A frase “diga-me com quem andas e te direi quem és” é verdadeira? Pesquisas científicas afirmam que sim.
Olá amigos!
O médico Nicholas A. Christakis, professor na Universidade de Harvard e Yale, trabalhava com pacientes com doenças terminais. Ele já sabia que, estatisticamente, quando um cônjuge morre, a chance de que o outro adoeça ou morra em um ano aumenta muito. Certo dia, porém, ele começou a considerar a influência do adoecimento não só do marido na esposa ou da esposa no marido, mas também no que o pesquisador chama de social network ou rede social.
O conceito de rede social não tem relação com as redes sociais como facebook e twitter. Uma rede social, para Christakis, é um conceito que descreve as pessoas com as quais temos relações diretas, no dia a dia, e mais: os amigos dos seus amigos e os amigos dos amigos dos seus amigos.
Por exemplo, eu tenho um amigo que se chama Gustavo. O Gustavo tem um amigo chamado Rodrigo. O Rodrigo, por sua vez, tem um amigo chamado Ivan. Então, o amigo do amigo do meu amigo Gustavo é Ivan.
Segundo as pesquisas sociológicas e baseadas em cálculos matemáticos complexos, Ivan tem influência sobre diversos fatores na minha vida, ainda que eu não o conheça. E isso acontece com todo mundo em uma dada rede social.
Para visualizar, fica fácil imaginar o que esta influência significa em termos de saúde. Se Ivan fica gripado, existe um probabilidade real de que eu fique gripado. Afinal, Ivan terá contato com Rodrigo e Rodrigo, por sua vez, com Gustavo.
Um dos estudos de Christakis que ficou bastante conhecido no mundo todo diz respeito à obesidade. Assim como acontece com a gripe, a obesidade de um amigo de um amigo de um amigo pode ser “contagiosa”, no sentido de que um amigo influencia no comportamento do outro e, no longo prazo, o estilo de vida pode propender à obesidade – ou à não-obesidade.
No que diz respeito à obesidade, fica um pouco mais difícil de visualizar, como o caso da gripe. Como a obesidade de uma pessoa que eu talvez nem conheça pode influenciar no meu peso corporal? Bem, a partir dos hábitos. Se, digamos, Ivan começa a comer comidas gordurosas e industrializadas em eventos sociais com Rodrigo, Rodrigo pode adotar os mesmos gostos alimentares e, consequentemente, influenciar Gustavo que, ao longo do anos, também pode influenciar o meu hábito alimentar.
De igual modo, se Ivan começa a fazer um exercício físico, este novo hábito pode ser passado por minha rede social e influenciar a minha saúde. Christakis menciona que o peso é um dos fenômenos passíveis de serem estudados, cientificamente, em uma rede social. Mas não só.
Assim como questões de saúde como um gripe ou peso corporal, tendências morais como aceitar ou não um dado posicionamento político ou defender uma causa também perpassam as relações sociais. E, por último mas não menos importante, as emoções também estão nesta cadeia de influências.
A felicidade de uma pessoa relativamente distante, como o amigo do amigo do meu amigo, o Ivan, pode impactar em muito no meu grau de felicidade. Isto porque as emoções são contagiosas. Nós, como seres humanos, aprendemos a ter emoções e não só a ter emoções, nós também as expressamos. Ao expressá-las, nós influenciamos as pessoas que estão em contato conosco. Nesse sentido, uma emoção como alegria ou tristeza é tão contagiosa como uma gripe.
A equipe de Christakis fez estudos aprofundados sobre este tema das emoções e chegou à conclusões parecidas com a transmissão de germes ou a obesidade.
A culpa do outro, a minha responsabilidade
Em uma palestra no TED, Christakis menciona que, quando os resultados da pesquisa sobre obesidade foram publicados, os jornais nos Estados Unidos deram a seguinte manchete:
“Você está engordando? Culpe seus amigos gordos”.
Na Europa, entretanto, o foco foi diferente:
“Seus amigos estão engordando? Talvez você deva se culpar”.
No final das contas, as duas manchetes estão corretas porque a influência é recíproca. Se eu paro de me alimentar mal e começo a fazer um exercício físico, isso influencia os meus amigos, os amigos dos meus amigos e até os amigos dos amigos dos meus amigos, assim como o Ivan pode, indiretamente, me influenciar.
