Olá amigos!
Uma abordagem da psicologia que é pouco conhecida aqui no Brasil é a chamada Psicologia Positiva. Desenvolvida no final da década de 1990 e especialmente no começo deste século, a psicologia positiva apresenta um novo olhar sobre a psique. Ao invés de focar a atenção nos problemas, dificuldades e sintomas, ela procura estudar, pesquisar e motivar as virtudes, as forças do caráter, os talentos e as habilidades.
A partir de hoje, vamos começar a estudar a fundo a Psicologia Positiva através do livro de Christopher Peterson e Martin Seligman, Strenghts and Virtues, A Handbook and Classification, em tradução livre, Forças e Virtudes, Um Manual e uma Classificação.
Até onde sei, o livro – que é fantástico – ainda não foi traduzido para o português. Portanto, teremos posts totalmente inéditos em nossa língua sobre esta nova abordagem psicológica.
Psicologia Positiva: Um Novo Olhar
Na história da psicologia, é comum vermos a ideia de que existem 3 forças, 3 grandes abordagens principais: a psicanálise, o behaviorismo e o humanismo. Evidente que existem outras abordagens, mas esta ideia faz sentido se pensarmos nas epistemologias, ou seja, nos principais conceitos de cada abordagem e como, a partir delas, outras teorias foram se desenvolvendo.
Podemos pensar que a Psicologia Positiva é herdeira da tradição humanista, porém, com modificações suficientes e que nos fazem pensar como sendo, realmente, um novo olhar para a psicologia.
A psicologia humanista já tinha apresentado esta crítica às outras abordagens de que o foco estava sendo exclusivamente no negativo, nas doenças mentais e emocionais, nos problemas de comportamento ao invés de investigar o que o ser humano tem de positivo. Como sabemos, a ideia de Recursos Humanos (nas empresas) surge a partir do desdobramento da psicologia humanista, quer dizer, é uma consequência pelo fato de esta considerar que o homem possui recursos positivos e não só doenças e problemas.
Mas o que difere a psicologia humanista da atual psicologia positiva?
Segundo Peterson e Seligman: “O que distingue a psicologia positiva da psicologia humanista dos anos 1960 e 1970 e do movimento de pensamento positivo é a sua confiança na pesquisa empírica para entender as pessoas e as vidas que elas levam”.
Devemos frisar, então, que a diferença reside na pesquisa empírica. Como sabemos, a psicologia humanista não acreditava muito na possibilidade de utilizar o método científico para estudar o ser humano. Tanto é que a sua epistemologia era totalmente outra.
Os psicólogos positivos, por outro lado, trazem de volta os principais postulados da psicologia humanista mas, igualmente, trazem as pesquisas empíricas.
Um DSM-IV da Saúde Mental
O DSM-IV, para quem não sabe, é um grande Manual de Diagnóstico de doenças mentais. Foi criado há mais de 50 anos, tendo por objetivo clarificar as nomenclaturas das doenças mentais. Inicialmente utilizado pela psiquiatria, para que os nomes das doenças fossem idênticos independente do país, o Manual ficou muito popular e passou a ser utilizado por algumas abordagens da psicologia e também serve de referência para a indústria farmacêutica e, inclusive, para seguradoras e planos de saúde.
Na opinião da psicologia positiva, o DSM-IV (e agora está sendo lançado o DSM-V) foi muito útil nessa classificação. Porém, toda a perspetiva classificatória reside nas doenças mentais. Ou seja, porque ainda não foi criado um DSM-IV da Saúde Mental? Porque a saúde mental, a felicidade, as diversas virtudes não estão sendo estudadas, classificadas, uniformizadas?
Será que o único objetivo de psicólogos e psiquiatras deveria ser tratar as doenças mentais e ter como meta que o paciente tenha menos sintomas ou sintomas menos graves ou, ainda, não ter doença alguma? Em outras palavras, será o objetivo das terapias (psicoterapias e terapias medicamentosas) fazer com que paciente seja um paciente sem-doenças?
Entendem? Não há um critério positivo. Apenas haveria uma tentativa de retirar doenças, como se a saúde fosse tão somente ausência de doenças.
