Olá amigos!
Continuando o nossos Curso Grátis sobre a obra do Adler, o criador da Psicologia Individual e do famoso conceito de complexo de inferioridade, hoje vamos falar sobre os traços não agressivos do caráter, em oposição aos traços agressivos (que ele enumera e sobre o qual falamos na aula anterior: vaidade, ambição, inveja, avareza e ódio). Os traços não agressivos são: retraimento ou timidez, ansiedade, medo e desânimo.
Para ele, são traços igualmente negativos da relação do indivíduo com a sociedade. Enquanto os traços agressivos são mais visíveis, os não-agressivos ocasionam “a impressão de isolamento e fuga. É como se a corrente de hostilidade fosse desviada do seu curso; tem-se a impressão de um desvio psíquico” (ADLER, 1961, p. 226).
Timidez: uma outra explicação para o retraimento
Existem várias explicações do porquê de uma pessoa ser tímida. As mais conhecidas e divulgadas são as de que a pessoa tímida tem medo (a origem etimológica da palavra dá esse sentido), ou seja, a pessoa tímida tem medo social. O que, tecnicamente, consiste na fobia social ou ansiedade social.
Causas ambientais, genéticas, sociais são explicações comuns. A explicação de Adler, entretanto, vai em uma direção bastante original. Levando em conta o argumento central da sua teoria – o complexo de inferioridade e a tentativa de compensação pela dominação – temos que uma pessoa tímida pode ter por trás da sua timidez um motivo inconfesso: o sentimento que é superior aos demais.
Por exemplo, o intelectual que cita Platão em grego e apresenta-se timidamente em uma festa pode, no fundo, querer se distanciar de tudo aquilo e manifestar todos os sintomas da timidez porque se sente muito superior àquele ambiente burro ou inferior.
Ou, seguindo a mesma trilha do pensamento de Adler, este sujeito pode apresentar o medo em situações em que o seu suposto (e talvez inconsciente) sentimento de superioridade tiver que ser colocado à prova. Desta forma, conseguimos explicar sujeitos brilhantes intelectualmente mas que temem qualquer tipo de prova, seja escrita, seja oral, seja uma apresentação em grupo, um seminário, vestibular, concurso.
Escreve Adler: “Várias são as formas em que se manifestam o retraimento e o isolamento. Há pessoas que se afastam da sociedade, que falam pouco ou absolutamente nada, não olham de fito seus interlocutores e não ouvem, ou ficam desatentos quando alguém lhes fala. Em sua relações sociais, até mesmo nas de natureza mais singela, mostram uma certa frieza que lhes aliena a simpatia dos seus semelhantes. Sente-se-lhes a frieza nos modos e gestos, na maneira por que apertam a mão, no tom de voz e na forma com que acolhem ou deixam de acolher aos outros. Cada um de seus gestos parece visar aumentar a distância entre si e os demais” (ADLER, 1961 , p. 227).
Como a timidez, o retraimento, a ansiedade social e o estão intimamente relacionados, devemos falar destes aspectos em conjunto. Adler continua o seu texto falando sobre o caráter do misantropo. Há um tempo atrás eu escrevi o seguinte texto – O que é misantropia? Um exemplo do Livro Vermelho de Jung
O que gostaria de observar sobre este texto é que ele tem sido bastante acessado porque está bem colocado nos mecanismos de busca. E, curiosamente, recebo frequentemente comentários de pessoas que se afastaram de um jeito ou de outro do convívio social e defendem a misantropia. Porém, não raro são extremamente odiosos (em inglês, haters gonna hate, os que odeiam vão odiar, quer dizer, vão fazer questão de realizar comentários ofensivos). O que comprova a tese de Adler de que muitos destes traços teoricamente não-agressivos são desvios de uma hostilidade anterior.
