“A vida amorosa da criança está sempre dirigida para outras pessoas, e não, como diz Freud, para o seu próprio corpo” (Adler). E como a criança é pequena, indefesa e não tem autonomia, sente constantemente a sua inferioridade. O modo como reagirá a essa inferioridade criará um padrão de comportamento pela vida, difícil de ser mudado.
Olá amigos!
Para começarmos este post, que é a 3° Lição do Curso Grátis sobre a Psicologia Individual de Adler, eu sugiro que você observe atentamente uma criança, em sua primeira infância (até os 6 anos) por um bom tempo ou, então, tente se lembrar como era ser criança nesta tão tenra idade. Enquanto eu estava estudando este capítulo do livro de Adler, eu fiquei fazendo este exercício. Me lembrei como achei fantástico conseguir ser alto o suficiente para conseguir acender e apagar as luzes sozinho (o interruptor media por volta de um metro).
Se você tem crianças em casa, perto de ti, ou se você consegue se lembrar de como era ser uma criança, se colocar na pele de uma, você não terá dificuldade para entender o modo como Adler concebe a relação da criança com a sociedade, porque as suas concepções são empíricas, quer dizer, baseadas na realidade, com apenas algumas interpretações finais.
Se você consegue se imaginar pequeno, bem pequeno, você vai conseguir ver que nesta época você não conseguia levantar muito peso, não conseguia fazer sua própria comida, nem conseguia ir a pé até longas distâncias ou se ir de carro, moto, ônibus. Um jardim era tão grande quanto uma floresta, o mundo era muito maior e era cercado de gigantes (adultos) que podiam te ajudar, mas nem sempre.
O pai ou a mãe – ou quem quer que fosse maior e estava ali para cuidar de você – não poderia atender a todos os seus pedidos, pelos mais variados motivos. Segundo os psicólogos infantis, a palavra que as crianças mais escutam é “não”.
Bem, se você está acompanhando até aqui terá concordado comigo que qualquer criança terá sentido diversas vezes a sua dependência e falta de autonomia. Muitas pessoas esquecem destas fases, já que a memória pode começar a ficar mais nítida e mais clara quando se entra na escola. Na segunda infância, a criança possui mais capacidade, entretanto, ainda está limitada por regras e ordens das pessoas que devem cuidar dela.
Para Adler, os sentimentos da infância tem grande impacto na vida posterior e, dependendo do modo como a criança reage ao seu meio e do modo como o meio cuida (ou não cuida) da criança, o destino dela estará lançado.
Em síntese, Adler diz existir duas possibilidades de desenvolvimento opostas: “Algumas crianças se desenvolvem no sentido da aquisição de poder e de uma técnica de coragem, do que resulta o se imporem à atenção, ao passo que outras parecem prevalecer-se de sua própria fraqueza, tentando mostrá-la dos modos mais variados” (ADLER, 1961, p. 45).
Em outras palavras, em resposta ao meio que a circunda, e à condição de um ser frágil e dependente, Adler interpreta que a criança ou vai tentar se impor ou vai se retrair. Se conseguir se impor, à medida que cresce, poderá se adaptar e ter uma vida normal. Se for pela retração, poderá se isolar e se colocar na posição de vítima, demandando sempre mais e mais atenção e cuidado e, mesmo que seja já adulta, terá uma atitude infantil perante a vida, como se a vida lhe devesse um favor e todas as pessoas tivessem que agir de maneira benévola como se fosse um ato dirigido a um bebe.
Adler também menciona que o meio pode agir de um dos seguintes modos:
1) Não oferecer uma quantidade suficiente de afeição
2) Oferecer afeição em demasia – o que cria uma pessoa mimada
3) Oferecer condições por demais rígidas e severas
4) Oferecer tantas facilidades que a criança (e a pessoa) nunca são preparadas de verdade para os obstáculos da vida
Embora o autor divida as possibilidades das condições do meio ambiente, as respostas do indivíduo, desde pequeno, a tais condições poderá ser muito variada. Assim, uma criança pode reagir a um meio com pouca afeição sendo uma criança modelo e perfeitamente educada ou então agir com total desrespeito para chamar a atenção. Um meio hostil pode gerar uma pessoa forte ou fraca, assim como um meio severo pode criar um medroso ou um destemido. Segundo Adler: “Tudo se pode tornar um meio para atingir um fim, uma vez que esteja fixado o padrão da atividade psíquica” (ADLER, 1961, p. 50).
E, portanto, ao contrário de Freud que defendia que o amor (a sexualidade) de uma criança era autoerótica – voltada para si mesma – Adler defende o ponto de vista segundo o qual o amor da criança é desde os dois anos sempre voltada para uma outra pessoa: “A vida amorosa da criança está sempre dirigida para outras pessoas, e não, como diz Freud, para o seu próprio corpo” (ADLER, 1961, p. 52).
