Olá amigos!
Uma técnica da psicologia que é muito utilizada no consultório consiste em nomear os sentimentos. Por exemplo, é comum o paciente chegar contando uma determinada situação e não saber exatamente como se sente e o primeiro passo para saber mais é dar um nome, nem que seja aproximado, do sentimento ou emoção que aquele episódio suscita.
O orgulho é um sentimento curioso porque ele apresenta facetas contraditórias, quase opostas. Já há algum tempo que recebi uma solicitação para escrever sobre o assunto e com este texto, espero contribuir com uma resposta sobre pessoas que são chamadas de orgulhosas ou momentos em que as pessoas se comportam tendo o orgulho como causa. Será que você é uma pessoa orgulhosa também?
O Orgulho como admiração
O aspecto mais positivo do orgulho é o orgulho como uma admiração. Quando alguém diz: “Estou muito orgulhoso de ti por ter feito isso” o significado da palavra orgulho está ligado a admiração pelo feito, pela conquista, pela capacidade de realizar. Podemos dizer que é positivo, no sentido de que este tipo de sentimento ajuda nas relações sociais e também pode fazer com que as pessoas se esforcem para atingir o máximo de seu potencial.
Pais e filhos, treinadores e seus pupilos, professores e alunos podem deste modo estabelecer uma forma de reforço baseado no orgulho. Por exemplo, um aluno pode estudar mais, muito mais, e ir super bem em uma prova porque espera estar à altura da avaliação de seu professor, que o considera excepcional. Assim, ele dá mais de si para receber o elogio, para fazer o outro bem, para ser admirado.
O que pode ser não tão bom neste tipo de situação é a confusão entre aquele que admira e o admirado, quer dizer, temos que saber reconhecer que tanto as responsabilidades como as conquistas ou equívocos recaem sobre o indivíduo. O risco de este tipo de orgulho ser prejudicial, no entanto, é pequeno e consistiria na situação na qual a pessoa que se orgulha se mistura com os feitos do outro, como se ela mesma fosse o outro. Como disse, o risco é pequeno, mas pode acontecer de – na falha – o sentimento de orgulho transformar-se em lamúrias, irritação, críticas destrutivas, tristeza.
O Orgulho como preconceito
Existe um livro (e filme) muito conhecido chamado “Orgulho e Preconceito”. É um clássico da literatura e expressa o orgulho como preconceito social. Em síntese, alguém que tem condições financeiras excelentes se sente orgulhoso de sua posição social e não quer se aproximar das outras classes, consideradas inferiores ou piores, como se no próprio corpo corresse sangue azul e no corpo dos outros um sangue não tão nobre.
Este tipo de sentimento realmente perpassa muitas pessoas que se consideram nobres e inatingíveis por terem patrimônio ou conta bancária com muitos dígitos. Isto aparece mais, ainda, nas pessoas que são herdeiros e, como no poema de Fernando Pessoa, “não fizeram nada e são ricos…” porque quem construiu o patrimônio, seja a geração dos pais ou dos avós, normalmente terá um sentimento mais próximo do primeiro tipo de orgulho, por terem saído do nada e se admirarem de terem chegado tão longe.
Óbvio que este tipo de orgulho é uma bobagem sem tamanho e cria, psicologicamente, no inconsciente a polaridade sentimento de superioridade e sentimento de inferioridade, muito bem descrita por Alfred Adler, o primeiro psicanalista a discordar de Freud abertamente. Isto porque este tipo de orgulho se baseia no sentimento de ser superior aos outros. Porém, o sentimento de ser inferior a outros outros não some.
Acima dei o exemplo de pessoas que tem este orgulho como preconceito apenas pelo fato de terem dinheiro (o motivo pode ser outro, como ser branco ou ser americano ou ser de certa religião), e podemos analisar que a pessoa se sentirá inferior quando encontrar ou pensar em pessoas que estariam acima de seu nível financeiro. Assim, uma pessoa milionária pode ser sentir o máximo ao se comparar com uma pessoa que ganhar salário mínimo, mas se sentirá inferior ao se comparar com uma pessoa bilionária.
O Orgulho como rancor
Bem, este é provavelmente o tipo de orgulho mais negativo de todos, pois parece aquele tipo de situação na qual um sujeito leva um grande peso nas contas e continua a levar o grande peso nas costas por quase nenhuma razão, apenas para continuar levando o peso nas contas, como se diz, por orgulho.
