Conheça os 4 principais motivos que levam as pessoas a falarem (mal) uma das outras. A psicologia explica porque existe tanta fofoca.
Olá amigos!
Eu moro em uma cidade do interior de Minas desde pequeno, com exceção de alguns períodos fora para estudo e trabalho. A minha cidade, para vocês terem uma ideia é uma das menores do país com apenas 57 km² e cerca de 42 mil habitantes. Começo este texto dando esta singela informação porque em cidades menores a tendência à fofoca é evidentemente muito maior.
Como no filme de Lars Von Trier, Dogville, é como se as paredes das casas não existissem. É como se a separação entre o público e o privado não tivesse sido construída no século XVII e XVIII, ou seja, as pessoas passam pelas casas e sabem o que acontece dentro, paredes transparentes pelas fofocas.
A questão que vamos abordar neste texto é: Por que as pessoas gostam de falar da vida das outras? Por que há tanto interesse nisso?
Bem, existem 4 motivos principais que podem ser levantados. Como acontece na psicologia, cada caso será um caso. Cada pessoa que fofoca pode ter um dos motivos (ou vários dos motivos) que esclarecemos abaixo.
1) Projeção
A projeção é um conceito da psicologia analítica de Jung. Jung afirmava que os conteúdos psíquicos inconscientes (desconhecidos da consciência) são projetados para fora, nos outros e nas coisas, nos objetos.
Um exemplo citado em um de seus livros é bastante interessante. Um religioso, em seu longo processo para se tornar padre, tinha uma grande fixação pela história e pela figura de Judas. A ponto de ficar obcecado com o problema de sua salvação:
“Será que Judas teria sido salvo? Sendo ele um traidor, teria tido a redenção no pós-morte? Afinal, o seu erro (que tinha levado à crucificação) também teria levado à redenção dos pecados do mundo”…
E durante um longo período, o religioso se fez tais questões. Até que, finalmente, abandonou a religião e se tornou ele mesmo “um traidor do Cristo”.
Moral da história: embora não seja uma fofoca, é claro, esta pequena história nos dá o indício de uma das possíveis causas. O religioso tinha um profundo interesse na história de Judas porque ele projetava as suas próprias questões na história dele. Em outras palavras, ele estava pensando se, saísse da religião, ele seria considerado um traidor. E, se fosse considerado um traidor, se teria salvação.
De forma que as suas questões internas mais profundas estavam projetadas na história do outro. Era como se ele vivenciasse o seu dilema projetando-o na história de Judas.
Na famosa frase de Jung, também podemos entender o mesmo princípio: “Tudo que nos irrita nos outros pode nos levar a um melhor conhecimento de nós mesmos“
2) Maledicência
Um aspecto mais terrível da fofoca é o que podemos chamar de maledicência: gostar de falar mal, de inventar mentiras, de caluniar, de ofender ou denegrir. Embora as razões para tanto possam ser as mais variadas, é bastante provável que as suas causas profundas residam em aspectos de rivalidade. Rivalidade que, no fundo, acaba estando relacionada com o complexo de inferioridade.
Uma pessoa que esteja equilibrada emocionalmente não possui necessidade de falar mal das demais. Mas alguém que esteja se sentindo por baixo, pode passar a se sentir (de maneira ilusória) um pouco melhor falando mal de uma outra. É aquela tendência que vemos tanto de rebaixar o outro ou a outra para se sair melhor, para parecer bem, para se sobressair.
Há uns dias atrás eu publique na nossa página do facebook, a seguinte historia de Gandhi:
Quando Gandhi estudava Direito na Universidade de Londres tinha um professor, Peters, que não gostava dele, mas Gandhi não baixava a cabeça. Um dia o prof. estava comendo no refeitório e sentaram-se juntos.
O professor disse: – Sr. Gandhi, você sabe que um porco e um pássaro não comem juntos?
– Ok, Professor já estou voando e foi para outra mesa.
