Olá amigos!
Continuando o nosso Curso Grátis sobre Alfred Adler, o criador da Psicologia Individual, hoje vamos tratar sobre alguns aspectos diferentes do caráter, conforme o capítulo: Outras manifestações do caráter, especialmente a jovialidade, a subserviência, os princípios e a religiosidade.
Às vezes temos a impressão de que uma boa parte do livro A Ciência da Natureza Humana, dedicado à divulgação da Psicologia Individual, procura mostrar e descrever os fundamentos com exemplos práticos, concretos, do dia a dia. Parece-nos que Adler tinha por objetivo trazer como que fotos de tipos de pessoas para exemplificar os seus pressupostos. Em certos trechos, podemos notar até um pouco de censura no modo como alguns destes tipos se comportam.
Esta crítica à ética alheia, entretanto, não deve ser subsumida à peculiaridades individuais da pessoa do autor. Devemos nos lembrar que o autor era médico (foi psicanalista e trabalhou como psicólogo), ou seja, o seu grande objetivo de vida foi ajudar aqueles que sofrem de problemas mentais, emocionais e comportamentais.
E para todo aquele que trabalha na área é inevitável a pergunta ética: o que é felicidade?
Para Adler, todos nós temos o sentimento de inferioridade, em maior ou menor grau. Todos temos porque todos nós fomos crianças e, enquanto infantes, precisamos do cuidado e atenção dos outros. Porém, enquanto alguns conseguem lidar bem com este sentimento e superá-lo ao longo da vida, outros tem imenso problema na superação.
A superação – para o criador da Psicologia Individual, e, portanto, a sua noção de felicidade – está em ter iniciativa para enfrentar as dificuldades (internas e externas) e, em última instância, em colaborar com a sociedade. Didaticamente, então, podemos ver que existem tipos que são egoístas e não fazem nada, outros são egoístas mas bem ou mal contribuem com o seu trabalho e esforço, outros querem ser altruístas – e religiosos – mas não o são e também não fazem nada, enquanto outros conseguem se doar e contribuir verdadeiramente com a comunidade na qual vivem.
Em resumo, este é o princípio de felicidade para Adler: conseguir superar as suas dificuldades internas e externas, o complexo de inferioridade, e contribuir e fazer algo benéfico também para os outros. Por isso, neste texto, veremos a sua crítica a determinadas pessoas que se dizem religiosas, mas são totalmente egoístas.
A jovialidade
Logo no começo deste capítulo, Adler descreve certo tipo de gente que é jovial e alegre: “as pessoas joviais travam relações mais facilmente e são julgadas pelos demais como criaturas amáveis e simpáticas. Parece que instintivamente sentimentos revelar em tal característico um senso de sociabilidade altamente desenvolvido” (ADLER, 1961, p. 243).
E, citando diretamente Dostoiévski – que ele tem por um psicólogo nato: “Pode-se conhecer melhor o caráter de uma pessoa pelo modo de rir, do que por um fatigante exame psicológico” (ADLER, 1961, p. 243). E esta frase realmente nos dá o que pensar…
Por outro lado, existem pessoas que fazem de tudo para não serem alegres e contentes: “os contrários dos indivíduos pertencentes ao tipo simpático são os crônicos desmancha-prazeres, os pregoeiros de desgraças, os propagandistas da teoria do vale de lágrimas, os que atravessam a existência como se dobrados ao peso de um grande fardo. Exageram todas as pequenas dificuldades, o futuro aparece-lhes sempre tétrico e desalentador, e não perdem ocasião em que vejam os outros felizes para fazerem, quais Cassandras, lúgubres profeciais” (ADLER, 1961, p. 244).
Pessoas de Princípios
É evidente que o mundo é complexo. Já se foi o tempo em que alguém podia dominar todo o conhecimento (dizem que no século XVIII viveu o último homem que sabia tudo de tudo). Para lidar com esta complexidade, acabamos criando pressupostos, axiomas, verdades. Isso acontece com todos. Porém, notamos que alguns indivíduos acabam se limitando muito. Diz Adler:
“Creem nestes princípios e se sentiriam mal se alguma coisa não pudesse ser interpretada de acordo com eles. São os pedantes emperdenidos. Tem-se a impressão de que se sentem em tanta insegurança, que procuram engaiolar a vida, reduzindo-a a umas poucas regras e fórmulas, para que ela não os amedronte muito. Ao enfrentar situações para as quais não tenham regras ou fórmulas, seu recurso é fugir” (ADLER, 1961, p. 246).
Subserviência
Uma outra manifestação do caráter que nos interesse é o espírito de submissão. Pessoas que gostam de serem mandadas e ficam o tempo todo esperando ordens para cumprir. Sem ninguém para mandar, paralisam. Adler escreve: “só sentem bem quando estão a obedecer a ordens alheias” e “Estas pessoas encontram verdadeiro prazer em ser dominadas” (ADLER, 1961, p. 247).
Mas o mais importante desta parte do livro diz respeito à relações de gênero. E, neste sentido, Adler estava muito à frente do seu tempo:
“Sabemos que para muitas pessoas a submissão é a lei da vida. Não nos queremos referir à classe dos criados, mas às pessoas do sexo feminino. Que a mulher deve ser subalterna é uma lei não escrita, mas profundamente arraigada e que muitas pessoas adotam como dogma imutável. Essas pessoas acreditam que as mulheres nascem com o destino da subserviência. Tais ideias tem envenenado e destruído as relações humanas, mas é superstição que há de custar para desaparecer. Até entre as mulheres, muitas existem que creem ser essa uma lei eterna a que devem obedecer. Mas nunca se viu um caso em que se tenha ganho alguma coisa com tal teoria… dixando-se de lado o fato de que o espírito humano não tolera a submissão sem revolta, a mulher submissa mais cedo ou mais tarde se torna uma simples criatura dependente e socialmente estéril” (ADLER, 1961, p. 248).
