Em resposta ao Pablo, escrevo este texto sobre os limites do talento e os limites da personalidade. No texto “Como descobrir seu talento profissional“, o Pablo perguntou se era possível para qualquer um (saudável fisicamente e psiquicamente) conseguir ser talentoso em qualquer área. O argumento é o seguinte: já que o cérebro é plástico, ou seja, pode ser modificado ao longo do tempo, podemos aprender uma nova atividade e ter excelência nesta nova atividade?
Lembrando que a definição de talento dada por mim no texto anterior contemplava 3 quesitos:
– Ter facilidade;
– Ter amor ou paixão;
– Ter disciplina e estudar durante anos para se aperfeiçoar.
Vou procurar utilizar exemplos para que toda esta teoria fique mais clara e toda a questão se aproxime de nossa vida.
É possível ter talento em qualquer área profissional?
A definição de talento que utilizo (facilidade, amor e dedicação) é simples. Mas nós também sempre pensaremos em talento como gênio. Talvez o maior gênio da história tenha sido Mozart, que compôs uma sinfonia aos 8 anos de idade. Para quem não sabe, uma sinfonia utiliza 56 instrumentos. Portanto, um garoto, de apenas 8 anos de idade, conseguiu escrever para 56 instrumentos!
Esta seria já uma outra definição de talento. Mas que podemos colocar na nossa definição como a facilidade para realizar uma determinada atividade. Pode ser que uma pessoa tenha facilidade para compor músicas, mas ela precisará de anos de estudo (dedicação) para conseguir fazê-lo. O caso de Mozart é raro, evidentemente.
A questão que o Pablo nos colocou é: será que Mozart (sendo Mozart, um excelente músico) poderia ser também um excelente jogador de futebol? Um excelente poeta, médico, político, filósofo, arquiteto, advogado, engenheiro? Ou será que a sua personalidade o permitiria ser “somente” um músico genial?
O limite da personalidade
Há muito tempo atrás eu li um livro (me perdoem pois eu não lembro o nome) que contava a história de um rapaz que fazendo a faculdade de medicina tinha ficado neurótico. Ele simplesmente amava a área na qual iria se formar. Mas o sofrimento para estudar todas as matérias ligadas á profissão tinham lhe causado um profundo sofrimento psíquico. Tantos detalhes minuciosos, diferenças sutis, descrições e catalogações o deixaram extremamente cansado.
A psicóloga que lhe atendeu viu logo que era a faculdade a causa do problema. A sua personalidade (intuitiva nos tipos psicológicos de Jung) era o exato oposto. Ao invés de absorver o detalhe, sua personalidade absorvia a totalidade, o global. A diferença entre o seu ato de estudar medicina durante anos e a sua personalidade, oposta, portanto, ao curso tinham criado uma grande cisão interna: uma neurose. Um conflito grande entre um lado e outro.
A ideia de personalidade é tão antiga quando a humanidade. Podemos ver esta forma de dividir as pessoas em grupos desde a astrologia – que divide as pessoas em 12 grupos. Outras sociedades também tinham formulações próprias, como em alguns grupos budistas que classificaram fielmente 83 tipos de personalidade. A psicologia, em suas diferentes abordagens, também criou os seus tipos de personalidade.
Freud e Lacan dividiram a partir da psicopatologia (neurótica, psicótica e perversa), Jung a partir das quatro principais funções psíquicas (sensação, intuição, pensamento e sentimento), Reich dividiu no corpo, as 7 couraças do caráter e assim por diante.
Independentemente do método ou origem da distinção entre as pessoas, o pensamento por trás de cada uma destas teorias é simples: as pessoas são diferentes. Podemos encontrar “grupos” de pessoas parecidas. Mas aí surge uma outra questão: é possível mudar o tipo de personalidade?
A personalidade fixa e a personalidade dinâmica
A resposta à pergunta anterior poderá ter duas direções. Não, se pensarmos que a personalidade é fixa e sim, se pensarmos que a personalidade é dinâmica. Levaria muito tempo, descrever o entendimento de cada teoria sobre o tema. Ao invés, podemos voltar à nossa definição de talento e entender como a personalidade se relaciona em cada um dos itens.