O que nos leva a pensar na questão da culpa e da responsabilidade. Evidente que podemos culpar os outros por nosso comportamento, por nossa saúde ou por nossa tristeza. Mas isso simplesmente não muda nada. Voltar o olhar para a própria responsabilidade é muito mais impactante. Afinal, se o outro em minha rede social tem impacto sobre mim, eu também tenho impacto na minha rede social. O que significa que se eu ficar mais saudável, a minha rede social tende a ficar mais saudável também. Se eu ficar mais feliz, a minha rede social tende a ficar mais feliz também.
Segundo Christakis, este é o mecanismo da cultura. O modo como uma cultura muda ou permanece a mesma. O indivíduo influencia diretamente em sua rede social. E a rede social influencia diretamente na vida do indivíduo.
Diga-me com quem andas…
A frase “diga-me com quem andas e eu te direi quem és”, então, faz sentido? De acordo com os resultados das pesquisas de Christakis, sim. Sim porque é possível localizar diversos fatores de um indivíduo a partir da rede social que ele participa e está inserido.
Entretanto, é claro que a determinação não é 100%. Ainda que um sujeito tenha amigos deprimidos, isso não significa que ficará deprimido. Mas a influência recíproca está provada. O indivíduo, ao mudar, muda o meio social e, o meio social, ao mudar, muda o indivíduo. A mudança talvez não seja sentida de um dia para o outro, porém, é facilmente perceptível no longo prazo.
Um outro ponto a ser pensado é da mudança de uma rede social. Se um indivíduo muda muito, é natural que a sua rede social também se modifique. Um sujeito cujos amigos, amigos dos amigos e amigos dos amigos dos amigos frequentavam um determinado local e compartilhavam certos pensamentos (como uma igreja, um time de futebol, um local para se divertir)… se este sujeito muda totalmente, toda a sua rede mudará. Os amigos, amigos dos amigos e amigos dos amigos dos amigos se afastarão. Terão menor influência, mas outra rede social tomará o seu lugar.
Conclusão
O que gostaria de salientar, para concluir, é o impacto que podemos ter em nossa rede social e até em pessoas que desconhecemos e, virtualmente, na sociedade em geral. O que nos faz pensar na questão da responsabilidade de cada ato e de cada comportamento.
Já pensou? Se você aumentar o seu grau de felicidade, até o amigo do amigo do seu amigo pode se beneficiar?
– Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!
Excelente matéria, significa que a personalidade se complementa tb com as crenças, valores das redes sociais, (relacionamentos), assim, o ser humano é passível de mudanças, transformações à medida em que interage com os outros, portanto, o indivíduo é o outro tb!
Muito interessante sua postulação, Prof Felipe! Isto nos dá a dimensão de quanto estamos influenciando e sendo influenciados pelo meio em que vivemos ou convivemos, reciprocamente. Não basta estar presente, mas tem que participar. Como resolver os conflitos de ideias para que não sejamos influenciados negativamente!?
Com certeza é assim, afinal, somos seres sociais e como tais, vivemos em sociedade influenciando e sendo influenciados o tempo todo.
A nossa subjetividade é constituída a partir das nossas relações com o meio. Esse é um dos pilares da Sociologia.
É um texto muito interessante,vou passar para os meus alunos do ensino médio,tenho certeza que eles vão gostar,dou aula de sociologia há quase trinta anos de sociologia,filosofia e dei aulas de psicologia durante 20 anos.Sou psicológa há trinta anos trabalhei em um hospital durante 25 anos, Obrigada.
È
Então existe um líder influenciador?
E quando as crenças limitantes o mal humor as dependências a ignorância e incapacidades desse indivíduo estão sempre em evidência ele pode contaminar muitas pessoas direta e indiretamente.
Muito exclarecedor. Gostei, é um tema bem interessante. Parabéns
Obrigado Irineu!
Bem, existem muitas formas. Uma delas é aprender a dizer não:
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2015/06/aprender-a-dizer-nao-e-a-dificuldade-de-dizer.html
Excelente texto Felipe
Olá Angelica!
Então, existem posições na rede. Algumas pessoas são mais agregadoras do que outras.
E sim, a influência acontece tanto para mudanças positivas quanto negativas.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Excelente texto, que bom que temos pesquisadores sérios tentando provar cientificamente isso. Pra mim, sempre foi de grande importância o impácto que minhas ações tem na vida das pessoas ao meu redor, é claro o quanto podemos influenciar.
Excelente texto Professor Felipe de Souza
Obrigado!