Então, no livro Forças e Virtudes, os autores tem por objetivo criar “Um Manual da Sanidade”, na medida em que não existe um DSM-IV a respeito da qualidade vida, nem um CID-10 (Manual médico) para a saúde.
A ideia por trás de um Manual da Sanidade é criar, assim como aconteceu com o DSM-IV, uma uniformidade independente de país ou região para as virtudes, forças de caráter, talentos e habilidades.
Por exemplo, se hoje um indivíduo é classificado como esquizofrênico na Inglaterra (e tem o correspondente número no DSM-IV), se ele for levado para tratamento nos Estados Unidos ou no Brasil, os médicos e psicólogos saberão imediatamente os seus principais sintomas, que são diferentes do transtorno bipolar ou das alucinações advindas do abuso de substâncias como álcool ou drogas.
Do mesmo modo, é um objetivo dos psicólogos positivos criar uma classificação universal de tudo o que circunda a qualidade de vida, ou seja, criar “um vocabulário mensurável de traços positivos”.
Enfim, o objetivo é criar uma classificação uniforme mas que também seja mensurável, ou seja, possível de medir e quantificar em pesquisas empíricas.
Diferença entre virtudes e forças de caráter
Nos próximos textos, vamos estudar 24 forças do caráter a partir da classificação inicial de Seligman e Peterson. Mas, antes de estudarmos cada uma delas, é importante ter claro a diferença entre virtudes e forças de caráter.
Segundo os autores: “Virtudes são as características centrais valorizadas pelos filósofos e pensadores religiosos: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, temperança e transcendência” (…) Forças do caráter são os ingredientes psicológicos – processos ou mecanismos – que definem as virtudes. (…) Por exemplo, a virtude da sabedoria pode ser atingida através de forças tais como criatividade, curiosidade, amor pela aprendizagem, ser mente aberta, e o que nós chamamos perspectiva – ter uma visão ampla sobre a vida”.
Além da diferença entre virtudes e forças de caráter, é importante conhecer também o conceito de tema situacional: “Temas situacionais são os hábitos específicos que levam as pessoas a manifestar as forças do caráter em uma dada situação”.
Por exemplo, uma pessoa pode ser considerada virtuosa por apresentar a virtude da sabedoria. No trabalho, em um tema situacional, ela pode ser curiosa e criativa (forças do caráter) mas em outro tema situacional, como na família, ela pode não ser considerada sábia, por ter uma perspectiva fechada e limitada sobre o que os filhos ou cônjuge devem fazer.
Neste exemplo, temos então:
Virtude – Sabedoria
Forças do Caráter – curiosidade, criatividade, amor pela aprendizagem, ser mente aberta (ter perspectiva)
Temas situacionais – trabalho, família
Nos próximos textos, falaremos em detalhes a respeito de cada uma das 24 forças do caráter, conforme descritas na psicologia positiva. São elas:
24 forças do caráter da Psicologia Positiva
(Virtude – Sabedoria)
1) Criatividade: pensar de forma inovadora e produtiva para conceitualizar e fazer
2) Curiosidade: ter interesse nas experiências, explorar, descobrir
3) Mente-aberta: pensar tendo em perspectiva todos os pontos de vista possíveis
4) Amor à aprendizagem: gostar de aprender novas habilidades e conhecimentos, em atividades formais ou informais
5) Perspectiva: conseguir dar conselhos para as outras pessoas, conseguir olhar o mundo do seu próprio ponto de vista e a partir de outros pontos de vista
(Virtude – Coragem)
6) Bravura: não temer desafios, ameaças, dificuldades ou dor, agir pelas convicções ainda que sejam impopulares
7) Persistência (perseverança): terminar o que começou; persistir em um curso de ação
8) Integridade: se apresentar de um forma genuína, autêntica, ter responsabilidade pelos próprios sentimentos e ações
9) Vitalidade (Energia, Entusiasmo): agir na vida com energia, excitação, se sentir vivo e ativo
(Virtude – Humanidade)
10) Amor: valorizar ter relacionamentos próximos com as outras pessoas, especialmente pessoas próximas
11) Bondade: fazer favores e boas ações para os outros, sem esperar nada em troca
12) Inteligência Social: estar consciente dos motivos e sentimentos das outras pessoas e de si mesmo
(Virtude – Justiça)
