É fato que o pensamento é invisível. Não podemos vê-lo ou tocá-lo. Por esta dificuldade, a psicologia teve que criar e elaborar formas de estudo: a introspecção de Wundt, a associação livre de Freud, o teste de associação de palavras de Jung, o modelo cognitivo na terapia cognitiva
Olá amigos!
Acabo de comprar novos móveis para o meu escritório e, ao arrumar todos os fios e cabos, pensei no porquê de ainda não terem inventado um sistema com menos fios. E foi engraçado porque no mesmo dia, vi um documentário que mostrava que isto vai acontecer em breve, pois já estão inventando uma tecnologia que permite enviar a energia elétrica pelo ar!
Esta ideia vem do Tesla, que foi um dos grandes pensadores responsáveis pelo modo como a energia elétrica é transportada hoje, das centrais elétricas para as nossas casas e ruas. Mas na mesma época, ainda no final do século XIX, Tesla observou o fenômeno dos relâmpagos e percebeu que um relâmpago nada mais é do que a transmissão de energia elétrica pelo ar. Se é possível para a natureza transmitir a energia pelo ar, também é possível para nós. Só que este pensamento teve que ficar aguardando um século para que fosse realizado.
Estou citando este exemplo para mostrar como pensamento humano é incrível.
A dificuldade para a psicologia, entretanto, sempre foi como estudar o pensamento, sendo que não é possível observá-lo diretamente. Nesse sentido, é fácil de ver como a história da psicologia pode ser contada pelo modo como os pesquisadores tentaram lidar com este problema.
Os primeiros pesquisadores, da escola de Wundt, procuraram utilizar o método da introspecção que, em resumo, consistia no treinamento de indivíduos para serem sujeitos experimentais e para que conseguissem descrever o que se passava em suas mentes.
A psicologia comportamental, de Watson e posteriormente de Skinner, viu as falhas neste método e adotou um outro procedimento para estudar o homem. Ao invés de estudar os processos internos (pensamentos, sentimentos, sensações, memória, etc – sempre encobertos, quer dizer, escondidos do observador) eles decidiram centrar os seus estudos no comportamento, dai comportamentalismo ou behaviorismo, behavior é comportamento, em inglês. O comportamento é observável, pode ser filmado, medido, descrito, contado. Os pensamentos não.
Mas como não podia deixar de ser para uma teoria que quer ser completa, Skinner abordou o problema do pensamento através do conceito de comportamento verbal encoberto.
Nos estudos psicanalíticos, o problema do pensamento que se esconde (inconsciente) foi solucionado por um expediente genial de Freud: a técnica da associação livre. Depois de utilizar a hipnose e encontrar nela dificuldades inerentes, éticas e técnicas, Freud criar o procedimento segundo o qual ele deixa o paciente à vontade para dizer tudo o que lhe surgia. No Interpretação dos Sonhos, que estudamos neste Curso Completo, ele escreve:
… “o êxito da psicanálise depende de ele [o paciente] notar e relatar o que quer que lhe venha à cabeça, e de não cair no erro, por exemplo, de suprimir uma ideia por parecer-lhe sem importância ou irrelevante, ou por lhe parecer destituída de sentido. Ele deve adotar uma atitude inteiramente imparcial perante o que lhe ocorrer, pois é precisamente sua atitude crítica que é responsável por ele não conseguir, no curso habitual das coisas, chegar ao desejado deslindamento de seu sonho, ou de sua ideia obsessiva, ou seja lá o que for” (FREUD, 2001, p. 104).
Ao mesmo tempo em que Freud começava a divulgar suas pesquisas, Jung demonstrava experimentalmente o funcionamento da associação de ideias com o teste de associação de palavras. O teste era simples: em uma lista de 100, 200 palavras a pessoa tinha que associar a primeira palavra que viesse à sua mente depois que o pesquisador dissesse a palavra-estímulo. Então o pesquisador dizia mãe e a pessoa respondia com a primeira palavra que lhe viesse, o pesquisador dizia piscina e a pessoa respondia com a primeira palavra que lhe vinha e assim por diante.
Jung notou que as palavras que era utilizadas, o tempo de reação e o modo de reagir não são idênticos para as 100 ou 200 palavras do teste. Em algumas destas palavras, o pesquisador podia notar o que chamou de complexo de tonalidade afetiva, em resumo, um afeto ligado a uma palavra ou um grupo de palavras. Por exemplo, se uma mocinha tinha acabado de dar o seu primeiro beijo em uma praça, ela ia demorar para responder quando a palavra-estímulo fosse praça ou beijo, pois estas palavras iriam ativar o seu complexo.
