Olá amigos!
Estou rindo agora por uma situação um pouco esdrúxula. A minha conexão de internet não está pegando no momento (escrevo este texto no LibreOffice Writer). O problema é que, segundo a empresa responsável, está acontecendo falhas na cidade que envia o sinal para São Lourenço, no caso, Três Corações.
Mas o que rio é que como não sei quando o sinal vai voltar, de tempos em tempos volto a tentar abrir uma página, para ver se abre. Rio porque quando estudamos psicologia comportamental aprendemos que dependendo do tipo de reforço, a extinção do comportamento demora mais a ocorrer.
Por exemplo, se eu soubesse quando a internet voltaria, eu não ficaria clicando diversas vezes, de tempos em tempos, para saber se voltou. Mas como não sei quando vai voltar, tento porque em algumas vezes (ontem e hoje) fui bem sucedido ao tentar clicar – a internet tinha voltado.
Este exemplo demonstra – como tantos outros – um princípio importante do nosso comportamento. Nos casos em que o reforço não é por razão fixa, a probabilidade é de que a extinção do comportamento leve mais tempo.
Um outro exemplo talvez torne esta relação entre reforço e extinção mais clara.
Imagine alguém que trabalhe por salário fixo. Todo dia 30, depois de um mês de salário, o funcionário recebe o seu contracheque. Ou seja, o seu reforço – a consequência do comportamento vai fazer aumentar o comportamento, por isso reforço – é positivo. Ele ganha algo, no caso, o dinheiro.
Imagine alguém que recebe apenas comissão por vendas. O reforço no final do mês pode ser maior do que o do assaliarado. Entretanto, o valor não é fixo. Varia de mês para mês. Uma mês é mais alto e no outro é mais baixo.
Agora vamos imaginar uma situação na qual os dois trabalhadores perdem o seu reforço. Vamos supor que o primeiro receba a proposta de apenas continuar na vaga se passar a receber por comissão. Enquanto o segundo vivencia uma fase em que simplesmente não consegue vender nada.
Ambos perderam o seu reforço. O primeiro pode vir a desistir logo da nova estrutura de trabalho. Afinal, não vai mais receber pelo tempo que passa no estabelecimento e sim pelos resultados. O outro, entretanto, vai provavelmente demorar para querer sair porque ele vai começar a imaginar que é apenas uma semana ruim, que esta fase vai passar, que não é uma crise.
Em suma, quando não sabemos quando vamos ter o reforço, acabamos demorando muito mais tempo para desistir do que quando sabemos ou quando o reforço é mais padronizado ou fixo.
Levando a mesma dicotomia para as relações amorosas, percebemos o seguinte: existem relacionamentos nos quais tudo é bom sempre (reforço positivo constante) e existem outros nos quais desde o começo há uma oscilação entre reforços e punições. Uma hora está tudo bem, na outra está tudo mal, brigas, raivas, descontentamento dão lugar à presentes, festas e carinhos e vice-versa.
Nos casos em que o relacionamento é só bom, muitas vezes basta uma única punição para que o relacionamento termine. Pode ser um atraso, um falta, uma falha, uma mentira. Pronto… o que era 100% agradável vira e torna-se 100% desagradável. O término é rápido, embora também possa ser doloroso.
Nos casos em que há uma grande oscilação entre reforços e punições, a tendência é que o término dure meses, quiçá anos ou décadas. O casal se acostuma a ter momentos ruins e, como nenhum sabe quando vai melhorar, acaba esperando que melhore, como aconteceu antes.
Pessoas acomodadas – uma definição
A partir destas situações conseguimos retirar um conceito de acomodação. Uma pessoa acomodada, com sua péssima conexão de internet, com sua situação do trabalho que piora mas a pessoa continua ou com um relacionamento mais ou menos é uma pessoa que se acostumou a ter um certo tipo de consequências do seu comportamento e não espera mais.
