Vem aumentando o número de indivíduos especiais egressos no meio universitário, tornando-se necessário o conhecimento do estado emocional destes acadêmicos frente às demandas da vida universitária. Este artigo se propõe a discorrer sobre os aspectos emocionais de acadêmicos universitários que necessitam de uma maior atenção. Trata-se de uma pesquisa de campo, qualitativa, exploratória, de natureza básica, realizada em uma Universidade do Estado de Santa Catarina, envolvendo 7 alunos, que no momento da aplicação do questionário atendiam aos critérios de inclusão desta pesquisa. Foi utilizado como instrumento de coleta de dados uma entrevista semiestruturada e concomitantemente a análise de conteúdo de Bardin. A pesquisa tem como objetivo geral caracterizar os tipos de emoções mais vivenciados em alunos com necessidades especiais. Após o levantamento dos dados e a análise de conteúdo dos entrevistados, foi possível perceber que as pessoas com necessidades especiais estão inseridas no meio universitário apesar de algumas dificuldades sejam elas pessoais, de convivência ou de acessibilidade. Com isso, se identificou entre alguns sentimentos, o de motivação, vitória, realização e o sentimento de felicidade, fazendo com que estes indivíduos cursem a universidade buscando alcançar seus objetivos. Foi possível constatar ainda que vivenciam o preconceito, o sentimento de piedade, de incapacidade provinda das demais pessoas que estão inseridas no meio universitário.
Palavras Chave: Necessidades especiais, Inclusão, Universidade.
Autora: Fernanda Manuella Bornhausen – Acadêmica de Psicologia da Universidade do Contestado – Campus Mafra
Luiz Henrique Ramos- Professor Orientador, Mestre em Clínica Preventiva pela universidade metodista de São Paulo. Graduado em Psicólogia pela UTP – Professor da Universidade do Contestado – Campus Mafra e Universidade Tuiuti do Paraná.
João Angelo de Lima Bassani – Professor Coorientador, graduado em Psicologia. Mestre em educação da Universidade do Contestado.
ABSTRACT
It is increasing the number of graduates special individuals in the university, therefore, it becomes necessary the knowledge of the emotional state of these academic front these demands of the university life. This article intends the discuss on the university academics’ emotional aspects that need special attention. It is a field research, qualitative, exploratory, of basic nature, accomplished in a University in the State Santa Catarina, involving 7 students, that in the moment of the application of the questionnaire they assisted to the approaches of inclusion of this research. It was used as instrument of collection of data an semi-structured interview and concomitantly the analysis of content of Bardin. The research has as general objective to characterize the types of emotions more experienced in students with special needs. After the rising of the data and the analysis of the interviewees’ content, it was possible to notice that the estrangement for the new causes prejudice experienced daily by students with special needs. Despite the difficulties that those individuals experience, they a good interaction with other people in the university. Another subject that was evident with the research is that these academic ones need to surpass their own limits to face the academic life.
Keywords: Special Needs, Inclusion, University.
INTRODUÇÃO
A inclusão de pessoas com necessidades especiais é um tema que vem sendo muito falado nos últimos tempos, aumentando assim, o número de pessoas inclusas na sociedade, nas escolas, nas universidades e consequentemente no mercado de trabalho. A inclusão se faz muito mais presente nas séries iniciais, em relação à infância, não sendo pensado que este indivíduo possivelmente chegará à universidade e vai precisar de um bom acolhimento por parte dos colegas, professores, de uma estrutura física adequada, através da acessibilidade e de atenção diferenciada dependendo do tipo de deficiência que este indivíduo apresentar e com isso a necessidade do conhecimento de como essas pessoas se sentem frente a esse processo.
Portanto, esta pesquisa é relevante para conhecimento do corpo administrativo, docente e discente no meio universitário, pensando em possíveis medidas preventivas que poderão auxiliar no melhor desempenho do acadêmico com necessidades especiais, possibilitando um provável bem-estar desse indivíduo no contexto universitário. Abre a possibilidade do aluno com necessidades especiais externalizar seus sentimentos vivenciados na trajetória acadêmica, em que geralmente os mesmos não têm acompanhamento psicológico, não têm iniciativa própria de procurar auxílios que ajudem no rendimento acadêmico e muitas vezes solicitar uma metodologia apropriada da universidade que o auxilie no seu desempenho acadêmico.