A conclusão que o criador da Psicologia Individual chega neste final de capítulo sobre a criança e a sociedade é a seguinte: “A conclusão essencial de nosso estudo é o conhecimento da necessidade de tratar o homem como ser social. Uma vez aprendida esta ideia, adquirimos um importante elemento para a compreensão do procedimento humano” (ADLER, 1961, p. 53).
Conclusão
Em minha opinião, este capítulo do A Ciência da Natureza Humana de Adler, intitulado “A Criança e a Sociedade” deixa em aberto uma série de questões. Fica claro que o autor defende três importantes argumentos de sua teoria sobre o complexo de inferioridade:
Argumento 1) Toda criança é dependente e para que possa sobreviver e crescer precisa do auxílio de outros seres humanos, em suma, da sociedade
Argumento 2) O meio influencia o comportamento futuro da criança
Argumento 3) A partir da individualidade da criança e da influência do meio, a personalidade é formada e só pode ser modificada com muito esforço e dificuldade
As questões em aberto dizem respeito à esta influência do meio. Afinal, o que autor menciona é que um meio hostil pode criar um indivíduo adaptado assim como um meio permissivo e com extrema liberdade e falta de problemas pode criar um sujeito neurótico e problemático. Porque isto ocorre? Como criar um ambiente favorável para o desenvolvimento saudável de um indivíduo?
Nas próximas Lições, veremos a continuidade dos argumentos de Adler e encontraremos as respostas às estas dúvidas que ficam, por enquanto, em aberto. Na lição seguinte, falaremos sobre percepção, memória, imaginação, fantasia, sonhos, empatia e identificação e hipnotismo e sugestão. E na lição posterior, começaremos a falar diretamente sobre o complexo de inferioridade.
Felipe, esses argumentos refletem a nossa realidade. Considerando as particularidades, penso também que o meio influencia à todos nós. Texto simples e objetivo. Excelente!
Gostei muito deste tema.
Olá, Felipe. Estou acompanhando e adorando o curso de Adler!
Realmente, pouco se é falado sobre ele, assim como Jung, nos livros de história da psicologia. Gostaria de saber se os psicólogos sociais utilizam as teorias da psicologia individual de alguma forma…
Muito bom, Felipe! Gostei bastante!
Estou relembrando algumas coisas que estudei em Estudos psicológicos da educação e aprendendo outras que não vi.
Olá Felipe!
Gostei da abordagem do Adler, de como o meio influencia na vida adulta da criança. A forma como cada criança, com suas características de personalidade, vai absorver essa influência do meio, é que é difícil trabalhar. Pisamos no terreno da educação. Como preservar a individualidade e, ao mesmo tempo, interagir com o meio social de forma harmônica e produtiva? Como vamos criar um sujeito bem adaptado, feliz? Que eu saiba, “ninguém nasce com bula”! rsrsrs
Abraço,
Malu
Tentei mesmo agora partilhar no Facebook, mas estes pqyenos artigos qye aqui lemos.
Depois de redireccionado vi que iria partilhar “cursos Gratis”.
Desisti porque isso de ”cursos Gratis” é que não partilho, mesmo!
Olá Miguel,
Não entendi porque você não gostaria de compartilhar um Curso Gratuito com seus amigos, mas tudo bem.
Fique à vontade para ler e não compartilhar, se quiser.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Raquel!
É interessante parar e pensar um pouco em como esta “criança interior” ainda está reagindo aqui e ali do mesmo modo que na infância, não é mesmo?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Mariangela!
Fico muito feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá João Marcos,
Excelente pergunta! Bem, na produção teórica brasileira creio que isto é pouco provável, pelo fato de que a sua obra não encontra-se em português. Está disponível em alemão e inglês, mas creio que a psicologia social, também, em geral utilize outros autores como base, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Miriam!
É muito bom perceber esta construção do conhecimento, não é mesmo?
Reconhecer o que já conhecemos e conhecer outros aspectos pela primeira vez.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Malu!
Esta é a grande questão que o texto ainda deixa em aberto.
Veremos as soluções do Adler nas próximas lições.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe! Estou adorando ler esse estudo dirigido que produziu. Parabéns pelo excelente trabalho!!!!
Curso o segundo ano de Psicologia, e agora estou tendo teorias da Personalidade. Encontrei este site, quando buscava uma leitura sobre Alfred Adler, um teórico que me chama muita atenção, e estou gostando bastante.
Farei as lições, e tenho interesse no certificado. Como faço para solicitá-lo?
Obrigada, um abraço!
Olá Milene!
Fico muito feliz que esteja gostando!
Você pode solicitar o Certificado aqui – https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/produto/certificado-dos-cursos-gratuitos
Atenciosamente,
Felipe de Souza