13) Cidadania: trabalhar bem e agir bem como membro de um grupo, de uma equipe, ser leal a um grupo
14) Lealdade: tratar as pessoas de acordo com as noções de justiça, lealdade, não deixando que opiniões pessoais e subjetivas possam intervir no julgamento sobre os outros
15) Liderança: encorajar os membros de um grupo na busca de um objetivo comum
(Virtude – Temperança)
16) Perdão: perdoar o erro alheio, dar uma segunda chance
17) Modéstia: não se considerar mais especial ou importante que os outros
18) Prudência: ser cuidadoso sobre as próprias escolhas, ou seja, não fazer coisas que depois serão motivo de arrependimento ou culpa
19) Auto-controle: conseguir controlar o que se sente, pensa ou faz
(Virtude – Transcendência)
20) Apreciação da beleza e da excelência: ter a capacidade de apreciar, de valorizar, de buscar a beleza e a excelência em diversas áreas da vida
21) Gratidão: ser grato pelas colaborações de outras pessoas
22) Esperança: esperar o melhor para o futuro
23) Humor: ter apreço pelo riso e pela alegria, fazer os outros sorrirem
24) Espiritualidade: ter crenças coerente a respeito de propósitos superiores, buscar o sentido da vida e o sentido do universo
Olá, Felipe:
No seu twiter, tem um link para o artigo “Como organizar o conhecimento para falar em público”. O link, no entanto, não está funcionando.
Agradeço,
Márcia Regina Souza
Uma abordagem interessantíssima! Por que não focar em ações positivas para alcançar resultados positivos?
Acompanharei todas as próximas postagens com atenção.
Obrigado, Felipe!
boa tarde amigo, queria que você me tirasse uma duvida, após lê vários livros e pesquisas na internet na área de neurologia e neurociência fiz uma alusão ao que possa ser dado ao ser humano como diferenciação intelectual, que hora ainda não se sabe o porque alguns nascem mais inteligente do que outros ou acima do normal intelectualmente. Bem com as minhas pesquisas sei que em alguns humanos tem-se uma diferencia na massa cerebral, ou seja nos giros e sucos do encéfalo, onde podemos observar por tc que há tamanhos diferentes nos giros e uma concentração maior de lcr nos sucos e que nos casos em que isso acontece o individuo tem maior facilidade de aprendizado e concentração melhor do que aqueles que podemos dizer normal. Não encontrei nenhuma pesquisa ou assimilação nesse sentido então já que você tem uma maior facilidade para encontrar pessoas nessa área poderia tirar minha duvida se realmente pode ser o fato em que pessoas com essas diferenciações podem realmente terem uma maior facilidade de aprender e com isso serem mais inteligente que outras. francisco de assis pereira filho 5 semestre de psicologia
Olá Francisco!
Bem, esta questão da inteligência ter uma base genética, física, cerebral é bastante controversa.
Na verdade, não me preocuparia com isso – especialmente no que você mencionou do tamanho das regiões cerebrais. Isto porque não podemos mudar, alterar, fazer uma cirurgia, não é mesmo?
Entretanto, podemos alterar hábitos e comportamentos que alteram o resultado em testes, provas, aprendizagem em geral. Por exemplo, com alimentação de certos nutrientes, com dedicação e persistência, com uma boa noite de sono, não usando substâncias como álcool e outros drogas.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá André!
Também achei muito interessante esta nova perspectiva!
Em breve, vou continuar a sequência de textos, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Márcia!
Foi um erro meu.
Normalmente salvo as ideias para novos artigos e solicitações dos leitores para novos textos como um rascunho de postagem. Neste caso, ao invés de clicar – Salvar como rascunho – eu publiquei e isto foi notificado automaticamente no twitter.
Mas em breve, escreverei sobre o tema, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Sou estudante de psicologia,preciso de uma orientação a respeito de tema para o famoso (TCC).
Penso em algo que fale sobre idosos ,longevidade. Tenho acompanhando como a população Brasileira esta envelhecendo ,e como estamos despreparados para enfrentar este “fenômeno” que embora real é assustador, pois observo a população sem nenhum preparo para lidar com uma situação real e emergencial.
