manter a verdade histórica para avaliar o que passou é fundamental!