Continua Adler:
“O caráter do misantropo é, com frequência, repassado de ansiedade. A ansiedade é uma característico extraordinariamente espalhado entre os homens. Acompanha o indivíduo desde a primeira infância até a idade avançada, amargurando-lhe a existência, privando-o das relações humanas, destruindo-lhe a esperança de conseguir uma vida serena, ou de prestar frutíferas contribuições ao mundo. O medo pode influir em toda atividade humana. Podemos ter medo do mundo exterior, ou ter medo do mundo que encerramos em nós” (ADLER, 1961, p. 228).
O criador da Psicologia Individual menciona, então, o uso que é feito pelas pessoas ansiosas ou temerosas do seu medo com benefícios egoístas. Por exemplo, em certas crianças se nota que o medo acaba trazendo consequências positivas. Obtém mais companhia, mais atenção, mais cuidado do que quando não apresentam medo.
Por exemplo, uma criança que tem medo do escuro chama o seu pai ou sua mãe para dormir com ela. Instantaneamente, o medo cessa. Se o pai ou a mãe saírem de perto, entretanto, ele retorna. No fundo, o que está em jogo é o poder de exigir dos pais o que quer: “Enquanto a pessoa obedece, dissipa-se a ansiedade, mas no momento em que fica ameaçada a sensação de superioridade da criança, ela se torna outra vez aterrorizada” (ADLER, p. 1961, p. 230). Também conseguimos compreender este tipo de comportamento pelo conceito freudiano de ganho secundário.
O desânimo
“O desânimo é o traço característico daqueles que se acham que todos os trabalhos co os quais se defrontam são particularmente difíceis; ou dos que não tem confiança em suas forças para fazerem qualquer coisa. Em regra, este característico se evidencia sob a forma de movimentos retardados” (ADLER, 1961, p. 232).
Notamos o desânimo como uma forma de se afastar de certos tipos de trabalho ou atividades as quais a pessoa associa como desagradável. Adler define como esquivamento às responsabilidade ou “problema da distância”.
O problema da distância é um conceito importante da Psicologia Individual, que visa avaliar a distância que a pessoa estabelece entre três grandes problemas da existência:
1) Responsabilidade sociais: relação entre o eu e o vós (a sociedade em geral);
2) Responsabilidades profissionais: carreira, ocupação, trabalho, hobbies, projetos sociais;
3) Responsabilidades amorosas: namoro, amor, casamento, união estável…
Escreve ele: “Da proporção em que o indivíduo os deixou de resolver, da distância em que ficou da solução desses problemas, podemos tirar conclusões do maior alcance sobre a sua personalidade. A utilização dos dados obtidos por essa maneira nos auxiliará no conhecimento da natureza humana” (ADLER, 1961, p. 232).
E, já no final deste capítulo do livro A Ciência da Natureza Humana, Adler traz dois exemplos.
No primeiro, ele cita o caso de um homem que tinha tido uma boa situação econômica em virtude dos sucessos empresariais de seu pai. Sempre um bom aluno, olhava “de cima” todos os demais. Com o tempo, substituiu o seu pai na empresa e manteve-se contente e feliz enquanto conseguiu manter a posição de um ser superior e intocável em seu trabalho. Quando a posição de superioridade não foi mais possível de ser mantida, passou a se sentir desgostoso com o trabalho e a se sentir infeliz.
Arrumou então uma mulher para casar (mandar). Entretanto, não teria graça para ele arrumar uma mulher submissa. Encontra uma mulher que visa tanto o poder quanto ele e, desta forma, o casamento é um contínuo martírio de brigas para saber quem tem a razão ou quem ganha a disputa. Como diz Adler: “os elos fortíssimos que o amor exige não se compadecem com os impulsos dominadores de um indivíduo” (ADLER, 1961, p. 234).
Sem nenhum amigo verdadeiro, tenta entrar em clube. Começa a beber sem nenhuma moderação, o que afeta cada vez mais sua profissão e seu casamento.
