Olá amigos!
Lembro como se fosse hoje uma conversa que presenciei quando era criança entre minha tia – que infelizmente faleceu cedo demais – e a minha avó. Minha tia, excessivamente jovem e cheia de sonhos, queria ganhar mais dinheiro, ser bem sucedida, superar a posição social em que se encontrava. Na década de 1980, a situação econômica do Brasil era mais difícil e complicada do que é hoje e ela estava considerando formas de sair daquele círculo e se sobressair.
Minha avó, uma das pessoas mais sábias e amorosas que tive a oportunidade de conhecer, dizia para ela que ela não tinha que pensar em quem tinha mais do que ela e sim pensar em quem tinha menos, muito menos e estava na miséria.
Por vários motivos essa conversa me marcou e frequentemente me lembro das duas dialogando sobre a riqueza e a pobreza. Como qualquer adjetivação, como qualquer qualidade, a riqueza e a pobreza são relativas, ou seja, sabemos se há riqueza ou se há pobreza a partir da comparação de, no mínimo, dois elementos.
Por exemplo, quem ganha 10 salários mínimos é considerado uma pessoa rica?
Poderíamos dizer que sim, se compararmos com quem ganha salário mínimo. Se convertermos os 10 salários mínimos em euros, veremos que 10 salários mínimos aqui no Brasil é menor do que um salário mínimo na Noruega. Se compararmos 10 salários mínimos com quem ganha 300.000 reais por mês, poderemos pensar que não é nada. Por outro lado, quem ganha menos do que 70 reais por mês, e é miserável, pode achar 1 salário mínimo brasileiro uma fortuna…
Enfim, avaliar o que é pouco ou o que é muito depende do ponto de vista e dos elementos levados em conta na comparação.
Há um tempo, publiquei esta imagem no facebook:
Penso que é uma mensagem forte e tem uma conotação de ser abençoado que pode extrapolar um pouco os limites dos objetivos desse texto. Entretanto, a mensagem é na minha opinião importante, pois ela compara o que temos não com quem tem 1 bilhão de dólares, mas sim com quem tem menos, muito menos, assim como a minha avó havia feito algumas décadas atrás.
Eu também li uma matéria recentemente – infelizmente não consegui localizar – que trazia outras informações. Se você tem uma moto de 5 mil reais, você está entre os 10% mais ricos do mundo. Se você tem uma boa casa, você está entre os 1% mais ricos do mundo. O que me impressionou nesta estatística é que o que é pensado como pouco, digamos pela classe média, seria avaliado como muito, em comparação com quem tem muito menos ainda.
Na verdade, este texto não tem a ver com a psicologia e com a política, dizendo de uma forma de política partidária e tudo o mais. É mais um texto de reflexão sobre o mundo que nos cerca.
Menos sofrimento
Evidentemente, não há problema de querer e conseguir boas coisas para si e para os familiares e amigos. Porém, talvez possamos ampliar os nossos horizontes e refletir sobre o que está ao nosso alcance para ajudar, com tempo ou recursos.
Bem, cada um pode, é claro, escolher uma instituição para ajudar ou ajudar diretamente alguma ONG ou criar uma ONG. Eu vi a propaganda do MSF – Médicos sem Fronteiras e a música e o vídeo me tocaram bastante, porque me fez lembrar a minha infância, com REM, e também a época em que minha tia faleceu.
Quando digo pouco, é realmente pouco. Segundo o site do MSF, com apenas 30 reais é possível tratar 2 crianças desnutridas por mês; com 60 reais uma pessoa com HIV consegue receber os medicamentos que vão prolongar sua vida; com 84 reais conseguimos tratar 254 pessoas com cólera por mês; com 120 reais 1980 pessoas são vacinadas contra a meningite e assim por diante…
Se quiser saber mais sobre o MSF, clique aqui – Médicos sem fronteiras
Outra instituição que conheci recentemente foi a Action Aid, que possibilita ao doador acompanhar de perto o desenvolvimento da criança que é apadrinhada e da comunidade carente em que ela vive, através de fotos e mensagens por carta enviadas por ela. Veja o vídeo:
Se quiser saber mais sobre a Action Aid, clique aqui.
