Qual curso me dará um conhecimento maior sobre o cérebro? Psicologia, Biologia, Medicina, Química? Qual destas faculdades é a melhor para estudar as neurociências, as ciências do sistema nervoso?
Olá amigos!
Um querido leitor do nosso site, o Matheus, nos fez a seguinte pergunta: “você acha que qual curso me dará um conhecimento maior sobre o cérebro? Psicologia ou Biologia?” Em outras palavras, qual curso ou faculdade permitirá estudar o que chamamos atualmente de neurociência?
Bem, esta é uma excelente pergunta e nos instiga, primeiro, a definir o que é neurociência.
No nosso Curso Grátis de Neurociências (no plural), nós estamos estudando diversos aspectos básicos desta nova área de estudos. De forma sintética, podemos dizer que as neurociências estudam o sistema nervoso central (que inclui o cérebro) e o sistema nervoso periférico. Porém, dada a complexidade do cérebro, podemos realizar este estudo em níveis micro ou macroscópicos.
Por exemplo, podemos estudar a relação de uma lesão no cérebro com o comportamento observável de uma pessoa. Se o paciente teve uma lesão na famosa região de Brocca, ela pode ter dificuldade para falar e compreender a linguagem. Neste tipo de estudo, embora estejamos também estudando o cérebro, estamos estudando a partir de uma perspectiva macroscópica, através do comportamento, do que a pessoa pensa, diz e faz.
No outro oposto, podemos estudar a mesma lesão no nível microscópico, que vai desde as estruturas fisico-químicas (elétricas e químicas) passando pela estrutura celular (biologia) e pelo que é visível a olho nu como os sulcos e fissuras cerebrais ou a medula espinhal (medicina).
Esta introdução dá um panorama de que faculdades podemos estudar para nos especializar, depois, em neurociências.
Graduação e Pós-Graduação em Neurociências
Aqui no Brasil nós temos uma faculdade de graduação em neurociência, a UFABC. Clique aqui – Graduação em Neurociência. Porém, como este é – até agora – o único, muitos terão que realizar um outro percurso, ou seja, o percurso que deve ser feito é escolher, primeiro, uma graduação que tenha relação com uma das grandes áreas de estudo das neurociências, para então, se especializar.
Basicamente, temos as seguintes graduações que estão intimamente relacionadas:
– Química
– Biologia
– Medicina
– Psicologia
Apesar de que, em certo sentido, a divisão limítrofe de até onde começa e até onde vai uma faculdade e uma disciplina acadêmica seja arbitrária (os limites são mais fluidos do que parecem a princípio), nós podemos ver que a graduação vai influenciar na facilidade ou dificuldade de especializar em um ramo das neurociências.
Por exemplo, eu, que tenho a graduação em psicologia, estudei a fundo a psicologia. Durante a faculdade, tive matérias ligadas à biologia e fisiologia do cérebro e do sistema nervoso (anatomia, neuroanatomia, fisiologia) mas foram apenas algumas disciplinas.
Assim, hoje eu consigo compreender a dinâmica de um medicamento – de uma química – no tratamento de uma doença mental ou saber como funciona a eletroconvulsoterapia. Entretanto, eu estou longe de ser um especialista nestas áreas. Em estudos de duplo-cego, muito comuns na psiquiatria (especialização da medicina), existe frequentemente a utilização de marcadores genéticos para buscar as causas de um sintoma, ou seja, se um sintoma é genético ou ambiental.
E, nestes estudos genéticos, de novo, eu consigo compreender mas estou longe de saber em detalhes e em profundidade porque este não foi o foco da minha faculdade, a psicologia. Como psicólogos, estudamos as diversas teorias sobre a psique (em resumo, as teorias que tratam dos pensamentos, sentimentos e comportamentos) em um nível macroscópico.
Estudamos também a base física do que permite que o comportamento aconteça, mas como não é uma faculdade específica, temos apenas matérias introdutórias.
O mesmo acontece para alguém que faz a faculdade de química (ou farmácia) e estuda anatomia do cérebro e tem uma disciplina de psicologia. Se esta disciplina é bem dada (o que é raro), o estudante terá um pouco de contato com as vertentes da psicologia, mas também não saberá a fundo sobre a nossa área.
Em um universo ideal, o melhor seria ter a oportunidade de fazer todas as faculdades (psicologia, química, biologia, medicina) para poder ter uma compreensão geral das neurociências. Mas como isto demandaria mais de 20 anos, o mais comum é nós encontrarmos pesquisadores formados em uma graduação com especializações subsequentes em neurociências.
E como, é claro, uma especialização de mestrado ou doutorado é específica, o pesquisador terá que focar em um tema.
