Conheça mais sobre a Psicologia do Destino de Leopold Szondi e o conceito de inconsciente familiar: como a família determina a vida de um sujeito e o espaço de liberdade que existe para ir além.
Olá amigos!
Esta semana entrei em contato com um autor de quem nunca tinha ouvido falar: Leopold Szondi, o criador da psicologia do destino. Hoje então vamos abordar um pouco desta abordagem, nova para mim, e imagino que nova para vocês também.
O destino de Leopold Szondi
Leopold Szondi (1893-1986) passou por uma experiência curiosa. Foi salvo, literalmente, pela Interpretação dos Sonhos de Freud. Um dia, durante a 2° Guerra, foi alvo de um tiro e só não morreu porque tinha em sua mochila uma edição do livro que tornou Freud mundialmente conhecido.
A partir desta experiência, ele decide dedicar sua vida a ajudar outras pessoas. Assim como Viktor Frankl, Szondi chegou a ficar preso em um campo de concentração, em virtude de sua ascendência judaica. Segundo consta, C. G. Jung teria ajudado para que fosse liberto.
Finda a guerra, Szondi passou a morar na Suíça, em Zurique, onde Jung também morava. Lá, passou a atuar como analista. 6 anos depois da Grande Guerra, fundou a Sociedade para o Diagnóstico Experimental das Pulsões e Psicologia do Destino, em 1951. Dez anos depois, fundaria a Sociedade Suíça de Terapeutas Destinoanalíticos.
A Editora É publicou em 2013 o livro Introdução à Psicologia do Destino (Liberdade e compulsão no destino do homem) que também inclui Análise de Casamentos: Tentativa de elaboração de uma teoria da escolha amorosa
Introdução à Psicologia do Destino
Como a abordagem não é muito conhecida, compartilho a sinopse abaixo e, em seguida, falarei mais sobre os principais conceitos da Psicologia do Destino:
“O homem é realmente livre? Há algo como um destino coercitivo ou todas as possibilidades da existência lhe estão abertas? Por que certos padrões de comportamento se reproduzem geração após geração, como se os filhos estivessem destinados a repetir o destino dos pais? Quais instâncias dirigem a escolha no amor, na amizade, na profissão e até em determinada forma de doença ou tipo de morte?
O livro que o leitor tem em mãos pretende responder a essas e outras perguntas, com uma abordagem teórica bastante singular. O psiquiatra húngaro L. Szondi, depois de analisar a árvore genealógica de centenas de pacientes, chegou à conclusão de que havia no psiquismo humano mais um vetor a exercer pressão sobre o homem: a pretensão dos ancestrais. No desenvolvimento de sua teoria, ele postula que, ao lado do inconsciente pessoal, presente na teoria de Freud, e do inconsciente coletivo junguiano, haveria uma terceira qualidade (não camada) do inconsciente, a saber, o inconsciente familiar. Dito dessa forma, a teoria pode parecer despropositada, mas tanto a experiência empírica quanto o relato da gênese da teoria aqui apresentada dão testemunho de que a hipótese é bastante plausível”.
O Conceito de Destino
A palavra destino geralmente não é bem vista. O famoso Maktub oriental, “estava escrito” ou “tinha que acontecer”, indicaria a não-liberdade do homem para escolher e decidir por si próprio. Na análise do destino de Szondi, o destino é definido como tendo dois polos: o destino coercitivo (obrigatório) e o destino livre.
Embora possamos não acreditar no destino, temos que concordar com o fato de que existem coisas em nossas vidas que não podemos controlar. E sim, do ponto de vista desta abordagem, há uma parte em sua vida na qual a humanidade não é livre para escolher. Exemplo simples: há o destino inscrito no código genético como a cor dos olhos.
Portanto, “o destino obrigado de um homem pertence à herança, ou seja, tudo o que lhe foi passado por seus progenitores”.