Sendo assim, é importante que se realizem pesquisas no campo universitário, com o intuito de identificar os aspectos emocionais de indivíduos com necessidades especiais para que este tema possa ser pensado e discutido de um modo diferenciado, buscando aumentar o bem-estar deste indivíduo egresso no meio universitário, onde o mesmo se sinta acolhido e tenha um melhor aproveitamento dos conhecimentos obtidos no seu período de formação, podendo exercer uma carreira profissional promissora, e então diminuindo a rejeição e as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com necessidades especiais, consequentemente os danos psicológicos causados pelo preconceito dentro das universidades.
Este artigo busca analisar os aspectos emocionais vivenciados por universitários, com a finalidade de compreender quais as emoções que estes vivenciam na trajetória universitária. Com isso, alguns questionamentos norteiam inicialmente está pesquisa: Os alunos com necessidades especiais se sentem excluídos pelo meio universitário? Sentem piedade provindas pelos colegas e professores? Vivenciam o preconceito no contexto universitário? Neste sentido, o artigo traz um direcionamento para as emoções vivenciadas pelos alunos com necessidades especiais, para que assim se possa alcançar o objetivo proposto.
Os processos psicológicos básicos tem como funções mentais a sensação, percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem, motivação, aprendizagem, emoção, entre outras. As quais são resultados das interações dos processos inatos e também das aprendizagens obtidas durante o desenvolvimento e suas relações sociais.
Segundo Braghirolli, et. al., (2002) as informações do meio externos são processadas através da percepção e da sensação, sendo possível distinguir cada uma, embora sejam um processo único de recepção e interpretação das informações. A sensação é entendida como a consciência dos elementos sensoriais, a percepção supõe as sensações acompanhadas dos significados que atribuímos a experiências anteriores. Sendo assim, percepção é o termo de sentido amplo que contém o sentido do termo sensação.
Segundo Martins (2011) a percepção é a capacidade de interpretar a sensação, integrando informações sensoriais a memória e cognição, de modo a formar conceitos sobre o mundo e sobre cada indivíduo, assim conseguir nortear nosso comportamento.
Partindo do conhecimento da sensação e com o reconhecimento da percepção , evidencia-se a possibilidade de uma melhor compreensão da emoção.
EMOÇÃO
De acordo com Braghirolli, et. al. (2002) não é fácil encontrar um conceito para emoções, não tem como ser observada diretamente, percebemos sua existência através dos comportamentos, apesar disso a maioria dos autores acorda que as emoções são complexos estados de excitação de que participa o organismo todo. Este termo é usado também para denotar os sentimentos e estados afetivos em geral.
A emoção é uma experiência subjetiva que envolve a pessoa como um todo, envolvendo sua mente e corpo. É uma reação complexa desencadeada por um excitação ou pensamento e envolve reações orgânicas e as percepções pessoais. É uma resposta que envolve diferentes componentes, especificamente uma reação observável, uma excitação fisiológica, uma interpretação cognitiva e uma experiência subjetiva (PINTO 2001, apud. LOPES 2011).
A emoção é uma força poderosa dos problemas humanos, Está na raiz de guerras, assassinatos, conflito social e todos os tipos de outros conflitos entre pessoas. De outro lado, a emoção é o sal da vida; as coisas seriam bem monótonas sem a emoção. A alegria que temos em festas, nossa satisfação nna realização de objetivos, o divertimento que conseguimos em situações engraçadas, fazem com que a vida mereça ser vivida (BRAGHIROLLI, et. al., 2002 apud. MORGAN, 1977, p. 73-4).
Do ponto de vista psicológico, existem emoções naturais, fisiológicas, que aparecem em todas as pessoas e consequentes a um importante fundamento biológico. Estas emoções podem ser a alegria, o medo, a ansiedade ou a raiva, entre outras. Podendo ser agradáveis ou desagradáveis, capazes de nos mobilizar para a atividade e de influir na comunicação interpessoal. Toda via, as emoções operam como poderosos motivadores do comportamento humano (BALLONE, 2007).