Por exemplo, e esta é um fenômeno que aparece sempre no consultório, a pessoa tem um namorado ou namorada. O casal briga e termina. Para não dar o braço a torcer, para não admitir que estava errado ou para não ter que se livrar da sua pose de ter sempre a razão, a pessoa não consegue pedir desculpas, ou pedir perdão, ou mesmo voltar a ter uma conversa razoável para voltarem a ter o relacionamento.
Isto soa como aquelas brigas de criança, em que um fica de mal com o outro e o tempo passa mas nenhuma das duas cede porque quer mostrar que é melhor por não ceder.
O incrível é que, dizendo desta forma, parece simples de resolver (e realmente é), porém, para a pessoa orgulhosa é complicadíssimo. A pessoa diz para si mesma: “Como vou voltar a conversar ou pedir desculpas? Não posso, porque isto significaria que eu sou fraco(a) ou significaria que a outra pessoa é quem tem a razão”. O efeito de tudo isto é que há a manutenção do rancor, pela briga ou pelo desentendimento, há a continuidade da situação indesejada (a separação ou a distância) e de todo modo as coisas continuam como deveriam continuar, já que a pessoa não pode abaixar a sua crista, pois tem que se manter em seu orgulho.
Conclusão
Aqui no site nós já temos textos sobre diversos outros sentimentos.Poderíamos avaliar este tipo de análise como psicologia aplicada ou como “experiências de consultório” já que falamos menos de teorias e mais do que acontece na prática. Nomear o que sentimentos é um primeiro passo no processo de conscientização. Em segundo lugar, podemos avaliar se o sentimento é útil ou inútil, se faz bem ou mal e porque motivo e quando ele aparece. Nestes dois passos, começamos a mudar, ao conhecer os nossos mecanismos internos.
O terceiro e último passo é encontrar uma forma de alterar o modo como sentimos e uma forma bastante simples e eficaz é encontrar sentimentos diferentes. No caso do orgulho, podemos pensar na humildade, no amor, na compaixão.
Qual a relação entre orgulho e vaidade?
Parabéns pelo texto.
amei os titulos como e interessante muito obrigada
Olá Edgard!
Obrigado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Roseli!
Fico muito feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Luddy!
Existe certa relação entre o orgulho e a vaidade. A vaidade, em geral, é pensada como auto-estima e cuidado com o corpo, mas também, assim como orgulho, apresenta certa complexidade.
Em breve, prometo escrever um texto sobre este tema, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Parabéns, Felipe, pelo teu trabalho. Estudo filosofia, a qual me identifico em primeiro lugar, mas gostaria de fazer a faculdade de psicologia, mas devido não ter em minha cidade ou eu não ter condições de realizar em outra cidade, ainda estou na expectativa, mas continuo me informaando sempre. Sou radialista também e no quadro orientações vou estar utilizando algum texto seu. Um abraço
Sobre o texto do orgulho – orgulho e preconceito – não vejo assim, aceito a real de que existe miseráveis, pobres, classe média, ricos, mi, bilionários, etc – e geralmente os mais abastados recebem uma melhor criação, educação, convivem no meio ambiente onde tudo é de 1ª. Eu sou classe média, família tradicional, diferente da ‘família’ de hoje, tive ótima educação em casa e adquiri conhecimentos em escola particular e pública, em universidade pública e particular – sou funcionária pública; considero-me inteligente; reconheço que existe sim pessoas melhores do que eu – minoria, e uma grande maioria piores do que eu – não estou falando em aparência física, mas em conhecimento, sabedoria, educação, etc. Não somos iguais – há bons e há maus, há honestos e desonestos, cidadão honesto e bandidos, etc. Não sinto-me inferior aos que estão acima de mim. Não tenho inveja, há muitos que até merecem admiração! E não trato os que estão em nível abaixo do meu, como inferior. Devemos aceitar a real, e se não estiver contente, batalhar para melhorar!
Olá Luis,
Obrigado por ajudar na divulgação de nosso site!
Será sempre um prazer contar com sua participação por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Ronilce,
Entendo o seu ponto de vista.
A psicologia sempre trabalha com a ideia da individualidade. Com isto, como diz Carlos Drummond de Andrade, “Seja você mesmo, todos os outros já existem”.
Comparar com os outros, nesse sentido, não faz muito sentindo…
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Eu sou muito orgulhoso! Já tinha te mandado um e-mail pedindo um texto abordando esse assunto! Como sempre você deu um show !!! O pior de tudo eh que meu orgulho eh com rancor. Sou dsquelas pessoas que faz de tudo pra entrar em um bate boca e quando tem briga não da o braço a torcer, tudo que eu falo eh o certo e ponto final. E nunca vou pedir perdão depois de uma briga e etc. Engraçado eh que enxergo tudo isso , assumo que sou assim e não consigo mudar !! Eh triste.