Assim, um psicólogo pode estudar na especialização o efeito bioquímico de uma droga. Um químico pode estudar as consequências de um dano cerebral no lobo temporal e um médico pode estudar os circuitos cerebrais envolvidos em uma pessoa genial em uma área do saber.
Enfim, esta interdisciplinaridade é a própria definição de neurociências. Se pensarmos na definição, novamente, do que é a neurociência. Veremos que é múltipla:
1) Neurociência molecular: trata a função das moléculas;
2) Neurociência celular: estuda a constituição e função das células no sistema nervoso;
3) Neurociência sistêmica: descreve e analisa as regiões do sistema nervoso e está ligado à neuroanatomia. Em outras palavras, divide o sistema nervoso em partes e nomeia estas partes e busca compreender as suas funções;
4) Neurociência comportamental: ligada diretamente à psicologia, especialmente a psicologia comportamental. Relaciona o estudo do organismo com o meio, centrando o seu estudo sobre os comportamentos internos, como pensamentos, emoções e os comportamentos visíveis como a fala, gestos e outras ações, em geral.
5) Neurociência cognitiva: centra o seu estudo sobre os comportamentos ainda mais complexos como memória, aprendizagem, enfim, a capacidade cognitiva de uma determinada pessoa em um determinado momento.
De modo que a grande questão é pensar, desde antes, qual destas 5 áreas você gostaria mais de estudar. Pois a graduação vai dar a base mais forte para o estudo posterior.
Conclusão
Não há uma resposta certa ou errada para a questão sobre qual é a melhor faculdade para estudar neurociências, porque a neurociência é, na verdade, ciências neurais – neurociências… ou seja, diversas disciplinas acadêmicas se debruçam sobre o tema.
Este tipo de dúvida é também bastante comum nas ciências humanas, em geral. Por exemplo, o que estudar para estudar a Revolução Francesa? É claro que a história talvez seja a primeira faculdade indicada. Porém, também podemos estudar o que foi a Revolução Francesa a partir da filosofia (do que os pensadores da época pensaram ou disseram) ou da política (ciência política) ou da literatura, e por aí vai…
Portanto, uma forma de escolher é escolher primeiro uma graduação de preferência. Pois é bastante diferente estudar química e estudar medicina. Estudar farmácia ou estudar psicologia. Estudar biologia ou psicanálise. Como uma graduação tem duração de 4 a 6 anos, é um tempo que teremos que nos dedicar. E como todas elas, em princípio, nos permitirão estudar depois as neurociências, podemos começar escolhendo a graduação.
Se você ainda está em dúvida, veja o nosso texto – Técnica para Decidir
Muito obrigado pela atenção Felipe, foi de grande ajuda! Continuarei acompanhando o blog!
A graduação de Fisioterapia também está nesse rol.
Ótimo artigo,me interesso muito pela Neurociência. =)
Muito bom Felipe de souza, ´ótima informação sobre como escolher a graduação certo para nossa vocação, eu por exemplo sonho em fazer faculdade de PSICOLOGIA mais enquanto essa oportunidade não chega, vou fazendo psicanalise clinica que é muito parecido e mais acessível.
Parabéns pela instrução
Olá Matheus!
Fico muito feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Renata!
É verdade!
Bem lembrado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigado Raimundo!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Gostei muito da pergunta e da explicação a respeito de tema. Essa era minha dúvida também!
Grata.
Professor Felipe, tudo bom?
Fiquei sabendo pela Suzana Herculano que já existe graduação em neurociência na UFABC.
http://neuro.ufabc.edu.br/?page_id=36
Grande abraço,
Pablo
Olá Patrícia!
Obrigado!
Fico muito feliz que tenha sido útil!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Pablo!
Que fantástico!
Não sabia! Bom saber!
De toda forma, para quem está distante de São Paulo, a dica do texto continua válida.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi Felipe, primeiramente gostaria de ressaltar que adoro seu blog e todos os textos que você, felizmente, escreve regularmente.
Estou me graduando em Biomedicina e me especializarei em neurociências, se tudo der certo, mais especificamente em Psicobiologia. A psicologia é uma paixão, assim como genética e a biologia molecular, áreas que meu curso contempla muito bem.
Acredito que as neurociências sejam a união bem sucedida de diversas áreas do conhecimento, das ciências humanas às ciências biológicas, então um ponto de partida não é e não deve ser estipulado, como você coloca. Deve partir da curiosidade e da vontade de cada um de pesquisar um comportamento de acordo com suas concepções e percepções, e isso é inclusive (e sem dúvida), o que a ciência mais precisa! Diferentes olhares (das diferentes áreas) sobre um mesmo aspecto.
