Olá amigos!
Esta é a 5° Lição de nosso Curso de Contação de Histórias Grátis. Na Lição anterior, falamos da importância de passarmos adiante os objetivos, internos e externos, dos personagens e, em especial, do protagonista. E que, para fazê-lo, nós temos que ter em mente a história pregressa sobre os tópicos que vão ser importantes na narrativa.
Por exemplo, se eu vou contar a história de um grande músico, será relevante saber tudo sobre o que foi a música para o protagonista desde o início, com suas relações de amizade e de amor moldadas e unidas à sua paixão verdadeira. Não precisamos criar ou saber tudo a respeito do protagonista, como o seu time de futebol ou os seus programas de TV favoritos. Como o tópico central será a música, a história pregressa vai estar ao redor desta temática também.
Certa vez vi uma pequena biografia do Villa Lobos e a história contava as exigências extremas que tinha sido feitas por seu pai para ele estudar com toda a dedicação. Exemplos singulares ajudam a pintar o quadro: Villa Lobos tinha que falar qual era a nota que um passarinho estava emitindo em sua janela e, se errasse, era punido severamente.
Portanto, ao criar ou contar uma história, tenha consciência dos elementos da história do personagem relacionados à narrativa. Em outras palavras, desenvolva a história pregressa sempre tendo em vista o que vai afetar a própria contação.
As motivações internas do protagonista
Para facilitar, podemos nos perguntar:
– O que aconteceu no passado de nosso personagem que provocou seu medo ou problema?
– Que evento específico teve como consequência a criação de sua motivação / objetivo / habilidade?
Reunindo as duas respostas, teremos já uma pequena biografia que nos ajudará na condução da história a partir do momento que ela começa, ou seja, o presente para o personagem que devemos nos identificar e fazer o público se identificar.
Por exemplo, no filme A Rede Social (fictício ou não) sobre o criador do facebook, Mark Zuckenberg, nós já sabemos desde o início sobre o facebook. Mas não sabemos quem é o personagem.
O garoto inseguro que conversa com uma garota no início do filme é o criador do facebook. Antes de criar, ele tem que enfrentar a dificuldade de se enturmar em Harvard. Ou seja, apesar de brilhante intelectualmente (por ter entrado com nota máxima no vestibular) e sempre conseguir responder as perguntas dos professores, ele simplesmente não se encaixa. Paradoxalmente, ele vai criar a maior rede social do mundo.
Entretanto, que evento específico levou a esta criação? Primeiro, o filme conta o dia em que ele conseguiu invadir os computadores de Harvard e pegar fotos. Com as fotos, ele criou um site simples no qual o visitante podia votar em qual das duas garotas era mais bonita em cada nova página aberta.
Ele demonstra não só uma habilidade brilhante como também a capacidade técnica de criar um site que desperta interesse das pessoas, inclusive chegando ao ponto de fazer sair do ar os servidores da Universidade. E, finalmente, o que é controverso no filme e faz com que a empresa não o tenha endossado: o evento de que Zuckenberg havia roubado a ideia de uma rede social de dois alunos de Harvard que justamente o tinham contratado para a programação.
Temos então o background, o pano de fundo, para a criação do facebook, o tema do filme. Para que a história fosse contada, tínhamos que responder às duas perguntas anteriores:
– Qual era o medo ou problema do protagonista? Vemos que é a sua incapacidade de criar relações amorosas e, ao mesmo tempo, a sua capacidade de passar por cima da ética.
– Que evento específico teve como consequência a criação de sua motivação? Vemos que os eventos foram a sua habilidade técnica e o engodo dos alunos que o tinham contratado para a programação. Estes dois eventos acabam gerando nele o grande objetivo, a grande motivação de criar uma rede social. Com a ajuda de outras pessoas, entre elas o criador do Napster, Sean Parker, ele obtém financiamento e expande a ideia inicial na maior rede social do mundo, com mais de 1 bilhão de pessoas cadastradas.
Este é evidentemente um exemplo que pode não ter tanta relação com a realidade (ou ter, não saberemos ao certo). Porém, o que quis apontar é que para contar a história do facebook, temos que contar a história do seu criador e os fatores que o levaram a criar o facebook. Para que a história gere curiosidade, temos que conhecer as motivações internas que estavam presente.
Dizer que foi apenas para criar um negócio e ganhar dinheiro com isso, não prenderia a atenção de ninguém, não é mesmo? Então os eventos específicos (traição e roubo de uma ideia) e os problemas e medos do personagem (ser nerd e não se encaixar) são muito mais interessantes e ajudam na condução da narrativa.
Conclusão
Uma forma de questionar as motivações internas é entender o porquê e o para quê dos comportamentos do personagem. Como vimos no exemplo do facebook, ao nos questionarmos sobre:
– Por que Mark Zuckenberg criou o facebook?
– Para que ele o criou?
Com as respostas nós podemos chegar às motivações internas. Ele pode ter criado para superar as suas dificuldades de relacionamento (o filme começa com um encontro com uma garota que dá errado), ou seja, a sua finalidade poderia ser superar o seu próprio bloqueio e ajudar as outras pessoas a fazê-lo.
Se você pegar alguns filmes e alguns romances de qualidade verá que a história é tecida a partir destas perguntas. Se não for um filme bom isto pode ficar escondido ou ser uma motivação tão sem sentido que não prenderá a atenção de ninguém.
Portanto, analise as histórias que você encontra sempre e procure encontrar os objetivos internos e externos bem como as motivações mais profundas e que afetam diretamente o que acontece. E quando for contar uma história, criada ou não por você, considere de ter claro em sua mente as questões que abordamos nessa lição para que você consiga criar a curiosidade em que está té ouvindo ou lendo e, igualmente, manter a atenção até o final.