Além da genética, todos nós nascemos com pulsões (ou instintos) que não dependem da nossa vontade, e temos influências do meio no qual fomos criados. Ainda que o sujeito lute contra, terá herdado necessariamente uma língua materna, conceitos sobre o bem e o mal, concepções religiosas ou não-religiosas, políticas, de gênero, entre outras.
O destino livre, por outro lado, significa que todos tem dentro de si um impulso para a liberdade e, ainda que muitas coisas sejam herdadas pelos ancestrais e pelo meio ambiente, há margem para a liberdade e a escolha. Deste modo, os terapeutas destinoanalíticos não podem ser considerados fatalistas. Se fossem, não faria nenhum sentido uma terapia, certo?
O conceito de inconsciente familiar
Freud é reconhecido por ter comprovado a existência do inconsciente nos sonhos, sintomas, atos falhos, chistes e por ter criado um método de analisar o inconsciente. Depois dele, Jung criou o conceito de inconsciente coletivo, para diferenciar os conteúdos do inconsciente que são coletivamente determinados (arquétipos e imagens arquetípicas) e o que é determinado pessoalmente. Por isso, Jung fala em inconsciente pessoal (Freud) e inconsciente coletivo.
Szondi procura fazer uma outra distinção com a introdução do conceito de inconsciente familiar. A ênfase, portanto, é na família. Cada família teria o seu “inconsciente”. Melhor dizendo, impulsos, tendências, complexos que passam de geração em geração.
E isso ficaria expresso em escolhas, por exemplo, que seriam retomadas pelos descendentes tendo em vista o que foi feito – ou deixou de ser feito – pelos seus ascendentes, seus antepassados ou ancestrais. Curiosamente, tudo isso seria em tese inconsciente, ou seja, desconhecido por parte daquele que assume uma parte do destino de sua família.
Esta hipótese, segundo a Psicologia do Destino, poderia ser comprovada em 5 diferentes áreas da vida:
- Na escolha do companheiro amoroso.
- Na escolha da amizade.
- Na escolha da profissão ou hobby.
- Na escolha da doença.
- Na escolha da morte, como por exemplo, no suicídio.
Conclusão
Como esta é uma área de estudos muito nova ainda para mim, me abstenho de tecer maiores comentários ou conclusões. Apenas para finalizar este texto gostaria de mencionar que Szondi também é conhecido pelo seu teste que leva o seu nome – “O Teste de Szondi”.
E, como não poderia deixar de ser, e como vimos na imagem de Szondi acima, os Genogramas são muito utilizados na Psicologia do Destino. Diz Szondi:
“O inconsciente familiar forma uma rede invisível, que encerra de forma vertical a todos os membros de uma família, e desde gerações os envolve num nível inconsciente de destino. Da mesma forma age de forma horizontal, com todos os membros vivos da família em uma rede afetiva muito profunda. Assim, a análise do destino considera o homem não como um indivíduo isolado, mas enraizado no contexto visível e invisível que o acompanha por toda a vida, no seu futuro e no daqueles que virão”.
Veja também – Genogramas – o que são e como fazer
Referência Bibliográfica
Altenweger, Alois.Berner, Annie. Bürgi, Karl. Jüttner, Friedjung. Kramer, Margrit. Fundamental concepts of fate analysis.
Olá, Felipe!
Já ouviu falar em Constelação Familiar, do campo da fenomenologia, cujo precursor foi Bert Hellinger? Eles trabalham a partir deste conceito de inconsciente coletivo (ou familiar), onde a melhor explicação do que seria isso seja dada por um bioquímico, Rupert Sheldrake e o seu conceito de ‘campo mórfico’.
Se você conhece Constelação Familiar, gostaria muito de saber o que pensa a respeito.
Gosto muito dos seus textos, sempre muito elucidativos!
Obrigado! Até a próxima!
Me parece semelhante às constelações sistêmicas de Bert Hellinger.
Olá Rodolfo e Patrizia!
Também achei muito semelhante!
Não conheço muito a familiar-sistêmica, mas em breve, pretendo ir mais fundo nela. Obrigado pelos comentários!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Bom dia!
