“Se sua mente não está nublada por coisas desnecessárias, esta é a melhor estação da sua vida” (Wu-Men).
Olá amigos!
A ACT, Terapia de Aceitação e Compromisso, faz a distinção entre objetivos e valores (clique no link para ler o texto que escrevi recentemente). No texto de hoje, gostaria de compartilhar com vocês uma ideia de um dos maiores autores dessa abordagem da psicologia, Russ Harris, sobre a diferença entre ficar buscando o sucesso, a realização de objetivos, de uma maneira desenfreada e colocando a felicidade no futuro versus aproveitar a paisagem até chegar lá.
Uma história
Para começarmos, é útil entendermos esta diferença através de uma história simples:
“Uma mãe decide levar os dois filhos para um fantástico zoológico, que fica a cerca de duas horas de carro da sua casa. Um dos filhos tem apenas um único objetivo: chegar ao zoológico o mais rápido possível. Durante todo o caminho ele fica sentado perto da janela, em um estado de constante frustração, perguntando a cada cinco minutos “estamos chegando?”, “quanto falta?” e dizendo “quero chegar logo”, “que tédio!”
O outro filho, entretanto, tem dois objetivos: chegar ao zoológico o mais rápido possível e apreciar a viagem. Então, ele fica olhando a janela, notando as fazendas, com suas vacas e carneiros, observando os caminhões gigantes que se aproximam e se afastam, acenando para as pessoas que vê andando à pé. Ele não está se sentindo frustrado, nem está choramingando, nem se sentindo miserável. Ele está vivendo no momento, apreciando aonde ele está, mais do que focando aonde ele não está ainda (no zoológico”. (HARRIS, pos Kindle 4747).
Vida focada no futuro
Quando Jung, o psicólogo suíço, tirou um tempo de sua agenda para visitar diversos povos no mundo, ele encontrou uma tribo que lhe perguntou porque os ocidentais eram tão inquietos, sempre parecendo querer uma outra coisa, sem a habilidade de ficar quieto e conversar com calma.
Esta percepção de uma outra cultura sobre a nossa (a cultura ocidental, em geral), joga luz sobre o modo como nós frequentemente vivemos: com a atenção no futuro, sedentos por algo que ainda não aconteceu, querendo mais alguma coisa, mais outra coisa, e outra e outra.
É muito comum sermos mais parecidos com o primeiro garoto da história. A diferença é que ele queria ir ao zoológico. E nós frequentemente queremos X. Pode ser ter um relacionamento, ganhar mais dinheiro, ter um emprego melhor ou uma promoção, comprar mais objetos (casas, carros, motos, tecnologias ou o que for). Ou seja, a ideia fundamental é:
“Quando isso acontecer, serei feliz”
“Quando chegar no zoológico, serei feliz. Quando realizar este objetivo X serei feliz. Por enquanto, enquanto ainda não realizei tal objetivo, não. Não posso, tenho que correr e realizar logo”.
Leia o texto – Serei feliz se, somente se…
É como o coelho da Alice no País das Maravilhas, sempre inquieto, sempre com pressa.
Mindfulness e ACT
A ACT utiliza técnicas de mindfulness para que possamos desenvolver a habilidade de manter mais a nossa atenção no presente. E, para ficar claro, isso não significa que teremos que abandonar os nossos objetivos. Apenas podemos nos tornar mais parecidos com o segundo garoto da história. Ele ainda está querendo muito ir ao zoológico, contudo, até chegar lá ele aproveita o tempo para estar plenamente vivo.
Aproveitar o caminho
É fácil de perceber que esta segunda possibilidade de atitude é muito mais vantajosa. Não só porque podemos atingir o objetivo e não gostar tanto – talvez o “zoo” não seja dos melhores – mas também porque ao concluir uma meta, logo surge outra.
A diferença entre cada um de nós é o tipo de objeto que nos fascina. Alguns gostam de comprar carros, outros motos, outros roupas. (Eu gosto de livros mais do que tudo). Então, há sempre algo mais para comprar ou algo mais para atingir, para dar status, conhecimento, títulos, elogios, etc.
Tudo isso faz parte, mas é muito importante perceber dois pontos:
- é fácil esquecer o que já conseguimos
- é fácil acreditar no mito de quando atingirmos mais X, seremos felizes
Este vídeo ajuda a refletir sobre este dois pontos e mostra como também é igualmente importante desenvolver a gratidão:
Para encerrar, gostaria de deixar duas frases para reflexão:
“Se sua mente não está nublada por coisas desnecessárias, esta é a melhor estação da sua vida” (Wu-Men).
“Ao conseguir o que queremos, temos um momento de satisfação, não pelo prazer (do conseguido), mas sim por não estarmos mais ávidos.” – Jack Kornfield