Na psicologia, a vaidade é definida como o traço de caráter que se resume à preocupação constante: “O que vão pensar de mim?” Conheça os tipos de vaidade
Olá amigos!
Continuando o nosso Curso sobre a Psicologia Individual de Alfred Adler, vamos falar hoje sobre um aspecto importante do seu livro A Ciência da Natureza Humana, parte 2, “A ciência do caráter”, que trata dos traços agressivos de caráter, começando pela vaidade.
“Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” diz o livro saturnino Eclesiastes, provavelmente de Salomão. Não há como iniciar um texto sobre a vaidade sem citá-lo. Afinal, sob certo ponto de vida, tudo é vaidade e todos somos vaidosos.
Definição de Vaidade
A palavra da moda ostentação, ostentar, é um dos sinônimos que encontramos para vaidade no dicionário. Assim como vanglória, presunção e definições mais gerais: “qualidade do que é vão, instável ou de pouca duração; desejo imoderado e infundado de merecer a admiração dos outros; presunção malfundada de si, do próprio mérito.
Etimologicamente vaidade vem do latim vanitate que designa o que é vão, o que é fútil, o que é vazio. Mas penso que no dia a dia aprendemos desde pequenos o significado da palavra vaidade, de modo que uma definição precisa não chega a ser necessário.
A Psicologia da Vaidade
Psicologicamente, nas concepções de Adler, podemos entender que a vaidade é o traço de caráter de quem está “sempre a cogitar no que os outros pensam dele” (Adler, 1961, p. 188). Em outras palavras: [a vaidade] leva os indivíduos a pensar constantemente em si, ou, quando não dê isso, na opinião dos outros a seu respeito” (Adler, 1961, p. 189).
O indivíduo vaidoso, deste modo, encara a vida, a sua relação com todos os fatos e com todas as pessoas pela seguinte perspectiva: “Que vantagem poderei tirar disto?” (Adler, 1961, p. 189).
Como temos visto aqui no nosso Curso Gratuito sobre a Psicologia de Adler, para o criador da psicologia individual um dos aspectos mais importantes da vida psíquica é o senso de sociabilidade, ou seja, a adaptação do indivíduo ao meio em que vive de modo a contribuir para a sociedade como um todo.
Por isso, o autor faz questão de deixar clara a diferença entre senso de sociabilidade (que é avaliado de maneira positiva) e vaidade (que é avaliada de maneira negativa). Se lermos com calma a perspectiva de Salomão, veremos que o escritor hebraico entende a vaidade como ubíqua e uma força por trás das nossas ações.
Para Adler, é preciso fazer uma distinção. Quando um artista produz uma obra genial, o faz não por vaidade, mas a despeito dela. Em toda e qualquer criação realmente útil (ou que contribua de alguma forma com a sociedade) há o senso de sociabilidade. A vontade de ajudar, de servir, de contribuir.
A vaidade, por outro lado, é um traço egoísta. O vaidoso preocupa-se tão somente com ele mesmo. Na maioria dos casos, a vaidade não vai impelir para uma elaboração que seja útil socialmente. Pelo contrário, vai acabar prejudicando os que estão ao redor.
Um exemplo tornará esta distinção entre vaidade e senso de sociabilidade mais evidente.
Tipos de vaidade
Uma menina extremamente mimada pode descobrir desde cedo que o modo como se veste é um importante fator que vai qualificar o modo como os outros vão pensar a seu respeito. Com isso, ela pode literalmente infernizar a vida dos seus progenitores para que comprem roupas caras, mesmo que os pais ou cuidadores não possam arcar com os custos e mesmo que o preço final da roupa seja um absurdo. É um exemplo do ter apenas para ostentar.
Através deste exemplo, podemos ver como a vaidade desta menina não contribuirá em nada com as pessoas que a cercam. Pelo contrário, com motivos egoístas, acaba prejudicando a saúde financeira da família.
Entretanto, este exemplo não é de todo representativo das formas nas quais a vaidade pode aparecer. Adler cita casos que atendeu em seu consultório de pessoas que procuram se afastar de todo e qualquer convívio social porque não querem ser avaliadas negativamente pelos outros:
“Em lugar de prestar sua contribuição, o vaidoso ocupa-se principalmente com queixas, desculpas e explicações. É que estamos em face de artifícios da alma humana, da tentativa do indivíduo para conservar, a todo transe, seu sentimento de superioridade, resguardando o amor próprio de qualquer ofensa” (Adler, 1961, p. 190). Este tipo de consideração, consciente ou inconscientemente, encontra-se presente nos casos de timidez e fobia social. Como a frase que vi estes dias: “Você não tem medo das pessoas. Você tem medo de ser rejeitado”.
