Olá amigos!
Continuando o nosso Curso de Neurociências Online Grátis, hoje vamos falar a respeito de um aspecto fundamental do sistema nervoso. Como vimos na Lição anterior, sobre o Sistema Nervoso Central e Periférico, o sistema nervoso pode ser pensado como tendo um centro (o que está dentro da nossa cabeça e coluna) e o que está fora, na periferia, nas extremidades do corpo.
Claro, esta é uma forma didática, para facilitar o entendimento. Agora, como será que o centro se comunica com a periferia do sistema? Como uma mensagem é enviada de uma parte do cérebro para outra ou para o seu dedão esquerdo do pé?
As imagens que vemos sobre o cérebro sempre enfatizam a sua eletricidade, como se a comunicação de uma parte com a outra fosse através de impulsos elétricos. Esta ideia era defendida pelos cientistas até a década de 1970 e ainda estava presente nos livros que os médicos e professores estudavam praticamente até 1995.
Na década de 1970 foi feita uma importantíssima descoberta: a comunicação ao longo de todo o sistema nervoso não é feita de forma elétrica, mas sim através dos neurotransmissores, que são como “moléculas comunicadoras”. Se dividirmos a palavra, teremos “neuro” (referente ao sistema nervoso, aos neurônios) e “transmissores” (referente à transmissão, comunicação, mensagem).
O que são neurotransmissores?
Os primeiros neurotransmissores descobertos foram a acetilcolina e a norepinefrina, duas substâncias químicas presentes no cérebro que são responsáveis por aumentar a atividade de um músculo (acetilcolina) ou diminuí-la (norepinefrina). Em princípio, estas duas mensagens pareciam suficientes, digamos, se você precisa levantar o seu braço, é necessário uma substância para começar a atividade do bíceps e outra substância para relaxar a atividade do músculo contrário, o tríceps.
Com o conhecimento da acetilcolina e da norepinefrina ficou comprovado que o funcionamento do sistema nervoso não era elétrico, mas sim químico. A ideia de que um impulso elétrico ia sendo conduzido de nervo a nervo, de neurônio a neurônio havia ficado para trás. Entretanto, esta ideia ainda permaneceu, como se fossem necessários os dois tipos de transmissão: a transmissão química e a transmissão elétrica.
Mas com as investigações mais aprofundadas dos biologistas moleculares, cada vez mais neurotransmissores foram sendo encontrados. Para entendermos melhor o que é um neurotransmissor, temos que imaginar que a fisiologia, que o funcionamento deste sistema se dá no nível das moléculas, quer dizer, acontece em uma “dimensão” que não podemos visualizar a olho nu. Apenas com o microscópio, podemos enxergar estas substâncias químicas.
Além do tamanho, extremamente pequeno, outra dificuldade para o estudo dos neurotransmissores reside no fato de que a atividade do corpo é muito rápida. No nível microscópico é como se o nosso corpo fosse um rio, em constante mutação.
Quantos neurotransmissores existem?
Já na década de 1980, apenas dez anos depois da descoberta da existência destas substâncias incríveis responsáveis pelo funcionamento do sistema nervoso, mais de cinquenta neurotransmissores haviam sido catalogados. Quer dizer, o sistema nervoso não é como um sistema binário, de computador, que envia mensagens de sim (atividade) e não (paralisia). A sua linguagem, digamos, de comunicação é muito mais vasta.
Para fins didáticos, podemos dividir os neurotransmissores em quatro tipos:
1) Aminoácidos: ácido glutâmico, ácido aspártico, serina, ácido gama-aminobutírico
2) Monoaminas e outras aminas: dopamina, noradrenalina, adrenalina, histamina, serotonina.
3) Peptídeo: somatostatina, substância P, opióides
4) Outros: acetilcolina, adenosina, óxido nítrico, etc.
A classificação acima se baseia não na função de cada neurotransmissor, mas sim em sua configuração química. Além destes citados, existem mais de cinquenta peptídeos descritos, e muitos outros são descobertos de tempos em tempos.