“Esse caso prova com clareza que não são nossos atos objetivos que nos libertam do estreito caminho errado de nossa evolução, e sim nossa atitude mental e nossa apreciação pessoal dos fatos, o modo como os avaliamos e pensamos. Tocamos aqui a essência dos erros humanos. Este caso e outros análogos nos mostram uma série inicial de erros e a possibilidade de se cometerem erros ulteriores.
Devemos examinar os argumentos de um indivíduo confrontando-os com o seu padrão de procedimento, para lhe compreendermos os erros e eliminá-los por meio da conveniente orientação” (ADLER, 1961, p. 237).
No segundo caso, vemos a história de uma mulher que, chegando aos vinte anos, viu-se impelida pelos pais a começar a trabalhar e a sair de casa. Entretanto, dado o seu forte apego com sua mãe, já havia feito de tudo para fazê-la ser totalmente submissa aos seus desejos. Assim, fica doente para ter cuidados. Quando teve que sair obrigada para trabalhar, usou de expedientes para não fazer o trabalho direito e ser mandada embora. E, por fim, tentou cometer suicídio para poder voltar para casa e ter os cuidados da mãe apenas para si.
Conclusão
Para concluir, deixo mais uma citação de Adler para refletirmos:
“Na sociedade não há lugar para desertores. São necessárias uma certa adaptabilidade e subordinação para fazer-se parte dela – cumpre a cada um tornar-se útil, e não assumir o mando simplesmente pelo prazer de mandar” (ADLER, 1961, p. 238).
Infelizmente tenho estes sintomas
Olá Charles,
Mas podemos mudar. É só procurar pela melhor forma para ti.
Existem diversos tipos de terapia e psicoterapia que podem te ajudar, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
O desânimo é uma forma de anular as “responsabilidades” citadas no texto, e leva a diversas misantropias… e, que, no fundo, traduzo por medos que vão se acumulando desde a fase da gestação e ao longo do desenvolvimento humano. Às vezes, há também, um sentimento por consequência imediata de uma ação, que gera um pensamento “misantrópogo” de vários tipos que são banais no momento, mas que se repetido muitas vezes, torna-nos um sentimento presente. A exemplo, moro num condomínio que tem divisa com uma área livre, todo os dias, num calor de 35º, eles fazem queimadas, a consequência é a fumaça subir para os aptos, então ao longo do tempo, passei a dizer -“odeio pobre!”, ao ir fechando as janelas e ligando os ventiladores, como algo repetitivo e diário, a gente introduz sentimentos negativos de aversão. Depois de um tempo, refletindo, mudei o foco do pensamento – “eles não têm recursos, não têm educação para saber que não se deve fazer queimadas”… enfim, isso pode acontecer com a política, com música, com religião etc. Agora tento buscar o lado bom das experiências ruins, para não me contaminar com pensamentos negativos, que acabam tornando-se sentimentos ruins, é bem difícil o exercício, pois a tendência é a explosão involuntária dos sentimentos, exige -se treino. Gostei do texto!
Olá Maria,
A questão é que o ódio não vai extinguir o ódio. Se alguém mal educado nos fecha no trânsito, ser mal educado não vai melhorar as coisas, não é mesmo? É como aquele velho adágio que diz que o ódio é combatido com o amor… a má educação com a educação…
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Acho injusto esse argumento! injusto pelo fato de a timidez ser também uma forma de proteção contra pessoas que dominadoras que tenta impor constantemente sua vontade perante o outro. existe no fundo em todo ser humano o desejo de querer ser superior, de se destacar mais, comunicar mais, querer que o outro o escute mais, q disponível a suas vondades e que guia e manipula? ensina? crítica, debocha, e exclui os demais que não se submete ao seus interesses.
no caso minha timidez é uma proteção contra, a forçação e invasão do meu espaço como individuo
Olá, gostaria de agradecer pelo site, e pelos textos, tem me ajudado bastante, quando se tem 17 anos e difícil escolher que caminho seguir, mas só imagino a psicologia na minha vida, já não tenho mais dúvidas, agora vou ler um texto todo dia, obrigada Felipe.