Recebi de um querido leitor do site algumas perguntas sobre a rotina de um Professor Universitário. Como estive nesses últimos anos dentro do ambiente acadêmico (UFSJ, UFJF, USP, Unifesp), e como agora, neste ano, vou passar a lecionar em uma faculdade particular aqui da minha cidade, a Fasul, responderei às perguntas neste texto para quem se interessar de saber mais sobre esta profissão.
A formação para ser professor e os processos seletivos
A formação mínima para ser um professor de faculdade é ter uma graduação. Com uma graduação, é possível conseguir uma colocação em faculdades federais, estaduais ou particulares.
Para as faculdades públicas (federais e estaduais), o processo seletivo é por concurso público e o professor – depois de 2 anos de experiência, duração do período probatório – terá estabilidade na carreira, ou seja, muito dificilmente será demitido.
Em geral, para conseguir participar destes concursos públicos, o professor terá que ter uma titulação a mais do que apenas a graduação. Será preciso ter feito mestrado e, na grande maioria dos casos, doutorado. Por exemplo, para uma vaga para professor de uma universidade federal para psicologia, o candidato deverá ter graduação em psicologia, mestrado e doutorado em psicologia.
Entretanto, existem exceções. Para faculdades mais distantes do sudeste, é comum que as faculdades não consigam encontrar doutores às vezes. Então, há a reabertura do concurso exigindo somente o mestrado. Também é possível encontrar algumas vagas que são mais “abertas”, quer dizer, exigem a graduação em uma área e o doutorado em uma área afim. Digamos, para uma vaga para Psicologia da Educação, o professor poderá ter formação em psicologia e doutorado em pedagogia ou filosofia da educação.
Outra possibilidade para dar aulas em faculdades públicas são os processos seletivos para professores substitutos. Em alguns momentos, os professores tiram licença ou surge uma vaga depois de uma aposentadoria, e a faculdade preenche esta com um professor temporário. O contrato vai de 6 meses a 2 anos.
Para faculdades particulares, o processo seletivo é, em geral, mais simples. Nem sempre o professor vai ter uma formação específica para a disciplina que está lecionando. E nem sempre a faculdade vai querer pagar o salário para um doutor (já que um salário para especialista ou mestre é menor).
Como é a rotina de um Professor Universitário?
A rotina de um professor universitário varia de acordo com muitos fatores: se dá aulas em uma faculdade pública ou privada, se é concursado ou substituto, se está em uma faculdade que oferece pós-graduação (mestrado, doutorado, pós-doutorado).
Um professor de uma faculdade particular pode dar aulas à noite e ter outros trabalhos durante o dia, por exemplo, ser professor em escolas de ensino médio ou ter outros tipos de trabalho ligados à sua formação. Conheci um professor da faculdade de direito que tinha o seu escritório de advocacia durante o dia e lecionava no período noturno.
Nas faculdades federais, é comum que o concurso exija um tempo específico de trabalho durante a semana, geralmente 20 horas semanais (o que corresponderia a meio período) ou 40 horas semanais. Em muitos casos, para professor efetivo, o concurso também vai apontar a necessidade de dedicação exclusiva: não será possível ter outro trabalho.
Em faculdades federais menores, onde não há ainda cursos de pós-graduação, é comum que o professor se dedique às suas aulas na graduação, ofereça oportunidades de pesquisa e trabalhe com extensão (projetos que contribuem diretamente com a comunidade local).
Quando a faculdade é maior – no sentido de oferecer cursos de pós-graduação – o professor terá que dar aulas na graduação, no mestrado e/ou no doutorado. Algumas aulas de pós são oferecidas para doutorandos e mestrandos, simultaneamente. A cada semestre, o colegiado de professores define a grade de cada um.
Já no concurso público realizado, o professor entrou para dar disciplinas específicas. Um professor de psicologia que dá aulas de psicologia social pegará sempre as disciplinas relacionadas. No mestrado e doutorado, quando de sua criação, também fica definida as disciplinas que cada um pegará. Em todos estes níveis, contudo, de tempos em tempos há a oferta de disciplinas eletivas. Os alunos, se quiserem, podem ou não participar.
Em muitos momentos de suas carreiras, os professores em universidades podem acumular cargos: continuam dando aulas (talvez um pouco menos do que o usual), e trabalham também em setores administrativos. É o caso quando aceita-se o cargo de coordenador de curso ou em uma pró-reitoria.
No que tange à pesquisas, o professor pode propor pesquisas para orientandos de iniciação científica, mestrado, doutorado e aprender na orientação. Poderá utilizar este tempo para escrever e publicar artigos e livros. Mas é raro que consiga uma pesquisa financiada só para si.
Em geral, isto se torna possível com uma licença da faculdade e uma pesquisa em outra instituição no chamado estágio pós-doutoral. Portanto, apesar das variações de instituições, é provável que o professor tenha uma carga horária de trabalho mais voltada para lecionar e para tratar assuntos administrativos do que para realizar pesquisas originais.