Ou seja, a ideia de que o homem é superior à mulher e de que a mulher deve obedecer ao homem é muito prejudicial para ambos: “quando um homem e uma mulher vivem juntos, devem dividir como camaradas o seu trabalho, para que nenhum dos cônjuges seja dominado pelo outro” (ADLER, 1961, p. 249).
A religiosidade
E, para concluir a nossa lição de hoje, e tendo em vista o que falei no início sobre a felicidade como a doação de si para ajudar na sociedade, Adler menciona a falsa religiosidade:
“Algumas destas pessoas vítimas de incompreensão crônica batem em retirada para a religião, onde continuam a proceder do mesmo modo que procediam antes. Lamuriam, lastimando-se a si mesmas e baldeiam seus pesares para os ombros complacentes de Deus. Toda a sua atividade é embebida e penetrada de um interesse único: as suas próprias pessoas.
E deste modo acreditam que Deus, este Ser extraordinariamente honrado e adorado por elas, se interessa grandemente em servi-las, sendo não só o inspirador como o responsável de cada uma de suas ações.
Esses devotos entendem que podem pôr-se em comunicação imediatamente com Ele por meios artificiais, como por alguma oração muito fervorosa, ou outras coisas do ritual religioso. Em suma, seu querido Deus de nada mais sabe e não tem outra coisa a fazer não ocupar-se com os seus aborrecimentos.
Há tanta heresia nesta espécie de culto religioso que, se voltassem os velhos tempos da Inquisição, esses fanáticos seriam provavelmente os primeiros a ser queimados. Eles se dirigem a Deus do mesmo modo por que se dirigem a seus semelhantes, gemendo queixas, lamentando-se, mas não erguendo sequer um dedo para aliviar sua própria sorte ou melhorar as suas circunstâncias. A cooperação social, no sentir deles, é coisa somente para outros” (ADLER, 1961, p. 253-254).
No final, ele cita um caso clínico no qual uma de suas pacientes teve uma crise religiosa, cujo fundamento era o seu senso de inferioridade e a sua busca por dominação mal direcionada.
Dúvidas, comentários, sugestões, escreva abaixo!
Felipe, eu sempre achei que o sorriso diz muito sobre uma pessoa. Muito bom. Gostei bastante desse trechinho do texto:
[…] “E, citando diretamente Dostoiévski – que ele tem por um psicólogo nato: “Pode-se conhecer melhor o caráter de uma pessoa pelo modo de rir, do que por um fatigante exame psicológico” (ADLER, 1961, p. 243). E esta frase realmente nos dá o que pensar…”
Oi Raquel!
Eu fiquei pensando muito nisso. O modo como alguém sorri e ri.
Nessa era do selfie, também é bastante interessante observar os risos e sorrisos. Alguns parecem sempre ter o sorriso amarelo, como naquela música do Renato Russo em que ele diz: “Mas percebo agora que o teu sorriso vem diferente quase parecendo te ferir…” enquanto outros riem com os olhos. Segundo a neurociência, este último é o sorriso genuíno.
Também temos a questão da risada. Alguns riem para dentro e não fazem som – o que demonstra serem mais introvertidos. E outros riem para fora, alto, como se diz em inglês LOL (Laughing out loud).
Abçs
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito bom seus textos.
Adorei o que fala sobre a felicidade.
“está em ter iniciativa para enfrentar as dificuldades (internas e externas) e, em última instância, em colaborar com a sociedade”
Acho que é isso.
Enfrentar as dificuldades principalmente internas, colaborar com a sociedade, falta muito disso no mundo.
Abraços.
Silvana
Verdade Silvana!
Fico muito feliz que tenha gostado!
É evidente que o motivo de ser religioso não se reduz a ser este tipo de pessoas subserviente, etc…, pois para Adler isto já é uma falsa religiosidade para aqueles que procuram na religião uma solução para seus próprios problemas, não superando psicologicamente seu “complexo de inferioridade”. Gostei do texto, pois precisamos trabalhar interna e externamente nosso complexo de inferioridade, no contexto da vida como ela é. Obrigado, Prof Felipe pelas textos ricos em reflexões! Abraços.
Exatamente Irineu!
Por isso fiz questão de colocar no título – a religiosidade (falsa) – e não “a religião para Adler”
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe, gosto de interagir com o blog – as suas análises são sempre enriquecedoras. Essa semana estarei mudando de Cidade, vou morar em Ribeirão Preto/SP. No mês de março vou assinar os cursos online pois agregam conhecimento e valor ao meu trabalho. Agradeço pelo retorno e explicações. Um grande abraço, Raquel
Obrigado, Prof Felipe, pelo retorno do comentário e confirmação! Felicidades!
Oi, Felipe! Muito legal esse blog. Uma vez escutei uma psicóloga Junguiana falar que ter boa autoestima significa enfrentar as situações da vida, e não necessariamente vencer. Pois se focamos somente em resultados positivos, acabamos não fazendo nada por medo de perder. E ela também enfatizou que para se ter uma boa autoestima, e consequentemente, ser mais feliz (ou menos infeliz) a gente precisa ajudar ao próximo, ter aquele sentimento de missão cumprida. Acho que essas observações dela fecham com seu texto. Obrigada! Estou aprendendo muito com você!
Verdade Karina! O que ela disse bate bastante com o texto!
Excelente!
Gostei Muito do texto!!! O título lhe caiu muito bem,
Gosto de todos os seus textos!!!
leio-os todos, estão me ajudando muitíssimo!!!
Obrigada.
abraços!!