Como existe um fosse entre a vaidade e o senso de sociabilidade, os diversos tipos de vaidosos geralmente estão distantes ou contra a sociedade. Adler menciona o tipo vaidoso que tem um “complexo de menosprezo”, ou seja, para se arrogar da própria importância, adora diminuir os outros:
“A hostilidade social manifesta-se muitas vezes com modos ríspidos e críticos. Aqueles inimigos da sociedade estão sempre a censurar, reparar, ridicularizar, julgar e condenar o mundo. Acham-se descontentes de tudo. Mas não basta reconhecer o mal e condená-lo! Cumpre que nos perguntemos: que fiz eu para as coisas se tornarem melhores”? (Adler, 1961, p. 195).
Conclusão
Adler reconhece que a vaidade, em maior ou menor grau, encontra-se presente em todos. Por isso, ele diz: “O menos que podemos fazer é procurar melhores formas e manifestações desse sentimento, de modo que, se temos de ser vaidosos, ao menos empreguemos nossa vaidade em benefício da coletividade!” (Adler, 1961, p. 196).
Ao longo deste capítulo do Ciência da Natureza Humana, o que podemos depreender é que Adler critica os tipos de vaidade que possuem fins somente egoístas. Tipos que prejudicam a própria pessoa, as pessoas que estão ao redor e, virtualmente, toda a sociedade.
Um tipo de confusão comum é achar que a vaidade e o senso de sociabilidade são próximos. Como falamos no texto, o senso de sociabilidade (a vontade construtiva de ajudar a sociedade) pode ter força apesar da vaidade.
Um exemplo da nossa área de estudos nos ajuda a entender. Freud, como sabemos, é considerado atualmente um dos mais importantes autores do século XX. Sua obra influenciou não só a área psi como as ciências humanas e até as artes (vide o surrealismo). Porém, no começo de sua carreira, as suas ideias não eram aceitas. Muito pelo contrário, ele foi muito criticado pela etiologia sexual das neuroses.
Se fosse um sujeito vaidoso ao extremo, ele poderia ter paralisado com estas críticas e parado as suas publicações. Isto não aconteceu, é claro, mas isto não quer dizer que ele não tenha sido vaidoso. O seu senso de sociabilidade – na ideia de que a psicanálise representava uma importante ferramenta na cura das neuroses – o fez superar as críticas negativas e continuar.
Veja as Lições anteriores do Curso Psicologia Individual de Adler
Dúvidas, sugestões, críticas e comentários, por favor, escreva abaixo.
Ola, Felipe gostei muito do site e das publicacoes, a minha duvida eh se esses cursos tem o certificado. Obrigada
Olá Felipe! Venho acompanhando seus videos no youtube e recentemente o conteúdo do blog. Se for possível, gostaria de uma sugestão sua. Tenho 17 anos e curso Gestão de RH, porém psicologia é um curso que me atrai muito, mais especificamente a organizacional. Antes de ingressar em psicologia eu gostaria de já ter um contato, mas não sei por onde devo começar. Aristóteles, Freud, Jung … o que me sugere ?
Admiro seu trabalho !
Desde já agradeço
Att
Sarah
Tem sim Karin,
Os Cursos gratuitos tem certificado.
Voltaremos a emiti-los a partir de 2015:
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Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Sarah,
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Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigada :)
Cheguei até aqui, buscando no google ” O que vou fazer da minha vida” , isso porque após ser demitido depois de 6 anos atuando em uma carreira de laboratório, eu sinto-me paralisado. Sem oportunidade, sonhando em voltar, mas ao mesmo tempo sem saber o que fazer com tanta liberdade, até pensando em empreender, mas sem saber no que, até querendo estudar mas sem saber o que.
A vida sempre foi mais clara para mim. Quando criança tinha um projeto bem sólido, era bom em HISTÓRIA, seria ADVOGADO , ajudaria famílias, trabalhadores e consumidores.
Acabei fazendo através de uma bolsa um TÉCNICO EM QUÍMICA, muito feliz na época, sonho de inventar novas bolachas mais nutritivas e para as crianças que não podem comer o produto seja pela lactose, pelo açúcar ou pelo glúten.Inventei uma cerveja de SOJA e pude retribuir a bolsa e encerrar feliz meu curso.
