Naquilo que é chamado ‘extinção operante’, uma resposta torna-se cada vez menos freqüente quando o reforçamento não mais acontece (SKINNER, 1953, p.69).
Olá amigos!
É muito comum percebermos como não é tão simples criar um novo hábito e, ao mesmo tempo, como pode ser complicado acabar com um hábito antigo. Na psicologia comportamental, entendemos o comportamento operante como aquele que opera no meio e o transforma, ou seja, traz para o organismo, para a pessoa, uma dada consequência. Razão pela qual um comportamento se mantém – ou é extinto, para de existir – quando as consequências mudam.
Um exemplo das redes sociais. Há uns dois anos, ao criarmos uma página no facebook, conseguíamos uma interação com 15% dos fãs, em média, a cada publicação. Assim, em uma página com 10.000 fãs, era possível compartilhar uma foto ou um link e 1.500 pessoas iriam visualizar aquele conteúdo. Se fosse uma página com 1.000.000 de fãs, 150.000 visualizariam.
A fim de lucrar mais com as propagandas pagas, com o facebook ads, o impulsionar, o facebook diminuiu este alcance e, agora, a média é de 1%. Com isso, milhares de páginas foram abandonadas porque a resposta anterior, de conseguir 15% de interação, foi diminuída drasticamente. Porém, devido ao “hábito”, muitos donos de página ainda continuaram postando, ainda que vissem a queda nos resultados.
Este é um exemplo simples para mostrar que, mudadas as consequências, o comportamento também muda. Um grande professor de psicologia comportamental que tive na faculdade nos dava o seguinte exemplo de extinção:
O namoro termina. Ela terminou, ele queria continuar. Ele dá um tempo, mas volta a ligar para tentar uma reconciliação. Porém, ela realmente não quer voltar… o que ela deve fazer?
– atender todas as ligações
– atender algumas ligações
– não atender nenhuma ligação
Óbvio que se ela atender todas as ligações, é provável que ele pense que ela ainda quer manter o contato, independente até do conteúdo das conversas. Se ela não atender nenhuma ligação, é extremamente provável que, com o tempo, o número de ligações por dia diminua, até cessar e chegar a zero.
O mais curioso é que se ela atender algumas vezes e não atender outras, a tendência é que ele ligue ainda mais, do que ligaria se ela atendesse todas. Em outras palavras, o reforço positivo intermitente tende a manter o comportamento (e até aumentá-lo) por mais tempo do que o reforço positivo de razão fixa. Estes são termos técnicos, mas é bem simples de entender.
Se ela atender algumas, ele nunca saberá quando ela vai atender ou quando ela não vai atender. De modo que vai demorar muito mais tempo para ele parar de ligar.
Então, a resposta do meu professor de psicologia comportamental era de que, se ela tinha certeza absoluta de que não queria voltar, a melhor resposta que ela poderia dar seria não atender nenhuma ligação. Assim, o comportamento dele se extinguiria em alguns dias ou semanas.
Se levarmos esta lógica para o facebook, veremos que eles utilizarem o esquema de reforçamento intermitente para que os donos de páginas não parassem de postar de todo. Como ainda temos uma página e mantemos uma postagem por dia, ainda vejo que o face às vezes eleva o resultado de 1% dos fãs para mais, dependendo de outros fatores, como número de compartilhamentos ou comentários. A ideia é manter o comportamento, mesmo que o resultado seja menor, para que, em outras circunstâncias, o dono de página pague pelo anúncio para alcançar uma base de fãs maior.
Como acabar com um comportamento?
Portanto, começamos a ter uma indicação simples de como acabar com um comportamento: modificando as consequências que ele provoca. Um exemplo que já vimos muito é de pais que descobrem que seus filhos estão fumando: eles pegam o maço de cigarro e fazem o filho ou a filha fumar o maço inteiro. O objetivo? Criar uma sensação física tão desagradável que a resposta associada a fumar seja a de desconforto.
A ideia é fazer com que a resposta de fumar passe de uma consequência positiva (talvez pela influência do grupo que reforça o comportamento de fumar) para uma resposta aversiva. Consequentemente, ao mudar a consequência, muda-se o comportamento.
Isso não seria diferente de alguém que adora praticar um certo tipo de esporte e, em dado momento, se machuca. Embora o ferimento ou lesão seja curado, se a pessoa associar o esporte ao evento aflitivo, haverá a tendência de parar o comportamento de praticá-lo.
Em termos técnicos, Skinner afirmou o seguinte:
Naquilo que é chamado ‘extinção operante’, uma resposta torna-se cada vez menos freqüente quando o reforçamento não mais acontece (SKINNER, 1953, p.69).
Por exemplo, você costumava a ir a uma festa por causa da música. A música é o que reforça o seu comportamento de ir a essa festa. Os organizadores mudam o DJ e, logo, a música passa a ser outra. A tendência é que, com o reforçamento desaparecendo, o comportamento também desapareça.
Nesse sentido, não interessa o que é o reforço. Se você ia a festa por causa dos amigos e os seus amigos param de ir naquela festa, o esquema é o mesmo: você deixa de ir naquela festa por causa da ausência do reforçador (neste outro exemplo, os amigos. Naquele outro, a música).
O que é incrível é que podemos mudar tanto o nosso comportamento como modificar as nossas relações com as outras pessoas conhecendo mais sobre o que mantém e o que diminui um comportamento X.