Fica a dica pra quem ainda tem dúvidas, o curso de Biomedicina nos coloca nessa linha de interdisciplinaridade, obviamente não aprofundada e focada na área biológica, mas nos permite o contato com as neurociências nas disciplinas de psicologia aplicada, neuroanatomia, neurofisiologia e com pesquisas da área em iniciações científicas nos laboratórios que estudam o comportamento, a anatomia e a fisiologia do cérebro.
Olá Bárbara!
Você tem razão. Na hora em que escrevi o texto acabei não incluindo a biomedicina.
Parece ser uma área interessantíssima (confesso que não conheço muito). Caso queira publicar um texto aqui em nosso site comentando sobre o que se estuda e sobre a sua experiência no curso, estamos abertos, ok?
Obrigado pela atenção de complementar o texto!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe,
A biomedicina é sim uma área interessantíssima e apaixonante; seria ótimo publicar um texto mostrando que é bem possível correlacioná-la à psicologia, assim como às neurociências. Ficarei feliz em escrever.
Obrigada pela atenção!
Att, Bárbara Garcia.
Legal Bárbara!
Se você tiver tempo para topar o convite do texto, meu email é psicologiamsn@gmail.com
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Ola Felipe!
Temos sim uma universidade com bacheralado em neurociencias, a universidade federal do ABC oferta o curso desde 2012. Antes do aluno deve cursar o bacharelado de ciencias e tecnologia, com uma grade interdisciplinar…..Ha tambem a possibilidade de estudar ciencias biologicas com enfoque em neurociencias nas universidades federais do Rio Grande do Norte e federal fluminense.
http://neuro.ufabc.edu.br
Vale muito a pena conferir sou aluna da ufabc e ja temos varias propostas de estagios, sem contar na possibilidade de comecar a pesquisa desde o inicio do curso
Belissima iniciativa professor Felipe, meus parabéns. Prof. Felipe, eu pretendo fazer uma especialização em Neurociência aplicada à linguagem e à aprendizagem, entretanto estou cheio de dúvidas, pois sou da área de eduação e atuo como professor de língua Inglesa e não sei até que ponto essa especialização vai agregar na minha carreira, é possivel essas duas áreas caminharem juntas? Será que vai vale a pena?
Desde já agradeço.
Elifas
Olá Elifas,
A área de neurociência tem uma aplicação teórica (para a educação e o ensino em diversas áreas) e uma aplicação mais prática (ligada à medicina e à área da saúde). Avalie se será benéfica na sua carreira em uma destas, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Responderia: Qualquer graduação.
Sugiro que confira o site do Instituo do cérebro para maiores informações sobre como a neurociência vem sendo desenvolvida na graduação e pós-graduação.
http://www.neuro.ufrn.br/
Primeiro parabéns pelo post!
Faço o curso de Ciência da Computação e acho bastante interessante essa área do cérebro, seu funcionamento etc. Gostaria muito de estudar essa área, mas pelo que o artigo diz não é muito ligado a tecnologia. Será que existe alguma pós para quem é formado em área tecnológicas ? como a Talita P S Mattos disse acima para fazer a pós na UFABC tem que ter formação em ciências e tecnologia, agora fiquei confuso!?
Olá Wagner,
As pós-graduações, especialização ou mestrado, nem sempre são fechadas. Tudo vai depender do programa, da faculdade. Se vão ou não aceitar graduandos de outros cursos, se vão avaliar mais o projeto de pesquisa, etc. A neurociência é um caso especial porque ela é em si uma disciplina que envolver várias disciplinas. Portanto, tende a ser mais aberta.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
ufa! estava adorando o texto mais um pouco receoso ao ver que não estava incluído a biomedicina. justamente o curso que mais gostei da grade curricular.. mas agora ao ver os comentários tudo está esclarecido! obrigado voçês deram luz a escuridão das minhas duvidas.. abraços!
Jarbas, a Bárbara escreveu este texto – https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2014/11/por-que-escolhi-faculdade-de-biomedicina.html
Olá boa tarde!
Sou biomédicas mestre em Farmacologia (USP) e doutoranda no Programa de Pós Graduação em Neurociências e Cognição pela UFABC
E gostaria apenas de informar que na referida Universidade onde faço doutorado HÁ SIM bacharelado em Neurociências e Cognição!
Quem tiver interesse procure informações no site da ufabc.edu.br
:-)
Olá Renata!
Em um comentário acima já havíamos informado.
Obrigado por comentar. Agora atualizamos também o post para ficar mais claro.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe, gostaria de me focar em neuro cognitiva. Psicologia já me dá uma base para isso?
Sim Laís.