Olá amigos!

Creio que todos vocês já perceberam que eu gosto de ler. Mesmo com o doutorado, no qual tenho uma enorme quantidade de leitura exigida, continuo lendo por fora, embora não seja tanto quanto eu gostaria, pois a minha biblioteca continua crescendo e eu acabo não conseguindo ter tempo para ler tudo. Mas nas horas vagas, sempre pego para ler os livros que já adquiri ou ganhei.

Um deles – mais do gênero autoajuda do que da psicologia – é o livro chamado “Como evitar preocupações e começar a viver”, de Dale Carnegie, autor do famoso e controverso livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”. Os dois títulos são bastante sugestivos e, tirando a resistência primeira em começar a leitura, podemos aprender algumas boas informações em ambos.

Hoje gostaria de compartilhar com vocês uma técnica descrita no “Como evitar preocupações e começar a viver” voltada para a área profissional, mas que também pode ser utilizada em outras áreas de nossas vidas.

É comum vermos que preocupação é pré-ocupação, ou seja, ocupar-se antes com algo que ainda não aconteceu. É gastar tempo pensando e imaginando situações que talvez nem aconteçam ou, ainda, a dificuldade de desligar-se de um problema e que nos faz perder o sono, ter crises de ansiedade ou todo tipo de sentimentos e sensações negativas.

A técnica é simples. Tão simples que a princípio pode parecer mentira que funcione. Vamos primeiro descrevê-la.

Evite 50% das suas preocupações (profissionais) ou mais

Sente-se e pegue uma caneta e um papel. Poderia ser também no computador, mas parece ser mais interessante escrever com uma letra de próprio punho.

Depois de ter todo o material para escrever livremente (nesse caso é mais indicado uma folha sulfite branca), responda às seguintes perguntas:

1) Qual é o problema?

2) Qual é a causa do problema?

3) Quais são todas as soluções possíveis?

4) Qual é a solução que você acha a melhor?

Um exemplo de utilização da técnica

Bem, a preocupação e o desânimo na profissão geralmente vem acompanhados da falta do reforço positivo, seja do reconhecimento pelo trabalho realizado, seja pela falta de uma remuneração adequada, ou seja, um salário ou comissão a altura do esforço dispensado.

Então, a primeira coisa a fazer para superar a preocupação é anotar em detalhes qual é o problema. O problema é não estar ganhando tão bem quando o esperado? Se sim, qual é a causa deste problema? A empresa na qual se trabalha? Estar lidando com clientes que não possuem dinheiro para os pagamentos? A forma de pagamento que é inacessível para a maior parte deles?

Se for anotado em detalhes, qual o problema e as causas do problema, ficará muito mais fácil descrever as soluções possíveis, não é mesmo?

Talvez a solução seja mudar de emprego, ou visitar outros clientes, ou mudar a forma de pagamento, ou mudar de cidade. Enfim, existem muitas possíveis ações que podem ser colocadas em prática.

Depois de listar todas as soluções possíveis, fica muito tranquilo encontrar a melhor. Digamos, mudar de cidade e emprego está fora de cogitação, mas propor uma nova forma de pagamento e visitar clientes diferentes é uma ação que poderá ser colocada em prática.

Pode ser que esta última pergunta seja mais difícil de ser respondida. Afinal, como decidir, entre tantas opções qual é a melhor alternativa? Para isso, sugiro a leitura do nosso texto:

Técnica para decidir

Conclusão

A preocupação é, até certo ponto, um fenômeno natural. Surge a partir da capacidade humana de antever dificuldades e problemas e, prevendo o que pode acontecer, já começar a imaginar soluções. A questão é que, muitas vezes, acabamos ficando no começo, ficamos visualizando apenas os problemas e dificuldades, remoendo e recogitando, sem passar para a etapa seguinte, que é encontrar uma solução.

É importante notar também que muitas preocupações são inúteis. Em dois sentidos, ou a situação não vai acontecer e no fundo sabemos que não vai acontecer mesmo, ou então a situação já está acontecendo e não há nada que possamos fazer para remediar.

Por exemplo, digamos que de tanto ver os jornais sangrentos da TV você comece a imaginar que a qualquer hora poderá sofrer um sequestro. Ora, é uma situação possível, mas é relativamente improvável de acontecer. Você pode passar a sua vida inteira se preocupando com isso e nunca ser sequestrado. De todo modo, utilizando a técnica, fica mais fácil de se precaver e encontrar formas de diminuir a preocupação com este fato.

Outro tipo de preocupação inútil é aquele no qual nós realmente não podemos fazer nada. Por exemplo, uma doença de um parente ou a macroeconomia (como a alta do dólar ou a inflação). Nestes casos, fazendo também uso da técnica, que, como disse, pode ser utilizada não só para a parte profissional, podemos ver qual é o problema, as possíveis causas e soluções e vamos notar rápido que não podemos fazer simplesmente nada.

Mas para todos os outros casos nos quais poderemos agir, ao colocarmos no papel o problema, a causa, as soluções e a melhor solução deixamos de ficar imaginando e reimaginando e passamos para possíveis ações.

Se não há o que fazer, não há o que fazer e, consequentemente, não há com o que se preocupar. Se há o que fazer, é só começar a fazer. Como digo neste texto, menos pensar, mais fazer!

No consultório, esta técnica também é utilizada, embora os profissionais da psicologia nem sempre tenham tão claro a dinâmica de seu uso. Afinal, o paciente chega com um problema específico. O profissional vai ajudar a encontrar os porquês e o para quês (a finalidade do problema, nem sempre considerada por todos) para, então, passar para um nível superior de abstração, ou seja, passar a considerar o que pode ser feito para solucionar o problema inicial, já que o paciente tentou até ali sem sucesso a sua resolução, sozinho ou sozinha.

E, finalmente, chega-se à melhor solução entre todas as soluções levantadas. E neste ponto é que torna-se importante sair do pensamento da melhor solução para a prática, quer dizer, sair da talking therapy, da terapia da fala, para a ação.

Dúvidas, críticas, sugestões e comentários – será um prazer ouvir todos!