E, depois de algumas décadas marcadas pela psicologia comportamental, vimos ressurgir a importância do pensamento na psicologia cognitiva. A palavra cognição vem do latim cognitìo e significa literalmente ato de conhecer que, é claro, tem profunda relação com o pensamento. Para a palavra cognitiva, na psicologia, podemos falar tanto da Teoria Cognitiva de Piaget como da Psicologia Cognitiva de Aaron Beck.
Para a última, os transtornos mentais que o psicólogo clínico e psiquiatra encontram no seu dia-a-dia se devem à falhas, erros, equívocos no modo de estruturar a cognição, a partir do modelo cognitivo. A ideia central, portanto, é de que são as crenças e os pensamentos que provocam e mantém os sentimentos e sensações desagradáveis em uma doença mental, que, por sua vez, podem implicar em comportamentos desfuncionais. Com a terapia da psicologia cognitiva, o sujeito pode ir, aos poucos, alterando as suas crenças e pensamentos centrais e, assim, passar a aliviar os seus sofrimentos e dificuldades comportamentais.
Conclusão
É fato que o pensamento é invisível. Não podemos vê-lo ou tocá-lo. Por esta dificuldade, a psicologia teve que criar e elaborar formas de estudo: a introspecção de Wundt, a associação livre de Freud, o teste de associação de palavras de Jung, o modelo cognitivo na terapia cognitiva – apenas para citar algumas soluções. Apesar de ser invisível, qualquer observador atento aos seus próprios pensamentos pode notar como eles influenciam o modo como nós vemos a vida.
Em uma fase de nossa vida, podemos ter e manter pensamentos equilibrados, positivos, belos, amorosos. Em outra fase, podemos pensar o contrário disso. E, portanto, é simples de notar como os nossos pensamentos influenciam no modo como vivemos.
Um outro ponto fundamental é que o pensamento parece ter a qualidade de ser como uma entidade viva, com uma força para realizar ou tentar realizar a ideia de origem. Em outras palavras, se eu começo a pensar que tenho capacidade e começo a pensar nisso frequentemente e com vontade, parece que eu crio a capacidade. Agora, se eu penso que não sou capaz, este pensamento igualmente parece ter a força de me fazer incapaz.
É como diz Henry Ford: “Se você pensa que pode ou se você pensa que não pode, de qualquer forma você está certo”.
Por isso, de uma maneira ou de outra, a psicologia clínica tem como finalidade a alteração no modo de pensar. Desde o Wo es was soll Ich werden do Freud até a mudança no modelo cognitivo da psicologia cognitiva.
Olá, Felipe! É verdade que nosso pensamento interfere em nosso comportamento. Isso nos remete a memória, lembranças. E como fazer para nós trocarmos nossas lembranças negativas por lembranças positivas. Principalmente quando ouvimos uma música. Ela vai bater no cerne dos nossos dilemas. Vivo isso demais. Nós não só temos lembranças ruins, temos lembranças boas. Mas nós só lembramos das ruins por quê? Obrigada!
Felipe, como sempre – um bom tema. Já estou dividindo com amigos. Excelente!
[…] Em outras palavras, se eu começo a pensar que tenho capacidade e começo a pensar nisso frequentemente e com vontade, parece que eu crio a capacidade. Agora, se eu penso que não sou capaz, este pensamento igualmente parece ter a força de me fazer incapaz.
Olá Zípora!
A memória é quase sempre criada por associação, ou seja, juntamos dois elementos, por exemplo, uma música e uma informação, uma imagem (o rosto de alguém) e seu nome, etc.
Para desconstruir uma memória negativa o processo é conhecido como dessensibilização progressiva. Fazemos então o inverso: retiramos a associação do elemento (música) com a informação (sentimento). Mas é um processo que leva um tempo, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Raquel!
Obrigado por compartilhar!
Como diz o Prof. Henrique José de Souza: “Quem semeia um pensamento colherá um fato; semeia um fato e terá um hábito; semeia um hábito e formará um caráter; semeia um caráter e obterá um destino”.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe. Mais um excelente texto. Obrigado por compartilhar conosco, um pouco do seu conhecimento. Que Deus continue cobrindo de bênçãos, você e os seus queridos.
Olá Wélino!
Obrigado!