O professor aborrecido resolve vingar-se no exame seguinte, mas ele responde, brilhantemente, todas as perguntas.
Então resolve fazer a seguinte pergunta: – Sr. Gandhi, indo o Sr. por uma rua e encontrando uma bolsa, abre-a e encontra a sabedoria e muito dinheiro. Com qual deles ficava?
– Claro que com o dinheiro, Prof.!
– Ah! Pois eu no seu lugar ficaria com a sabedoria.
– Tem razão prof, cada um ficaria com o que não tem!
O professor furioso escreveu na prova “IDIOTA” e lhe entregou.
Gandhi recebeu a prova, leu e voltou:
– Prof. o Sr. assinou a prova, mas não deu a nota!
Esta pequena passagem da vida de Gandhi nos dá um excelente exemplo de que as pessoas que tem algum tipo de rivalidade ou preconceito (como o professor que provavelmente não gostava de Gandhi por ser ele indiano), fazem de tudo para tentar colocar as outras pessoas para baixo. Na história, o professor procura fazer isto diretamente. Na fofoca, o mesmo é feito indiretamente.
3) O gosto pela tragédia
Há uns dois anos, estávamos viajando de São Lourenço para São José dos Campos de ônibus. No meio da Dutra, houve um acidente com um caminhão que tombou do lado direito da pista. Um senhor que estava à nossa frente, ficou dizendo quase que contente com a tragédia:
” – Acabou de acontecer! Acabou de acontecer! Acabou de acontecer!”
É comum criticar os jornais sensacionalistas e sangrentos por noticiarem apenas tragédias e desastres. Mas o que nem sempre nós percebemos é que muitas e muitas pessoas tem um enorme gosto pela tragédia, como este senhor que aparentava alegria por presenciar um acidente que acabou de acontecer.
É curioso saber que o noticiário negativo não é moderno, não começa com a TV. Desde que Gutemberg inventou a imprensa, os jornais já traziam notícias bizarras e ruins, porque os seus produtores sabiam que era o que vendia.
Voltando às fofocas, este gosto duvidoso é também uma das fontes para se falar dos outros. Não existem levantamentos estatísticos sobre a proporção notícias negativas e positivas, mas é certo dizer que as notícias negativas ganham, nem que sejam meio inventadas.
4) A necessidade humana de contar histórias
Muitas fofocas são invenções. Como diz aquele fofoqueiro profissional: “Eu aumento, mas não invento”. Quer dizer, ele não conta exatamente como foi, aumenta um pouco, transforma aqui e ali, exagera em um ponto. Porém, o limite do aumentar não existe.
Nas brincadeiras infantis, aprendemos como o “telefone sem fio” acaba transformando totalmente uma história original. Por exemplo, uma adolescente aparece com marcas de chupões no pescoço e, poucas horas depois, diz-se que teria sido estuprada, que o agressor já estava sendo procurado pela polícia e por aí vai…
Aqui em Minas, falamos que gostamos de um causo, de contar uma história, uma piada. E, este, creio é um dos motivos de as pessoas contarem fofocas. Como seres humanos, gostamos de contar um causo, um mito, uma fantasia, a história de um filme, de uma novela.
Se vamos estudar uma teoria, entendemos melhor por exemplos, não é mesmo?
Conclusão
Na tabula smargardina, um antigo texto alquímico que também estudamos na psicologia analítica de Jung, existe a ideia de que: “Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados”.
Esta frase, este paradoxo absurdo, nos ajuda a entender a melhor frase que encontrei sobre a fofoca. Pois eticamente é evidente que a fofoca (olhando os motivos acima) não pode ser elogiada. Entretanto, como tudo, pode dar vazão ao autoconhecimento. A frase é: “Fofocar sobre os outros é certamente um defeito, mas é uma virtude quando aplicada a si mesmo”.
Bom dia Felipe!