As emoções poder ser adquiridas através da compreensão. As emoções poder ser geradas através da recepção e interpretação e informações, isto é, por processos racionais e lógicos. A razão nos faz compreender as consequências de determinado evento, e isto nos leva a sentir emoções (BRAGHIROLLI, et. al., 2002, p. 110).
Segundo Braghirolli, et. al. (2002, p. 113) “uma determinada dose de excitação emocional ajuda a tornar a tarefa mais significativa e interessante. Do contrario as tarefas perdem o interesse e caem na rotina”.
Para Braghirolli, et. al (2002) as emoções podem se manifestar em relatos verbais, pela observação do comportamento e indicadores fisiológicos. Já que as emoções são difíceis de serem identificadas apenas pela observação é valido pedir para que a pessoa descreva sobre o que está sentindo. As mesmas emoções podem se expressar de diferentes maneiras, se torna mais fácil se observarmos a forma com que a pessoa trás a tona esta emoção, suas expressões faciais e corporais, podem apresentar também indicadores fisiológicos que seriam, aliteração da pressão, aumento da excitação emocional e alterações de temperatura.
NECESSIDADES ESPECIAIS
As necessidades especiais vêm a cada dia ganhando mais abrangência na mídia, na sociedade, e nas leis em geral, fazendo com que a deficiência seja repensada e assim vista de forma diferente. Com isso as pessoas com necessidades especiais estão sendo mais aceitas entre todos os cidadãos, tendo acesso a escola de ensino regular, ao mercado de trabalho, a vida cotidiana, oferecendo acessibilidade e recursos específicos para cada necessidade em particular (CORRER, 2003).
A mudança de atitude deve ocorrer primeiro, para que depois aconteça a mudança das ações e assim a deficiência passe a ser vista de outra forma, neste sentido, Binet, Simon e Freud ajudaram trazendo de um lado a definições de idade mental e juntamente de outro o nascimento da psicanálise como técnica terapêutica, trazendo uma nova compreensão a educação da criança deficiente (FONSECA, 1995).
O manual de classificação das consequências das doenças (CIDID) classifica deficiência como:
Deficiência: perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão (AMIRALIAN et. al., 2000, p. 98).
Este mesmo manual conceitua incapacidade como “[…] restrição, resultante de uma deficiência, da habilidade para desempenhar uma atividade considerada normal para o ser humano” e ainda desvantagem como “[…] prejuízo para o individuo, resultante de uma deficiência ou uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de papéis de acordo com a idade, sexo, fatores sociais e culturais” (AMIRALIAN et. al., 2000, p. 98).
INCLUSÃO SOCIAL
Segundo Mittler (2003) a inclusão envolve um processo de reestruturação das escolas, tendo como objetivo assegurar que todos os alunos tenham acesso a educação de qualidade para que no futuro possam usufruir das oportunidades que são oferecidas pela escola. Esta reforma tem como objetivo garantir a participação de todas as crianças favorecendo todos os alunos, incluindo a minoria lingüística e étnica, com deficiência, com dificuldade de aprendizagem, os que correm risco de exclusão da escola e os que se ausentam com freqüência, diminuindo assim a segregação e o isolamento destes alunos que não se sentem inclusos no ambiente social.
O conceito de inclusão remete a pensar em formas diferentes sobre a origem da aprendizagem e as dificuldades de comportamento, promovendo mudanças no modelo de ensino proposto pela sociedade, esses modelos são discutidos por muito tempo entre escritores e revistas no campo da deficiência porem raramente são colocados em prática apesar de toda similaridade dos dois campos, sendo assim é de suma importância impedir a polarização destes modelos por serem conflitantes, deve haver uma interação entre o individuo incluso, a sociedade e o ambiente visando o melhor para o interesse do individuo incluso (MITTLER, 2003).
