Olá amigos!

O que você acha que pode ser a frase mais amorosa a ser dita no amor? Será “Eu te amo”? Ou talvez declarações públicas de afeto, sacrifícios românticos ou cartas de amor que, na opinião do maior poeta de língua portuguesa (talvez de todas as línguas), Fernando Pessoa, são ridículas? Bem, antes de chegarmos até a opinião de um especialista em problemas de relacionamento, vamos falar sobre a dificuldade inerente: a dificuldade de entender que a outra pessoa é uma outra pessoa, ou seja, tem a sua individualidade.

O que é pior em um relacionamento

A pior coisa que acontece em um relacionamento consiste em projetar o que se quer com o que a outra pessoa quer. Em outras palavras, cria-se uma confusão do próprio desejo com o desejo do outro. Com isso, expectativas são frustradas, pois o que pareceria óbvio – receber isto ou aquilo, receber desta ou daquela forma seja um carinho, uma carta, um presente, atenção – não acontece conforme o esperado.

Ou seja, não se percebe que a outra pessoa não é idêntica, não é igual a quem somos. Os valores são outros, os sentimentos são outros, a forma de reagir é outra e assim por diante. Na ideia romântica de uma união, é normal confundir as coisas e pensar em termos de um fusão em que a outra pessoa se transforma de tal forma que poderia ser um espelho ou então fazer parte de um paraíso no qual todos os desejos são satisfeitos, talvez antes mesmo de terem sido formulados.

Ora, o choque entre a fantasia e a realidade geralmente não demora muito e cria-se o tão famoso ciclo de amor e ódio. Amor pelos momentos prazerosos e agradáveis e ódio pelo que não se encaixa no ideal – inconsciente ou não – do que deveria ser, do que a outra pessoa deveria pensar, fazer, sentir, dar.

A frase mais amorosa que você pode dizer para o seu parceiro(a)

Eu li esta ideia em um artigo em inglês e gostaria de compartilhar com vocês. Segundo Steven Stosny, a frase mais amorosa que você pode dizer para o seu parceiro é: “Me ensine como te amar e eu te ensinarei como me amar”.

Eu achei curiosa esta ideia e por isso pensei de escrever este texto por três motivos: primeiro, a frase já pressupõe que, em um relacionamento, não há um conhecimento final, último, universal sobre como lidar com o outro. Segundo, pressupõe também o não-saber no amor e, implicitamente, a ideia de que pelo fato de as pessoas serem diferentes, deve-se dar tempo e espaço para conhecer, em um novo relacionamento. E, terceiro, em um relacionamento é preciso criar diálogo: dizer o que se gosta e o que não se gosta.

Segundo Stosny, apenas esta frase já poderá fazer com que qualquer relação melhore e melhore muito. Para ele, os casais deveriam perguntar: “Como eu posso fazer para que você se sinta amado(a)?”

Em alguns casos, sabemos que a pergunta direta poderia ser um pouco constrangedora ou talvez, ao invés de gerar uma resposta franca e direta, poderia causar desconforto ou até o silêncio. Por isso, como alternativa, podemos levantar uma outra ideia, sem ser perguntar diretamente.

Como era o começo do relacionamento?

Os neurocientistas dizem que os hormônios da paixão duram, em média, dois anos. Após este período, os casais deixam de se sentir apaixonados (borboletas no estomago como se diz em inglês) para construírem uma relação de companheirismo, cumplicidade e amor. Ou seja, há menos paixão, mas mais proximidade, maior conhecimento um do outro.

A ideia alternativa, ao invés de perguntar “Como eu posso fazer para que você se sinta amado(a)?” seria sentar e pensar sobre os primeiros momentos do relacionamento. O que a outra pessoa gostava de receber, ouvir, sentir?

Pode ser, por exemplo, uma atividade como sair para dançar ou ir ao cinema. Pode ser um carinho especial como mandar flores ou escrever uma carta bonita. Enfim, cada casal terá o seu ritmo, a sua música, a sua individualidade.

Se a memória for trazida à tona, acontece frequentemente algo muito interessante: reaviva-se o sentimento da época, do começo, das primeiras impressões.

Não só homens acabam deixando de “tentar conquistar”, mas as mulheres também o fazem. Passado o primeiro período e ainda mais quando há um compromisso público como o casamento, a impressão que cada um tem é de que não é mais necessário conquistar. Muitos ainda chegam a acreditar que não é preciso mais nada para que o relacionamento continue. Por isso, relaciona-se, mas mal.

Conclusão

A ideia de que a frase mais amorosa que se pode dizer para o parceiro ou parceira é “Me ensine como te amar e eu te ensinarei como me amar”, de Stosny dá o que pensar. O pressuposto básico dela é de que no amor não há conhecimento prévio.

Pois as pessoas se esquecem de que há individualidade. Que cada pessoa com quem podemos criar um relacionamento é única, é individual. Literalmente e etimologicamente, indivíduo vem do que não se divide, do que não se repete, do que é irrepetível. Se não se repete, se não há ninguém igual (ao ser amado) não é possível transpor regras de um relacionamento para o seguinte, de um livro de autoajuda de uma vez por todas.

Nesse sentido que a frase de Stosny tem sentido. É necessário aprender a amar, a entender que se para uma pessoa se sentir amada é preciso dizer “Eu te amo” todas as manhãs para outra isso será desimportante e poderá se sentir muito mais amado ou amada com gestos, com “sacrifícios”, com pequenos mimos ou presentes.

Talvez, como diria Fernando Pessoa, todas as cartas de amor sejam ridículas. Talvez escrever textos sobre o amor também seja um pouco ridículo. Ridículo porque no amor não há regras universais e sempre temos a sensação de incompletude.