Olá amigos!
No nosso Curso de Neurociências Online Grátis já falamos a respeito dos neurotransmissores. Em resumo, neurotransmissores são moléculas responsáveis pela comunicação dentro do sistema nervoso, ou seja, são moléculas, substâncias químicas, que levam a mensagem de um ponto do cérebro até outro ponto do cérebro ou até outra parte do corpo. Para saber mais, veja aqui:
Hoje nós vamos falar sobre um sujeito muito especial, que trouxe grandes descobertas para as neurociências em 1969. Seu nome era Leonard e, por ter desenvolvido uma doença inflamatória no cérebro, ele paralisou. Não exibia qualquer tipo de expressão facial e não tinha a capacidade de se locomover, não podia sequer mexer um braço e, também, não conseguia mais falar.
Através de um sistema inventado pelos médicos e enfermeiros, ele conseguia se comunicar mostrando letra por letra e, assim, muito vagarosamente, ele dizia o que estava pensando e sentindo em seu estado extremo de paralisia. Em poucas palavras, ele resumiu o seu momento: “uma prisão com janelas, mas sem portas”.
A sorte de Leonard começou a mudar quando Oliver Sacks, um dos mais renomados neurocientistas do mundo (na época ainda um jovem médico), iniciou um novíssimo tipo de tratamento, utilizando a droga L-Dopa (levodopa), cuja consistência é muito parecida com a dopamina.
O tratamento com L-Dopa – A dopamina produzida em laboratório
Pouco tempo depois de começar a tomar L-Dopa, Leonard parecia ter conseguido encontrar uma porta para sair. De verdade, ele parecia ter renascido! Agora conseguia andar, falar, gesticular, comer sozinho, quer dizer, agora ele conseguia fazer tudo o que uma pessoa normal pode fazer.
A primeira coisa que ele fez foi descer para o jardim da clínica e beijar as flores, sentir o seu perfume. Agradeceu os médicos e enfermeiros que tinham tratado dele por tanto tempo e escreveu em seu diário: “Sinto que fui salvo, ressuscitei, renasci! Me sinto como um amante apaixonado, rompi as barreiras que me separavam do amor. Tenho uma sensação de saúde que parece divina!”
Para ele, a L-Dopa – que sintetizava as propriedades da dopamina – só poderia ser descrito como um remédio santo. O remédio “abriu as minhas janelas interiores que estavam cerradas. Se todos se sentissem tão bem como eu, ninguém pensaria em conflitos ou guerra, em poder ou posse. Todos simplesmente estariam felizes consigo mesmos e com os outros. Saberiam que o céu é aqui mesmo, na Terra”, escreveu Leonard.
O efeito rebote do L-Dopa – As consequências negativas da dopamina
Entretanto, passadas apenas duas semanas, o estado emocional de Leonard começou a mudar radicalmente. Do estado de felicidade, alegria e contentamento ele passou a sentir ansiedade e avidez. Os impulsos de sexualidade e busca pelo poder aumentaram e chegaram a níveis difíceis de lidar, pois queria ter relações com as enfermeiras. Seu sentimento de poder chegou a tal ponto que ele escreveu: “Com L-Dopa no sangue não há nada no mundo que eu não possa fazer se quiser. L-Dopa é poder, é uma força irresistível. L-Dopa é a energia em excesso que consome a si mesma. L-Dopa me deu a força pela qual eu ansiava”.
A mudança foi rápida e radical. Se nas primeiras duas semanas ele estava feliz e dizia que a paz era um desejo natural do ser humano (caso tivesse L-Dopa), agora ele pensava o contrário, pensava em poder, em dominação, em poderio. Nas semanas seguintes, chegou mesmo a ficar paranoico e maníaco. Escreveu em 20 dias uma enorme autobiografia. Falava com muita velocidade e sem controle.
A paranoia começou a aumentar, progressivamente, e ele passou a achar que estava sendo perseguido, que cordas estavam próximas para lhe enforcar.
O efeito rebote (o efeito contrário) do medicamento foi tão forte e tão perigoso, que o médico Oliver Sacks decidiu retirar totalmente o uso. Após a retirada, Leonard voltou ao estado de paralisia inicial. Morreu em 1981, após várias tentativas de utilização de medicamentos parecidos com o L-Dopa, sem sucesso.
A explicação sobre a dopamina
Na época em que prescreveu o L-Dopa para Leonard, Oliver Sacks assim como todos os outros médicos que estudavam os neurotransmissores, estavam apenas conhecendo o seu funcionamento. Por isso, a dosagem acabou sendo excessiva e os resultados iniciais positivos passaram para o seu oposto, com paranoia, alucinações, tentativa de suicídio.
A causa da paralisia inicial de Leonard era uma inflamação em uma parte bastante específica do cérebro, chamada de substantia nigra (substância negra), que é responsável pela produção natural de dopamina. A substantia nigra situa-se no mesencéfalo e o seu tamanho é próximo a de uma unha. Se cortarmos o cérebro transversalmente, poderemos ver esta região, pois ela se diferencia dos seus arredores por pequenas manchas negras (daí substância negra).
Pela história de Leonard, podemos ver o que a ausência da dopamina provoca no organismo: a pessoa não consegue nem levantar um dedo, para de falar, sente total desânimo. Leonard também nos ensina o que o exagero da dopamina provoca: impulsos fortes de poder e sexualidade, paranoia, alucinação e até tentativa de suicídio.
