Antes de iniciares a tarefa de mudar o mundo, dá três voltas na tua própria casa (Provérbio chinês).
Olá amigos!
Esses dias tenho pensando muito sobre a verdade. A verdade no sentido do que é irrefutável, a verdade universal, a verdade da qual ninguém pode discordar. Algumas delas são: “ninguém está ficando mais novo”…”a morte é certa e inevitável”. Você pode ter uma filosofia, uma religião, uma ética, uma política diferente da minha, mas você não pode refutar que estas verdades são verdades.
A verdade que gostaria de falar sobre neste texto é a verdade de que ninguém muda ninguém. Ou seja, cada um de nós é responsável apenas pelos seus próprios atos. Eu posso dizer para você para você continuar lendo este texto ou para assinar a nossa lista e receber os novos textos em seu email, mas, em última instância, cabe a você e só a você continuar lendo ou assinar.
Me parece uma verdade irrefutável… dentro de certos limites do nosso universo, cada um tem liberdade para agir (ou não agir) como quiser. E, com esta outra verdade, nós temos que não podemos controlar o comportamento das outras pessoas.
Por exemplo, você pode descobrir os horrores que são feitos com os animais através do filme “A carne é fraca” e se tornar vegano(a), mas você não pode fazer com que o mundo todo – ou mesmo a sua família – tome decisão idêntica. Você pode entrar em uma nova religião e, de igual modo, ainda que você sinta que todas as pessoas deveriam se converter, você simplesmente não tem poder para isso.
Enfim, existe uma liberdade que é indissociável do ser humano, é uma liberdade contingente, circunstancial, mas é liberdade. Assim como eu tenho, você também tem e todos tem. Por isso, podemos tentar controlar o comportamento de outras pessoas, influenciar, persuadir, mas a escolha final – dizer sim ou não – é de cada um.
Poderíamos mudar o mundo, quem roubou nossa coragem?
Na música “Quando o sol bater na janela do seu quarto”, Renato Russo faz essa pergunta: “Até bem pouco tempo através, poderíamos mudar o mundo / quem roubou nossa coragem?” É uma questão fascinante. Quando somos adolescentes temos muitos sonhos e esperanças e a vontade de ver um mundo melhor, com mais harmonia, paz e felicidade.
Com o tempo, vemos que não é tão simples. Não é só ter um pouco de boa vontade, um sorriso no rosto e disposição. É preciso comer, ter um lugar para morar, e – lentamente e progressivamente – o interesse se direciona para as próprias necessidades. Não é que se trate de egoísmo… creio que a palavra é necessidade.
Além disso, vamos nos deparando com desilusões. Pessoas que confiávamos não agem da maneira que esperávamos, da pessoa próxima ao presidente. E então, parece que ficamos sem saída. Mas existe uma saída: é deixar de tentar mudar o mundo, mudar as outras pessoas, e passar a olhar para dentro e querer mudar a si mesmo.
É engraçado quando estudamos psicologia social, nos deparamos com a questão: indivíduo X sociedade. É uma falsa questão, sem sentido, como a do ovo e da galinha.
Uma família, um bairro, um estado, um país, um continente, o mundo… é composto de indivíduos. E, é lógico que se as pessoas fossem diferentes, o mundo seria diferente, pois só precisamos de chaves e senhas porque algumas pessoas tem a tendência de roubar. Se as pessoas não fossem avarentas e gananciosas, ninguém passaria fome nem outros tipos de necessidade.
Contudo, as outras pessoas vão continuar agindo a partir do seu saber e da sua ignorância. Já é suficiente se tentarmos agir corretamente em nossa própria vida. Sem querer ou sem se importar, uma pessoa agindo corretamente influencia as outras pessoas a agirem corretamente.
Um exemplo da psicologia social: pesquisadores começaram a pintar os murros, arrumar defeitos nas ruas e colocar pequenas flores e plantas em certos locais em um quarteirão. O número de ocorrências policiais caiu e as pessoas começaram a cuidar melhor dos seus passeios e a pintar as suas casas.
Afinal, quando dizemos que temos liberdade não estamos afirmando que o ambiente não influencia. Em uma cidade totalmente limpa, é improvável que um cidadão jogue lixo na rua; enquanto em uma cidade totalmente suja, a probabilidade é bem maior.
