Olá amigos!
Um grande empresário, amigo meu, me contou uma situação inusitada. Em sua empresa, dezenas de jovens (entre 18 e 25 anos) estão trabalhando por períodos determinados de tempo, com o único intuito de trabalhar um pouco, receber o seguro desemprego, trabalhar um pouco mais e receber o seguro novamente e assim por diante. Esse bem sucedido empresário, e não à toa, me contou essa história espantado e avaliou a situação como uma geração inteira que não tem responsabilidade para trabalhar e nem tem força de vontade para estudar.
Neste texto, quero comentar esta situação com vocês, mas analisando-a de um outro ângulo. Se há mesmo uma geração inteira de hedonistas, que só pensa em se divertir, que só acha válido o entretenimento, entre o tédio e o prazer (e o facebook), qual é o significado desta busca apenas pelo prazer na Orientação Profissional?
Os ossos do ofício
Não sei se todos conhecem a expressão “os ossos do ofício” que significa que todo ofício, que todo trabalho, que toda profissão tem suas dificuldades inerentes. Este é um dado que pode parecer óbvio e de fácil observação, mas não é tão simples na opinião de muitas pessoas que querem apenas o bônus, sem nenhum tipo de ônus, ou seja, a ideia por trás de sua busca é encontrar uma colocação que seja apenas prazerosa, sem nenhum tipo de desprazer ou desconforto.
Ora, mesmo o melhor trabalho, mesmo o trabalho ideal possui e possuirá as suas dificuldades. Deixar de escolher uma profissão – que seria totalmente adequada para o perfil – apenas por uma ou outra dificuldade é algo totalmente sem sentido.
Uma geração de hedonistas
Na opinião de meu amigo empresário, o que a sociedade criou foi toda uma geração de hedonistas, de sujeitos que querem apenas ter prazer e nenhuma responsabilidade. Evidentemente que não podemos generalizar e dizer que todos os jovens entre 18 e 25 anos (um pouco menos, um pouco mais) tem este tipo de mentalidade. Nas grandes cidades, como São Paulo, é muito comum ver o contrário: jovens que levantam cedo para ir ao trabalho, estudam no metrô, e vão para a faculdade à noite.
Porém, este meu amigo não deixa de ter certa razão: quantos e quantos jovens não estão por ai apenas querendo diversão e mais tecnologia (celulares caros, tablets e outros adendos), viagens, produtos de marca para marcar o status, nem sempre verdadeiro, e pouco ou nenhum estudo?
Aqui no site, todos os dias acabo ficando muito preocupado com o futuro do nosso país ao ver pessoas que estão para entrar na faculdade escrevendo tão bem quanto uma criança recém alfabetizada. Não são erros de digitação, mas erros grosseiros de concordância, de ortografia. Em muitos casos, é até impossível conseguir compreender o que a pessoa quer dizer, dada a falta de coesão e coerência.
Com tão pouco estudo, com tão pouco interesse pelo conhecimento (mesmo tendo à disposição a internet, que pode ser considerada a maior biblioteca criada pelo homem), estas pessoas querem cargos de gerência, sem saber o que isto significa na prática, salários de marajá e trabalhar poucas horas na semana.
Claro que o mercado será um choque para estas pessoas…
Cargo: vagabundo profissional
No final das contas, o que a realidade vai mostrar é uma situação totalmente diferente. Sem estudo e sem experiência profissional, o que vai estar à disposição são os cargos com os menores salários, mais horas de trabalho e mais trabalho braçal.
A questão é que aqui no Brasil não acontece o panorama da Europa, em crise, na qual os jovens – sem trabalho, sem estudo – encontram-se nesta situação por dificuldades econômicas. Nesse sentido, o nosso país ainda é o país das oportunidades, para quem sabe e tem interesse de aproveitar.
Conclusão
Para concluir, gostaria de dizer que, apesar das grandes mudanças no mercado de trabalho nas últimas décadas, a Orientação Profissional – área da psicologia que auxilia na escolha da melhor faculdade e carreira ou mudança de rumos profissionais – frequentemente acaba lidando com um tipo de perfil de quem exclui todas as possibilidades porque elas exigem ou esforço, ou tempo, ou dedicação… como se o sucesso fosse atingido por osmose, por uma rede de favorecimentos, por passe de mágica.
Neste sentido, quem realiza a Orientação Profissional, em psicologia, deve deixar claro que este tipo de pensamento está totalmente equivocado. O sucesso pode ser atingido rápido, está certo, o que não quer dizer que seja sem esforço, sem força de vontade, sem comprometimento.
Como disse certa vez Marie Louise Von Franz, trata-se de uma infantilidade imaginar que existirá um trabalho sem qualquer dificuldade. Ora, todo trabalho poderá ter o seu “dia de chuva”, os seus ossos do ofício.
Se alguém paralisar por isso, e não escolher nada, porque tudo parece difícil, deve refletir mais sobre o seu próprio desejo. Em muitos casos, é muito mais trabalhoso ficar parado e sofrer as consequências da sua paralisia, do que se esforçar um pouco (pelo menos) e tentar encontrar uma forma de produzir para o bem comum.
E aqui, acabamos caindo em outro assunto – talvez para um próximo texto – sobre a dificuldade das pessoas de doar. Afinal, todo e qualquer trabalho é uma doação que fazemos para as outras pessoas. Por características de personalidade, vamos nos encontrando no que fazemos melhor, a fim de ajudar a sociedade. Todos, claro, tem a sua participação e a sua importância no mercado de trabalho, em cada um das centenas de trabalhos existentes.