Eu posso aprender que se eu não atender nenhuma ligação de telemarketing para que eu adquira um cartão de crédito, eles logo vão parar de ligar. Se um vizinho chato quase todo dia toca a companhia, eu posso fazê-lo parar simplesmente não atendendo nenhuma vez. Por mais insistente que o rapaz do telemarketing seja ou por mais perseverante que seja o meu vizinho, com a ausência da resposta esperada, o comportamento vai se extinguir.
É claro que muitas vezes vamos precisar de uma ajuda especializada para entender estes processos comportamentais, nossos e dos outros. Mesmo psicólogos treinados frequentemente fazem terapia para entender o que está acontecendo e como modificar o próprio comportamento.
Mas, em um resumo sintético e para situações mais simples, para acabar com o comportamento basta entender:
– o que o mantém (qual é o reforço, o que é “ganho”)
Sabendo o que é e qual é o reforço, a consequência boa ou positiva, poderemos substituir a consequência e atingi-la por uma outra via. Por exemplo, uma pessoa que adora a sensação provocada por um doce industrializado descobre que não é o doce em si e sim a sensação.
Sabendo que a indústria coloca níveis de gordura e açúcar para que o cérebro não saiba quando parar, pode-se substituir o doce industrializado por um caseiro. A consequência positiva será obtida, porém, não caíremos no ciclo de “vício” induzido.
O sujeito que queria continuar o namoro vai perceber, com o tempo, que pode ter o mesmo tipo de reforçamento com outra pessoa. O dono da página do face vai procurar outros formas de divulgação para o seu negócio e, assim, a mudança acontece.
Portanto, qualquer que seja o comportamento que queiramos mudar, podemos descobrir o que ganhamos com o comportamento e procurar uma outra forma de ganhar o mesmo, através de um comportamento mais saudável ou adaptativo.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!
Referência Bibliográfica
SKINNER, B.F. (1953). Science and Human Behavior. New York: Mc Millan.
SKINNER, B.F. ,tão antigo,mas tão eficiente!!!!
Gostei do texto e me lembrou o livro “O Poder do Hábito – Por Que Fazemos o Que Fazemos na Vida e Nos Negócios” de Charles Duhigg.
Quem tem algum problema como Gastar dinheiro demais mesmo não tendo condições, roer unhas, fumar, problemas com bebidas alcoolicas ou outros comportamentos que gostaria de eliminar recomendo que leiam ele, pois explica e ensina vários passos para descobrir o que te impulsiona a fazer determinada coisa e como modificar o comportamento até que ele se elimine de vez.
Repito? (Em silêncio)
Termos, frases inteiras curtas, trechos de músicas involuntariamente.
TOC (mental)? É um grande sofrimento!
É possível extinguir este comportamento?
Muito grato.
Quero dizer que hoje tomei uma medida um tanto drástica, resolvi excluir meu facebook. Pelo simples fato que gastamos boa parte do nosso dia navegando por aquela rede social. E então eu imaginei, e se eu substituísse esse hábito que tenho de ficar mexendo no facebook para algo que realmente faça valer a pena? Aprender um novo idioma, estudar sobre assuntos que não fazem parte do meu cotidiano, ou até mesmo viajar pelo mundo dentro da internet. Existem tantas coisas maravilhosas que podemos fazer ao invés de ficarmos no piloto automático…
Estou lendo um livro maravilhoso agora, chama-se “O Poder do Hábito” de Charles Duhigg. Recomendo a leitura.
PS. Adoro suas publicações, continue assim! :)
Olá Valmor!
No que tange ao comportamento interno (digamos assim), existem algumas diferenças.
Se este tipo de pensamento está te incomodando sugiro fazer terapia com um psicólogo cognitivo (ou terapia cognitivo-comportamental).
Existe um certo paradoxo, pois quando tentamos não pensar em algo, temos que pensar neste algo para não pensar.
Faça o teste: procure não pensar por 5 minutos no número 1984. Mas você tem que realmente não pensar no número 1984, nem uma única vez…
Para a grande maioria da população, vai acontecer o contrário: o número vai ser muito mais pensado do que seria normalmente.
Então, por isso, pode ser útil fazer terapia para descobrir técnicas que funcionem contigo, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
EU ADOREI! você é maravilhoso e foi uma resposta para o que eu estava procurando a respeito de meu próprio comportamento!
Professor Felipe, seus textos são fantásticos,nos traz cada vez mais e mais conhecimentos e melhora a qualidade de vida, fazendo nos a entender o que acontece conosco e com o nosso semelhante, fortalecendo e enriquecendo nosso conhecimento.
Parabéns!
Estou cursando o segundo período do curso psicologia e tem me ajudado muito esses textos que recebo. Continui enviando.
Nossa, Felipe! Amei sua explicação. Eu tenho dificuldade em dizer não e o tempo todo fico com raiva de mim mesma pelo sim que digo. Por que tenho que ser boazinha o tempo todo? Por que me sinto culpada quando digo não, me sacrificando ás vezes? Agora sei com acabar com certos comportamentos de algumas pessoas que me cercam sem culpa. Eu havia estudado isso em Psicologia do desenvolvimento mas não havia entendido muito bem… Você me esclareceu muito. Obrigada mesmo!
Olá Felipe!
Vi aqui no blog que você trabalha com a elaboração de sites profissionais.
Gostaria de um e-mail para que pudesse entrar em contato.
Obrigada!
Muito bom. Estou apreciando muito os textos. Parabéns !
Ótimo texto! Um dos melhores que li sobre: extinção de comportamento. Impossível deixar o tema mais simples.
Ótimo texto! Vou dar uma palestra sobre mudança de comportamento, o seu texto me ajudará a concluir meu material!