“No grande triunvirato de Freud, o ego, o superego e o id representam conjuntos de contingências que são quase inevitáveis quando a pessoa vive em grupo” (Skinner, p. 131)
Olá amigos!
Durante a faculdade de psicologia, é comum vermos discussões acaloradas sobre as diversas teorias que procuram explicar os pensamentos, sentimentos, os comportamentos das pessoas. Após alguns períodos na faculdade, cada aluno vai definindo qual abordagem prefere e, com isso, procura defender o que acredita ser o mais correto, o mais próximo da verdade.
Entretanto, embora a defesa do próprio ponto de vista possa ser um exercício para aprender e saber argumentar, é importante entender o conhecimento é gerado e mantido pelo pensamento, e não pelo julgamento de um ser melhor e o outro pior. Como diz Jung, “Pensar é difícil, é por isso que a maioria das pessoas prefere julgar”. Digo isso porque não raro vemos estudantes deixando de ler autores com os quais não concordam, enquanto os próprios autores, por serem pensadores, conheciam as obras uns dos outros.
No livro Sobre o behaviorismo, de B. F. Skinner lemos no capítulo “O Mundo interior da Motivação e da Emoção”, um trecho no qual ele explica os conceitos de Freud, de id, ego e superego (é claro, a partir da sua perspectiva da psicologia comportamental).
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Skinner explica o Id, Ego e Superego de Freud
Inicialmente, Skinner relaciona os conceitos à metáfora cristã do “Velho Adão” e da consciência. O “Velho Adão” é o homem ainda no paraíso, sem a consciência, e com a possibilidade de ter tudo o que desejar:
“No grande triunvirato de Freud, o ego, o superego e o id representam conjuntos de contingências que são quase inevitáveis quando a pessoa vive em grupo. O id representa o “Velho Adão” da tradição judaico-cristã – a ‘natureza pecaminosa’ do homem derivada de suas suscetibilidades inatas para o reforço, grande parte deles quase que inevitavelmente em conflito com interesses de outrem. O superego – a consciência judaico-cristão – fala com ‘voz ainda fraca’ de um agente (usualmente) punitivo que representa o interesse de outras pessoas” (Skinner, p. 131).
O id
A metáfora cristã do pecado traz a ideia de que o homem, originalmente, teria um comportamento (“instintivo”) que o direciona para os chamados reforços naturais, como sexo e comida. Com o convívio social, a busca por estas e outras satisfações egoístas o coloca em conflito com os interesses alheios. Assim, com o tempo, as pessoas vão assimilando regras de convívio e as possibilidades de sanções e punições se transgredir o que as outras pessoas limitam.
O Superego
Na continuação do texto, Skinner explica o que entende por superego e a sua relação com o inconsciente. Segundo ele, o insconsciente é definido pela inabilidade ou incapacidade de se descrever o próprio comportamento.
Em um capítulo anterior, “Causas e Razões” ele diz: “Todo comportamento, efetivo ou não, é inicialmente não-racional no sentido de que as contingências responsáveis por ele não foram analisadas. Todo comportamento é, em princípio, inconsciente, mas pode tornar-se consciente sem se tornar racional: uma pessoa pode saber o que está fazendo sem saber por que o está fazendo” (Skinner, p. 114). Sobre o superego, ele escreve:
“Ele é um ‘dos setores principais da psique’ apenas no sentido de ser uma ‘parte do comportamento humano’ e é em grande parte inconsciente somente porque a comunidade verbal não ensina às pessoas observá-lo ou descrevê-lo. Ele é principalmente o produto das práticas punitivas de uma sociedade que tenta suprimir o comportamento egoísta gerado por reformadores biológicos, e pode assumir a forma de uma imitação da sociedade (‘servir de vigário da sociedade’) na medida em que as injunções de pais, professores e outros se tornem parte de seu repertório” (Skinner, p. 131).
O ego
Por sua vez, o ego estaria entre o id e o superego:
“O ego é o produto das contingências prática da vida diária, envolvendo necessariamente suscetibilidades ao reforço e às contingências punitivas organizadas por outras pessoas, mas exibindo um comportamento moldado e mantido por um ambiente atual” (Skinner, p. 131).
