“Viva como se já estivesse vivendo pela segunda vez e como se na primeira vez você tivesse agido tão errado como está prestes a agir agora” (Victor Frankl)
Olá amigos!
Como muitos de vocês sabem, Victor Frankl é o criador da Logoterapia, também conhecida como a 3° força na psicoterapia de Viena, no século passado, ao lado da psicanálise de Freud e da psicologia individual de Adler. Depois de viver a tragédia de estar confinado em campos de concentração na Segunda Guerra, Frankl ficou mundialmente conhecido por seu livro Um psicólogo no campo de concentração.
Diferentemente de Freud, que estudou a pulsão sexual (de vida) e a pulsão de morte, e de Adler que explicou as neuroses a partir do complexo de inferioridade (e superioridade), Frankl defendia o argumento segundo o qual a psicoterapia tinha que se preocupar com o sentido da vida.
O imperativo categórico de Kant
Quem já estudou a filosofia do genial Kant, reconhecerá no imperativo categórico de Frankl a influência do conceito. A grosso modo, podemos entender o imperativo categórico como uma orientação ética, uma forma de estruturar a questão sobre o que é melhor a fazer daqui pra frente com a nossa existência.
O imperativo categórico de Kant diz: “Aja como se, na sua ação, todos pudessem agir como você”. Se você pensa de fazer algo e está em dúvida se é certo ou errado ou se está questionando se é o melhor a fazer, você pode substituir a sua pessoa como agente da ação e colocar outra pessoa em seu lugar. Se ao substituir por diversas supostas pessoas você acreditar que esta é uma ação justa, então é justa a ação.
O imperativo categórico de Frankl
No Um psicólogo no campo de concentração – também intitulado como Em busca de sentido – Frankl escreve: “Viva como se já estivesse vivendo pela segunda vez e como se na primeira vez você tivesse agido tão errado como está prestes a agir agora”. Segundo ele, esta máxima convida o paciente – ou qualquer um – a refletir sobre a finitude da vida e, igualmente, na finalidade a que os atos atuais estão conduzindo no futuro.
Mas vamos com calma. O que quer dizer o imperativo de Frankl? Afinal, em uma primeira vez, é normal que tenhamos que ler algumas vezes para captar o sentido. E um exemplo ajuda a esclarecer.
Imagine um casal brigando. Em um acesso de raiva, um(a) dá um tapa com toda a força no rosto do(a) outro(a). Esse tapa, por sua vez, conduz ao término da relação. Posteriormente, o(a) autor(a) do tapa pode vir a se arrepender do que fez e desejar que fosse possível voltar no tempo e fazer diferente.
A ideia do imperativo de Frankl é que o sujeito faça uma profunda reflexão sobre o sentido de sua vida e de seus atos. Que viva a vida como se já tivesse passado, imaginariamente, por erros que viria a se arrepender. Então, imagina-se que uma vida inteira foi vivida do jeito que está sendo vivida agora. (Cada um terá a sua imaginação: um talvez imagine a sua vida conduzida pela raiva, outro pelo tédio, outro pelo egoísmo, vício, etc). E, ao final, não é necessário.
Portanto, temos:
- viver a vida como se já estivesse vivendo pela segunda vez
- sendo que na primeira vez foram cometidos erros típicos
- erros como estão sendo ou podem ser cometidos hoje
Conclusão
Para concluir, deixo aqui mais algumas palavras de Victor Frankl:
“A logoterapia procura criar no paciente uma consciência plena de sua própria responsabilidade; por isso precisa deixar que ele opte pelo que, perante que ou perante quem ele se julga responsável (…) A logoterapia não é instrução nem pregação. Ela está tão distante do raciocínio lógico como da exortação moral. O papel do logoterapeuta consiste em ampliar e alargar o campo visual o paciente de modo que todo o espectro de sentido em potencial se torne consciente e visível para ele” (FRANKL, p. 135).
FRANKL, Victor. Em busca de sentido – Um psicólogo no campo de concentração. Editora Vozes, 2014.