Quando tentei uma bolsa na faculdade, nem coloquei DIREITO dos sonhos sólidos da infância, entre FARMÁCIA, NUTRIÇÃO e QUÍMICA(L) a Licenciatura foi a bolsa que consegui, seguida de um emprego de 6 anos em uma multinacional,mas agora a vida virou, perdi o emprego, fiz licenciatura e não penso em ser professor, os talentos sumiram, a vida parou. E ainda carrego um estigma, um preconceito gratuito atrelado a ditadura da beleza e, isso em todos os lados da minha vida.
EU ESTOU DENTRO DESSE TEXTO, eu entendi que de tanto sofrer violência gratuita, gozações , o menino corajoso e sonhador deu ouvidos e espaço ao medo da rejeição, e realmente a força que me levou a conquistar duas bolsas antes dos 17 anos , agora me oprime e resguarda um amor próprio de qualquer ofensa. O meu passado infla um sentimento de SUPERIORIDADE, mas não me entendo aceito em lugar nenhum e, as constantes agressões gratuitas por minha aparência, afetam minha edificação profissional.
Pois a vocação pode ser encontrada se perguntando ” Como posso contribuir com a sociedade?” Em meu caso, com o senso de sociabilidade destruído fica muito difícil, a saída é voltar aos bons tempos e EMPREGAR a minha VAIDADE em benefício da COLETIVIDADE.
Justamente isso, eu penso no que o outro está pensando de mim, o tempo todo, todo e qualquer momento , lugar e com qualquer pessoa que passe, olhe, ria, ou repare em mim. ESSA VAIDADE é a descrição perfeita, pois sempre gostei de apresentações, de falar para o público (da sala de aula) provas da VAIDADE, do rastejar por ser notado, aceito, reparado, admirado, invejado.
Você que procura reconstruir uma carreira, ou começar uma, vou ser vaidoso agora, e usar um dos meus talentos, o de aconselhar, mesmo ás vezes sem saber como resolver meus próprios problemas.
” Eu vi em um site , pergunte-se; Como posso ajudar a sociedade? ” E aqui nesse site, nesse post está o começo de uma estruturada resposta ” EMPREGUE SUA VAIDADE EM BENEFÍCIO DA SOCIEDADE”
Para ajudar na escolha de uma caminho, uma carreira, uma saída do fundo do poço, começo com o SENSO DE SOCIABILIDADE ” Em que você sente vontade de ajudar a sociedade?” Pois isso te fará útil, isso te fará achar adaptação, isso irá conter seu egoísmo e ascender a luz da sua vocação. Quem sabe da sua carreira, espero que funcione comigo! Eu vou tentar!!!
Olá Felipe,
Adorei o texto e o tema.
Consegui perceber muito a vaidade em minha vida.
Muito legal refletir sobre isso.
Vi também a sua evolução como escritor lendo o post antigo sobre vaidade.
Gosto do jeito pessoal e tocante que você escreve atualmente. E também da linguagem simples.
Parabéns e obrigada.
Olá Luciana!
Obrigado querida!
Sempre gostei de escrever e aos poucos fui encontrando o melhor modelo para a internet! ;)
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe, parabéns por sua iniciativa.
Quero apenas salientar que não foi Salomão que escreveu o livro de Eclesiastes.
O cara que escreveu estava comprometido em legitimar a escravidão em uma sociedade dividida em classes. Ele argumenta que o sufoco que há debaixo do sol, isto é, na sociedade, é natural. Por fim ele apela para Adonai, o Deus de Israel, como a única possibilidade, através da fé, de existir com esperança em dias melhores. O que é produção humana, torna-se responsabilidade divina.
Obrigado por comentar Mauro! Eu não sou muito versado na Bíblia, para ser sincero. Digo de Salomão porque se atribui frequentemente a ele a autoria… de toda forma, agradeço a correção.
“Este tipo de consideração, consciente ou inconscientemente, encontra-se presente nos casos de timidez e fobia social. Como a frase que vi estes dias: “Você não tem medo das pessoas. Você tem medo de ser rejeitado”.
Sou tímida e bastante introvertida. Um colega já havia me falado que timidez é na verdade uma espécie de egocentrismo, e seu texto deixou isso ainda mais claro pra mim. Que loucura isso!! Obrigada! :)
Então, podemos dizer que a vaidade nada mais é que uma insegurança, viver de forma absurda em função da aprovação da sociedade.
Oi Cícero!
Em síntese, sim. Imagine uma pessoa totalmente sozinha e isolada em uma ilha. Ela ia precisar se arrumar? Ia precisar ter coisas mais caras para mostrar para quem?
Atenciosamente,
Felipe de Souza