Olá amigos!
Esta é a primeira Lição do nosso Curso Gratuito sobre a Psicologia Individual de Alfred Adler. Nesta primeira Lição, vamos falar sobre alguns pressupostos desta psicologia e vamos começar a estudar os conceitos de psique e vida psíquica. Como disse no post de apresentação do Curso, o texto base será A Ciência da Natureza Humana, um conjunto de conferências dadas no Instituto Popular de Viena e posteriormente transcritas.
Pelo título do livro, podemos ver desde já que o objetivo do autor era o de criar uma teoria geral sobre a natureza humana, uma ciência para explicar porque as pessoas são como são, porque as pessoas agem como agem e porque algumas pessoas crescem saudáveis e outras tem leves, moderados ou severos transtornos mentais. Desde o princípio, é visível como Adler concorda com Freud em um ponto: a diferença entre a normalidade e patologia é de grau, ou seja: “apresentam-se à nossa consideração os mesmos elementos, as mesmas bases, as mesmas atitudes. A única diferença é que no paciente aparecem mais acentuados e são mais facilmente reconhecíveis (ADLER, 1961, p. 17).
Antes de entrarmos no conceito de vida psíquica, gostaria de mencionar algumas características que transparecem da personalidade do autor. Em primeiro lugar, o seu objetivo com estas palestras no Instituto Popular de Viena era o de divulgar o conhecimento para todos. Para ele, a ciência da natureza humana, a psicologia não deveria ficar restrita a especialistas.
Embora toda e qualquer pessoa possa se arrogar ter conhecimento sobre a psique, por ter uma psique, é um fato que as pessoas em geral não conhecem o objeto de estudo da psicologia, ainda que este desconhecimento traga consequências diárias. Tampouco aprendemos sobre nós mesmos e sobre os outros (pensamentos, cognições, memória, sensações, emoções, sentimentos) na escola.
Assim, o autor procurou sempre descer da sua “torre de marfim” e se aproximar das pessoas e contribuir com a sociedade, mostrando de forma didática o que ele tinha descoberto, sabendo que suas descobertas constituíam um pequeno pedaço do gigantesco universo a se conhecer. Com isso, e ele já o demonstra no começo, ele transparece um sujeito de muito humildade.
Introdução da Ciência da Natureza Humana
Na introdução da obra, Adler defende dois argumentos fundamentais: a forte influência que a infância exerce na vida futura de um indivíduo e a existência do inconsciente, ou seja, as forças desconhecidas as quais o sujeito não se dá conta e que o movem sem que ele o saiba.
Para defender o primeiro argumento, ele escreve: “um paciente adulto de caráter ansioso, de espírito constantemente cheio de dúvida e desconfiança, revelaria idênticos traços de caráter e atitudes psíquicas no terceiro e quarto anos de vida, sendo apenas de notar que na simplicidade de sua manifestação na infância esses traços poderiam ser mais facilmente interpretados” (ADLER, 1961, p. 18)
E para defender o segundo argumento, ele diz que quem quiser colocar em prática os conhecimentos da Psicologia Individual, terá que mostrar aos seus pacientes, clientes, alunos ou conhecidos “o valor das forças desconhecidas e inconscientes, que operam dentro de nós; para lhes poderem ser verdadeiramente úteis deverão conhecer todos os artifícios encobertos, tortuosos e disfarçados do proceder humano. (ADLER, 1961, p. 23)
Em síntese, estes são os dois principais argumentos de Adler na introdução.
O conceito de psique para Alfred Adler
No livro 1 – “O procedimento humano” e no capítulo 1 – “A Alma”, Adler vai explicar o conceito e a premissa da vida psíquica, a função do órgão psíquico e a finalidade (teleologia) da vida psíquica. Mas vamos por partes.
É muito curioso quando vamos começar a estudar psicologia e descobrimos que psicologia significa estudo da psique. Até aí tudo bem, mas muitos ficam um pouco espantados ao saber que psique é a palavra grega para alma. Portanto, etimologicamente, psicologia é o estudo da alma. A nossa palavra alma, por sua vez, vem do latim, anima, o que anima um corpo.
E é esta a definição inicial de psique para Adler: o que anima, o que dá movimento ao corpo. Por isso, não faz sentido atribuir alma a uma planta, pelo simples fato de que ela não se movimenta. Escreve ele: “Podemos, pois, estabelecer, de começo, que o desenvolvimento da vida psíquica está ligado ao movimento, e que a evolução e o progresso de todas as coisas realizadas pela alma se condicionam à livre mobilidade do organismo (ADLER, 1961, p. 29).
