Olá amigos!
Para quem já está acostumado a acompanhar o nosso site, sabe que eu sempre falo que a psicologia deve ser pensada no plural, como psicologias. E esta forma de conceber a nossa área faz todo sentido se pensarmos que existem diversas teorias para explicar a psique. Psique, em grego, significa alma e esta definição de psicologia como a ciência que estuda a alma foi, para alguns pesquisadores, modificada para a definição da psicologia como o estudo científico do comportamento.
Em outras palavras: Porque as pessoas fazem o que fazem? O que influencia o comportamento? Como podemos estudá-lo de forma objetiva e científica? Qual é a probabilidade (a chance) da emissão de um comportamento?
Bem, apesar de que a psicologia comportamental não é a minha área de especialização, eu estudei com professores excelentes em São João del-Rei e frequentemente estou lendo livros do Skinner, em minha opinião, o maior teórico da psicologia comportamental.
Hoje gostaria de falar sobre um exemplo específico que ele traz no livro Science and Human Behavior, em português Ciência e Comportamento Humano. O exemplo é o comportamento de beber um copo de água.
Porque as pessoas fazem o que fazem?
Imagine que vamos estudar um comportamento simples: o comportamento de beber um copo de água. Para estudar o comportamento humano, na psicologia comportamental ou behaviorismo (behavior significa comportamento em inglês) temos que retirar algumas possibilidades de resposta que damos no senso comum. Digamos que vamos perguntar para alguém que está bebendo água o porque de estar bebendo água. A pessoa pode responder: “Eu estou bebendo água porque estou com vontade” ou “Eu estou bebendo água porque estou com sede”.
Ora, estas duas respostas não respondem de verdade a pergunta.
Na psicologia comportamental, a busca pelas causas do comportamento será diferente. Na verdade, ao invés de falarmos de causas falaremos em variáveis que (podem ou não) influenciar o comportamento X. Temos então dois tipos de variáveis:
– Variável dependente (o próprio comportamento estudado);
– Variáveis independentes (variáveis que podem influenciar na emissão do comportamento).
Para entendermos esta terminologia é simples: o que chamamos dependente é o comportamento ou variável que vai estar em função de outras variáveis, ou seja, vai depender de outras variáveis para acontecer.
No exemplo de beber água, a variável beber água vai acontecer dependendo de outras variáveis como o calor da sala, a temperatura do corpo, a alimentação salgada, etc.
Diz Skinner no Ciência e Comportamento Humano: “Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa variável dependente – o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas variáveis independentes – as causas do comportamento – são as condições externas das quais o comportamento é uma função”.
Como a variável dependente vai se dar em função de uma ou outra variável independente falaremos em psicologia comportamental de análise funcional do comportamento.
A probabilidade da emissão de um comportamento
Voltando ao nosso exemplo, como poderemos saber a probabilidade, a chance, de uma determinada pessoa beber um copo de água? Como podemos estudar as variáveis independentes que vão influenciar?
Bem, podemos fazer um experimento em laboratório e estudar – quantitativamente – a influência do aumento da temperatura na probabilidade de alguém beber água. Ou seja, o pesquisador pode estudar com diversas pessoas ou com uma mesma pessoa em vários momentos a influência de uma variável independente (a temperatura da sala, medida através de um ar condicionado) sobre a variável dependente, o comportamento de beber água.
Alterando a temperatura do ambiente, o pesquisador vai chegar à conclusão de que, quanto maior a temperatura maior a probabilidade de um sujeito experimental beber água.
Este, evidentemente, é um exemplo simples mas serve para demonstrar como é possível estabelecer variáveis independentes e probabilidades estatísticas para o controle, análise e estudo do comportamento dos indivíduos.
Como temos notado já há muitas décadas desde as primeiras elaborações de Skinner, a análise do comportamento vem se mostrando útil para a emissão de comportamentos que são benéficos individual e socialmente.
Por exemplo, na Universidade Federal de São João del-Rei, havia um programa para treinamento comportamental de autistas graves, ou seja, autistas com um grau tão severo da doença que se autoagrediam de forma violenta. Nestes casos extremos de autismo, a autoagressão é tão séria que o indivíduo pode chegar a se matar batendo frequentemente a cabeça na parede.
