Diversas pesquisas apontam que uma boa parte da população mundial não está satisfeita com seu trabalho (entre 40% a 60%). Portanto, não gostar ou odiar o trabalho não é raro. Neste texto, falaremos sobre esta dificuldade e maneiras de sair do círculo vicioso de não gostar mas ter que trabalhar.
Trabalho e necessidade
Mark Twain, um escritor americano excelente e engraçado, disse certa vez: “O trabalho é um mal necessário a ser evitado”. Como em muitas das suas espirituosas frases, ele disse algo sobre o qual muitas pessoas concordam. Se fosse possível escolher entre não trabalhar e trabalhar, quem escolheria trabalhar?
Penso que muita gente concordaria que poucas pessoas iriam levantar em uma segunda-feira pela manhã se pudessem viver como se a sua vida fosse como nas férias. Ou seja, o trabalho acaba sendo vivenciado como um mal necessário. Trabalhar é uma necessidade para, entre outras coisas, pagar as contas.
O dinheiro vinculado à trabalhar é o que chamamos na psicologia comportamental de reforço positivo. É a consequência que o trabalho proporciona que aumenta e/ou mantém o comportamento. Fica claro essa relação se o salário deixa de ser pago. Quem iria trabalhar se não fosse remunerado no final do dia, semana ou mês?
Trabalho e educação ou experiência
Quando nós, psicólogos, vamos fazer uma entrevista de emprego e pegamos um currículo, nos deparamos com dois tipos de informações básicas: escolaridade e experiência.
Educação ou escolaridade é a parte do currículo que descreve o quanto estudamos. Ter segundo grau, uma faculdade, cursos como de informática ou de inglês.
A experiência é a quantidade de tempo que nos dedicamos a uma área de atuação, o que fazíamos em empregos anteriores, o que, certamente, teremos habilidade ou capacidade para fazer em um novo.
O que é curioso é que a educação e a escolaridade que, em um primeiro momento, seriam fontes de contentamento, status ou identidade pessoal, podem se transformar em uma das correntes que nos aprisionam em uma posição profissional.
Por exemplo, se eu faço a graduação em direito, serei advogado. Mas se, depois de 5 anos trabalhando como advogado, eu perceber que eu não quero mais advogar, talvez fique “preso” à formação já que a formação me traz uma certa sensação de estabilidade, dignidade, status social e provavelmente uma remuneração melhor do que se eu não tivesse a graduação. (Falo aqui de direito, mas poderia ser qualquer outra graduação ou curso técnico).
O mesmo ocorre quando temos muita experiência em uma área. Digamos, se eu tiver trabalhado 10 anos como vendedor externo, poderei também ficar “ligado” a esta função e terei dificuldade em encontrar formas de sair para outras áreas.
O que fazer se eu odeio o meu trabalho?
Bem, a primeira coisa a fazer é reconhecer este fato. E, como tudo, existem gradações e reações diferentes. Podemos não gostar da nossa função, mas conseguimos tolerar e isso talvez não nos afete tanto. Por outro lado, em uma situação extrema, o fato de odiar o dia a dia profissional pode nos levar a sérios transtornos mentais ou físicos.
Então, o começo é reconhecer o que está acontecendo e as nossas reações – se são leves, se dá para aguentar – ou se está chegando no limite do insuportável.
Feito isso, devemos entender que temos escolha. Sempre há escolha. E é simples de visualizar que, se odiamos o nosso trabalho, temos duas opções básicas:
– continuar nesse emprego
– encontrar outro emprego
Pode parecer óbvio e sem sentido falar isso, mas é importante observar que há escolha. Mas… mas, o que eu faço? Esse “mas…” é o que acaba mantendo o trabalho:
– Mas, eu preciso do dinheiro.
– Mas, eu tenho uma família para sustentar. Tenho contas para pagar
– Mas, eu só consegui esta vaga.
– Mas, eu sou formado nisso.
– Mas, eu tenho só este tipo de experiência.
A questão é: como resolver todos estes “mas”?
Planos para a transição
Por incrível que pareça, existem alternativas relativamente simples:
– Se você tem carteira assinada, você pode ir procurando outros empregos durante suas folgas, fora do expediente e, especialmente, no período de férias
– Se você tem uma graduação, você pode procurar por alternativas em sua área de formação. A maioria das faculdades permite com que você trabalhe em mais de uma área de atuação. Você também pode fazer cursos nessa outra área, como cursos de especialização (pós-graduação) ou, inicialmente, encontrar oportunidades que pagam menos, mas te permitem fazer a transição de uma área para outra.
– De igual forma, se você tiver muita experiência em uma área: avalie se não é a empresa ou setor que está te incomodando (ou seu chefe). Você pode ir fazendo a transição estudando para ter conhecimentos em outro campo de atuação ou talvez conseguindo vagas mais de iniciante para conseguir mudar de vez.
Os planos para a transição envolvem passos:
– definir uma outra área de atuação (como nem sempre isso é claro, talvez seja preciso fazer Orientação Profissional ou Coaching de Carreira para descobrir).
– definir se a mudança será brusca (de uma hora para outra) ou se será gradual (mantendo dois empregos simultaneamente ou um emprego em uma área e o estudo em outra)
– fazer a transição. Para de pensar e fazer.
Lembrando que, às vezes, a transição vem de fora para dentro, como acontece em demissões.
Conclusão
Quando colocamos estes “mas isso ou aquilo”, sem saber, estamos escolhendo continuar, nos justificando. Claro, podemos precisar do dinheiro ou ter dúvidas sobre qual é o melhor caminho a seguir. Contudo, uma coisa é certa: se continuarmos pensando e justificando, continuaremos aonde estamos, não é?
Razão pela qual é importante lembrar:
– o dinheiro que se ganha em uma profissão pode ser adquirido em outra profissão
– ficar em uma função por ter experiência significa continuar tendo experiência em uma área que não queremos ter experiência e isto é um círculo vicioso.
(Imagine que se você tem 5 anos de experiência agora e não gosta do que faz, daqui a 5 anos você terá 10. Será provavelmente mais fácil conseguir uma vaga, mas será uma vaga em uma área que você não gosta agora e provavelmente não vai gostar daqui a 5 anos).
– um diploma é apenas um diploma. É um papel que indica que você estudou e tem certos conhecimentos e habilidades. Um diploma não deve ser como uma marca que te define para o resto da vida. Quando fazemos uma faculdade, somos de um jeito. Depois de alguns anos, crescemos e pode acontecer de não termos o mesmo tipo de interesse de tempos atrás.
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Gostei muito da sua página, todos os assuntos são ótimos…
Continue com esse trabalho, é muito bom.