Deste modo, não faz sentido considerar uma psique isolada. A psique está sempre em contato com o seu meio, em outras palavras, com o que a circunda e, portanto, age e reage de acordo com as condições externas: “A vida psíquica é um complexo de atividades ofensivas e defensivas prepostas a assegurar a continuidade da existência do organismo humano na terra e habilitá-lo a melhor realizar o seu desenvolvimento”. (ADLER, 1961, p. 30)
Entretanto, um outro argumento já se faz notar desde o princípio. O sujeito começa a lidar com o seu meio ambiente, é claro, desde que nasce. Mas quando nasce, na primeira infância, ele é ainda totalmente indefeso para mudar, modificar ou alterar o que está ao redor de si. E esta impossibilidade de alteração, esta predominância da falta de autonomia, será um dos germes para o conceito de inferioridade que veremos em outra Lição de nosso Curso.
Adler também é conhecido por modificar a pergunta central do estudo das patologias. Se estamos atendendo um paciente depressivo, a tendência é venhamos a buscar as causas que trouxeram a depressão, como se perguntássemos: “Porque o paciente está deprimido?”
Para Adler, é claro que a causa é relevante, porém, ele defende aqui um outro argumento. Os pacientes – e as pessoas normais – estão sempre tendo em vista uma finalidade. Portanto, ao invés de perguntarmos o porquê, vamos questionar o para quê: “Para quê o paciente está deprimido? Com que finalidade esta doença apareceu”.
A pergunta pela finalidade traz de volta a importância da teleologia para a psicologia. Télos, em grego τέλος, quer dizer finalidade.
Desta forma, Adler diz o seguinte: “A primeira coisa que descobrimos na vida psíquica é que seus movimentos se dirigem a um fim (…) A vida psíquica do homem é determinada pelo seu objetivo. Homem nenhum pode pensar, querer, sonhar, sem que estas atividades sejam determinadas, continuadas, modificadas e dirigidas para um objetivo constante. Isso resulta da necessidade de adaptação do organismo ao meio envolvente (…) Assim, todos os fenômenos da vida da alma podem ser considerados como preparação para alguma situação futura. Parece-nos impossível conceber a alma como outra coisa senão força a agir rumo a um objetivo – e a Psicologia Individual considera todas as manifestações da alma humana como dirigidas para um objetivo (ADLER, 1961, p. 31).
Para concluir esta primeira Lição, gostaria de compartilhar com vocês um exemplo do próprio Adler, um exemplo que demonstra a hipótese da importância da infância para a vida posterior e que também mostra como o pensamento teleológico pode ser útil na clínica:
“Um homem de trinta anos, de caráter extraordinariamente agressivo, que conseguira triunfos e honras, apesar das dificuldades de sua carreira, vai ao médico num estado de suprema depressão e queixa-se de que perdeu o amor ao trabalho e à vida. Expõe que está quase noivo, mas encara o futuro com profundo desânimo. Sente-se dominado por fortes zelos, havendo grande risco de romper-se o noivado. Os fatos que ele reproduz para provar seus ciúmes não são concludentes. Como nada se pode censurar á moça, as dúvida que ele manifesta desperta desconfiança em relação a ele. É um desses muitos indivíduos que, atraídos pelos outros, se aproxima dele, para imediatamente assumir tal atitude agressiva, que logo destroem o próprio contato que buscam estabelecer.
De acordo com a nossa experiência, costumamos perguntar qual é a mais antiga recordação da infância do paciente, mesmo sabendo que nem sempre é possível apreciar objetivamente o valor dessa recordação. A primeira recordação infantil daquele homem foi a seguinte: estava ele no mercado com sua mãe e um irmãozinho mais novo. Devido ao movimento e acumulação de gente, a mãe tomou nos braços a ele, o mais velho dos dois filhos. Assim que notou seu engano, fê-lo descer e pegou no seu filho mais novo, deixando nosso paciente andar sozinho, comprimido entre a multidão, e grandemente aflito.
Tinha ele então quatro anos de idade. Quando narrava esta reminiscência, notamos as mesmas notas que acentuamos na descrição de sua queixa atual. Não tem certeza de ser amado pela noiva e não pode tolerar a ideia de que outro que não ele seja o preferido, do mesmo modo que, no episódio de criança, entrou em dúvida sobre a estima de sua mãe e se encolerizou pela preferência dada ao irmão. Assim que lhe mostramos esta conexão, nosso paciente, muito assombrado, imediatamente deu por ela.