Excelente texto. Você falou de fofoca, cidade pequena – enfim, imagina numa cidade grande e numa empresa? além dos seus 4 motivos muito bem explicados, eu acrescentaria mais uns 10. rsrsr
O fofoqueiro que gosta de tragédia é o pior, ele incorpora a cena e consegue transformar uma simples gripe numa pneumônia. “penso que é um perfil que precisa de notícia”
O fofoqueiro malicioso é o fantástico, devia trabalhar com arte. É pura imaginação! Tenho que admitir que eles são criativos (um bate-papo informal num café) rapidamente se transforma numa cena digna de ser dirigida por Steven Spielberg.
Como sempre um tema atual, uma boa semana pra você. Abs,
Raquel,
É um pouco sobre o que conversamos naquele texto sobre mentira, não é mesmo?
Acho que a grande questão é que não temos um ensino que estimule de verdade a arte. Se tivéssemos, a mentira cotidiana não seria tão necessária, rsrs.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
amo tudo que se refere a psicologia me encanta!
Bom dia Felipe.
Gostei muito do texto, até porque pude fazer uma leitura do filme Dogville, filme este que achei interessante, porém não consegui fazer essa abordagem que, com muita clareza você consegue, muito obrigada.
Quanto à fofoca, acho que existe em todo lugar, mas em cidades pequenas parece ser mais intensa até porque as pessoas tem mais acesso à vida dos outras e como conhecem muita gente, já viu…, a fofoca é aprendida, penso, e como é bom, na medida que amadurecemos
aprendermos a lidar com isso.
Abç.
Bibba
Muito interessante. Gostei muito, principalmente porque acho o trabalho de Jung fantástico!!!
Abs.
Olá Joselma!
A mim também!
Será sempre um prazer contar com sua participação por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Também acredito que exista em todo lugar Bibba, mas se formos avaliar, veremos que em cidades menores é mais frequente mesmo. Por exemplo, é mais comum que em grandes centros nem saibamos quem é nosso vizinho no apartamento do lado. Mas também penso que ainda que moremos em cidades pequenas podemos não nos envolver neste tipo de atividade.
Quer dizer, ainda que falem de nós, isto não importa. O melhor é não falarmos dos outros. Até porque existe aquele ditado: “Quando Pedro fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
É verdade Sheila!
Sou suspeito para falar até porque estudo o Jung no doutorado!
Já conhece o nosso site – Curso Jung
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito bom!
Gostaria de saber mais como lidar com as fofocas, pois apesar de sabermos os possíveis motivos, ainda fica o desafio! Trabalho em uma igreja e essas são as maiores vilãs e causadoras de tragédias, infelizmente!
A ética cristã (bíblica) é bem radical “se cumprida” em relação as fofocas e outros “pecados contra o irmão”… Tem algo contra o seu irmão, deve chamá-lo aparte e se acertar com ele, se ele continuar, deve chamá-lo acompanhado de testemunhas e se ainda assim não resolver, deve-se expor públicamente a fofoca e tratá-la em público. Gerando até exclusão do membro caso não se arrependa!
Porém, os danos não são reparados muitas vezes, apenas afastamos o fofoqueiro e cuidamos dele, podem na maioria das vezes a perda de um dos lados acontece.
Olá Breno,
Penso que a melhor forma de lidar é com o silêncio.
Fofocas são apenas palavras vazias jogadas ao vento. Dar mais corda é manter a fofoca ativa…
É como apelido na infância, sabe?
Quando mais a criança odeia o apelido, mais ele cola.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Excelente colocações sobre a fofoca e o fofoqueiro.
Nunca gostei, mas sempre emprestei meus ouvidos e o meu silêncio diante de.
Creio que o silêncio fala por si e ouvir o que nos fala é um ato de respeito aos desabafos da enfermidade ou de poder dar asas a criatividade…
Gracias.
Grande Abraço
Um dos seus melhores textos, parabéns suas palavras são sábias.
Muito bom seu texto!