Acho que ela não entendeu o texto ou pulou alguma parte ! Tudo que ela explicou foi dito e explicado no texto.
Olá João Pequeno!
Eu me lembro que você tinha pedido, mas não consegui localizar o email em que você pedia.
Demorou mas ficou pronto, né? rsrs
Então, o primeiro passo para a mudança é a aceitação e este primeiro passo vocẽ já deu. Talvez demore um tempo ainda para você notar que não ganhará nada com isso… e procurar formas de mudar.
Grande Abraço!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
filipao você e um gênio….eu amo a psicologia, porem sou estudante de psicologia clinica em Moçambique mais tenho aderido muito coisa dos teus textos.
Olá Lameck!
Obrigado pelo elogio!
Fico muito feliz que esteja nos acompanhando de um país tão querido por nós!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Puxa, que explicação! Eu estava precisando ouvir isso. Eu tenho complexo de superioridade, queria entender mais sobre a inferioridade e o orgulho e num texto só vc me deu três explicações. Gostaria de por isso em pratica… Parabéns!
Olá Zípora,
Dê uma olhada neste texto também – O complexo de inferioridade
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Você já percebeu que a maioria das pessoas orgulhosas não são humildes? “muitos orgulhosos são esnobes” porque será? Bom, na minha modesta opinião, para os orgulhosos de exemplos bons, eu desejo sucesso – para os orgulhosos com muitas vaidades eu desejo muita terapia! parabéns pelo artigo.
Olá Raquel!
Obrigado por deixar seu comentário!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Parabéns pela matéria, gostei e aprende muito sobre os tipos de orgulho.
Existem livros interessantes para pessoas que tem muito orgulho cm rancor?
Olá Anna!
Não me lembro de nenhum agora. Ficarei te devendo uma indicação.
Talvez algum dos leitores do site possa te indicar algum.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
muito bem explicado prabens
Bom dia ,
Sensacional texto parabéns. Gostaria de saber se existe alguma maneira de ajudar pessoas que evitam refletir ou enchergar o orgulho por rancor.
Parabéns Obrigado ,
Luis André Nogueira
Olá Luis, sim. Mas a pessoa precisa querer fazer o tratamento.
Parabéns e obrigado pelo texto.
Tenho um irmão extremamente orgulhoso. Nunca, na vida, pediu desculpas por nada que me fez, e atualmente não nos falamos mais. É tão orgulhoso que chega a ser insuportável e irritante, e acredito que ele também seja extremamente imaturo, pois hoje já está com 40 anos de idade e não abandona esse comportamento detestável. É tão irritante que eu procuro revezar com ele na hora de sentar na mesa para tomar café da manhã, almoçar e jantar, por exemplo, pois eu sou extremamente o oposto dele, ou seja, sou humilde e admiro pessoas como eu. O pior de tudo é que ainda moramos sob o mesmo teto, o que torna a convivência ainda mais difícil. Eu já me cansei dele, pois percebi que ele não quer e nem vai mudar, por isso eu simplesmente resolvi cortar definitivamente qualquer tipo de relação com ele, o que é lamentável, e o mais revoltante é saber que se pode esperar mais humildade de um amigo, que nem é seu parente, do que de um irmão, que tem seu sangue. Esse tipo de situação é revoltante e desgastante
Eu me tornei uma pessoa orgulhosa. Para cada pessoa orgulhosa, tem a contrapartida. Um entorno hostil e tóxico, no qual os erros eram usados como forma de humilhar e diminuir. A consequencia mais normal a toda esta situação seria a anulação da próprio eu, ou uma reação que determinaria a sobrevivência emocional nesta loucura toda: o orgulho, a soberba, a não admissão dos próprios erros, as mentiras. Não gostei do texto. Porque fala da panacéia para a “cura” do orgulho, mas não fala para procurar por onde ele podo de nós mesmos podemos um dia chegar a sermos humildes, compassivos e amorosos. Sem isso, são só regras. e ter se originado. “Combater” o orgulho com humildade, amor e compaixão, sem saber de onde ele vem é simplesmente negar uma historia, negar de onde este orgulho surgiu. O que combate o orgulho é o conhecimento de si mesmo. Só com o conhecimento de nós mesmos podemos um dia chegar a sermos humildes, compassivos e amorosos. Sem isso, são só regras.
Sou espírita vou fazer uma palestra sobre orgulho e gostei muito do seu texto como um dos viéses que usarei, o outro será de Ermance Dufouex ” as diversas faces do orgulho” Parabéns