Mas, de novo, o foco da nossa atenção deve ser fazer a nossa parte. A nossa parte (a nossa influência ao redor) pode ser pequena ou grande. Podemos ter impacto na nossa casa apenas ou talvez ter um cargo ou função capaz de fazer com que milhões de pessoas repensem seus propósitos. A verdade é que, independentemente do papel que representemos, a nossa ação é circunscrita no que podemos fazer.
Para finalizar, gostaria de compartilhar com vocês uma técnica muito simples: antes de dormir, pense no que você fez de “errado” e como você poderá fazer melhor de uma próxima vez. Avalie seu dia e avalie o seu comportamento. A ideia é ter mais autoconsciência para agir diferente.
Por exemplo, certa noite você percebe que ficou com raiva de alguém ou mentiu. As consequências talvez sejam pequenas ou irrelevantes, mas afetam o estado emocional. É impossível ficar em paz se a mente está agitada com um erro, por menor que ele for. Portanto, passamos a perceber que simplesmente não vale a pena… e, lentamente e progressivamente, começamos a mudar. Talvez, com um pouco de sorte, possamos ajudar outras pessoas a encontrar o seu caminho ao longo do nosso caminho.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!
Excelente tema! O texto chegou na hora certa. Não podemos mudar o mundo mesmo!
[…] Mas, de novo, o foco da nossa atenção deve ser fazer a nossa parte. Prof. Felipe de Souza.
Obrigado Raquel! :)
Parabéns, excelente tema, gostei muito.
Costumo dizer que a verdade é relativa,pessoal e circunstancial,sujeita a mudanças conforme o tempo,a cultura e as necessidades pessoais,mas tambem afirmo oque alguem ja disse,posso nao mudar os acontecimentos mas sempre poso decidir como me sentir a respeito e isso sempre fará a grande diferença certo?oque me diz meu mestre?grande abraço
Boa noite professor!
Acredito que só seremos realmente livres e a frase” livre arbítrio” fará sentindo quando a autoconsciência se fazer presente.
Abraços.
Sergio.
Verdade Felipe, como a outra leitora comentou, também veio em um momento oportuno. Na verdade comecei a pensar isso essa semana e percebi que é um defeito meu. E que não tão simples como parece, é difícil de mudar, mas estou começando a me policiar para que isso não ocorra mais e que eu foque mais em mim mesma.
Excelente texto.
Excelente texto! Verdades absolutas são necessárias para nos orientar.. e também libertar!
Devemos buscar a coragem há tempos perdida até mesmo para darmos as 3 voltas em nossa própria casa.
Parabéns pela reflexão!
É verdade Wilson!
É a questão da interpretação, ou seja, o modo como avaliamos os fatos. Gosto muito da seguinte história zen:
Um agricultor que tinha trabalhado durante muitos anos na terra tinha um cavalo do qual gostava muito. Um dia, o cavalo fugiu e os vizinhos, por solidariedade, foram junto dele e disseram-lhe por simpatia: “Que azar!”. Perante esta manifestação de pesar o agricultor limitou-se apenas a tecer o seguinte comentário: “Talvez!…”
No dia seguinte o cavalo regressou e trouxe com ele cinco cavalos selvagens e, os vizinhos, vieram, desta vez, congratular-se com a boa sorte do agricultor. Ele disse, apenas: “Talvez!…”
No dia a seguinte, o filho do agricultor tentou montar um dos cavalos selvagens. Caíu e partiu uma perna. De novo, os vizinhos voltaram e lamentaram a pouca sorte do agricultor. E ele respondeu: “Talvez!…”
Na manhã seguinte, um grupo de oficiais veio à aldeia para recrutar os jovens para o exército mas, devido à perna partida, o filho do agricultor não foi escolhido. Quando os vizinhos vieram dar os parabéns ao velho agricultor, congratulando-se com as voltas da sorte, ele apenas disse: ” Talvez!…”
Verdade Sérgio!
Obrigado Claudia!
Obrigado Bruna!
Muito bom esse texto Felipe e gostei bastante da história zen. Penso que o talvez é a resposta da incerteza do que nos trará a vida. Ajudar, só quando sou solicitada e, desde que não impeça o crescimento do outro. É um exercício necessário o observar bem para não recair em um comportamento anterior de ajuda compulsória.
Felipe, gosto muito dos seus textos, já comentei isso outras vezes, e este é mais um que fez grande sentido para mim.