Infelizmente muitas pessoas se ocupam da vida da família dos outros enquanto podiam prestar atenção em sua própria vida e se tem algum problema pendente em sua própria casa.
Passo por isso, sei o que é morar perto de pessoas assim, pior ainda quando são parentes…
Abçs
Site ótimo!
Sou psicólga clinica.
Fascinada por tudo o se refere ao compotamento humano.O conhecimento me ajuda a ajudar os outros
a conviver hamoniosamente com situações diversas.
obrigada,
Maria Aparecida do Nascimento
Obrigado Maria!
O fofoqueiro
Ivone Boechat
O fofoqueiro é um tecelão juramentado in delivery à procura de meias verdades ou mentiras escancaradas que possa sair anunciando por aí pra derrubar alguém. Fofoqueiro que se preze mesmo não gosta de ver nenhuma vítima de pé, fazendo sucesso.
O fofoqueiro é invejoso, mas tem outros antipredicados bem mais inexpressivos no currículo. Para cumprir a meta diária de fofoca, ele é capaz de fazer o sacrifício de parecer bonzinho. E há quem acredite e se dispõe a fazer um pacto de paz, até a decepção dar-lhe uma rasteira.
O fofoqueiro não tem pressa: fofoca hoje, fofoca amanhã, ele sabe que o importante é não perder a oportunidade. Assim sequestra a vítima com as redes da dúvida e a faz refém do disse me disse.
O fofoqueiro tem duas grandes vantagens a seu favor: a vítima não tem defesa porque ele se esconde e rói as cordas pelas costas, na penumbra. O fofoqueiro finge-se simpático, por isso é bem aceito por um bom tempo.
O fofoqueiro se faz de vítima, de ingênuo, vive travestido de coitado e consegue enganar porque é persistente: Água mole em pedra dura…
O fofoqueiro vive de plantão à procura das brechas e ninguém, como ele, sabe aproveitar as oportunidades para desestabilizar a vítima; é mascarado, logo, pode passar despercebido por algum tempo no meio das pessoas corretas.
O fofoqueiro não suporta as palavras união, paz, harmonia. Se pudesse riscaria do dicionário dos outros, porque no dele não existem. Ele não tem luz própria e usa óculos escuros da maldade para se proteger do brilho dos outros…
Toda família tem o fofoqueiro que merece. É nela que ele engorda e tem prestígio; alguns são promovidos a conselheiros; outros recebem o troféu da confiabilidade: conseguem enganar até que a verdade e a justiça cheguem de mãos dadas e acabem com a farra.
“Sem lenha a fogueira se apaga; sem o caluniador morre a contenda.” Provérbios 26:20
“Há alguns cujas palavras são como pontas de espada”…Pv 12:18
Não andarás como mexeriqueiro entre os teus povos; não te porás contra o sangue do teu próximo: eu sou o Senhor.
Levítico 19:16
“O ímpio dá atenção aos lábios maus; o mentiroso dá ouvidos à língua destruidora.” Provérbios 17:4
“Sem lenha a fogueira se apaga; sem o caluniador morre a contenda.” Provérbios 26:20
Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente.” Gálatas 5:15.
“Estes são os que causam divisões entre vocês, os quais seguem a tendência de sua própria alma e não têm o Espírito (Santo).” Judas 1:19.
“Quem vive contando casos não guarda segredo; por isso, evite quem fala demais.” Provérbios 20:19
”A pessoa que diz mentiras (difama) a respeito dos outros e tão perigosa quanto uma espada…” (Pv 25.16) Veja ainda: Lv 19.16
”Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão, ou julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz.” Tg 4.11
”Aquele que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho… Quem deste modo procede não será jamais abalado.” (Sl 15.3,5
Não espalharás notícias falsas…” Ex 23.1
Testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos. Prov 6 16-19
Provérbios 16:28 O homem perverso espalha contendas, e o difamador separa os maiores amigos.
(Extraído de Poesias e Mensagens de Ivone Boechat)