O valor para o qual tendem todos os atos do ser humano é determinado por tais influencias e impressões recebidas do meio na fase da infância. A condição ideal da vida, isto é, o objetivo de cada ser humano, forma-se provavelmente nos primeiros meses de vida. Mesmo nesse tempo, certas sensações desempenham um papel que provoca um resposta de alegria ou desconforto na criança. Surgem então no espírito desta os primeiros traços de uma filosofia de vida, embora se manifeste de modo mais primitivo” (ADLER, 1961, p. 34).
Na próxima Lição, vamos estudar os Aspectos Sociais na Vida Psíquica (em breve).
Prof. Felipe, estou estudando. Vamos lá…considerando o texto e o exemplo citado […] “A condição ideal da vida, isto é, o objetivo de cada ser humano, forma-se provavelmente nos primeiros meses de vida”. (vinculei o pressuposto das ideias aos fatos de uma infância até uns 7 anos)
Acredito que somos um produto do meio! sejam: do afeto, dos estímulos, das oportunidades e das vivências? Uma reflexão: Se pudessemos estar num ambiente onde os estímulos de enfrentamento das situações nos fosse apresentados como um objetivo à ser superado, possivelmente seríamos mais corajosos, destemidos e quem sabe até mais auto-confiantes, é isso? Abs,
Olá Felipe!
O texto da primeira Lição está bastante claro. Dá para notar a pertinência dos dois argumentos: a forte influência da infância desenhando a vida futura e a força desconhecida do inconsciente, movendo o indivíduo – independente de sua vontade. O desconhecimento do sujeito sobre essa força inconsciente a movê-lo, essa impotência (infância), o descontrole sobre suas reações, até que o sujeito, em se tornando adulto, consegue entender-se, consegue o auto-domínio, supera a impotência e sai da condição de vítima.
Será que entendi mesmo?
Abraço,
Malu
Professor, particularmente eu pude nesta primeira lição perceber que Adler é um homem que buscou em Platão o mundo das ideias hipoteticamente. Ele afirma que as ideias influenciam o mundo; e, quando ele fala dos mundos refere-se ao pensamento aristotélico, pois, o grande discípulo de Platão afirma que o homem precisa sair da caverna e viver os sentidos como um todo, não será através das sobras que construiremos algo. O homem precisa sentir toda plenitude e, Aristóteles diz que o homem precisa do doxa para centralizar uma ideia sequencial. Sendo assim, a evolução do Adler encontra-se num paradoxo entre o real e o imaginário, enfim, percebo nele uma convicção de valores do qual Freud por mais ambíguo não conseguiu ir além. O Alfred Adler pode racionalizar o homem em seu universo utópico.
Obrigado,
Sérgio Gaiafi
Quero receber mais sobre esse curso
Olá Raquel,
Uma das formas de compreendermos, de começarmos a compreender Adler, é ver nela uma posição de um extrovertido. A extroversão coloca forte ênfase nas influências exteriores e um indivíduo extrovertido pode fazer grandes esforços para ser aceito. Assim, é comum que uma pessoa extrovertida faça faculdade porque é a faculdade mais renomada ou porque dá mais status. Ou seja, a pessoa pensa mais no que os outros vão pensar (extroversão) do que no que ela pensa (introversão).
De todo modo, é fácil de observar como o meio acaba influenciando todos os indivíduos. Um meio mais positivo e estimulante ajuda o indivíduo a ter uma visão mais otimista da vida e um meio mais hostil e ameaçador ajuda o indivíduo a olhar o mundo de forma negativa e pessimista. (Adler fala isso neste primeiro capítulo).
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe, agradeço por retornar. Obrigada! aos poucos vou incorporando a ideia, sabemos que a psicologia é uma área muito interessante. Você faz um trabalho muito bacana. Abs,
Raquel!
Obrigado!
Estaremos sempre com novidades, sobre este Curso e sobre outros temas!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Malu!
Sim sim! Exatamente!
Em breve veremos com mais detalhes esta questão do inconsciente para Adler, vinculando-o ao conceito de complexo de inferioridade.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Sérgio!
Entendo a sua analogia com a filosofia antiga, mas creio que não se faz necessário ir tão longe. Em breve, teremos mais informação para dialogar sobre o Adler que, como digo, é infelizmente pouco debatido ainda (em língua portuguesa).
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Denise!
É só acompanhar o site e você verá as novas Lições, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
olá!
Felipe de sousa, iniciei o curso hoje e estou encantada com sua iniciativa, parabéns! por poder proporcionar mais conhecimentos aos interessados.
Obrigada!
continuarei estudando, abraço!
Olá Derivan!
Obrigado!
Fico muito feliz que esteja gostando!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Como se inscrever para fazer um curso grátis. Pois não consigo.
Olá Francisa,
Não é preciso realizar inscrição, ok?