O modelo social da deficiência baseia-se na proporção de que a sociedade e as suas instituições é que são opressivas, discriminadoras e incapazes, e que a atenção, portanto, precisa estar direcionada para remoção dos obstáculos existentes á participação das pessoas portadoras de necessidades na vida em sociedade e para mudança institucional, ou seja, para mudança de regulamentos e atitudes que criam e mantêm a exclusão (CAMPIBELL; OLIVER, 1996. Apud., MITTLER, 2003, p. 26).
Mazzotta (1982) diz que quando se trata de uma formação profissionalizante, no que se diz respeito ao educando com necessidades especiais, é ainda um grande desafio para os educadores, seja para sondagem de aptidões, iniciação para o trabalho, aprendizagem profissional metódica, qualificação profissional ou habilitação profissional,o ato educacional tem sido difícil se consolidar, levando em conta que a formação especial para a pessoa com necessidade especial é, praticamente inexistente.
Uma das situações de vida para qualquer adulto é a situação do trabalho. Essa situação é, portanto, fundamental também para a pessoa com deficiência. Haja vista que a capacidade de encontrar trabalho e conservá-lo é um dos mais importantes aspectos do ajustamento social, pois, além do lado prático de “ter dinheiro para viver e garantir o sustento, ter um emprego aumenta o amor próprio, ajuda a evitar o tédio e aumenta usualmente o montante do contato com outras pessoas” (MAZZOTTA, 1982 p. 24).
Para Mazzotta (1982) a responsabilidade de formação profissional dos indivíduos com necessidades especiais não é apenas do sistema escolar, é importante partilhar com empresas e outras instituições não escolares. Outro ponto a ser visto que o autor ressalta é que as dificuldades de profissionalização existentes estando ou não ligadas ao preconceito e a discriminação negativa, têm provocado descrédito nas possibilidades de educação em relação a este aspecto.
Vale ressaltar, que as diferenças sempre existiram e sempre vai existir, e por esse motivo elas são comuns em qualquer sociedade, isto faz com que a pessoa com necessidade especial deva se preparar e estar preparada para equacioná-las. Assim, a educação desempenha um papel de grande importância, não só relacionado ao trabalho, mas em todos os aspectos de vida social (MAZZOTTA, 1982).
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa de campo, exploratória, qualitativa e de natureza básica, realizada em uma Instituição de Ensino superior do estado de Santa Catarina.
Os participantes do estudo foram acadêmicos de uma universidade do estado de Santa Catarina, totalizando 7 alunos, que no momento da aplicação da pesquisa atendiam aos critérios de inclusão desta pesquisa, aceitando participar e estando disponíveis à aplicação do instrumento utilizado no período proposto, além de assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista semiestruturada elaborada pela acadêmica em conjunto com seu orientador, buscando compreender os aspectos emocionais e a visão dos entrevistados em relação à inclusão no meio universitário. Dessa forma, as entrevistas foram agendadas e gravadas com a permissãodo entrevistado.
Para interpretação dos dados, utilizou-se a análise de discurso, segundo Bardin (2011), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas onde se analisa a comunicação, não é um instrumento pronto, e sim uma junção de várias técnicas que focadas num objetivo formam um instrumento onde se é possível adaptar a vários campos de aplicação, sendo um modo empírico de se analisar os dados obtidos com a pesquisa que depende do modo de como serão analisadas as respostas, da fala do analista, e o objetivo que se pretende atingir, tendo que ser reinventado a todo momento, se adequando as regras e objetivos da pesquisa, onde o analista explora e investiga os dados sem focar na problemática e na falta de técnicas para utilizar. Deste modo, as falas gravadas dos alunos foram escutadas exaustivamente e transcritas para que assim fosse realizada a analise do conteúdo.
RESULTADOS
Para melhor visualização dos sujeitos da pesquisa, construiu-se uma tabela de caracterização dos mesmos, a qual pode ser vista a seguir.
As informações expostas revelam que a amostra foi constituída de 07 (sete) participantes, sendo 03 (três) do gênero feminino e 04 (quatro) participantes do gênero masculino.
Apresentação das categorias, subcategorias e elementos de análise do questionário.
Para haver uma melhor compreensão dos resultados, os dados coletados foram divididos em categorias temáticas buscando analisar o conteúdo da entrevista respondida pelos acadêmicos, conforme propõe Bardin (2011). As categorias se dividem em subcategorias e elementos de análise, que avaliam a singularidade da produção de conhecimento nesta pesquisa qualitativa.