Comentários como os seus nos motivam a continuar!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá, Filipe de Souza,
sou fâ dos seus artigos e tenho o seu site como o meu preferido, gosto muito dos artigos que tu publicas, e com este tema Formas de pensamento para estudar o pensamento na Psicologia, eu tenho uma pergunta é possivel com a nossa forma de pensar atrair um sentimento… (é que ha uma pessoa sempre disse que um dia eu poderei gostar dele do mesmo jeito que ele gosta de mim, e de uns tempo pra cá eu estou mesmo a gostar dele, gostaria que tu me explica-se este fenomeno do querer é poder se funciona mesmo, porque eu antes gostava dele como amigo e agora estou a gostar dele de umjeito diferente não apenas como amigo).
um abraço, e muito obrigada
á por favor me respode para poder entender melhor sobre o tema…
Oi, Felipe!
Eu e minha turma de Psicologia estamos estudando sobre pensamento!
Ótimo texto como sempre!
Deus te abençoe!
Abraços
Gosto muito de seus textos, sempre imparciais…Me anima em ver um colega de profissão abordar temas tão complexos de maneira clara para os leigos, só assim para esclarecer q a Psicologia é uma área séria, que demanda muita pesquisa.
Olá Anabela,
Seria necessário fazer uma análise completa para entendermos com segurança o que aconteceu, ok?
Mas em princípio, não precisaríamos de nenhuma explicação mística ou metafísica. Quando a pessoa começou a falar contigo, a comunicação se tornou um evento visível para ti, ou seja, um estímulo que você pode perceber. Estes estímulos externos acabaram transformando o seu sentimento inicial de desinteresse para interessada e – no processo como um todo – com certeza uma série de outros fatores tiveram influência.
Mas sim, um pensamento (próprio) gera um sentimento, uma sensação. Se eu paro e penso que o mundo é lindo e um lugar maravilhoso para viver, terei um tipo de sentimento. Se eu paro e penso que o mundo é um lugar hostil, terei outro tipo de sentimento.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Stephannie!
Obrigado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Flávia!
Fico muito feliz que esteja gostando dos textos!
Eu sempre gostei das teorias. Nesse sentido, ter ido para a área acadêmica (também sou pesquisador no doutorado) sempre foi um desejo, desde o início da graduação. E acaba sendo uma decorrência, gosto de estudar e gosto de compartilhar as ideias. Como dizia Joyce, o pensador deve pensar independentemente para onde os pensamentos possam ir…
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe!
Eu acho muito incômoda essa ‘fiarada’ próxima ao computador e tv – a ciência está sempre a caminhar, pois o pensamento é o que nos move, no sentido de construir algo, retirando daqui a pouco os fios dos nossos caminhos.
Como a mente precisa pensar, não tem como não ter pensamentos, o melhor a fazer é aprender a conduzi-los de forma produtiva e desconstruir os pensamentos que ficaram ‘engasgados’ dentro de nós, nos adoecendo, com um profissional do comportamento.
Obrigada por compartilhar um texto tão útil e esclarecedor.
Um abraço,
Malu
Olá Malu!
Tomara que em breve este tanto de fios se torne algo do passado, não é? rsrs
Eu já li uma vez que temos mais de 60.000 pensamentos por dia (imagine!). Não sei como contaram isso, mas me parece que está próximo da realidade, já que não paramos de pensar. Portanto, o melhor é fazer como você disse: ir aprendendo a controlar este fluxo.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Infinitamente Grata por compartilhar conosco estes conhecimentos, acrescenta muito para a minha formação!!
Boa tarde Felipe! Tudo bem?
Estou adorando seus textos, leio todos!
Só gostaria de te fazer um pedido! Me explicar, como para uma criança de 5 anos, qual a diferença entre psicólogo e psicanalista.
Como é feito o tratamento entre um e outro, como se comportam cada um no consultório?
Quando devemos procurar um ou outro!
*Faço tratamento com pisicóloga e estou melhorando muito!
Sua resposta seria mesmo apenas para meu conhecimento, pois já pesquisei na internet mas, a explicação é de difícil entendimento, já que são usadas palavras ou frases para quem já tem esse conhecimento!
Desde já agradeço! Abraços
Olá Fátima,
Esta distinção é um pouquinho complicada mesmo, rs. Até porque um psicólogo pode utilizar a psicanálise para atender.
Veja os nossos textos:
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2012/10/diferencas-psicologo-psicanalista-psiquiatra.html
e também
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2015/02/psicoterapia-conheca-os-8-principais-tipos.html