1) Facilidade
A personalidade pode facilitar ou dificultar o aprendizado de uma nova tarefa, de uma nova habilidade. No caso do estudante de medicina que ficou neurótico, a personalidade intuitiva dificultou em muito a sua vida. Tanto que tornou impossível de continuar. Mas nem todo caso é tão extremo. Digamos que ele conseguisse terminar a faculdade. Para continuar estudando e se especializando, ele teria que continuar a vida toda fazendo o mesmo tipo de atividade exigido durante o curso. Teria que ser o contrário do que ele é, em si mesmo.
Por outro lado, um outro tipo de personalidade poderia encontrar muito mais facilidade para estudar medicina. E o rapaz acima poderia encontrar muito mais facilidade em outra área do conhecimento humano. Assim como Mozart tinha facilidade para música.
2) Amor
Podemos gostar muito de uma determinada área. Se passamos da fase do bobo apaixonado, daqueles que tem mais ilusão do que enxergam a realidade do dia-a-dia da profissão, poderemos ter mais clareza a respeito se gostamos ou não. Alguém pode achar lindo ser dentista. Fazer a faculdade de odontologia e, na prática, odiar ser dentista.
Com relação à personalidade, veremos que também tendemos a gostar mais do que já temos facilidade. Por um mecanismo psíquico básico (fugir da dor e se aproximar do prazer), a probabilidade de amarmos uma área na qual já temos facilidade é maior.
Por exemplo, eu amo psicologia e tenho facilidade para esta área. Eu também amo programação e tecnologia, mas não tenho tanta facilidade, pois o tipo de personalidade metódica e organizada que é exigida na área, não é muito o meu perfil, não se enquadra muito com minha personalidade. Com isso, gosto de estudar e criar sites, mas há um limite. Este é o limite da personalidade.
3) Dedicação
Se pensarmos que levaremos no mínimo 10 anos para nos especializar, poderemos entender que é mais fácil seguir por um caminho harmonioso com o jeito que já somos. Se pensarmos que vamos ficar 10 anos fazendo uma atividade na qual nos sentiremos um peixe fora d’agua… para que continuar? É necessário avaliar com cuidado, portanto, se vamos querer nos dedicar realmente e seguir em uma dada direção.
Conclusão
De certa forma, Pablo e amigos, a conclusão não é fechada (conclusão vem de concludere, fechar). É possível nos aperfeiçoar em uma área não afim com nosso jeito de ser, com nossa personalidade, com nossa tendência? Penso que sim, mas a quantidade de energia,a quantidade de libido, que deverá ser investida, durante tanto tempo, pode se tornar um desprazer (falta do quesito amor) ou uma dificuldade (falta do quesito facilidade) ou tanto cansaço que gere uma falta de interesse para continuar (falta de dedicação).
Na verdade, é justamente para isto que serve a Orientação Profissional com um psicólogo ou psicóloga. Para sabermos qual é o caminho que devemos seguir, a partir de quem já somos e a partir das potencialidades que já temos internamente.
Dúvidas, sugestões e comentários, escrevam por favor! Será um prazer continuar a conversa!
Caro Felipe de Souza, tenho recebido suas postagens com as quais muito aprendo. Sua linguagem é simples e direta, gosto disso. Estou me lançando como escritora, embora já tenha 5 livros escritos e um blog que fala sobre comportamentos: ironiasdavidaurbana.blogspot.com.br. Se desejar conferir, sentir-me-ei honrada. Sobre compor músicas requerer anos de estudo, devo ser um aparte. Compus 80 em menos de um ano; sem tocar qualquer instrumento. Gravo-as no cpu, e meu maestro faz as partiruras. Como são muitas vamos devagar. Ilustro meus livros – sou desenhista também. Tudo isso com apenas o segundo grau. Tehno 62 anos, sou autodidata, desenho desde criança, mas não desenvolvi meus talentos por tornar-me costureira. Há 5 anos venho resgatando minha vida. Ah!, adoro Jung. O que me diz, como psicólogo, sobre meu perfil? Sou maluca? Às vezes acho que tenho excesso de atividade cerebral.