“Diz que ele [o ego] satisfaz ao id quando alcança certo nível de reforço biológico, e o superego, quando o faz sem acarretar dose excessiva de punição. Não é preciso dizer que estas três personalidades arquetípicas são os atores de um drama interno. O ator é o organismo, que se tornou uma pessoa com repertórios diferentes e possivelmente conflitantes, em consequência de contingências adversativas e talvez conflitivas” (Skinner, p. 131).
Conclusão
Apesar da leitura de Freud, é evidente que Skinner não concorda com a construção teórica da psicanálise. Entre muitos outros motivos, há a ideia fundamental para a sua psicologia comportamental de que é o meio ambiente – e não a psique (o interior do homem) – que controla e molda o comportamento:
“A análise de Freud pareceu convincente por causa da sua universalidade, mas são as contingências ambientais, mais do que a psique, que são invariantes” (Skinner, p. 131).
De toda forma, é interessante saber não só que os grandes autores liam as outras de outros pensadores, mas que procuravam entender os conceitos para, aí sim, criticá-los ou explicá-los a partir do seu próprio ponto de vista.
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Referência
SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 2006
Deixar uma crítica básica:
O id não é comportamento instintivo, não busca comida e sexo, o id é pulsão, muito diferente de instinto. O superego não é simplesmente produto de práticas punitivas que quer acabar com comportamentos egoístas e está longe de ser uma imitação da sociedade. Aliás, a confusão entre superego e práticas punitivas da sociedade é justamente do que o neurótico precisa ser curado. Quer dizer que essa teoria de Skinner é neurótica ela mesma. Confundir superego com injunção de pais, professores, autoridades em geral, é o que a neurose faz. Skinner tem essa ideia porque ele acha que o determinante é o ambiente, acha que o mal vem de fora. Enfim, fora outras coisas mais sutis que nem vale a pena discutir.
Me disseram que o que Skinner está fazendo é algo legal, está lendo outro autor e dialogando com ele. O problema é que Skinner não está lendo Freud, está lendo sua própria teoria em Freud, o que eu acho uma falta de respeito com a teoria freudiana, diga-se de passagem. Mas enfim!
Oliver,
No Vocabulário da Psicanálise, do Laplanche e Pontalis, encontramos as seguintes definições:
O id (Es, ou isso) – “Uma das três instâncias diferenciadas por Freud na sua segunda teoria do aparelho psíquico. O id constitui o polo pulsional da personalidade. Os seus conteúdos, expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado hereditários e inatos e, por outro, recalcados e adquiridos”.
O Superego (Über-Ich, ou Supereu) – “Uma das instâncias da personalidade tal como Freud a descreveu no quadro da sua segunda teoria do aparelho psíquico: o seu papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de ideias, funções do superego.
Classicamente, o superego é definido como o herdeiro do Complexo de Édipo; constitui-se por interiorização das exigências e das interdições parentais”.
Como sabemos, a palavra Trieb muitas vezes foi traduzida como instinto no inglês e daí esse uso. Como Lacan afirmava, o problema não é o do significante (utilizar instinto ou pulsão) mas de compreender o conceito.
Compartilho da sua opinião Oliver
Lendo Freud descobri alguns ensinamentos que assimilei: Id, Ego e Superego – que alguns chamam de trilogia Froidiana – é o conjunto de pensamentos quando um produz, o outro aplica e por fim um outro jaga ” debaixo do tapete” aquele pensamento que a sociedade, que a igreja, que o pai, a mãe, o vizinho, condenam e que você é obrigado ” por eles” de esconder e se puder, defecar.
Felipe, gostaria que você escrevesse um texto sobre a questão da linguagem em Lacan, seus comentários
são sempre muito bom, parabéns!
Maria Angela!
Recomendo este texto – https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2015/06/analise-de-palavras-fixas-para-palavras-sem-limites.html
Atenciosamente,
Felipe de Souza