Neste sentido, ao buscar caracterizar os aspectos emocionais dos participantes da pesquisa, foi escolhida para este artigo uma das categorias que surgirama partir das respostas dos entrevistados, a qualapontaas vivencias dos universitários com necessidades especiais.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Esta pesquisa pretendeu abordar os aspectos emocionais vivenciados por alunos com necessidades especiais frente à vida universitária, buscando compreender o enfrentamento das diversas situações no dia a dia acadêmico.
A tabela anterior categoriza os itens que foram investigados durante a realização desta pesquisa, procurando deter as singularidades dos entrevistados, bem como o que estes indivíduos apresentavam em comum, tentando esclarecer a complexidade dos elementos. As categorias buscaram exemplificar as vivências dos entrevistados no meio acadêmico e o sentimento de eficácia no processo de inclusão. Desta forma, a categoria de análise a seguir se trata de:
1. Vivências de universitários com necessidades especiais.
Esta categoria revela um conjunto de elemento de análise o qual busca analisar as vivências dos universitários com necessidades especiais. Assim, relata a vivência do dia a dia acadêmico. Neste sentido, surgiram três subcategorias onde se puderam perceber diversos sentimentos ao estar cursando o ensino superior.
1.1 Sentimentos ao frequentar a universidade
Esta subcategoria diz respeito ao sentimento dos alunos ao estarem frequentando a universidade. Quanto a isso, existe o fato da pessoa ter motivação para frequentar a universidade:
“Eu tive que ter muita força e eu tenho que estudar demais, eu amo estar aqui, eu vejo que é extremamente importante eu ta estudando pra ter um futuro muito melhor.” (E1)
Nesse sentido Vernon (1973), fala que a motivação é uma força interna que surge, regula e ampara todas as nossas ações mais importantes.
Outro apontamento que surgiu entre os entrevistados foi o sentimento de crescimento, de vitória:
“Me sinto subindo um degrau cada vez mais, sentimento de que to crescendo, tendo um conhecimento mais amplo da minha caminhada.” (E2)
“Muito bem, um avanço (risos) deixa eu ver… É na verdade é uma vitória porque já é difícil de outra forma, isso desmotiva a gente, dai é uma vitória, ultrapassar certas barreiras.” (E3)
Neste contexto, há quem se sinta realizado ao frequentar a universidade:
Ah me sinto bem né, realizado… Foi uma oportunidade que eu tive, se não fosse pela bolsa que eu recebo do governo né, eu não conseguiria entrar numa universidade né. (E4)
Segundo Paschoal, Torres e Porto (2010) apud Waterman (1993) as experiências de expressão e realização pessoal costumam ser vivenciadas, quando o sujeito tem um envolvimento profundo com um empreendimento, tem sentimento intenso de estar vivo e completo, quando está se dedicando inteiramente a determinadas atividades, avalia que fez o que realmente queria fazer e entende que consegue expressar seu verdadeiro eu. A expressão pessoal e a autor realização referem-se fundamentalmente à experiência pessoal de realização dos próprios potenciais, na forma de desenvolvimento de habilidades e talentos e de avanço de intenções de vida.
Outro apontamento que aparece entre os pesquisados é que estar frequentando a universidade causa o sentimento de orgulho:
“Olha, tipo assim é um desafio entende? por questões físicas é cansativo, mas ao mesmo tempo assim pra mim eu me sinto muito orgulhosa de ta conseguindo” (E5)
Além disso, aparece também o sentimento de aborrecimento e felicidade:
“Ah, me sinto bem, tem horas que to aborrecida, dai já pensei até em trancar, não de coração, mas já pensei em desistir na hora da tristeza, Então eu fico aborrecida, chateada porque eu não consigo acompanhar, (..) Mas quando eu vejo que to aprendendo, quando tiro nota boa ai eu fico feliz, contente ( risos )” (E6).
De acordo com Jung (1991) O sentimento, é um estado afetivo fortemente ligado com a emoção, entretanto mais duradouro e enfraquecido, permite a experiência de prazer ou dor, alegria ou tristeza, raiva, medo ou amor.