Ora, utilizando o modelo simples acima (e com as outras elaborações teóricas da psicologia comportamental mais complexas, é claro), os pesquisadores estudavam e interviam no comportamento destes indivíduos autistas graves. Assim, ao invés de analisar um simples comportamento de beber água, eles estudavam a probabilidade de autoagressão, por exemplo.
Como fazer com que eles parassem de se autoagredir? Como fazer para que eles, gradualmente, pudessem sair da clínica e andar normalmente de ônibus? Como fazer para que eles ao invés de se autoagredirem para pedir comida começassem a verbalizar, a dizer o que estavam querendo?
Evidentemente que há um salto de um comportamento simples para comportamentos complexos nos quais uma série de variáveis estariam presentes. Se o comportamento de sair para dar uma volta estava sendo mantido através de sucessivos reforços, poderia intervir uma outra variável como um som ambiente incômodo. Quer dizer, na prática, o comportamento é muito mais fluido, rápido, complexo.
Porém, mesmo em casos tão graves de doenças mentais como o autismo severo é possível estudar o porque de um comportamento existir (em um dado momento), as probabilidades, inclusive com a visualização através de gráficos e estatísticas detalhadas), como alterar o comportamento e como controlá-lo alterando alguma variável específica.
Ou seja, se no exemplo de tomar um copo de água a temperatura é uma variável que aumenta a probabilidade, em outros comportamentos é possível que uma ou duas variáveis independentes sejam fundamentais para que o comportamento seja emitido.
Um exemplo final para terminarmos. Digamos que você precise ler um livro para a escola ou para a faculdade. Mas você não tem tanto interesse na leitura, pois é mais uma obrigação do que um prazer.
Comportamento a ser estudado: ler um livro (variável dependente)
Agora, digamos, que acabe a luz, a energia elétrica, em seu bairro. Você vai ficar sem TV, sem internet, sem computador, sem celular ou tablet (digamos que estejam descarregados).
Retirando todos estes estímulos – apenas através do apagão de energia – o que acontecerá? A probabilidade de ler o livro aumentará, não é mesmo?
Queridos amigos, ficamos por aqui hoje com este exemplo mais prático. Dúvidas, sugestões, críticas e comentários, por favor, escrevam abaixo!
Nossa, Behaviorismo é um assunto que eu adoro. Fico o tempo todo tentando desconstruir comportamentos e saber os motivos por trás das ações. Meu vestibular para a entrada no curso de Psicologia é domingo agora. Continuarei acompanhando seu site durante os próximos anos!
Um abraço!
Felipe parabéns, tenho lido todas as suas postagens,
Muito bom…..
Olá André!
Também gosto muito do behaviorismo!
Boa sorte no vestibular!
Grande Abraço!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Ricardo!
Obrigado!
Fico muito feliz que esteja acompanhando os textos!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Celoi!
Obrigado!
Fico muito feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
A cada texto que leio, mais vontade de fazer a faculdade psicologia eu tenho. Obrigada por me ajudar tanto. Ano que vem se Deus quiser estarei cursando psicologia.
Olá Sulamita!
Fico muito feliz que esteja gostando do site!
Qualquer dúvida, é só comentar, ok?
Será sempre um prazer contar com sua participação por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe,
Descobri seu site há dois dias e estou super envolvida nele. Ja indiquei para vários amigos.
Sou estudante de psicologia, estou no 5º semestre, e suas dicas tem sido riquíssimas para acrescentar em meu conhecimento.
Parabéns e sucesso a você!
Abraços.
Olá Analice!
Muito obrigado por indicar!
Fico muito feliz com a sua avaliação, ainda mais se tratando de uma futura colega de profissão!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Então eu posso concluir que, a reação que eu tenho sobre os estímulos externos (Variáveis independentes), essa reação seria então a variável dependente ?
Oi Gabriel!
Na verdade, a questão das variáveis pode ser um pouco mais complexa, isto porque um estímulo interno (um pensamento) pode ser uma variável independente para uma variável dependente, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigado por esclarecer, eu poderia acabar generalizando, acreditando que tudo o que é estímulo interno seria variável dependente, Sugestão essa informação seria bom acrescentar no texto. E os exemplos são bons, contribui para o entendimento, parabéns.