Fiz 2 cursos introdutorios de psicologia na Suecia. Eles foram de alguns meses. Gostei e talvez possa eu estudar psicologia a distancia. Quais sao os cursos de nivel superior oferecidos a distancia gratuitos e pagos? Quais voce me indicaria?
Obrigada.
Zene Ferro Lundgren
Caro Professor Felipe de Souza, muito bom saber sobre a Psicologia do Destino, grato. Gostaria de dizer se eu não estiver enganado a respeito da seguinte frase: “Por isso, Jung fala em inconsciente pessoal (Freud) e inconsciente coletivo”. Penso que houve uma inversão involuntária de sua parte que seria importante ressignificar.
Abraço Fraterno
Att. Evandro Santana
Olá Zene,
Não existe curso de graduação de psicologia a distância.
Mas existem outros que são oferecidos sim, por faculdades particulares e federais, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Evandro!
A frase está correta. Para Freud, todo inconsciente é inconsciente, ou seja, ele não faz uma distinção como faz Jung, de um inconsciente pessoal e coletivo. Apontei que, para Jung, o inconsciente pessoal é o inconsciente de Freud, por isso notei Freud entre parênteses na frase.
No livro Aion, estudos sobre o simbolismo de Si-Mesmo, Jung escreve: “os conteúdos do inconsciente pessoal são aquisições da existência individual, ao passo que os conteúdos do inconsciente coletivo são arquétipos que existem sempre e a priori”.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Prof. Felipe bom dia! Você acredita no livro sagrado a Bíblia? Lá nos diz que temos liberdade de escolha, liberdade com certa medida de limite, esse limite é o respeito pelo que é natural e desnatural,exemplo: não se jogar de um precipício por que sabe que morrerá, não atravessar a rua com sinal aberto. Jeová Deus é liberdade e amor jamais nos privaria de liberdade, sim, o homem pode escolher e decidir por si próprio, destino ja está escrito e isto, não é um ato de amor. Respeitosamente, Denise
Olá professor! Foi com imensa satisfação que me deparei com seu texto que apresenta a Schicksalsanalysis, a Análise do Destino de Lipot ou Leopold Szondi. Essa é minha referência teórica, ainda rara no Brasil. Parabéns pelo texto. Só explico que a escolha do tipo de morte se dá apenas nos casos de suicídio. Abraço.
Ola professor Filipe, agradeço pela tua simplicidade e flexibilidade em suprir-nos com conteudos relevantes!Envie-me textos k falem sobre 9 maneiras de saber se alguem esta mentindo!Atenciosamente.
Olá Janos!
Que bacana! Não tinha pensando no nome em alemão! Schicksalanalysis!!!
Quando comecei a estudar alemão, eu tinha um audiobook do Goethe – “Die Leiden des jungen Werther”:
Waren nicht meine übrigen Verbindungen recht ausgesucht vom Schicksal, um ein Herz wie das meine zu ängstigen?
Não foram as minhas demais relações arranjadas pelo destino, para angustiar um coração como o meu?
Foi aí que aprendi a palavra Schicksal! :)
Obrigado por comentar!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe!
Coincidentemente hoje, estava procurando por algumas gravuras para inspirar-me uma escultura e deparei-me com um recorte de jornal contendo uma entrevista com um tio-avô materno. Fiquei olhando para a fotografia e depois li a reportagem. Eu não o conheci pessoalmente (ele está falecido), daí que despertou-me o interesse, pois ele fez diversas obras artísticas, como pinturas em telas, esculturas, ensinava a uma comunidade a arte como ofício para garantir os sustentos das famílias, etc. Identifiquei-me muito com ele. Agora, lendo este texto, percebo o quanto trazemos de herança, no caso, preferência profissional, da Psicologia do Destino. Também identifiquei com a Constelação Familiar.
Abraço,
Malu
Bom dia Felipe!