1.2 Interação com os colegas de sala
Como uma subcategoria, esse item aborda a interação e o auxilio nas atividades da pessoa com necessidade especial com os colegas de sala de aula. Com relação a isso, se apresenta o fato de perceber a interação porem preferir estudar sozinho:
Na verdade eu estudo muito, eu procuro aprofunda o meu conhecimento de palavras (…) nesse ponto eu sou bem individualista, eu preciso estudar sozinha porque no futuro eu não vou ter ninguém pra me ajudar. Eles são ouvintes a cultura deles é diferente. Eu preciso sobreviver sozinha no meio deles. Existe, na verdade. é assim, é uma interação e quando tem atividade geralmente algumas ideias, hoje mesmo apresentei um trabalho e a ideia principal foi minha. (E1).
Para Vygotsky (1989) é possível perceber que as limitadas oportunidades de interação da pessoa com necessidade especial, em seu contexto social, interferem na ampliação das funções mentais superiores.
Outra questão que apareceu entre a maioria dos entrevistados, foi de que é normal, existe sim interação no meio acadêmico:
“Bastante interação sempre, não tem nada de diferente”. (E2)
“Sim, não tem diferença”. (E6)
“Tipo, sempre todo mundo ajuda todo mundo, às vezes tem a panelinha né? Mas já aconteceu de ter que sentar em outros grupos, mas sempre fluiu normal.” (E5)
De acordo com Maciel (2000) a questão da inclusão social traz na sua capacidade a comparação de oportunidades, a mútua interação de pessoas com e sem deficiência e o completo acesso aos recursos da sociedade.
Em uma das questões levantadas sobre a interação dos colegas, um dos participantes disse que tem interação, mas não precisa de auxílio para realizar as atividades:
Existe interação, mas não, eu não preciso. (E3)
Seguindo a mesma vertente, para Tassoni (2000), é através de um intenso processo de interação com o meio social, que se dá a assimilação dos objetos culturais, processo em que o objeto do conhecimento ganha significação e sentido.
1.3 Tratamento recebido por parte dos colegas
Essa subcategoria tem como objetivo analisar o tratamento recebido pelos colegasem relação ao aluno com necessidade especial. Com isso, percebe-se o sentimento de preconceito:
Sim, já aconteceu, as pessoas, quando eu cheguei.. as pessoas se afastavam porque não entendiam, porque eles são ouvintes, eles não entendem o meu tipo de comunicação, falta, falta conhecimento (…) Quando eu to em sala de aula e eu percebo que alguma pessoa, algum aluno caminha e de repente me olha com algum tipo de preconceito, eu não entendo, porque eu penso que todas as pessoas são iguais não tem essa de preconceito. Desculpa, é muita ignorância essa questão de preconceito. (E1)
Existe o preconceito aqui dentro também, eu mesmo convivi no semestre passado, com uma colega de turma. Me senti mal, minha vontade era de erguer ela pra dez. Eu procurei não demonstrar mas eu escutei.. quando tava saindo da sala com outro colega, em voz bem declarada, como ele vai ler se ele não consegue falar direito ? Me senti bem mal. (E7)
Para Crochík (2011) o preconceito é a fixação de opiniões antecedentes que impedem a experiência.