Penso que muitos de vocês tem conhecimento do famoso best-seller Quem mexeu no meu queijo. Basicamente, o que a história conta é que a partir da mudança das circunstâncias externas, existem dois tipos de respostas:
– a resposta daquele que fica acomodado, às vezes triste e às vezes raivoso, e permanece no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa;
– a resposta daquele que entende rápido que a situação mudou, ou que há possibilidades melhores, e sai em busca de mudanças.
O livro fez tanto sucesso porque descreve tudo isto através da historinha de alguns ratinhos. O reforço é representado pelo queijo. Dai o título quem mexeu no meu queijo? “Quem foi – o que foi – que eu posso culpar por não ter mais o que quer que seja que me era agradável?” Esta é a pergunta.
Mas cada um vai dar uma resposta, na prática, no comportamento que ou será uma resposta de uma pessoa acomodada ou a resposta de alguém que espera e vai através de mudar o seu comportamento e o seu ambiente.
Eu, por exemplo, vou mudar o meu provedor de internet, rsrs.
Concordo!!! me identifiquei, estou acostumado a conviver com as consequências. Como mudar?
Adorei o texto eu não sou nem um pouco acomodada.
Olá Lucas!
Existem várias formas. Sugiro a leitura dos seguintes textos:
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2014/08/voce-e-o-que-voce-faz-com-frequencia-o-poder-habito.html
Mas se estiver difícil mudar sozinho, sugerimos sempre a terapia.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigado Roseli!
Muito bom!!! eu diria excelente….
Existe um ditado que diz: “não se pode mudar a essência de alguém”.
Concordo, desde que a própria pessoa sinta essa necessidade de mudança, Mais ai é onde tá. Muitos sente que precisam mudar, embora poucos mudem, pois esperam alguém fazer isso, incentivar-lhes, dá algum “reforço”. Eu basicamente funciono assim, só que uma forma desafiadora, adora quando alguém diz que não sou capaz de uma coisa, ou que não vou conseguir fazer algo, pra mim é um reforço que logo obtenho o resultado!
Felipe, só ainda não descobri se isso é bom ou ruim? rsrsrs… pois não dá simplesmente pra trocar o provedor rsrsrsr…
Excelente texto, Felipe.
O “ficar acomodado” é um comportamento que me intriga, talvez por eu ser muito inquieto. Me intriga e me faz analisar os fatores que fazem alguém ter esse comportamento.
Abraço,
Olá Erika,
Estas situações podem dar origem sim a uma maior força de vontade e até ao sentimento de autoconfiança.
Apenas sugiro ficar atenta porque é possível cair na psicologia inversa ou reversa, se alguém descobre esse tipo de impulso em ti.
Veja aqui – https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2014/08/o-que-e-psicologia-inversa-ou-reversa-ela-funciona.html
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Danilo!
Obrigado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito bom! Seus textos são bem elaborados e importantes para nós, estudantes de Psicologia.
Obrigado Maronel!
Boa madrugada Professor Felipe
Adorei esse texto também, não sei se você vai lembrar de mim do texto absurdamente grande sobre TDAH, mas graças a você, descobri que pelo menos acomodado eu não sou…rsrsrsrsrs.
Olá Jesse!
Fico muito feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Professor, tudo bem? Sinceramente, achei muito limitada a sua análise para esta definição e discordo totalmente do que escreveu! Todo mundo tem uma história, as situações exteriores que afetam as pessoas também são diferentes, assim como os ambientes são diferenciados! Muitas vezes, esperar o momento certo é adequado de uma.mudança, não significa que você se ” acomodou ou se acostumou” com resultados similares! Muitas vezes a pessoa quer uma mudança tão radical, que ela se estuda, estuda as possibilidades, estuda o seu ambiente externo e sim interno, para efetuar tal mudança! Me perdoe, as vezes é necessário discordar!
Legal Fabíola!
É para discordar mesmo, rsrs. Este é um texto curto e mostra apenas algumas facetas da nossa complexa vida comportamental.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Parabéns pelo seu site e excelente