EX: As famílias estão preparadas para lidar com seus idosos? Como é o dai -a dia destes familiares? L um livro que fala sobre co-dependência ,seria este o caso? deixam de viver para cuidarem dos idosos?
No livro acima citado a autora fala da dependência de drogas diversas e como seus parentes passam a viver a vida destas pessoas,gostaria de fazer um ligação entre esta dependência e os idosos e familiares.
Olá, Felipe, Queria alguma coisa, no que repeita:Como falar em público, pois sou muito tímido. Quero algo na Psicologia que me encoraje na arte de falar, pois recentemente, fui convidado a falar sobre algo…e, mesmo antes da hora H, minhas pernas tremiam e eu não conseguia me controlar; respirava fundo e nada conseguia. Na hora H, ainda bem, dei conta do recado. Meu amigo, quero ser curado, pois isso é uma doença!
Olá Francisco!
No nosso Curso – Como superar a timidez nós temos uma aula inteira sobre esta questão.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Beatriz!
Este é um tema muito interessante!
Eu sugiro como leitura básica o livro de Simone de Beauvoir, A Velhice.
Com certeza, a partir dele você terá diversas respostas e também hipóteses de trabalho, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe,
Estou estudando uma disciplina Psicologia da Educação, que aborda a psicanálise, o behaviorismo, gestalt e o humanismo e bom ver esta abordagem do positivo.
Normalmente todos nós tratamos e focamos o que nos incomoda e as virtudes, são aspectos, penso eu, ‘trabalhados’, percebidos, prontos. Também nos esquecemos de usar as virtudes como ferramentas, como na Neurolinguística, para desbloquear essas impressões.
O que me parece é que o aspecto ou acontecimento negativo impregna nossa psique com uma intensidade bem maior pois adicionamos ao acontecimento toda uma carga emocional.
Gostaria que você comentasse.
Abraços,
Malu Poças
Olá Maria,
Interessantíssimo o seu comentário!
Para muitas pessoas o aspecto negativo de uma situação torna-se mais forte pela ligação afetiva, pelos sentimentos que são fortes e mantém uma dada memória. Acontece que com situações positivas também pode acontecer o mesmo! Basta estarmos conscientes e e trabalharmos o nosso desenvolvimento.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Bom desejo saber sobre o curso de psicanálise. Há também o curso de Psicoterapia?
Boa tarde..
Olá Adriana,
Sim, sobre psicanálise, veja aqui – Melhores Cursos de Psicanálise
Com relação aos cursos de psicoterapia, escreverei em breve sobre, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Em relação às diferentes escolas ou linhas dentro da psicologia, o que dizer da psicologia da saúde? Ela é uma ramificação da psicologia clínica ou as duas divergem uma da outra?
Aguardo esclarecimentos. E, desde já, obrigada.
Olá Lasymilda,
Eu encontrei a seguinte definição sobre Psicologia da Saúde:
“O questionamento sobre Psicologia Hospitalar x Psicologia da Saúde começou com a experiência do doutorado no exterior, onde descobrimos, surpreendidas, que a tão difundida especialização na Psicologia, denominada no Brasil de Hospitalar, é inexistente em outros países. A aproximação ao que seria no Brasil a Psicologia Hospitalar é denominada Psicologia da Saúde em outros países. Entretanto, esses dois conceitos não são equivalentes, em primeiro lugar, pelo próprio significado de tais termos – saúde e hospital. Enquanto saúde se refere a um conceito complexo relativo às funções orgânicas, físicas e mentais (WHO, 2003), hospital diz respeito a uma instituição concreta onde se tratam doentes, internados ou não. Assim, o próprio significado da palavra saúde leva-nos a refletir sobre a prática profissional centrada na intervenção primária, secundária e terciária1 . Já quando nos referimos ao hospital, automaticamente, pensamos em algum tipo de doença já instalada, só sendo possível a intervenção secundária e terciária para prevenir seus efeitos adversos, sejam eles físicos, emocionais ou sociais”.
Veja o artigo completo aqui – http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932004000300007&script=sci_arttext
Atenciosamente,
Felipe de Souza