Grande abraço
Eliane M. Silva
Olá Eliane Mesquita!
Então, claro que não dá para fazer uma avaliação psicológica desta forma.
A minha hipótese inicial é de que você tem uma personalidade artística. Ou seja um grande interesse pelas artes e a sensibilidade para expressar pensamentos e sentimentos de forma artística (escrita, música, pintura).
O que eu argumento no texto é a da dificuldade de mudar totalmente de área. Por exemplo, imagine você – com o seu talento para a arte – tendo que trabalhar no exército ou em um banco, entende? É possível, claro que é possível, mas improvável. Se for feito, com certeza será uma mudança com sacrifício e sofrimento.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe, muito obrigado pela atenção! Vou reler sua resposta e tentar sair do limiar em que me encontro. Obrigado mesmo!
Ah, você atende pessoas para orientação vocacional? Por e-mail, skype??
Obrigado mesmo!
Concordo plenamente com tudo o que você falou no texto Felipe. Uma pessoa analítica e perfeccionista não conseguiria trabalhar em um local onde não exista regras e rotina.
De acordo com vários questionários sobre os tipos psicológicos de Jung, minha personalidade é ESFP. Agora será que levo em consideração as profissões que são indicadas para este tipo de personalidade?
Abraços
Olá Pablo!
Atendo sim! Através da Orientação Online ou Psicologia Online, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Tatiane,
Bem, através da psicologia analítica podemos analisar uma série de variáveis. Talvez a mais instigante, intrigante e enigmática seja a análise dos sonhos.
Com relação às profissões listadas de acordo com os tipos, é interessante apenas como um base.
Por exemplo, a psicologia comporta perfis tão variados como um intuitivo introvertido (talvez para a clínica) e um extrovertido sensação (talvez para o RH).
O mesmo acontece em outras áreas tão amplas quanto. Portanto, varia de área para área, ok?
Se não ficou muito claro, comente por favor.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
No perfil ESFP uma das profissões indicadas é a de recursos humanos, talvez uma área mais voltada para o recrutamento, treinamento, entrevistas pois tem uma maior dinâmica. E falando nisso, eu estava mesmo pesquisando obre esta área e ela é uma das minhas opções!
O grande dilema é cursar psicologia por 5 anos, quem sabe administração que também tem possibilidade de trabalhar com RH ou ir direto para o tecnólogo de recursos humanos…
Outras áreas que aparece muito é nutricionista, assistente social, veterinário, dentista, fisioterapeuta… a maioria áreas da saúde…Mas também entra bastante áreas de humanas e nada de exatas. Mas claro, daí vai de cada um escolher o que é melhor para si.
Uma coisa que percebi em um outro post seu é que devemos levar em consideração o que queremos nós queremos e esperamos da nossa profissão.
Daqui a 10 anos, eu me vejo como uma pessoa bem sucedida e realizada, cordeando e gerenciando um setor.
Enfim, agora é só trilhar por este caminho!
Abraços
Tatiane,
Sim, o RH é uma área possível para um perfil ESFP. Necessariamente para o RH temos que ser extrovertidos, detalhistas (sensação) e com boa avaliação para pessoas (sentimento).
O ESFP também não aparece ligado a exatas pela ausência da função pensamento como principal. Curiosamente, em faculdades como matemática, física ou engenharia poderemos encontrar extrovertidos, com certeza, mas dificilmente encontraremos a função sentimento desenvolvida.
Por isso aparece a área da saúde. Todas as que você citou são exemplos de profissões que exigem a extroversão e um conjunto de habilidades ligadas à sensação e sentimento.