Outra questão que se evidenciou foi a percepção do sentimento de piedade dos colegas em sala de aula para o aluno com necessidade especial:
Ah, sim, tem umas que sim, tem umas assim que no pergunta, tipo não sabe que uso prótese e ai eu conto: Ai meu deus, mas uma moça bonita e usa prótese, tipo como assim. Aaah, a pessoa deficiente é o mais feio, o mais pobre né? e tem muito disso, que as vezes a pessoa diz: nossa olha aquele cara lá deficiente, tal tal.. Mas não é assim, se você for ver a pessoa é tão competente quanto qualquer outra. É só uma diferença que a pessoa tem, uma dificuldade, uma deficiência, mas não que ele é menos que o outro que é normal, que tem todos os membros. (E5)
E também não quero sentimento de piedade, de dó comigo, eu não aceito. E dos professores também assim, é verdade, tem um professor, eu não vou citar qual é a disciplina. Nossa… ele é pedante, porque eu preciso perguntar, ai o professor diz: não pode fica me incomodando em sala de aula, me manda tudo por email, mas eu sou visual eu preciso saber, eu disse pra ele: Professor eu to cobrando resposta de você agora, porque depois você vai me cobrar na prova. Eu quero saber qual é o comprometimento e a responsabilidade deste professor comigo (…) ele tem que me informar é o meu direito enquanto universitária… Não tem informação nem do que acontece na universidade, eu sou surda, eu não to ouvindo. Falta informação, os e-mails… por que eles não me mandam e-mails? Não… o coordenador do curso esquece que eu sou surda. Falta informação. (E1)
Alguns entrevistados não sentem piedade provinda dos colegas:
Ah, não sei, algumas vezes já notei que querem ajudar porque eu não posso e tal, mas de pena, de coitadinha eu não sinto. Eu sei que capacidade eu tenho, tenho limitações mas vou lutando contra isso. (E6)
A piedade funciona por meio de reconhecimentos. Inicialmente não mais do que o reconhecimento da identidade de natureza, que vai em seguida se aprofundando na medida em que o indivíduo vê em funcionamento no outro aquelas mesmas forças que moldam seus afetos e dão forma à vida interior. (REIS, 2005, p. 277).
Neste contexto, há também o estranhamento pelo novo:
É só estranhamento por ser novo, por ser diferente, porque não é evidente ai quando você vê se surpreende, mas não é diferente. (E3)
Para Silva (2006), a percepção só é possível por meio da interação do dia-a-dia, no grau em que destaca o que não é igual e, ao mesmo tempo, ressalta oconceito de ser igual na diferença, provocando os receios do estranhamento e do medo.
Entre alguns entrevistados a visão dos outros colegas é normal, não existe diferença.
Creio que sou vista de uma forma normal, assim amigável, todos querem me ajudar, são solidários comigo e querem ser meus amigos.. (E6)
Ah, pra mim normal, eu não tenho nenhuma queixa com isso, tenho um convívio bom. Procuro também passar minha experiência de vida, que eu tenho pra eles que são mais novos… Mas não tenho dificuldade de relacionamento com eles nenhum. (E4)
Normal, não sinto nenhum tipo de tratamento diferente, o que é passado em sala é a mesma metodologia pra mim, não tem nenhuma atitude diferente em relação à metodologia e professores, é tudo igual, depende de mim correr atrás. (E7)
Segundo Cruz (2008), o desafio dos dias atuais, em uma civilização marcada pela globalização é valorizar o diferente, acolhendo-o em sua forma inesperada de ser, sem almejar que ele deixe de apresentar suas especificidades para se adequar ao mundo idealizado, normal e que supervaloriza a perfeição.
Outra questão que apareceu entre os entrevistados foi o de que as pessoas zombam pela pessoa ter uma deficiência.
Eles só tiram sarro mesmo… (E3)
De acordo com Silva (1986), é notório que a sociedade, a comunidade, os círculos de convívio, o grupo familiar, têm uma distinta influência no eventual agravamento da situação. Ou seja, na mudança daquilo que é “dificuldade físico, sensorial, orgânico ou mental numa deficiência”. E isto acontece devido a atitudes, temores, estigmas, comportamentos, preconceitos e também à rejeição, que são mantidos conscientes ou inconscientemente para com as pessoas que apresentam limitações.
Outro apontamento que pode ser feito em relação ao tratamento da pessoa com necessidade especial, é o sentimento de incapacidade:
Às vezes fico chateada por pensarem que eu não consigo, fico pensando poxa será que eles não me acham capaz? Que nem pra andar sozinha eu não desprezo ajuda aqui na faculdade, porque tem escada, é grande tem muitas pessoas e fica difícil, eu procuro ser educada e deixo me ajudar, os professores também cobram pra eu andar sozinha, mas eu me sinto com medo porque não conheço direito, se tem alguém vindo, se tem algo no caminho, mas se precisar eu vou me virando. (E6)
Para Buscaglia (2006), é a sociedade, na maioria das vezes, que irá dar significado a deficiência como uma incapacidade, e é este sujeito que sofrerá as consequências de tal significado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste estudo possibilitou conhecer as diversas dificuldades enfrentadas pelos universitários especiais, assim como, os sentimentos com que estimulam para que os mesmo continuem a trajetória acadêmica, e também a importância da atuação do psicólogo e demais profissionais no processo de inclusão social. Desta forma, as colocações finais deste artigo retomam os objetivos da pesquisa, buscando caracterizar os tipos de emoções mais vivenciados em alunos com necessidades especiais.