O que quero dizer é, não custa nada mudar um pouco o foco e, antes de tentar receber, doar um pouco de seu tempo e de sua energia para os demais.
Nossa Felipe, estava pensando nisso exatamente hoje. Apesar de eu estar fazendo um curso da qual não é a minha área, eu tento me esforçar para conseguir meu objetivo (que é me formar e futuramente arrumar um bom emprego), mas como você mesmo disse. Não tem outro caminho mesmo, tanto para o que se gosta ou não, tem que haver esforço e dedicação, pois nada “cai do céu”.
Você colocou uma questão muito importante – a questão de se ter apenas prazer sem comprometimento. Vejo isso claramente em muitos âmbitos, e o profissional é apenas um deles. Tenho dois exemplos em casa. Dois filhos adolescentes, um deles, o mais velho, vinte anos de idade, tem ânimo para trabalhar, disse-me que é o que mais gosta de fazer, mas por outro lado, não se dedica aos estudos, parece contradição dizer isso, pois está no terceiro ano de engenharia com apenas vinte anos. Mas não há dedicação para os estudos, diz-me que depois se especializa em algum ramo da engenharia. O outro, quinze anos, não gosta de estudar, e diz-me que por ele não faria nada da vida. Exemplos não faltam da minha parte, sempre gostei de estudar e de trabalhar, desde os meus quatorze anos. Nem motivação com livros, conversas e passeios culturais. Nem mesmo o lado religioso, sempre os levei comigo desde criança. Hoje não mais, infelizmente. Pois, qualquer religião dá-nos o sentido de doação e amor ao próximo e à criação. Enfim, é uma geração sem comprometimento com a vida, e fico pensando que não é a falta de exemplo apenas (uma visão particular da minha vida), deve ser algo maior que isso, porque são inteligentes, rápidos em argumentar e eficientes em convencer o mundo de que os errados somos todos nós em não nos divertimos e assumirmos uma vida cheia de compromissos. No meu ambiente de trabalho também presencio essa questão. Jovens com vinte e tantos anos, dizendo que aos quarenta querem estar com um apartamento, um carro e se divertindo. Ah, e sem família ou filhos! Porém, hoje, possuem um salário mínimo como renda, pouco esforço profissional e intelectual. Não sei realmente analisar esta geração que será o futuro do país. Abraço
Olá Claudia!
Obrigado por deixar sua opinião!
É interessante como às vezes há esta sincronicidade, não é mesmo? Pensamos algo e lemos logo em seguida.
A ideia de que algo cai do céu é uma ideia mágica. É como esperar para ganhar na mega-sena, rsrs.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe,
Ontem na faculdade, discutimos algo semelhante ao que você publicou hoje. Pois muitos acreditam que somente um curso superior na área “x”, lhes dará uma rentabilidade fora do comum. Mas dizem que essa geração “y” floreia demais as coisas ao seu redor mesmo.
Mas podemos perceber também Felipe, que o jovem dedicado que deseja entrar no mercado de trabalho, ainda encontra muitas dificuldades, pois muitas empresas ainda possuem uma certa resistência em dar a oportunidade pra quem não tem uma carga de experiências comprovada na CTPS.
Eu tbm sou uma pessoa hedonista. Caio fácIl no tédio. Tenho dois filhos que não gostam muito de estudar. Um está fazendo faculdade e outra ainda tá no Ensino Fundamental. Eu não tive muitas oportunidades, e as que tive deixei passar na minha juventude. Hoje acho um pouco tarde para seguir meus sonhos. Pois tenho a responsabilidade de educar meus filhos, não quero que terceiros façam isso. Foi duro ter que ingressar meu filho na faculdade, mas hoje ele já sabe que vale a pena lutar pelos seus ideais. Ele está no segundo semestre. E com fé em Deus irá se graduar. Ele tbm é hedonista, mas sei que com o tempo ele vai aprender a lição, se depender de mim e do meu marido. Como vc disse acima, sempre vale a pena lutar um pouco fazendo o que não gosta, mas mudando do que ficar paralisado.
Olá Maria,
Muito interessante você trazer o problema das causas. Geralmente a família acaba ficando um pouco sentida com este tipo de situação, vindo à tona pensamentos como “Aonde foi que eu errei?”
Temos que saber lidar com isso, considerando que cada um tem a sua liberdade para escolher…
Obrigado pelo comentário tão sincero e completo!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Ariane,
Obrigado por comentar!
Esta busca apenas pela remuneração é um grande problema também na Orientação Profissional.
Se for o único fator, é muito provável que acabe levando ao fracasso…
O problema que você menciona acontece e pode ser driblado normalmente com estágios ou trabalhos free-lancers ou mesmo trabalhos voluntários.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Zípora!
O incentivo dos pais também é fundamental para que os filhos estudem, se forme e trabalhem.
Parabéns pela dedicação!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá, Felipe.
Creio que me encaixo no grupo de jovens hedonistas. No entanto, sei que este comportamento é prejudicial, porém não sei como fazer para mudar. Qual você acha que é a melhor forma para promover esta mudança?
Olá Maurício, na vida é inevitável a oscilação de momentos agradáveis e desagradáveis. Dor e prazer.
Sugiro a leitura do nosso texto – https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2014/09/dor-e-inevitavel-o-sofrimento-opcional-mindfulness-psychology.html