Mas produzida pelo corpo de maneira natural e em doses normais, a dopamina tem a sua função equilibrada. Sendo uma pequena molécula química com apenas 22 átomos semelhante a um girino (cabeça com cauda), ela possui uma grande importância no bom funcionamento do organismo.
Principais funções da dopamina
- Controla os ciclos de sono e de vigília
- Auxilia na concentração e atenção
- Desperta a curiosidade a aprendizagem
- Acentua a criatividade e o desejo sexual
- Provoca a motivação, o otimismo, a autoconfiança
Em síntese, a molécula dopamina pode ser considerada a molécula da felicidade, mas mais do que a felicidade, podemos descrever a dopamina como a molécula do querer, do desejo, da vontade.
Segundo Stefan Klein, um importante escritor alemão de neurociência: “A dopamina também entra em ação quando assumimos uma nova tarefa na vida profissional, quando uma pessoa atraente cruza à nossa frente na rua, e, principalmente, antes do ato sexual. Ao tomarmos um copo de cerveja ou fumarmos um cigarro, também queremos criar uma dose extraordinária dessa substância, pois tanto o álcool quanto a nicotina fazem o cérebro liberar mais dopamina”.
Assim, esta pequena molécula de 22 átomos desempenha funções vitais para o organismo. As principais drogas utilizadas no mundo, de uma maneira ou de outra, provocam a liberação da dopamina. Porém, do mesmo modo que com Leonard, quando uma droga libera no corpo artificialmente e em doses elevadas, a dopamina provoca efeitos muito negativos, após o período inicial de euforia.
Atualmente, muitos pesquisadores estão estudando os efeitos da dopamina nas doenças mentais, em especial, na esquizofrenia. E, justamente este será o tema da nossa próxima Lição do Curso de Neurociências Grátis.
muito bom, gostaria de saber quais os remédios que contém dopamina. e se o café, o chocolate, o chã e outros tipos de ervas que podem conter substâncias da dopamina.
Olá Felipe!
Nesse caso, poderia haver uma cura para a esquizofrenia? Quero dizer, diminuindo a dosagem de dopamina, não encontrariam um equilibro?
Obrigada! Adoro o seu site.
Felipe, dada a importância da dopamina natural, ou seja, produzida naturalmente no cérebro. Que formas pedem ser usadas para melhorar essa produção? Alguns alimentos, modos de viver – praticar esportes, por exemplo; cultivar o bom humor, busca de atividades prazerosas, pode ajudar? Att Eliane.
Parabéns pelo texto. Estou na matéria de Teorias e Sistemas em Psicologia II, estudando o assunto de Esquizofrenia, e com certeza seu texto veio em boa hora. Parabéns!
Olá Taiane,
Os neurocientistas tem pesquisado muito este tema.
O problema dos neurotransmissores é que eles são difíceis de estudar (são muito rápidos) e são modificados constantemente pelo corpo.
Por isso que nem sempre um medicamento é eficaz, porque ele vai alterar o funcionamento natural e criar uma situação artificial.
Mas falaremos mais sobre este tema da esquizofrenia e neurociência logo mais, ok?
Com relação à cura, esperamos que sim! Quem sabe logo mais não vejamos curas mesmo para as principais doenças mentais. Seria uma maravilha!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Eliane,
Excelente sua pergunta – Como aumentar os níveis de dopamina, dada a sua importância.
Bem, isto daria um outro texto, não é mesmo?
Mas vejamos:
Alimentos em tirosina como feijão, gergelim, abacate são úteis para aumentar os níveis de dopamina. Frutas como melancia, maça, beterraba também contribuem para estimular sua produção, já que possuem substâncias que “formam” a dopamina.
Como digo no texto, álcool e outras drogas (inclusive o café) estimulam a dopamina, mas de uma maneira tal que, depois do uso, abaixam totalmente, por isso é criado o ciclo do vídeo 1) alta de dopamina com a ingestão; 2) baixa de dopamina quando a substância é eliminada. Ou seja, precisamos consumir de novo para ter mais dopamina. Assim ao invés de estimular, acabamos prejudicando. Por isso, álcool, tabaco, café (e drogas em geral) não são indicadas.
Existe também a possibilidade de aumentar os níveis de dopamina com atividades para além da alimentação, como fazer meditação, exercícios físicos e atividades prazerosas (para cada um). E, por último, é possível aumentar o nível de dopamina com medicação, porém, sempre com orientação médica.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Francisco,
Veja o comentário logo abaixo. Respondo à uma pergunta parecida, ok?
Grande Abraço!
Olá Yasmille,
Que ótimo!
Em breve, vamos falar mais a respeito da esquizofrenia.
Mas já temos alguns textos. Veja aqui – Esquizofrenia
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe, tudo bem? Uma pessoa se sentir sempre pra baixo, infeliz, desanimada, apesar de ter não muitas coisas de errado, e não tem diagnóstico de depressão,,. Isso pode ser uma alteração de dopamina? Ou não… Adoro seus textos, me tira muitas dúvidas. Parabéns!!
Oi Juliana, pode ser.
Eu recomendaria fazer um exame de sangue completo (sob orientação de um médico de confiança) para avaliar também outras possibilidades, como hormônios, glicose, etc. Além disso, as situações externas podem contribuir para o desânimo, não é mesmo?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Boa noite, gostaria de saber se o uso da sertralina inibe a dopamina no cérebro? Obrigadaa
Olá Mariana,
Não sou especialista nesta parte. Sugiro que você pergunte a um médico sobre os efeitos dessa substância, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza