Olá amigos!
Continuando o nosso Curso de Contador de Histórias Grátis, na Lição de hoje vamos falar sobre um ponto importantíssimo para contar ou criar uma história que seja cativante para o nosso público: a especificidade. Pessoas que sabem contar histórias sabem como entreter e explicar utilizando detalhes que são fundamentais para a narrativa. De outro modo, tudo fica vago, abstrato e desinteressante.
Vamos imaginar juntos uma cena cotidiana na qual alguém está nos contando algo que aconteceu. A pessoa diz: O João não veio trabalhar. Imediatamente surge a questão: Por que ele não veio? A resposta poderia ser: porque ele está doente. E outra pergunta: Qual é a doença ou ele está doente de que? A resposta poderia ser: ele está gripado.
Apenas neste pequeno diálogo, notamos que o narrador não contou o mínimo necessário da notícia. Quer dizer, no nosso cotidiano, ao contarmos algo a alguém estamos trazendo uma narrativa para quem nos ouve – ou lê – e um aspecto fundamental e até primário é falar de forma específica.
Voltando ao pequeno diálogo anterior. Se pessoa já falasse: João não veio trabalhar hoje porque está doente. Pegou uma gripe forte, está com febre mas já foi ao médico e deve retornar em quatro dias.
Dizendo desta forma, estamos sendo específicos, estamos indo direto aos detalhes e até não é necessário para o ouvinte perguntar mais sobre o que está acontecendo. Em qualquer história, temos que fazer o mesmo.
Perguntas básicas como:
– Porque?
– Quando?
– Onde?
– Para que?
– De quem?
– Com quem?
Ajudam-nos a elaborar todas as especificidades necessárias para contar bem uma história.
Por incrível que pareça, até autores renomados e que escrevem para a TV, para filmes ou ficaram consagrados com seus romances podem vir a deixar passar detalhes. São os furos ou buracos que não são propositais e prejudicam no entendimento. No caso da TV, é muito comum vermos este tipo de falha nos finais das novelas. Por ter criado tantos personagens, o autor se perde e não consegue especificar o que aconteceu com cada um.
A importância dos detalhes
Psicologicamente, podemos compreender que qualquer narrativa possui em si elementos de linguagem que nos fazem imaginar ou conceber as cenas de forma concreta. Por serem imagens, quando mais detalhes, melhor e mais fácil será a imaginação.
Imagine o começo de uma história:
“Em um belo lugar, um homem disse para um estranho que não estava se sentindo bem…”
Claro que podemos começar a imaginar a cena, mas fica difícil. É como se tivéssemos que completar o que foi narrado com informações nossas. E embora uma grande parte da imaginação caiba ao receptor, não é este tipo de narrativa que será considerada a melhor prática.
Comecemos de novo:
“Na bela praia de Copacabana, um senhor de estatura baixa e gordo, disse para um sorveteiro que estava com indigestão…”
Do mesmo modo que no outro início, cada um de nós irá imaginar a praia de um jeito (a partir de suas lembranças) e irá criar um rosto e características para o sujeito que está passando mal. Porém, alguns detalhes já foram apresentados e isto facilita em muito.
Para você não ter dúvidas sobre a importância dos detalhes ao contar uma história, chegue para um grande amigo ou amiga sua e diga. Eu me apaixonei!
Quantas e quantas perguntas vão surgir, não é mesmo?
Todas as perguntas listadas anteriormente – quando, onde, por quem, de forma – irão aparecer instantaneamente. Faça o teste e você verá.
Portanto, toda história está nos detalhes específicos que afetam uma pessoa (ou personagem).
O que deve ser específico?
E, para não errarmos de forma alguma nos detalhes específicos, vamos ver 6 pontos que devem ser trabalhados ao contar ou criar uma história:
1) O porquê – a razão específica que leva o personagem a fazer alguma coisa;
2) A especificidade das metáforas, ou seja, elementos que são importantes na narrativa e que trazem a imagem de um outro significado. Por exemplo, o anel no Senhor dos Anéis não é apenas um anel, é uma metáfora, uma imagem para um poder extraordinário que, como esperado, é descrito de forma específica pelo autor.
3) Memórias tem que ser específicas também. Não adianta dizer que um fato lembrou o seu personagem de um fato no passado, indistinto e vago. A lembrança tem que ser clara e específica. Por exemplo, Alberto estava comendo batata-frita, o que o lembrava de quando era pequeno, e sua mãe lhe dizia que deveria comer melhor mas, ao mesmo tempo, preparava só guloseimas, não só aos domingos.
Quer dizer, não adianta dizer que Alberto se lembrava da sua mãe ao comer batata-frita. Novamente, temos que nos perguntar o porquê e o que e ele se recordava.
4) As reações a eventos externos devem também ser específicas. Como, de que forma, o personagem reage ao que lhe acontece?
5) As possibilidades que passam pela mente do personagem quando ele vivencia um novo fato ou tenta descobrir o que está acontecendo também devem ser trazidos para o leitor ou ouvinte. Como dizemos na psicologia cognitiva, para entendermos uma pessoa temos que compreender o modo como ela interpreta o mundo e não o mundo que está disposto para ela. Em outras palavras, quando algo acontece para o personagem – o que ele pensa? O que ele sente? De que forma ele ou ela entende?
6) A forma específica como personagem muda. A mudança é a própria essência de uma narrativa, de uma história. Para entrarmos na história, temos que compreender como o personagem muda, ou seja, o que especificamente acontece para que ele mude seu jeito de ser?
Em suma, temos que criar a história como todos os detalhes necessários para que a narrativa seja coerente, clara e atraente. Uma outra forma de checar se estamos fazendo corretamente é passar a utilizar cada vez mais informações sensoriais.
Por exemplo, poderíamos reelaborar um de nossos exemplos:
“Em um dia frio na praia de Copacabana, com pouquíssimas pessoas na praia e no mar, Antônio, com seus bem vividos quarenta e quatro anos de idade pensou que podia morrer. Desta vez, não seria como das outras vezes em que tinha sido chamado de hipocondríaco pelos médicos de plantão, ele estava com o rosto pálido, com falta de ar e uma profunda náusea que ia do estômago aos intestinos. Vendo um sorveteiro com cara de bom moço a poucos passos, ele diz…”
Note que são os pequenos detalhes que dão contornos para a história e fazem dela muito mais instigante do que dizer “Em um belo local, um homem disse…”
E estes detalhes são detalhes sensoriais, dos 5 sentidos: visão, audição, tato, paladar e olfato.
Como vimos em outras lições, um detalhe mínimo já nos ajuda a construir o personagem, por exemplo, a Chapeuzinho Vermelho.
A partir de agora, observe as histórias que você lê e ouve e perceba como há uma grande diferença entre uma história interessante e uma história desinteressante. O truque, principalmente, está nos detalhes.
Estou admirando e gostando do curso grátis de contador de histórias.