Sobre querer mudar o mundo e essa coisa de indivíduo x sociedade, penso que, muitas vezes, temos uma percepção de que o mundo não vai bem, como, por exemplo, o trânsito que anda cheio demais, a criminalidade entre os jovens aumentando, etc, sem nos darmos conta de que, o trânsito do qual eu reclamo, eu também faço parte ao comprar um carro; sobre a criminalidade, eu acabo comprando produtos caros, de “marca”, o que faz com que o menor, de classe menos favorecida, acabe desejando o mesmo que eu ao me ver na rua com aquele acessório e passa a querer se sentir “alguém” importante, e sem ter como comprar, acaba roubando; e por aí vai… Ou seja, muito do mal que vemos no mundo, parece não nos excluir de tê-los gerado, mesmo que indiretamente, assim, começando a mudança por nós mesmos, pode acabar reverberando de maneiras que nem nos daríamos conta para um mundo melhor. Quando tentamos mudar o mundo mais do que a nós mesmos, ficamos focados no outro e nos esquecemos de trabalhar na nossa própria vida, e enquanto mantemos nossa visão “fora”, vamos nos tornando depósito de emocões mal resolvidas, comportamentos que se tornam hábitos ruins, além de nos tornarmos juízes de tudo, sobrecarregando ainda mais os pesos próprios que já teríamos que carregar ao carregar também os pesos alheios. O resultado pode ser um sentimento de revolta com o mundo, de incapacidade, de fracasso, frustração… sendo que, se tivéssemos o simples objetivo de melhorar uma mísera ação nossa, diariamente, estaríamos andando para frente e nos sentindo progressores, satisfeitos, capazes, etc.
Exatamente Rodolfo! Exatamente! :)
Obrigado Malu!
Pôncio Pilatos,governador romano, perguntou a Jesus: O que é a Verdade? Ele fitou Pilatos, por um breve tempo e nada disse. Fica a pergunta: Por que não foi dada a resposta?
Se não podemos mudar o mundo, a não ser, “talvez” através do exemplo, qual a finalidade do seu texto, se não estou vendo o seu exemplo?
Olá Sandro,
Sua questão traz dois problemas interessantes:
– Primeiro, o que podemos ver no outro? Desde Kant, existe um profundo problema filosófico sobre “a coisa em si”, “Ding an sich”, ou seja, será que vemos um objeto ou uma pessoa como ela é? Ou estaremos para sempre limitados ao que somos? Aos nossos limites cognitivos?
Por exemplo, uma pessoa inocente não vê o mal no outro porque não tem o mal em si… assim, não vemos o mundo como ele é e sim como somos. De modo que o exemplo do outro só é reconhecido a partir das vivências do próprio sujeito e as avaliações, negativas ou positivas, são quase sempre projeções do que se tem dentro.
– Segundo, também com Kant, podemos pensar sobre a validade de uma ação. Deveríamos fazer uma ação correta apenas pelas consequências sociais? Pela expectativa de ter um retorno? Pela possibilidade de irmos “para o céu”?
Para Kant, uma ação moral é aquela que tem o fim em si mesma e não aquela que é um meio para um fim.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigada RODOLFO e FELIPE. Essa questão estava na minha mente por muitos anos, e acabei virando uma pessoa “difícil” pois acabei me tornando juíza do mundo. O que me acarretou muita frustração, tristeza e angústia. E, fazendo terapia, hoje sei que eu me coloquei de fora dessa equação, carregando muito “peso” e perdendo a minha Integridade (identidade).
Abraços.
Hoje, já muito Feliz.
Vanessa
que texto… sensacional! Parabéns!!!!
Boa tarde Dr Felipe . Excelente texto ,vejo em mim mesmo e no cotidiano que aumentamos muito a discussão de temas delicados, aborto, homossexualismo, corrupção, politica etc ,mais na maioria das discussões não buscamos entender os indivíduos de opinião diferente mais sim muda-los ,derrubar suas ideias .Falo por mim mais espero atitudes de outros .Vejo que muitas vezes o que escrevemos passa longe de quem somos, do que fazemos, e as vezes até do que pensamos tentando mudar tudo e todos menos nós mesmos.
Abraços
Fernando
Muito interessante o texto, encontrei ao pesquisar sobre essa questão de mudanças alheias, pois apesar de nunca ter lido nenhum artigo cientifico sobre essa questão, tenho para mim que é uma verdade absoluta o fato de que não podemos mudar ninguém além de nós mesmos, e o melhor jeito de gerar mudança é dessa forma, já me aconteceu de influenciar pessoas positivamente apenas com minhas ações, assim como falado no texto. Obrigada.