Gostei da postagem, conhecimento sempre é bem vindo…
Até mesmo por isso venho lhe pedir pra que abordasse um assunto mais específico, o “inconsciente”. Estava lendo uma matéria de uma revista conceituada e nela dizia que 95% de nossas ações são tomadas de maneira inconsciente, enquanto só 5% são gerenciadas de maneira consciente, como aprender um novo idioma, aprender a apreciar um bom vinho, a andar de bicicleta, enfim… tudo aquilo que é realmente novo para nós.
Isso é de fato verídico ou não é bem assim?
Abraço!
Olá Mateus,
Estes números são estimativas.
Também temos que levar em conta o conceito (o que é inconsciente). Para as neurociências, fazer algo sem ter consciência não é idêntico aos conceitos freudianos de inconsciente, ou inconsciente coletivo para Jung ou mesmo o de Szondi.
Quando se fala que fazemos quase tudo no automático, isto se refere ao hábito. Você caminha e não precisa pensar que caminha. Escova os dentes e não precisa pensar em escovar os dentes, e assim por diante.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Gostei muito do artigo, porque eu acredito que herdamos de nossos antepassados não só as características físicas, mas também a índole, as compulsões, os instintos de medo e também inconscientemente assimilamos no dia a dia desde crianças todos os saberes impíricos e de usos e costumes da geração anterior, os quais aprimoramos ao longo da vida através da obteção de mais conhecimentos e mais socializações.
Hoje, através da internet, da tv e das grandes facilidades tecnológicas cada dia mais nos distanciamos das nossas raizes, mas no momento de angústica, dificuldades, traumas afetivos, perigo, voltamos no passado para usar dos conhecimentos impíricos que guardamos dentro de nós. Destino não é fatalidade ou falta de liberdade para decidir, mas o destino do passado nunca poderemos negá-lo porque o adqurimos ainda no ventre através não só do DNA mas também pelas atitudes, sentimentos e reações da mãe ao meio ambiente. E quando somos lançados no mundo as nossas primeiras aulas de vida, de como viver, sobreviver e nos defender são fornecidos por todos aqueles que nos cercam e estes SÃO TODOS DA NOSSA FAMILIA. Estas primeiras impressões ficam para sempre e dificilmente são modificadas na socialização.
PORTANTO, EDUCAR É UMA ARTE DE INFLUÊNCIA POSITIVA OU NEGATIVA PARA A HUMANIDADE. Oferecer aos nossos filhos e netos um ambiente de aprendizado saudável de amor, amizade, compreensão, respeito ao outro é fundamental.
Olá Regina!
Obrigado por comentar! :)
Boa tarde, Felipe;
Fui secretária, em 1983, da Sociedade Szondiana Brasileira Schicksalsanalyse, junto com Juan Alfredo C.Muller e Dr. Pedro Balasz, seus fundadores, que foram alunos e amigos pessoais do Dr. Szondi. Tenho o caderno de aulas dadas pelo Dr. Szondi (que guardo como uma lembrança pois não falo nem leio alemão) . Durante 20 anos apliquei o teste e ministrei muitos cursos. Depois fui estudar Winnicott e fiquei na área da Psicologia da Religião (grupo Lapsirel na USP) e agora estou retomando meus materiais e estudos sobre Szondi pois tenho um antigo aluno que, na França agora, tem me enviado muito material. Vale a pena estudar essa teoria. Pena que o CRP deu parecer desfavorável ao Teste de Szondi no Brasil. Abraços . Maria Inês
Que interessante Maria Inês!
Obrigado por comentar!
Olá
Não li todos os postos acima mas pediria p você oferecer uma expectativa ao leitor, no proprio texto, sobre a possibidade de quebra desses padrões, a reconstrução da história a partir da consciência. A constelação familiar é muito importante neste processo. O texto em si parece mais uma sentença de infelicidade do que um informativo. Traz desalento a quem busca informações. Se puder, ajuste por favor. Um abraço
Celeste,
Eu não sou especialista nesta área. Mas é evidente que é possível quebrar ou mudar esses padrões, se não não teria sentido em trabalhar com psicologia.