Conclusão
Quando nós trabalhamos com psicologia clínica, em consultório particular, é mais comum encontrar pacientes com certa condição econômica e social. Embora o sofrimento seja sofrimento independente da conta bancária, às vezes o problema que uma classe privilegiada pensa ser um problema é simplesmente a falta de um luxo qualquer como o Iphone ter descarregado ou a TV a cabo estar fora do ar.
Veja o vídeo
Por isso acho importante levar em conta o sofrimento que é de outra ordem, como não ter água potável ou o mínimo de comida suficiente que seria considerado digno para um ser humano. E por isso acho importante nos perguntarmos “o que é ser rico hoje em dia?”
Será que é como a excelente definição de status que diz “que satus é comprar coisas que você não quer, com o dinheiro que você não tem, a fim de mostrar para gente que você não gosta, uma pessoa que você não é”?
Não sei. Só acho que é necessário invertermos um pouco o olhar e, ao invés de enxergar o que ainda é preciso adquirir, enxergar também o contexto mais amplo. Apesar de vivermos em um período histórico de imensa produção de riquezas, não faz sentido nenhum uma pessoa passar fome e viver abaixo da linha da pobreza (que é viver com menos de 1 dólar ou 2,20 reais por dia), assim como não faz sentido também um animal passar fome…
E para você? O que é ser rico hoje em dia?
Muito boa sua colocação.
– Agora estou realmente me sentindo rico.
Olá Maicon!
Fico feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito bom. Vou apadrinhar uma criança, pois graças a Deus, estou bem de saúde.
Olá Vilma!
Parabéns!
É uma atitude muito nobre da sua parte!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Parabens por essa visao de vida tao consciente
Olá Sheila!
Obrigado por comentar, querida!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Parabéns pelo texto. Fiquei emocionada lendo as suas palavras. Penso em ajudar algumas instituições mas tenho receio que, diante de tamanha corrupção no Brasil, as contribuições sejam desviadas ou coisa parecida. De qualquer forma, esse programa de adoção de uma criança me pareceu interessante, vou pesquisar mas sobre ela. Parabéns pela reflexão! Adoro todos seus textos, me fazem muito bem e tenho certeza que a outras pessoas também! :)
Olá Alana,
Obrigado! Fico muito feliz com a sua avaliação!
Então, isto infelizmente acontece muito no Brasil. O jeito é encontrarmos formas de superar este tipo de desconfiança, sendo contribuindo – com o tempo – para uma instituição em nossa própria cidade ou então encontrando estas grandes organizações (que são auditadas e portanto confiáveis), ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi, Felipe! Acabei de fazer minha primeira contribuição para o Médico sem Fronteiras. Tornei-me doadora mensal. Estou feliz… Como somos afortunados! E, de verdade, há tempos venho refletindo que não preciso mesmo de dez bolsas para trabalhar… e estou colocando em prática o consumo consciente. O que isso tem a ver com o texto? Tudo!!! O suficiente me basta, mas ainda acho que tenho muito. Não preciso de três bolsas pretas, uma é o suficiente. As outras? Doação. Se compro um calçado novo, outro mais antigo e em bom estado vai para doação. É incrível a sensação de felicidade de ver o armário vazio de coisas que estavam paradas e cheio de coisas que efetivamente uso no dia a dia. Sinto-me rica assim e feliz também por ajudar quem precisa de uma roupa. E feliz também por não acumular objetos de que não necessito, e ter o que é usável e suficiente. Gostaria que explorasse, se fosse possível, mais esse tema. Dinheiro é um assunto interessante e mexe com as pessoas. Como é bom saber que podemos fazer um pouco por quem precisa muito.
Olá Ana Emilia!
Muito bacana receber o seu comentário!
Realmente, podemos fazer muito para contribuir com um mundo melhor, ainda que seja “pouco”, como doar uma roupa que não usamos mais…
Falaremos sim, com certeza!
Temos a categoria – Dinheiro e Profissão – embora a ideia seja nesse caso um pouco diferente.
Mas já tenho em mente um texto sobre a questão da reciprocidade, o famoso “é dando que se recebe”.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito bom o seu texto. Também acho que fazer o Bem só faz bem.