Por isso, até onde sei, não existe aqui no Brasil o cargo de pesquisador, apenas pesquisador. Há a obrigação de lecionar, a pesquisa geralmente fica em segundo plano na estrutura organizacional. Claro que muitos professores são brilhantes em suas pesquisas, mas precisam organizar muito bem seus horários para conciliar todas as funções em que são exigidos.
A vocação de professor
É curioso que a palavra professor e profissão tenham a mesma origem, de professio, de professar. Uma pessoa professa – fala – o que acredita, aquilo para a qual foi chamada a fazer em uma vida (dai a ideia de vocação, ser chamado a).
Na medida em que a profissão de professor é extremamente desvalorizada em nossa país, na educação básica e no ensino médio, muitos alunos que gostam de estudar fazem faculdade e continuam estudando no mestrado, doutorado, pós-doutorado. Como ensinar no Ensino Superior ainda é prestigiado com salários melhores, estabilidade na carreira, e, em certo sentido, goza de status social, muitos visam este caminho.
Entretanto, como em toda profissão, existem profissionais capacitados e mal-capacitados. Muitos professores, mesmo em grandes universidades, não querem dar aulas. Preferem pesquisar e são professores relapsos. Muitos têm uma formação tão ligada à pesquisa que não aprendem como dar aula, não são didáticos. É aquilo que ouvimos com frequência: “Ele/ ela sabe muito, mas não sabe ensinar”.
Nas graduações de licenciatura, o aluno cumpre uma carga horária significativa em matérias de didática. Entretanto, para diversas outras graduações não existe este tipo de disciplina. O que explicaria a falta de didática de dezenas de professores.
Salários e estabilidade na carreira
Em tese, poderíamos falar de três níveis básicos de salários na carreira acadêmica:
- Professor Doutor concursado: o salário inicial, médio, é de 7 a 8.000 reais por mês. Com o tempo, há aumento na remuneração devido ao tempo no cargo. É possível também progredir na carreira, por exemplo, de Professor Assistente para Professor Adjunto, catedrático, etc. Em geral, o Professor passa no concurso e só sai por aposentadoria.
- Professor Doutor em uma universidade particular renomada: o salário é parecido com o salário 1. A diferença maior consiste no fato de que não há uma estabilidade na carreira. É possível ser demitido, embora, nestas universidades maiores a estabilidade é relativamente maior do que as menores.
- Professor em universidades pequenas: a remuneração pode ser por mês ou por hora/aula dada. Para se ter uma ideia, um Professor Doutor recebe cerca de 50 reais por hora/aula. A estabilidade na carreira não é garantida. Mudando um diretor, por exemplo, há a possibilidade de ser despedido.
Dúvidas, sugestões, críticas, comentários e complementações, escreva abaixo!
Olá Felipe!
Gostaria de parabenizá-lo pelo site . Seus textos são enriquecedores ! Estou no 9º semestre e desde que comecei a ler suas publicações. Me apaixono mais pela Psicologia!
Abraços, Eduardo Coelho – Brasília DF
Olá Felipe de Souza.
Quero parabeniza-lo pelo texto,pois foi super esclarecedor e fundamental para mim ( afinal, quero me tornar professor de Psicologia após minha graduação, este é o meu foco).
E com um texto tão rico em informações como esse, me vieram mais algumas dúvidas:
– 1° Dúvida: Quando você diz no texto “a formação mínima para ser um professor universitário é ter uma graduação” é válido para qualquer disciplina de curso superior ( inclusive Psicologia) ou nem todas?
– 2° Dúvida: E quando você diz também no texto “Nas graduações de licenciatura, o aluno cumpre uma carga horária significativa em matérias de didática. Entretanto, para diversas outras graduações não existe este tipo de disciplina”. Em Psicologia existe essa disciplina de didática? Caso não haja, como que o graduado/Meste/Doutor vai estar apto a dar aulas? Ele teria que procurar fazer algum curso separado de sua área de formação que o habilita-se a ensinar?
Aguardo sua resposta.
Forte abraço e sucesso.
Olá Wanderson,
Sim, é preciso ter uma graduação para dar aulas na graduação.
Na faculdade de psicologia, existia até um tempo a formação em licenciatura. Não sei te informar se ainda existe (na época em que estava me formando isso estava acabando).
A questão da didática é importante, mas existem diversos cursos livres – como de oratória, retórica, falar em público – que ajudam também. E, além disso, existe a pós-graduação em docência no ensino superior.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Boa noite.
Posso ter outra graduação, fazer pós em psicologia e dar aulas de psicologia no curso universitário?
Explicando melhor: a pessoa tem formação universitária (graduação) em outro curso (pedagogia, RH ou mesmo secretariado). Faz a pós graduação em psicologia e quer ministrar aulas de psicologia para o curso universitário de Secretariado Executivo da faculdade “x”. Pode?
Preciso orientação urgente.
Rose, nada vai limitar essa atuação como professor em um curso, a não ser a própria faculdade que está contratando.
convém destacar que numa universidade federal, sendo o professor produtivo, tendo projetos com empresas, convênios internacionais e orientações de mestrado e doutorado, o salário é o mesmo de um colega que apenas ministra aulas.