De acordo com o estudo, se percebeu que os aspectos emocionais mudam de acordo com o tipo de necessidade especial que o individuo possui, sua maturidade, a representação que está deficiência tem para o individuo e demais características que formam a personalidade de cada um.
O estudo apresentou como aspectos emocionais, a motivação, a realização, o sentimento de orgulho e vitória, os quais tem influência na persistência destes indivíduos para que continuem enfrentando as dificuldades e ultrapassando seus próprios limites em busca de seus objetivos. Ficou evidente com a pesquisa, o fato de que estes indivíduos estão sempre procurando adquirir autonomia, e buscam mostrar para a sociedade que tem capacidades tanto quanto qualquer outro individuo, uma vez que a própria sociedade impõe um padrão a ser seguido, e o individuo acaba deixando de lado seus desejos por conta das normas e valores sociais, a pessoa com necessidade especial sente o compromisso de expor um retorno para a sociedade.
Através do resultado deste estudo, se identificou o preconceito, o sentimento de piedade e o estranhamento pelo diferente, vivenciado diariamente pelos universitários com necessidades especiais. Apesar das dificuldades enfrentadas diariamente se pode perceber que existe uma boa interação com as demais pessoas que frequentam a universidade, o que faz com que a situação se torne ambígua e é exatamente neste ponto que fica a reflexão, pois ainda á muito que modificar para fazer com que estas pessoas se sintam verdadeiramente inseridas no meio acadêmico, visto que se deparam com múltiplos problemas relacionados à convivência social e a acessibilidade, pode-se dizer que os aspectos emocionais auxiliam para que eles continuem em busca de seus objetivos e ultrapassem seus próprios limites para enfrentar a vida acadêmica.
Neste sentido, foi possível compreender que os aspectos emocionais vivenciados por estes indivíduos especiais interferem no seu dia-a-dia dentro e fora da universidade, no qual se faz necessário que o assunto de inclusão seja repensado, para que se atenda a está demanda.
Neste sentido, ao caracterizar as emoções vivenciadas pelos participantes da pesquisa, fica evidente a resistência em se falar sobre o assunto relacionado a inclusão, o que faz com que este tema se torne ainda mais importante.
Portanto, é fundamental que se realizem novas pesquisas com relação a este tema para que paradigmas sejam quebrados e as pessoas com necessidades especiais possam estar nas universidades não fazendo parte de uma minoria e sim da maioria onde serão vistos como seres capazes de desenvolver e serem atuantes respeitando suas limitações e até mesmo superando suas dificuldades, sendo vistos de forma natural no meio onde estão inseridos.
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Achei muito interessante seu artigo! Parabéns!
Adorei este artigo, Muito interessante e ainda pouco discutido.
Precisamos dar mais atenção a este assunto.
Parabéns Fernanda pelo tema abordado!
Parabéns pelo artigo! ?? adorei!
Otimo
São pessoas como você Dr. Fernanda Bornhausen que fazem a diferença.
Adorei o teu artigo e espero ver muitos outros como este. Parabéns e sucesso para a senhora na sua carreira profissional.
Parabens, assunto abordado que deve realmente ser melhor discutido e dada a devida atencao.
Penso que este assunto ainda é tratado com reservas, diria até com certo preconceito tanto do portador quanto do dito normal. Achei interessante você tocar no assunto justo com pessoas que convivem no ambiente universitário, até mesmo para estar chamando a atenção dos discentes e docentes da própria Instituição, para que revejam conceitos, metas e oportunidades iguais. Parabéns !