O mecanismo de ação de um neurotransmissor
Para falar de cada um dos neurotransmissores teríamos que escrever um livro e, contudo, talvez ainda não conseguiríamos dar uma ideia precisa da complexidade de nosso corpo. Portanto, ao invés de falar sobre a função de cada um destas substâncias, prefiro dar um exemplo que tornará mais clara o seu modo de ação.
A endorfina e a encefalina são duas substâncias que agem na dor. Literalmente, endorfina significa “morfina interna” e encefalina significa “dentro do cérebro”. Para quem nunca ouviu falar em morfina, esta é uma substância que funciona como analgésico e pertence ao grupo dos opióides. Para vocês terem uma ideia, a heroína – um das drogas que mais causam dependência química – é derivada da morfina.
Bem, então a endorfina é como a morfina, porém, é produzida pelo próprio corpo e atua quando sentimos dor, para que a dor seja aliviada. O mais incrível deste mecanismo de ação da endorfina é que, ao contrário da morfina e da heroína, não há efeitos colaterais e não são cumulativos. Em síntese: se você, por algum motivo, está sentindo dor, o corpo envia e endorfina para aquela região e a endorfina vai fazer com que as substâncias que enviam a mensagem de dor sejam bloqueadas. Deste modo, você passa a não sentir mais dor.
É como se o corpo dissesse: “neste local estou com dor”. Então, o cérebro responde produzindo e enviando para aquela região – “ao ouvir dor” – a endorfina, como se dissesse, “tome seu analgésico”.
A psiquiatria e a ideia de que falta uma substância no cérebro
Para concluir, gostaria de comentar rapidamente a ideia aventada pela psiquiatria de que as doenças mentais são resultado da falta ou abundancia de certas substâncias no cérebro. Existem indícios, por exemplo, de que a esquizofrenia seja causada pela abundância da dopamina. (Falaremos sobre esta influência da química nas doenças mentais em outras lições).
Mas a questão é mais complexa do que apenas injetar ou suprimir uma quantidade de miligramas de uma determinada substância. Se tentarmos sintetizar a endorfina e utilizá-la como analgésico, esta substância – antes inofensiva em efeitos colaterais e dependência – será tão perniciosa como o uso indiscriminado de heroína.
Quer dizer, quando uma substância química é produzida pelo próprio organismo, ela possui como que uma “inteligência” que autorregula seu funcionamento naquele corpo. Na medida em que cada corpo é um corpo, ou seja, possui características próprias, o uso de remédios para o sistema nervoso deve ser pensado com muita cautela. Até porque se há a ingestão de certas substâncias, o corpo automaticamente parará de produzi-las. Quer dizer, se havia a falta, não foi estimulada a produção com um medicamento. O que foi estimulado foi que o corpo parasse de produzir, o que gerará carência e dependência (o que é bastante desejável pela indústria farmacêutica que terá criado um cliente por muito tempo).
E outro detalhe importante é que – até o momento – não existem testes laboratoriais que indiquem esta ausência ou abundância da substância X para a doença Y. Então, se não há um teste, como saber a dosagem? Os psiquiatras vão, então, na base da tentativa e erro, que é um tipo de medicina bastante questionável.
Na próxima Lição, sairemos do nível microscópico e começaremos a explorar a interação do sistema nervoso no comportamento.
M a r a v i l h o so.
Olá Ita!
Fico muito muito feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito bom!!! Assuntos abordados por você sempre nos traz muito prazer na leitura, uma linguagem de fácil compreensão e ao mesmo tempo coerente. Parabéns!!!
Nossa, adorei tudo que vc falou em relação a idade, tendo eu 38 anos, gostei da forma como vc colocou esta situação.
Olá Fátima!
Obrigado!
Fico muito feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Marisa!
Obrigado querida!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Então que dizer se uma glândula produzir hormônio além do necessário poderão surgir problemas tanto fisiológicos quanto comportamental?
Sim Francisco,
Como exemplo, pesquise sobre a glândula tireóide e as doenças hiper e hipotireoidismo.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
ola