A sua dúvida, me aprece então, é sobre cursar Psicologia, RH ou Administração. Bem, RH é mais rápido e psicologia e ADM são faculdades bastante amplas, sendo a última também ligada a algumas disciplinas de exatas como economia, estatística, matemática financeira, entre outras.
De qualquer modo, você poderá cursar a faculdade e se especializar em outra. ;)
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Interessante a reflexão que você faz em relação aos perfis, concordo plenamente que uma pessoa pode até conseguir ser um médico ou juiz federal sem ter vocação e aptidão para tal, porém ela pode ser muito infeliz pois o que era queria poderia ser algo totalmente contrário. Devemos levar em consideração também que vivemos em uma sociedade alienada onde muitas vezes o jovem tem o sonho de ser, por exemplo, um super atleta ou um músico, entretanto a sociedade (principalmente família) o reprime dizendo ser impossível e que ele deve seguir tal carreira já ” pré determinada ” socialmente bem vista como segura.
Grande Abraço !
Olá Gabriel,
É verdade!
Uma das dificuldades de seguir o próprio caminho é saber reconhecer o que realmente é para nós e o que é exigência externa.
Mas é uma coisa curiosa, pois muita gente não sabe exatamente o que quer mas sabe com certeza o que o outro deve fazer…
Isto é válido não só para pais… mas também para outras relações.
Seguir o próprio ergon, a própria individuação, não é fácil. Porém, é o único modo através do qual poderemos nos realizar totalmente.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá, como faço para fazer um testa vocacional? Não tenho Skype, você faz por e-mail?
Att,
Nadine Salini.
Olá Nadine,
Não é possível realizar testes psicológicos por email, ok?
Qualquer dúvida específica quanto a isto, me envie email – psicologiamsn@gmail.com
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe como eu faço para ter uma orientação on line. Estou com 30 anos e estou totalmente perdida.
Olá Miracarla,
Enviei email.
Caso não tenha recebido, envie email para psicologiamsn@gmail.com
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá novamente!
Concordo com o que foi exposto no texto acima, já tive problemas com escolhas de trabalho e incompatibilidade com minha personalidade, e também valores culturais. Acredito que uma forma de descobrir se determinada área de atuação seria realmente interessante é fazer um curso técnico ( se houver) e estagiar durante esse curso. Como exemplo, posso dizer que após trabalhar como técnico de hardware de computadores, tanto em empresa quanto por conta própria, não gostei da experiência. Embora eu goste muito da área de hardware, mas isso para mim é mais um hobby, me divirto estudando, montando, modificando e testando máquinas. Não gosto de interação social o tempo todo, principalmente quando tenho que me concentrar em cálculos, ou procedimentos, ou estou analisando dados, prefiro trabalhar sozinho, em uma sala,com papéis, livros, computador, e uma lista de tarefas, de preferência trancada para evitar interferências. Infelizmente nem todas as empresas aceitam home office.
Olá Jony!
Em Orientação Profissional também fazemos a distinção entre:
1) Competências
2) Conhecimentos
3) Certificados ou Diplomas
Uma competência pode ser um comportamento, como atender o público ou conseguir consertar um hardware. O conhecimento, evidentemente, não precisa ser definido. E, dependendo da vaga, o certificado ou diploma pode não ser necessário ou, ainda, exigir títulos superiores.
O que é importante notar é que nem sempre a área de conhecimentos permite ou ajuda nas competências que temos melhor. Em muitos casos, trata-se de escolher bem antes de entrar ou sair assim que se nota a não satisfação no trabalho.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe!
Adorei o Taxto sobre: É possível ter talento em qualquer área?
Tenho 36 anos e tenho grande dificuldade em identificar qual o meu taleto, de acordo com a minha personalidade.
Gostaria de me conhecer e identificar o que virou um grande problema para mim…
Você atende em consultório?
Obrigada e parabéns pela máteria!
Olá Carina!
Fico feliz que tenha gostado!
Atualmente atendo pela internet (skype – digitação, microfone, webcam).
Atenciosamente,
Felipe de Souza